Economia
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Por The New York Times — Virgínia

RESUMO

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GERADO EM: 30/07/2024 - 00:00

Advogado aposentado perde R$ 4 milhões em golpe cibernético

Advogado aposentado americano é enganado em sofisticado golpe cibernético, perdendo cerca de R$ 4 milhões da sua aposentadoria. Criminosos se passaram por autoridades e o convenceram a transferir dinheiro, resultando em dívidas fiscais de mais de R$ 1,5 milhão. Vítimas de fraudes cibernéticas, especialmente idosos, têm dificuldade em recuperar fundos. A história ilustra os perigos do aumento de golpes online e suas consequências devastadoras mesmo após o esquema ser descoberto.

Barry Heitin, advogado aposentado, de 76 anos, acreditou que estava participando de uma investigação governamental por quase três meses. Mas, na verdade, ele estava ajudando criminosos a roubar centenas de milhares de dólares do seu próprio dinheiro.

Ele passou praticamente todos os dias do outono passado realizando trabalho de campo e fazendo retiradas das suas contas bancárias como parte de um esquema complexo. Ele acreditava que estava ajudando policiais federais a proteger seu dinheiro e a capturar os ladrões que estavam atrás dele.

— Eles continuavam me dizendo: "Este é um grande caso e vamos deter um grupo inteiro de pessoas" — contou Heitin. — Era como um buraco de coelho. Eu estava indo para dentro do buraco com eles.

Esse erro custou quase todas as economias que ele vinha juntando para a sua aposentadoria: cerca de US$ 740 mil (aproximadamente R$ 4,2 milhões).

Os americanos gastam muita energia ao longo da vida economizando para a aposentadoria e se preocupando com a perda de dinheiro devido às flutuações do mercado de ações, o principal investimento no país para quem quer ter uma velhice tranquila.

Mas, hoje em dia, criminosos sofisticados — em sites de namoro, redes sociais, aplicativos de mensagens ou usando softwares maliciosos — representam um risco crescente para as pessoas e suas reservas.

A natureza desses esquemas torna quase impossível recuperar o dinheiro, deixando as vítimas com poucos recursos. Os fundos roubados são frequentemente transferidos para contas no exterior ou lavados por meio de carteiras de criptomoedas, que são rapidamente esvaziadas.

Mentiras sofisticadas

Heitin foi uma das muitas pessoas entrevistadas pelo The New York Times que caíram em golpes tão elaborados que parecia que foram criados em uma sala de roteiristas testando diferentes dispositivos de enredo.

Golpistas podem se passar por funcionários do governo, suporte técnico ou interesses amorosos. Eles orientam as vítimas sobre como contornar as medidas de prevenção de fraude nas instituições financeiras e usam táticas psicológicas manipulativas — isolamento, um senso de urgência ou caça à disposição das pessoas de confiar ou se conectar a alguém — para manter o golpe em andamento.

Um computador e telefone pertencentes a Barry Heitin, um advogado aposentado de 76 anos, que ele não usa mais desde que foi vítima de um golpe online, em Arlington, Virgínia, em 18 de julho de 2024. — Foto: Hailey Sadler/The New York Times
Um computador e telefone pertencentes a Barry Heitin, um advogado aposentado de 76 anos, que ele não usa mais desde que foi vítima de um golpe online, em Arlington, Virgínia, em 18 de julho de 2024. — Foto: Hailey Sadler/The New York Times

— O crime não termina até que eles tenham levado todo o seu dinheiro — diz Erin West, uma promotora do escritório do promotor distrital de Santa Clara, na Califórnia, que lidera uma força-tarefa de crimes cibernéticos. — Vai afetar cada vítima da mesma forma até que elas percam tudo o que têm, seja US$ 5 mil, US$ 50 mil ou US$ 15 milhões.

Dívida com impostos

Para agravar a situação, pode até ficar uma pesada conta de impostos aguardando as vítimas depois que elas drenam suas contas de aposentadoria.

As perdas potenciais devido crimes cibernéticos ultrapassaram US$ 12,5 bilhões (R$ 70 bilhões) em 2023, um aumento de 22% em relação a 2022, e mais que o triplo dos níveis de 2019, de acordo com o Centro de Queixas de Crimes na Internet do FBI, a polícia federal americana. Mas esses números subestimam o problema, pois muitas vítimas não relatam suas perdas, por vergonha.

Pessoas com mais de 60 anos, frequentemente alvo de criminosos cibernéticos por serem vistas como detentoras das maiores economias, experimentaram as maiores perdas entre todas as faixas etárias em 2023, totalizando mais de US$ 3,4 bilhões (R$ 19 bilhões), segundo o FBI.

Enredado em uma falsa investigação

Para Heitin, tudo começou em setembro, quando ele não conseguiu acessar sua conta de economias para a aposentadoria. Quando tentou novamente alguns dias depois, conseguiu acessar, mas a tela rapidamente mudou e o instruiu a ligar para o departamento de fraudes do provedor. Ele ligou para o número na tela, que tinha o logotipo da empresa.

Foi quando ele entrou em contato com um homem que se apresentou como Charles Hunt e disse ser um oficial de investigação de fraude da empresa. (Heitin e seu advogado disseram que não queriam nomear as instituições envolvidas porque estavam em discussões com ela sobre uma possível restituição.)

Hunt disse a Heitin que alguém estava tentando acessar sua conta e apontou contas que ele tinha em outro banco como também sob ameaça. Esse dinheiro também estava vulnerável, foi dito a ele. Hunt então o conectou com um homem que se apresentou como Hayden Smith, que disse ser do banco onde Heitin mantinha sua conta-corrente.

Smith disse que havia identificado duas transações de US$ 10 mil (R$ 56.300) para compras de imagens de abuso sexual infantil por meio de um site na China. Ele bombardeou Heitin com perguntas. "Já esteve na China? Conhece alguém na China? Comprou algo na China?"

Ele não tinha nada relacionado à China para contar. Em seguida, Heitin foi informado de que instituições financeiras trabalhavam frequentemente com o governo federal nesses casos. Estaria ele disposto a conversar com eles?

Recibos salvos por Barry Heitin, um advogado aposentado de 76 anos que foi vítima de um golpe online, em seu prédio de apartamentos em Arlington, Virgínia — Foto: Hailey Sadler/The New York Times
Recibos salvos por Barry Heitin, um advogado aposentado de 76 anos que foi vítima de um golpe online, em seu prédio de apartamentos em Arlington, Virgínia — Foto: Hailey Sadler/The New York Times

Foi quando um terceiro homem, que se identificou como Finn Whitrock, entrou na linha e disse que era um investigador do IRS, equivalente à Receita Federal nos EUA. Ele forneceu um número de distintivo e disse que as outras contas de Heitin estavam em risco, mas que o governo poderia proteger seu dinheiro transferindo-o para um cofre federal.

Se ele estivesse disposto a cooperar com a investigação deles, Whitrock explicou, Heitin poderia desempenhar um papel crucial para impedir que um grupo de criminosos atacasse outros — enquanto garantia que não perderia os US$ 20 mil (R$ 112.600) que os ladrões haviam tentado roubar. Mas era necessário agir rapidamente.

— Vamos fazer isso! — concordou Heitin, que, em seguida, deu acesso ao seu computador. — Eles começaram a me orientar em uma série de retiradas das contas bancárias.

Ele começou a retirar seu próprio dinheiro de aposentadoria e outras economias, transferindo-o para o que acreditava ser um lugar seguro, utilizando principalmente Bitcoins, caixas eletrônicos e transferências bancárias para outras contas. Heitin, que vive sozinho, foi instruído a não divulgar nada a ninguém, incluindo seus três filhos adultos.

Os impostores o vigiavam de perto. Smith o orientou em todas as transações, então eles se falavam diariamente. Hunt ligava para ele todas as manhãs e noites; eles desenvolveram um relacionamento amigável, trocando histórias sobre carros e joelhos ruins.

Durante todo o tempo, o computador de Heitin estava funcionando 24 horas por dia — os criminosos tinham carregado uma imagem de um mapa-múndi em sua máquina com linhas piscantes brotando em diferentes direções. Hunt consultaria esse mapa e lhe daria atualizações periódicas sobre os ladrões fictícios. A Interpol havia capturado pelo menos um deles. Outro havia sido rastreado até Cingapura.

Esvaziando sua aposentadoria

Depois que Heitin retirou um total de U$$ 113 mil (R$ 635 mil) de suas contas correntes e de poupança, foi instruído a transferir seu dinheiro de aposentadoria para contas onde pudesse transacionar com mais facilidade.

Essas transferências seriam mais complicadas: ele tinha mais de US$ 830 mil (R$ 4.676.900) em suas contas corrente e de investimentos, e seu consultor financeiro de mais de 20 anos teria perguntas.

Mas os golpistas tinham uma desculpa pronta. Heitin explicaria que estava comprando uma propriedade no Canadá e apresentaria uma listagem para mostrar ao banco. E o orientaram a dizer que seria "uma surpresa para os filhos", impedindo que a informação chegasse até eles pelo banco.

Seu consultor não acreditou. O banco fez algumas ligações e identificou inconsistências na história do imóvel. Então, seguindo a sugestão de Smith, Heitin disse que precisava do dinheiro para comprar ouro. Foi quando o banco pediu para ele comparecer à agência.

Seus manipuladores começaram a plantar sementes de dúvida, levando Heitin a acreditar que suas informações pessoais poderiam ter vazado através da agência. Whitrock — o homem que dizia ser do IRS — listou cinco nomes, perguntando se ele conhecia algum deles.

Heitin conhecia o último: era o seu consultor. Ele não havia sido acusado de nada ainda, disse Whitrock, mas estava em uma lista de vigilância.

— Isso me deixou na defensiva — lembrou Heitin.

No banco, ele pressionou seu consultor, o gerente da agência e um responsável pela conformidade para simplesmente lhe entregar o dinheiro, mas saiu de mãos vazias. Smith apresentou outra ideia: transferir os recursos para uma instituição diferente. Isso funcionou.

Sinais ignorados

Heitin agora tinha US$ 834 mil (R$ 4.704.420) na nova conta, que foi esvaziada em menos de duas semanas, sem que o novo provedor fizesse perguntas.

— Esse tipo de atividade é um sinal clássico de potencial lavagem de dinheiro e deveria ter levantado bandeiras vermelhas — disse Robert Rabinowitz, advogado de Heitin, que está tentando ajudá-lo a recuperar parte dos fundos.

Alguns dias, Heitin pulava entre duas agências bancárias, retirando US$ 5.000 (R$ 28.150) de cada uma por vez. Quando os bancos começaram a fazer perguntas, foi instruído a transferir o dinheiro para um comerciante de ouro em Nova York, que também tentou alertá-lo.

Um negociante disse a ele que estava "preocupado" com ele e lhe contou sobre outro cliente que foi atraído a comprar ouro para um golpista. Heitin acabou fazendo três compras — totalizando cerca de US$ 416 mil (R$ 2,3 milhões) — de lingotes e moedas de ouro.

Dentro de poucas horas após cada compra, as peças já estavam fora de suas mãos. Com Smith ao telefone, ele esperava um carro chegar ao seu prédio e depositava o ouro, em uma sacola de papel marrom, no banco de trás.

— Parecia muito coisa de James Bond — ele conta. — Eu estava tentando chegar a um ponto final.

O esquema desmorona

Esse momento chegou no final de novembro, quando ele recebeu uma ligação de uma detetive de verdade em Nova Jersey. Ela havia encontrado seu nome e endereço em um recibo de compra ouro em um carro.

— Estou bastante certa de que você é vítima de um golpe — ele recorda o que ela disse. — Eu quase tive um alívio, ou um sentimento de alívio. Eu me senti bem e mal ao mesmo tempo. É difícil de explicar.

Por fim, ele se encontrou com dois agentes do FBI na casa de sua filha e, mais tarde, descobriu que estava entre pelo menos sete outras vítimas envolvidas em um esquema com sede na Índia.

— Meu pai estava preparado para uma aposentadoria muito confortável e agora ele simplesmente não está mais — lamentou Liana Loewus, filha de Heitin. — Uma das partes mais difíceis das consequências de um golpe como este é que parece que ninguém se importa.

E ficaram os impostos

A provação de seu pai ainda não acabou. Saques de contas de aposentadoria com vantagens fiscais, como as de Heitin são tributados como renda. Como ele fez muitos saques, para o governo dos EUA, parece que ele passou um ano vivendo de forma extravagante em 2023 e tinha que pagar Imposto de Renda. Portanto, ele ainda deve quase US$ 285.000 (pouco mais de R$ 1,6 milhão) em impostos federais e estaduais.

Nos Estados Unidos, havia um alívio para vítimas de perdas pessoais, desastres e roubo na forma de uma dedução fiscal, mas isso foi eliminado como parte de uma reforma do código tributário liderada pelos republicanos em 2018.

Hoje, o laptop comprometido de Heitin está no fundo da despensa de sua cozinha, fora de vista. Mas ele ainda pensa sobre sua odisseia o tempo todo.

— Eu olho para trás e penso que provavelmente deveria ter agido de outra forma? Claro, mas tenho que superar isso. Se eu não conseguir, fico preso em um terrível ciclo depressivo. Com a ajuda da minha família e o apoio daqueles ao meu redor, eu consegui superar isso.

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