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GERADO EM: 19/07/2024 - 04:30

"Exploração Espacial: Avanços Tecnológicos e Impactos na Terra"

A exploração espacial, após 55 anos da chegada do homem à Lua, traz avanços tecnológicos para a Terra. Tecnologias desenvolvidas para o espaço, como o Sensor CMOS e a espuma viscoelástica, têm impacto em produtos e serviços do cotidiano. Além disso, a observação da Terra por satélites beneficia áreas como comunicação e prevenção de desastres. A exploração espacial inspira novas gerações e traz perspectivas sobre a dimensão da humanidade no universo.

O astronauta americano Neil Armstrong não exagerou ao dizer que sua pegada na Lua, em 20 de julho de 1969, representava um “grande salto para a Humanidade”. Passados 55 anos do clímax da corrida espacial, apontado por muitos historiadores como o fim da corrida espacial, o conhecimento adquirido ainda permite à comunidade científica dar passos mais largos no espaço, enquanto o satélite natural segue despertando interesse e atraindo velhos e novos conhecidos para sua órbita. E, ainda que do sofá de casa a exploração espacial possa parecer distante e impessoal, o “grande salto” também vale para todos na Terra. A Nasa (agência especial americana) garante: “Há mais espaço na sua vida do que você pensa.”

A frase se refere a tecnologias inicialmente desenvolvidas para a exploração espacial, mas que acabaram migrando para a sociedade na forma de produtos, serviços, softwares, know-how, métodos etc. Segundo um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2021, várias agências espaciais registraram aumento “significativo” de licenciamento para transferência de tecnologia espacial — ou spin-offs — nos últimos anos.

Entre 2015 e 2017, o Centro Aeroespacial Alemão (DLR) mais que triplicou suas receitas de licenciamento, que autoriza o uso de uma tecnologia: passou de € 2,3 milhões para € 6,65 milhões. Avanço similar ocorreu com o Instituto de Pesquisa Aeroespacial da Coreia do Sul, que saiu de pouco mais de US$ 400 mil em 2012 para US$ 1,2 milhão em receitas de licenciamento em 2016, ano em que fez 23 contratos. Já a Agência Espacial Europeia (ESA, em inglês), que tem 22 estados-membros, chega a patentear entre 10 e 20 invenções por ano. No caso da Nasa, mais de 2 mil spin-offs foram incorporados no dia a dia das pessoas desde 1976 — a maior parte no setor de manufatura e produtos para consumo, segundo a OCDE.

— Em uma determinada época, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) desenvolveu produtos à base de diamantes para proteção dos objetos dos satélites. Esse mesmo produto foi usado para fazer brocas odontológicas — disse o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antonio Chamon, ao GLOBO. — Então, o mesmo produto, o mesmo desenvolvimento, que foi feito objetivando a área espacial, transborda para uma área que não tem nada a ver com a área de espaço, que é a odontológica.

Na palma da mão

Faça um experimento: pegue o celular e abra a câmera. A qualidade vista na imagem só é possível graças ao Sensor CMOS (Complementary metal-oxide-semiconductor), desenvolvido por Eric Fossum na década de 1990 no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa. A tecnologia CMOS já existia na década de 1960, mas foi nas mãos de Fossum que se tornou mais compacta e barata e, segundo a própria agência, um dos spin-offs mais “onipresentes”. Além dos celulares, está também na famosa câmera GoPro.

Outra transferência famosa é a espuma viscoelástica (memory foam). Apesar de ter sido criada em 1966 por Charles Yost para absorver choques em aeronaves, aumentando a chance de sobrevivência ao oferecer mais proteção, a espuma — que se adapta ao contorno do corpo quando pressionada — pode preencher capacetes, sapatos, assentos (de motocicletas, carros de corrida e cadeiras de rodas), próteses e também travesseiros. Há também as lentes de óculos de sol com proteção contra raios ultravioletas (UV), pensadas inicialmente na década de 1980 para evitar os efeitos nocivos da luz no espaço e a radiação artificial produzida durante trabalhos a laser e soldagem.

Já pesquisas sobre o uso de microalgas como fonte de alimento, oxigênio e catalisador para eliminação de resíduos em voos de longa duração resultaram na identificação de uma cepa que produz o ácido docosahexaenoico (DHA) e no método para extrair o ácido araquidônico (ARA) de um fungo — ambos usados em fórmulas infantis para garantir o desenvolvimento de recém-nascidos. Citando uma pesquisa de 2011 que analisou 187 spin-offs, o relatório da OCDE destaca que, entre outras tecnologias, os nutrientes para fórmula infantil e os novos materiais usados em implantes cirúrgicos impactaram positivamente 30 milhões de pessoas entre 2007 e 2010.

Vale citar ainda o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP), desenvolvido nos primeiros dias do programa Apollo (1962-72) devido à preocupação com a segurança dos alimentos dos astronautas. O sistema — que consiste em analisar, identificar e determinar como os riscos na produção de alimentos podem ser evitados, controlados ou eliminados — foi adotado nos EUA, por grande parte da Europa e por países que exportam produtos para eles, como o Brasil.

Longe no espaço, de olho na Terra

Para Chamon, muitas das vantagens adquiridas no dia a dia com as atividades fora da Terra são ignoradas porque “a maior parte do que é visível” para a população fica limitado ao imaginário da viagem à Lua, astronautas e foguetes.

— Mas, desde o começo da corrida espacial, tirando a viagem à Lua, que era o grande objetivo da corrida espacial dos anos 1960, a maior parte dos satélites feitos até hoje não foi para explorar o espaço, mas para olhar para a Terra — explicou, acrescentando: — A maior parte deles é (voltada para) telecomunicações, meteorologia, observação de desmatamento e focos de queimadas.

Por exemplo, aplicativos que oferecem serviço de transporte usam o GPS, sistema possível graças a uma constelação de satélites. Com suas imagens aéreas, esses equipamentos também dão a dimensão de tragédias como enchentes e de conflitos como na Faixa de Gaza, com acompanhamento do avanço do Exército de Israel, da movimentação dos palestinos e da destruição do enclave.

Rastro do Sputnik é mostrado como um raio de luz no céu, fotografado sobre a Austrália em 4 de outubro de 1957. — Foto: The New York Times
Rastro do Sputnik é mostrado como um raio de luz no céu, fotografado sobre a Austrália em 4 de outubro de 1957. — Foto: The New York Times

O astrônomo Helio J. Rocha-Pinto observa que o desenvolvimento tecnológico costuma ser impulsionado por alguma demanda fundamental, seja ela "científica, econômica ou militar" — esta última, o impulso da corrida espacial, nascida no auge da Guerra Fria. Para além da propaganda, havia o desejo das potências em controlar a técnica de lançamento de foguetes para “ameaçar um país e ao mesmo tempo projetar o seu poder militar e econômico sobre boa parte do planeta.” Tanto que o primeiro satélite artificial da História, o famoso Sputnik 1 (1957), foi lançado pela extinta URSS.

— Quando você é capaz de levar um foguete à Lua, é capaz de enviar aquele foguete para qualquer outro canto da Terra com uma bomba na ogiva — explicou Rocha-Pinto, que também é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). — Nesse período entre o estouro da primeira bomba (atômica, em 1945) e a conquista da Lua (é) que a gente vê o desenvolvimento de foguetes de grande escala.

Olhar verdadeiro

Mas, além do desenvolvimento tecnológico, um dos principais retornos da corrida espacial é verdadeiramente olhar para a hostilidade e o caos do universo e reconhecer os impactos que podem ter para os habitantes da Terra. Um desses exemplos é a Cratera do Meteorito Barringer, localizada no Arizona.

Visitantes olham para a borda da Cratera do Meteoro, no Arizona, em 17 de janeiro de 2009. — Foto: John Burcham/The New York Times
Visitantes olham para a borda da Cratera do Meteoro, no Arizona, em 17 de janeiro de 2009. — Foto: John Burcham/The New York Times

Antes de os astronautas pisarem na Lua, os astrônomos “pensavam que as crateras que havia na Lua eram vulcânicas, porque na Terra, quando você vê uma cratera, em geral, é vulcânica”, conta a vice-diretora de Ciências Planetárias do JPL, Rosaly Lopes.

Ainda na primeira década dos anos 1900, o geólogo Daniel Moreau Barringer afirmou que a cratera, em vez de uma origem sedimentar, teria sido causada por impacto. Inicialmente, a hipótese não foi bem recebida pela comunidade científica, mas foi revista com o programa Apollo (1962-72) e pelo geólogo Gene Shoemaker na década de 1960.

— As pessoas começaram a pensar 'bem, se aconteceu no passado, pode acontecer agora' — disse Lopes.

Por sua vez, esse pensamento resultou no desenvolvimento prático de defesas a potenciais ameaças vindas do espaço. Como exemplos, a pesquisadora cita o sistema de Defesa Planetária (o Planetary Defense) da Nasa e a missão Double Asteroid Redirection Test, ou simplesmente Dart, que, lançada em novembro de 2021 contra o asteroide Dimorphus (que não apresentava qualquer perigo), alterou pela primeira vez a órbita de um corpo celeste.

Para Lopes, porém, para além dos benefícios práticos, a exploração espacial tem um fim muito específico em si mesma: inspirar as novas gerações.

— Há muitas pessoas que trabalham no meu laboratório e na Nasa que foram inspiradas pela missão Apollo, pelo programa Space Shuttle (Ônibus Espacial) — disse. — Isso é muito importante para um país onde as crianças queiram estudar ciência, tecnologia e engenharia.

Por fim, as viagens aos espaço também dão à Humanidade sua real dimensão ao fazê-la entender que a Terra é um planeta “muito insignificante no universo”, diz a vice-diretora. Mas se, num primeiro momento, essa compreensão poderia parecer paralisante, os avanços espaciais revertidos em benefícios terrenos vêm provando o contrário: sair do próprio umbigo — e desejar ver de perto a Lua e as estrelas — vale a pena.

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