Upgrade só com crescimento.

Artigo que foi publicado no Valor Econômico de 09/jan/2017 com entrevista para Ângela Bittencourt.

"CASA DAS CALDEIRAS: Upgrade só com crescimento

Angela Bittencourt

São Paulo

O conjunto de indicadores econômicos que mostra um Brasil mais persistente e maduro para fazer mudanças, ainda que em um ambiente político instável, deve ser reconhecido e pode até ser comemorado, mas não deve mobilizar as agências de rating para emitir novas notas ao Brasil. “A análise das agências prioriza a perspectiva de solvência do país em prazos que variam de seis meses a dois anos. E, nesse quesito, o Brasil ainda não oferece essa condição”, afirma Alexandre Pundek, economista responsável pelo monitoramento das relações do governo brasileiro com essas agências entre 1997 e 2012, período em que o país passou de devedor líquido para credor líquido no exterior.

Pundek, funcionário aposentado do BC, ex secretário-executivo do Copom, reconhece que o estoque de reservas internacionais do Brasil favorece suas relações externas, mas não crê que seria suficiente para levar as agências de rating a emitirem algum sinal que possa aproximar a classificação de crédito do Brasil ao grau de investimento. E alerta: “Falta de perspectiva de crescimento e desordem fiscal pesam contra nós.”

Esse especialista explica que a melhora da perspectiva econômica do país não necessariamente favorece a visão das agências. A recuperação da classificação perdida é lenta e longa. “O Brasil precisa sair da perspectiva negativa, passar para neutra, depois para positiva e ainda ser promovido (upgrade) em dois notches (degraus) de classificação de crédito para voltar ao grau de investimento ou três notches (degraus) para voltar ao ponto em que estava antes dos rebaixamentos que ocorreram nos últimos três anos.”

Pundek avalia que a melhora na relação Dívida/PIB certamente será positiva para a avaliação do Brasil que poderá ampliar ou mesmo recuperar o seu prestígio junto a investidores institucionais globais. Mas enquanto as agências não perceberem mudança consistente de sinal do crescimento, “podemos esquecer avanços no rating do país”, avisa o consultor.

Em entrevista ao Casa das Caldeiras __ Blog da redação do Valor __ o funcionário de carreira do BC especialista em risco soberano esclarece um ponto que considera relevante. Pundek diz que avaliações de risco soberano e corporativo são muito diferentes e isso deve ser considerado. “Nas avaliações de risco corporativo, decisões tomadas por conselhos de administração são determinantes. Nas avaliações de risco soberano, fatores políticos têm relevância e as decisões são tão importantes quanto as condições em que foram tomadas.”

Parabéns pelo artigo. O comentário final sobre riscos é precioso. Abraços

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