Saltar para o conteúdo

Império Medo: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Mover para Média (satrapia)
Etiquetas: Edição via dispositivo móvel Edição feita através do sítio móvel
Etiquetas: Edição via dispositivo móvel Edição feita através do sítio móvel Edição móvel avançada
 
(Há 12 revisões intermédias de 3 utilizadores que não estão a ser apresentadas)
Linha 1: Linha 1:
{{Info/Estado extinto2
{{Info/Estado extinto2
|imagens_tamanho =300
|imagens_tamanho =300
|nome = Império Medo
|nome = Média
|outro_nome= Império Medo
|outro_nome= Média
|p1 = Império Neoassírio
|p1 = Império Neoassírio
|bandeira_p1 = Map of Assyria-pt.svg
|bandeira_p1 = Map of Assyria-pt.svg
Linha 11: Linha 11:
|mapa = Median Empire-pt.svg
|mapa = Median Empire-pt.svg
|mapa_legenda = Mapa hipotético do Império Medo em sua extensão máxima
|mapa_legenda = Mapa hipotético do Império Medo em sua extensão máxima
|continente=[[Ásia]]
|região1_rótulo = Região
|região1_rótulo = Região
|região1 =
|região1 = [[Ásia Ocidental]]
* [[Oriente Médio]]
* [[Ásia Ocidental]]
* [[Pérsia]]
|capital = [[Ecbátana]]
|capital = [[Ecbátana]]
|idiomas = [[Língua meda|meda]]
|idiomas = [[Língua meda|meda]]
|religião = antiga religião iraniana (aparentada ao [[mitraísmo]] e ao antigo [[zoroastrismo]])
|religião = [[antiga religião iraniana]]
|países =
|países = {{flagicon|Irã}} [[Irã]]<br />{{flagicon|Turquia}} [[Turquia]]<br />{{flagicon|Síria}} [[Síria]]<br />{{flagicon|Iraque}} [[Iraque]]<br />{{flagicon|Azerbaijão}} [[Azerbaijão]]<br />{{flagicon|Armênia}} [[Armênia]]<br />{{flagicon|Geórgia}} [[Geórgia]]<br />{{flagicon|Turquemenistão}} [[Turquemenistão]]<br />{{flagicon|Afeganistão}} [[Afeganistão]]<br />{{flagicon|Paquistão}} [[Paquistão]]
|forma_de_governo= Monarquia
|forma_de_governo= Monarquia
|título_líder = Rei
|título_líder = Rei
|líder1 = [[Déjoces]]
|líder1 = [[Déjoces]]
|ano_líder1 = 700–{{AC|678|x}}
|ano_líder1 = 700–{{AC|678|x}}
|líder2 = [[Fraortes (rei)|Fraortes]] ou [[Castariti]]
|líder2 = [[Fraortes (rei)|Fraortes]]
|ano_líder2 = 678–{{AC|625|x}}
|ano_líder2 = 678–{{AC|625|x}}
|líder3 = [[Ciaxares]]
|líder3 = [[Ciaxares]]
Linha 32: Linha 28:
|ano_líder4 = 585–{{AC|550|x}}
|ano_líder4 = 585–{{AC|550|x}}
|era = [[Idade do Ferro]]
|era = [[Idade do Ferro]]
|ano_início = {{AC|678|x}}{{efn|As datas que o historiador grego [[Heródoto]] atribui aos quatro reis medos (Déjoces, Fraortes, Ciaxares e Astíages) somam 150 anos, colocando o início da [[dinastia meda]] em 700 a.C. No entanto, Heródoto também afirma que os medos governaram a Ásia por 128 anos. Assim, o início desses 128 anos teria sido em 678 a.C., que, segundo a cronologia proposta por [[George Rawlinson]], é o ano em que o reinado de Fraortes começa. Fraortes teria derrubado o domínio assírio e, como afirma Heródoto, subjugado os persas e outros povos. Quanto a Déjoces, caso tenha existido, provavelmente foi apenas um chefe dos medos, que começou a consolidar a unidade das tribos medas.<ref name=EnIr />}}
|ano_início = {{AC|678|x}}
|evento_início = Ascensão de Fraortes
|evento_início = Adesão de [[Fraortes (rei)|Fraortes]] ao trono{{efn|As datas que [[Heródoto]] atribui aos quatro reis medos somadas dão 150 anos, no entanto segundo outro relato de Heródoto, os medos governaram a Ásia por 128 anos. Nesse caso, o início do Império Medo deveria ser datado no ano {{AC|678|x}} É possível conciliar a aparente contradição dos dados de Heródoto. Heródoto atribui 53 anos de reinado para Déjoces e 22 anos para seu filho Fraortes. [[George Rawlinson]] propôs que Fraortes governasse por 53 anos e Déjoces por 22 anos. Com essa mudança obtém-se as datas entre 678 a {{AC|625|x}} para o reinado de Fraortes. Assim, de acordo com Rawlinson, a soma dos reinados dos três reis (53+40+35) após Déjoces seria então os 128 anos que Heródoto mencionou. Fraortes derrubou o domínio assírio e, como afirma Heródoto, atacou as tribos persas e começou a subjugar toda a Ásia, um povo após o outro. Portanto, o ponto de partida do período de 128 anos de supremacia meda provavelmente é a adesão de Fraortes, que começou a governar alguns anos antes da bem-sucedida revolta contra a Assíria em {{AC|671|x}} Quanto a Déjoces, pai de Fraortes, ele era apenas um chefe dos medos, que começou a consolidar a unidade das tribos medas.<ref name=EnIr />}}
|ano_fim = {{AC|550|x}}
|ano_fim = {{AC|550|x}}
|evento_fim = Conquistado por [[Ciro, o Grande]]
|evento_fim = Conquistado por [[Ciro, o Grande]]
|evento1 = Os medos se revoltam contra os assírios e declaram independência
|evento1 = Revolta meda contra a Assíria
|ano_evento1 = {{AC|671|x}}
|ano_evento1 = {{AC|671|x}}
|evento2 = Fraortes conquista a Pérsia
|evento2 = Ascensão de Ciaxares
|ano_evento2 = {{AC|c=c|640|x}}
|ano_evento2 = {{AC|625|x}}
|evento3 = Medos e babilônios conquistam [[Nínive]]
|evento3 = Medos e babilônios conquistam [[Nínive]]
|ano_evento3 = {{AC|612|x}}
|ano_evento3 = {{AC|612|x}}
|evento4 = [[Batalha do Hális]]
|evento4 = [[Batalha do Hális]]
|ano_evento4 = {{AC|585|x}}
|ano_evento4 = {{AC|585|x}}
|evento5 = [[Revolta Persa]]
|evento5 = [[Conflito medo-persa]]
|ano_evento5 = 553-{{AC|550|x}}
|ano_evento5 = 553-{{AC|550|x}}}}
|dados_área1={{efn|Uma reavaliação mais recente das evidências históricas, tanto arqueológicas quanto textuais, levou estudiosos modernos a questionar noções anteriores sobre a extensão do reino dos medos e até mesmo sua existência como um estado unificado.<ref>{{Citar jornal|último=Waters|primeiro=Matthew|data=2005|editor1-link=Giovanni Battista Lanfranchi (historian)|editor2-link=Michael Roaf|editor-last=Lanfranchi|editor-first=Giovanni B.|editor2-last=Roaf|editor2-first=Michael|editor3-last=Rollinger|editor3-first=Robert|editor3-link=Robert Rollinger|título=Media and Its Discontents|jstor=20064424|jornal=[[Journal of the American Oriental Society]]|volume=125|número=4|páginas=517–533|issn=0003-0279}}</ref> É possível que o Império Medo nunca tenha ultrapassado o tamanho do Império Neoassírio, que em seu auge cobria 1.400.000 km².<ref name=":11" />}}2.800.000
|dados_ano1={{AC|585|x}}}}


O '''Império Medo'''{{efn|A palavra "medo" (sentimento) é escrita da mesma forma que a palavra "medo" (referindo-se a um habitante da Média, um antigo império). Porém estas duas palavras são pronunciadas de maneiras diferentes. Medo (sentimento) vem do [[latim]] "''metu-''" e pronuncia-se /mê-du/. Medo (habitante da Média) vem do latim "''medu-''" e se pronuncia /mé-du/.<ref>{{Citar web|url=https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/pronuncia-de-medo/6427|titulo=Pronúncia de medo - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa |acessodata=2020-09-17|website=ciberduvidas.iscte-iul.pt}}</ref>}} ou simplesmente '''Média''' (em [[Língua persa antiga|persa antigo]]: ''Māda''; em [[Língua grega antiga|grego]]: ''Mēdía''; {{Langx|akk|''Mādāya''}}{{sfn|name=EnIr|Dandamayev|Medvedskaya|2006}}) foi uma entidade política que do final do {{-séc|VII}} até meados do {{-séc|VI}} dominava todo o planalto iraniano, precedendo o poderoso [[Império Aquemênida]]. Antes de seu estabelecimento, os [[povos iranianos]] viviam em comunidades tribais menores e não havia hierarquia de governo, mas as guerras constantes com os invasores assírios os levaram à unificação, isto é, à criação de uma [[monarquia]].
A '''Média''' (em [[Língua persa antiga|persa antigo]]: ''Māda''; em [[Língua grega antiga|grego]]: ''Mēdía''; {{Langx|akk|''Mādāya''}}{{sfn|name=EnIr|Dandamayev|Medvedskaya|2006}}) foi uma entidade política centrada em [[Ecbátana]] que do {{-séc|VII}} até meados do {{-séc|VI}} teria dominado grande parte do planalto iraniano, precedendo o [[Império Aquemênida]].{{sfn|Rollinger|2021|p=213-214}} A frequente interferência dos assírios nos Zagros resultou no processo de unificação das [[Medos|tribos medas]]. Em 612 a.C., os medos eram fortes o suficiente para derrubar o declinante [[Império Assírio]] em aliança com os babilônios. No entanto, estudiosos modernos são céticos sobre a existência de um "reino" ou "Estado" medo unificado, pelo menos durante a maior parte do século VII a.C.<ref name=":31">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=xCOPDwAAQBAJ&pg=PA123&lpg=PA123&dq=|título=Birth of the Persian Empire|ultimo=Curtis|primeiro=Vesta Sarkhosh|ultimo2=Stewart|primeiro2=Sarah|data=2010-01-08|editora=Bloomsbury Publishing|lingua=en}}</ref>


De acordo com os historiadores gregos após o colapso da [[Império Neoassírio|Assíria]], a Média emergiu como uma das grandes potências do Oriente Médio. As fronteiras do país foram estendidas para leste e oeste com a subjugação dos povos vizinhos, como os [[partas]] e [[Urartu|armênios]]. Dessa forma, a Média se tornou o primeiro império iraniano, que em seu auge, cobria quase metade do Oriente Médio, se tornando uma das mais fortes potências econômicas, políticas e militares do seu tempo, juntamente com a [[Império Neobabilônico|Babilônia]], [[Lídia]] e [[Antigo Egito|Egito]]. No apogeu da sua extensão territorial, exercia autoridade sobre mais de dois milhões de quilômetros quadrados, estendendo-se das margens orientais do rio Hális até o leste do Irã e sendo um dos maiores impérios da história.
Segundo a historiografia clássica, a Média emergiu como uma grande potência no [[antigo Oriente Próximo]] após o colapso da Assíria. Sob [[Ciaxares]] {{-nwrap|r.|625|585}}, as fronteiras do país foram estendidas para leste e oeste com a subjugação de povos vizinhos, como os [[persas]] e [[Urartu|armênios]]. A expansão territorial da Média resultou na formação do primeiro império iraniano, que no auge de sua extensão territorial teria exercido controle sobre mais de dois milhões de quilômetros quadrados, estendendo-se das margens orientais do [[rio Hális]], na [[Anatólia]], até a [[Ásia Central]]. Nesse período, o '''Império Medo'''{{efn|A palavra "medo" (sentimento) é escrita da mesma forma que a palavra "medo" (referindo-se à Média ou ao seu habitante). No entanto, essas duas palavras têm pronúncias diferentes. "Medo" (sentimento) tem sua origem no [[latim]] "''metu-''" e é pronunciado como /mê-du/. Por outro lado, "medo" (referindo-se à Média) vem do latim "''medu-''" e é pronunciado como /mé-du/.<ref>{{Citar web|url=https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/pronuncia-de-medo/6427|titulo=Pronúncia de medo - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa |acessodata=2020-09-17|website=ciberduvidas.iscte-iul.pt}}</ref>}} foi uma das grandes potências econômicas, políticas e militares do antigo Oriente Próximo juntamente com a [[Império Neobabilônico|Babilônia]], [[Lídia]] e [[Antigo Egito|Egito]]. Durante seu reinado, [[Astíages]] {{-nwrap|r.|585|550}} empenhou-se para fortalecer e centralizar o Estado medo, contrariando a vontade da nobreza tribal, o que pode ter contribuído para a queda do reino. Em 550 a.C., a capital meda Ecbátana foi conquistada pelo rei persa [[Ciro II]], marcando o início ao Império Aquemênida.{{sfn|Dandamaev|1989|p=}}


No entanto não existem evidências arqueológicas que mostrem a existência de um importante estado medo e isso encoraja a maioria dos estudiosos considerar que o Império Medo nunca existiu e que era uma federação tribal instável. Apesar disso alguns estudiosos aderiram a uma visão maximalista, considerando o estado medo um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida e sua cultura.
Embora seja geralmente aceito que os medos desempenharam um papel significativo no antigo Oriente Próximo após a queda da Assíria, um debate entre os historiadores sobre a existência de um império ou até mesmo de um reino medo. Alguns estudiosos aceitam a existência de um poderoso e estruturado império que teria influenciado as estruturas políticas do posterior Império Aquemênida. Outros estudiosos argumentam que os medos constituíram uma frouxa confederação de tribos e não um Estado centralizado.


== Fontes históricas ==
== Fontes históricas ==
=== Fontes textuais ===
[[File:Brue, Adrien Hubert, Asie-Mineure, Armenie, Syrie, Mesopotamie, Caucase. 1839. (CG).jpg|thumb|Média]]
Durante o período neoassírio dos séculos IX ao VII a.C., bem como nos subsequentes períodos neobabilônico e persa inicial, as fontes oferecem apenas uma visão externa dos medos. Não há uma única fonte meda representando uma perspectiva meda sobre sua própria história.{{sfn|Rollinger|2021|p=338-344}} As fontes textuais disponíveis sobre a Média consiste principalmente em textos contemporâneos assírios e babilônicos,<ref name=":20">{{Citar livro|url=https://brill.com/view/book/9789004236691/B9789004236691_040.xml|título=Median Art and Medizing Scholarship|ultimo=Muscarella|primeiro=Oscar White|data=2013-01-01|editora=Brill|lingua=en}}</ref> bem como a inscrição persa de Beistum, as ''Histórias'' do historiador grego Heródoto, a ''Pérsica'' de Ctésias, e alguns textos bíblicos.<ref name=":3" /> Antes das descobertas arqueológicas das ruínas e arquivos cuneiformes assírios e babilônicos, em meados do {{séc|XIX}}, a história das civilizações do Oriente Próximo no período anterior ao [[Império Aquemênida]] baseava-se apenas em fontes clássicas e bíblicas. As informações sobre os medos, assim como os assírios e os babilônicos, derivavam das obras de autores clássicos como Heródoto e seus sucessores. Eles coletavam informações de círculos eruditos do Império Aquemênida, mas essas informações não eram diretas nem contemporâneas, tampouco baseadas em arquivos sólidos ou materiais históricos. Embora nenhuma fonte textual contemporânea foi descoberta na Média, as informações disponíveis nas fontes assírias e babilônicas são bastante relevantes.<ref name=":16" />
A Média representa um problema para os estudiosos que tentam descrever esse antigo estado, pois as evidências não são confiáveis. Além disso, os medos não deixaram nenhuma fonte textual para lançar luz sobre sua história ou sociedade. A falta de registros medos é compensada por registros de outros povos, que consiste em vários textos cuneiformes assírios e babilônicos, registros persas e gregos, bem como alguns capítulos da Bíblia. O problema é que o registro arqueológico não é claro, e os registros contemporâneos oferecem pouca informação, além disso os textos dos autores gregos não são confiáveis e os textos bíblicos parecem ter sido influenciados pelos autores gregos.<ref name=":3" /> Apesar dessas fontes esclarecem alguma coisa da história meda, quase tudo que sabemos sobre o estado medo vem das informações de dois historiadores gregos, [[Heródoto]] e [[Ctésias]], que escreveram muito depois de sua queda.<ref name=":GS" />

Heródoto nasceu em [[Halicarnasso]], na província da [[Cária]], por volta de {{AC|484|x}} Sua obra ''[[Histórias (Heródoto)|Histórias]]'', embora contenha algumas informações imprecisas ou exageradas, é considerada uma fonte confiável pela maioria dos historiadores. Apesar de ter sido muito criticado pelos antigos historiadores, Heródoto melhorou sua reputação drasticamente desde que os numerosos achados arqueológicos confirmaram muitas de suas histórias e nos dias de hoje ele é considerado o "Pai da História".<ref>{{Citar web|url=https://www.worldhistory.org/herodotus/|titulo=Herodotus|acessodata=2021-12-01|website=World History Encyclopedia|lingua=en}}</ref> Ctésias nasceu na cidade de [[Cnido]], também na província de Cária. Ele trabalhou como médico à serviço do rei persa [[Artaxerxes II]], a quem seguiu durante sua marcha contra seu irmão rebelde [[Ciro, o Jovem]]. Ctésias escreveu sobre o Império Aquemênida e a Assíria em sua obra ''[[Pérsica]]'', que consiste em 23 livros, supostamente baseados em arquivos reais persas. Ctésias segue Heródoto e também relata que houve um longo período em que os medos governaram um vasto império asiático, no entanto suas obras não são muito confiáveis e muitas vezes são contraditórias à coleção ''Histórias'' de Heródoto. Diferente das obras de Heródoto, os trabalhos de Ctésias foram preservados somente em um resumo compilado pelo patriarca [[Fócio|Fócio de Constantinopla]].<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/person/ctesias-of-cnidus/ |titulo=Ctesias of Cnidus |acessodata=2021-07-18 |website=Livius.org}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=Ctesias {{!}} Greek physician and historian|url=https://www.britannica.com/biography/Ctesias|obra=Encyclopedia Britannica|acessodata=2020-06-30|lingua=en}}</ref>


[[imagem:Herodotus world map-es.svg|thumb|250px|left|Imagem do mundo segundo Heródoto, {{-séc|V}}]]
[[imagem:Herodotus world map-es.svg|thumb|250px|left|Imagem do mundo segundo Heródoto, {{-séc|V}}]]
Heródoto e Ctésias diferem tanto que suas declarações são, em grande parte, mutuamente exclusivas. No entanto, uma análise cuidadosa mostrou que muitas das declarações de Ctésias repousam na mesma base que as de Heródoto. Na verdade, sem Heródoto e a tradição grega, muitos estudiosos modernos provavelmente não postulariam a existência de um Império Medo.<ref name=":GS">{{citar web|url=https://www.globalsecurity.org/military/world/iran/history-medes-modern.htm |titulo=BC 788 - 550 BC - Empire Median |data= |acessodata=30/07/2020 |publicado=globalsecurity.org}}</ref> Visto que nenhum registro medo foi descoberto, questões fundamentais sobre medos e sua história continuam sem respostas satisfatórias: sua língua, cultura, economia e estrutura social é desconhecida e é apenas conjecturada pelos estudiosos.<ref name=EnBri>[http://www.britannica.com/EBchecked/topic/372125/Media "Media (ancient region, Iran)"] [[Encyclopædia Britannica]]. Pesquisa em 28/04/17</ref><ref name=":GS" /> Assim, o Império Medo ainda não é um fato arqueológico, mas existe apenas como algo mencionado por Heródoto e textos baseados (direta ou indiretamente).<ref>{{Citar web|url=https://www.livius.org/articles/place/tepe-nush-e-jan/|titulo=Tepe Nush-e Jan|acessodata=2021-11-29|website=Livius.org}}</ref>


Devido à ausência de registros escritos da Média pré-aquemênida e, até recentemente, à falta de evidências arqueológicas, o "Median logos" de [[Heródoto]] (1. 95-106) foi por muito tempo a principal e geralmente aceita narrativa histórica dos antigos medos.{{sfn|Rollinger|2021|p=213-214}} Em seu relato no primeiro livro de suas ''[[Histórias (Heródoto)|Histórias]]'', Heródoto traça o desenvolvimento de um Estado ou império medo unificado, com uma capital em Ecbátana.<ref name=":39" /> Embora o que ele descreve tenha acontecido séculos antes e ele provavelmente tenha se baseado em relatos orais não confiáveis, seu relato pode ser correlacionado em algum grau com as fontes assírias e babilônicas.<ref>Prods Oktor Skjærvø, “IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Earliest Evidence,” Encyclopaedia Iranica, XIII/4, pp. 345-348, available online at http://www.iranicaonline.org/articles/iran-vi1-earliest-evidence</ref> O historiador grego [[Ctésias de Cnido|Ctésias]] trabalhou como médico à serviço do rei aquemênida [[Artaxerxes II]] e escreveu sobre a Assíria, a Média e o Império Aquemênida em sua obra ''[[Pérsica]]'',<ref name=":6" /> que consiste em 23 livros supostamente baseados em arquivos reais persas.<ref name=":13">{{Citar web|titulo=Ctesias {{!}} Greek physician and historian|url=https://www.britannica.com/biography/Ctesias|obra=Encyclopedia Britannica|acessodata=2020-06-30|lingua=en}}</ref> Embora tenha criticado muito Heródoto e o acusasse de contar muitas mentiras, Ctésias segue Heródoto e também relata que houve um longo período em que os medos governaram um vasto império.<ref name=":6">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/person/ctesias-of-cnidus/ |titulo=Ctesias of Cnidus |acessodata=2021-07-18 |website=Livius.org}}</ref> O que sobreviveu de sua obra está repleto de histórias românticas, anedotas exóticas, fofocas da corte e listas de confiabilidade duvidosa.<ref name=":13" /> Isso faz de Ctésias um dos poucos autores antigos não muito confiáveis. No entanto, outros o consideraram uma fonte importante.<ref name=":6" /><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=en&lr=&id=ifEZDgAAQBAJ&oi=fnd&pg=PA3&ots=7SZaD7PtZ4&sig=wvywET-vTvHYT9YBE5ung1-IaV4&redir_esc=y#v=|título=Ctesias’ Persica in Its Near Eastern Context|ultimo=Waters|primeiro=Matt|data=2017-01-24|editora=University of Wisconsin Pres|lingua=en}}</ref>
A história sobre os medos, conforme relatada por Heródoto, deixaram uma imagem de um povo poderoso, que teria formado um império no início do {{-séc|VII}} que durou até {{AC|550|x}}, desempenhando um papel decisivo na queda do [[Império Neoassírio]] e competindo com as poderosas potências do oeste, [[Lídia]] e [[Império Neobabilônico|Babilônia]]. No entanto, uma recente reavaliação das fontes contemporâneas mudou a percepção que os pesquisadores têm do “Império Medo”. Esse estado permanece difícil de ser percebido na documentação, o que deixa muitas dúvidas sobre o assunto, alguns especialistas até sugerem que nunca houve um poderoso Império Medo.<ref name=":22" /> De qualquer forma, parece que após a conquista do país pelos persas, a Média se tornou uma província importante e valorizada pelos impérios que a dominaram sucessivamente ([[Império Aquemênida|aquemênidas]], [[Império Selêucida|selêucidas]] e [[Império Parta|partas]]).<ref name=":2">{{Citar web|titulo=Medes (2)|url=https://www.livius.org/articles/people/medes/medes-2/|obra=Livius.org|acessodata=2020-06-02}}</ref>


As inscrições reais assírias, datando de Salmaneser a Assaradão (ca. 850-670 a.C.) contêm o maior conjunto de informações históricas sobre os medos. O relato herodoteano ao lidar com o período anterior a Ciaxares foi praticamente descartado em favor dos registros contemporâneos assírios.<ref name=":16" /> As fontes assírias que fornecem informações sobre os medos nunca mencionam um Estado medo unificado. Em vez disso, essas fontes mostram uma paisagem política fragmentada, composta por entidades em pequena escala lideradas por vários senhores da cidade. Embora estudiosos tenham sugerido conexões entre certos indivíduos nesse meio e os nomes mencionados em fontes clássicas, as identificações baseadas em semelhança de nomes são questionáveis.<ref>{{Citar periódico |url=https://referenceworks.brillonline.com/entries/brill-s-new-pauly-supplements-i-1/vii-iranian-empires-and-their-vassal-states-COM_0008 |título=VII. Iranian Empires and their vassal states |data=2011-12-01 |acessodata=2024-02-06 |periódico=Brill’s New Pauly Supplements I - Volume 1 : Chronologies of the Ancient World - Names, Dates and Dynasties |publicado=Brill |ultimo=Rollinger |primeiro=Robert |ultimo2=Wiesehöfer |primeiro2=Josef |lingua=en |ultimo3=Schottky |primeiro3=Martin}}</ref> As fontes assírias oferecem uma visão clara apenas até aproximadamente 650 a.C. Para o período subsequente, há uma lacuna na quantidade e qualidade das fontes assírias.<ref name=":32" /> A evidência histórica de um Estado medo unificado só surge muito mais tarde, quando em 615 a.C. os medos reaparecem em fontes babilônicas liderados por Ciaxares. Após esse evento, os medos mais uma vez retrocedem da história até 550 a.C., quando o rei persa Ciro II derrota o rei medo Astíages para se tornar a figura política dominante no Irã.<ref name=":39" /> Assim, a história do período de c. 650 a 550 a.C., durante o qual o poder dos medos teria atingido seu auge, permanece pouco compreendida.<ref name=":33">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/25366037 |título=Notes on the Medes and Their ‘Empire’ from Jer. 25.25 to Hdt. 1.134 |acessodata=2024-01-09 |ultimo=Waters |primeiro=Matt}}</ref> Embora fontes gregas clássicas afirmem a existência de um Império Medo durante este período, evidências tangíveis que sustentem a existência de tal império ainda não foram encontradas e fontes contemporâneas desse período raramente fazem referência aos medos.<ref name=":34">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/34484530 |título=The Median Dark Age |acessodata=2024-01-18 |ultimo=Nijssen |primeiro=Daan}}</ref>
==História==
=== Expansão assíria nos Zagros ===
[[imagem:Empire neo assyrien-pt.svg|miniaturadaimagem|Mapa do Império Neoassírio]]


=== Fontes arqueológicas ===
Os medos vieram da [[Ásia Central]], provavelmente ao mesmo tempo que os seus parentes, os [[persas]]. Eles começaram a se estabelecer no noroeste do atual Irã nos últimos séculos do {{AC|II milênio|x}}, logo após o final da [[Idade do Bronze]].<ref>{{en}} G. Windfuhr, « Dialectology and Topics », em G. Windfuhr(ed.), ''The Iranian Languages'', Oxon et New York, 2009, {{p.|5-8}}</ref> As primeiras referências que temos aos medos são as fontes assírias, onde eles são mencionados pela primeira vez nos anais do rei [[Salmanaser III]] {{-nwrap|r.|859|824}}, que em {{AC|834|X}}, lidera uma campanha na região ocidental dos [[Cordilheira de Zagros|Zagros]].<ref name=EnIr /> Os medos parecem ter se constituído em numerosos pequenos reinos sob chefes tribais, e os jactanciosos relatos dos imperadores assírios referem-se às suas vitórias sobre certos chefes de cidade da distante terra dos medos.<ref name=":9">[https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200002956 "Medos, Média"]. ''Estudo Perspicaz das Escrituras''. '''2'''. Escritura-Mísia. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (1998).</ref> Embora os assírios conseguissem subjugar vários chefes medos, eles nunca conseguiram dominar todo território medo.<ref name=":3">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/people/medes/ |titulo=Medes |acessodata=2020-06-15 |obra=Livius.org}}</ref>
O período medo é um dos períodos menos compreendidos da arqueologia iraniana, e a geografia meda permanece em grande parte obscura.<ref>{{Citar web|ultimo=|primeiro=|url=https://iranicaonline.org/articles/art-in-iran-ii-median|titulo=ART IN IRAN ii. Median Art and Architecture|acessodata=2022-10-08|website=Encyclopaedia Iranica|lingua=en-US}}</ref> Qualquer esforço para identificar elementos distintivos da cultura material meda da Idade do Ferro III (c. 800-550 a.C.) na região oeste do Irã concentra-se principalmente em sítios próximos à antiga capital da Média, Ecbátana (atual [[Hamadã]]).<ref name=":19" /> Além disso, a falta de clareza no registro arqueológico torna desafiador determinar se certos materiais arqueológicos devem ser atribuídos à cultura meda ou à aquemênida.<ref name=":3" /><ref name=":23">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=lxQ9W6F1oSYC&pg=PA26&lpg=PA26&dq=#v=|título=From Cyrus to Alexander: A History of the Persian Empire|ultimo=Briant|primeiro=Pierre|data=2002-01-01|editora=Eisenbrauns|lingua=en}}</ref> A atividade arqueológica moderna na área central da antiga Média foi especialmente intensa e frutífera nas décadas de 1960 e 1970, quando foram realizadas as escavações de [[Godin Tepe]], [[Tepe Nus-i Jã]], [[Baba Jã]]. Além disso, na região adjacente do antigo reino de Manai, as escavações em [[Hasanlu]] e em [[Ziwiye]] também tiveram resultados produtivos. A atividade arqueológica nessa região revelou que, durante os séculos VIII e VII a.C., os sítios medos experimentaram um notável crescimento, mas foram despovoados na primeira metade do {{-séc|VI}}, período em que se presume que o suposto Império Medo atingiu seu apogeu de desenvolvimento.


A fase Nus-i Jã I, com data aproximada de 750 a.C. a 600 a.C., revelou uma sequência de vários edifícios no local. O "Edifício Central" foi construído no início dessa fase, no {{-séc|VIII}}, enquanto o "Forte" e o "Edifício Ocidental", este último com seu notável salão de colunas, foram acrescentados ao sítio ao longo do {{-séc|VII}} Esses edifícios públicos foram posteriormente abandonados, e na primeira metade do {{-séc|VI}} o sítio foi ocupado por populações de caráter menos institucional. Em um de seus relatórios, os escavadores [[David Stronach]] e [[Michael Roaf]] conjecturaram que o colapso da Assíria e a gradual erosão do poder cita podem ter influenciado a deserção de várias fortalezas, especialmente aquelas localizadas próximas ao núcleo territorial da Média. Em outro relatório, foi sugerido que os vários edifícios foram abandonados de maneiras diferentes durante o período em que o poder medo ainda estava em ascensão. O Nível II de Godin Tepe, escavado por T. Cuyler Young e Louis Levine, contêm estruturas arquitetônicas semelhantes às de Nus-i Jã I e apresenta uma narrativa semelhante: o progressivo crescimento de edifícios públicos durante as fases 1 a 4, seguido por um período de "abandono pacífico" e "[[Ocupação de bens imóveis|ocupação irregular]]" na fase 5. Uma história semelhante também é contada pelos resultados das escavações em Baba Jã, embora o escavador apoie uma cronologia mais elevada com a florescente fase III nos séculos IX-VIII e a ocupação irregular no século VII - mas principalmente por razões históricas (supostos ataques assírios e citas). De qualquer forma, o sítio parece está completamente abandonado na primeira metade do {{-séc|VI}}
Em {{AC|815|x}}, [[Samsiadade V]] {{-nwrap|r.|823|811}} marchou contra [[Saguebita]], a "cidade real" do chefe medo Hanasiruca, e a conquistou. Segundo a inscrição assíria, 2.300 medos foram mortos e Saguebita, assim como 1.200 assentamentos localizados em suas proximidades, foram destruídos. Essa campanha foi de grande importância, pois a partir de então a Assíria impunha tributo regular às tribos medas em cavalos, gado e produtos artesanais. Agora os assírios transferiram a direção principal de seus ataques para a Média. Os assírios não conseguiram garantir os resultados das campanhas travadas contra os medos por [[Adadenirari III]] {{-nwrap|r.|810|781}} e, posteriormente, uma longa crise política começou a se desenvolver na Assíria. Mais tarde, durante o reinado de [[Tiglate-Pileser III]] {{-nwrap|r.|745|728}}, a Assíria começou a organizar províncias em países conquistados, o que garantiu uma fonte regular de renda e também serviu de base para a conquista de territórios vizinhos. A leste de seu país, os assírios criaram mais duas províncias, onde foram instalados governadores e guarnições assírias. Em {{AC|737|x}}, Tiglate-Pileser invadiu a Média, e desta vez os assírios alcançaram as partes mais remotas do país e exigiram tributo dos "governantes da cidade" dos medos, até o deserto de sal e o monte Bicni. Em um relato dessa campanha, Tiglate-Pileser menciona "as províncias dos poderosos medos" e também afirma que ele deportou 6.500 pessoas do noroeste do Irã para a Síria e a Fenícia.<ref name=EnIr />


Os desenvolvimentos arqueológicos em Manai parecem ter sido exatamente os mesmos da Média: assentamentos florescentes com edifícios públicos na segunda metade do {{-séc|VIII}} e durante todo o {{-séc|VII}}, seguidos por um período de ocupação irregular na primeira metade do {{-séc|VI}} Tal imagem não se encaixa com a reconstrução de um Império Medo com base nos historiadores clássicos.<ref name=":16" /> O historiador [[Mario Liverani]] argumenta que as evidências arqueológicas desses sítios medos se alinham bem com as evidências das fontes mesopotâmicas.<ref name=":28" /> Alguns estudiosos sugerem que o abandono de Tepe Nus-i Jã e outros sítios no noroeste do Irã pode estar relacionado à centralização do poder em Ecbatana. Nesse contexto, a observação de Heródoto sobre Déjoces compelindo os nobres medos a deixarem suas pequenas cidades para viver perto da capital torna-se pertinente.<ref name=":40" /> Um cenário possível sugere que Tepe Nus-i Jã passou por um fechamento formal por volta de 550 a.C., com ocupação informal ou irregular persistindo até aproximadamente 500 a.C. A datação revisada sugere que Tepe Nus-i Jã e potencialmente outros sítios do período III da Idade do Ferro mantiveram uma ocupação formal até o início do período aquemênida. Se isso for o caso, então não haveria interrupção na ocupação de sítios medos entre 600 e 550 a.C., como sugerido por alguns estudiosos, implicando uma quebra de autoridade central nesse período.<ref name=":31" /> Segundo [[Stuart Brown]], a ascensão do domínio persa pode ter sido um fator contribuinte para o abandono de vários sítios medos, incluindo Godin Tepe.<ref name=":40">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=cMKZEAAAQBAJ&pg=PT312|título=Discovering Cyrus: The Persian Conqueror Astride the Ancient World|ultimo=Zaghamee|primeiro=Reza|data=2015-09-25|editora=Mage Publishers|lingua=en}}</ref>
Assim, no final do {{-séc|VIII}}, os primeiros grandes sindicatos e estados baseados em confederações tribais começaram a surgir no oeste do território iraniano, chefiado por chefes locais. Os medos ainda não estavam unidos, mas tinham muitos governantes. O rei [[Sargão II]] {{-nwrap|r.|722|705}} juntou as fronteiras das províncias assírias no leste com a Média, uma conquista que Tiglate-Pileser não foi capaz de realizar. Em {{AC|716|x}}, ele construiu os centros das novas províncias assírias, acrescentando-lhes alguns outros territórios da Média Ocidental, incluindo Saguebita. Em {{AC|713|x}}, ele alcançou os limites distantes da Média nas montanhas Bicni. Durante essa campanha, ele recebeu tributo de 45 chefes de cidade. Sargão II realizou outra expedição à Média em {{AC|708|x}}, mas foi incapaz de realizar seu objetivo de conquistar todas as terras medas e estabelecer um controle estável sobre elas. Posteriormente, Sargão e seu sucessor [[Senaqueribe]] {{-nwrap|r.|705|681}} entraram em guerra com os babilônios. Além disso, as tribos do planalto iraniano que se opunham à predominância assíria consolidaram seus esforços contra ela.<ref name=EnIr />


[[File:Brue, Adrien Hubert, Asie-Mineure, Armenie, Syrie, Mesopotamie, Caucase. 1839. (CG).jpg|thumb|Mapa da Média, de 1839]]
É provável que os assírios tenham sido responsáveis pela unificação das tribos medas. Os repetitivos ataques assírios forçaram os vários habitantes dos Zagros e do país a cooperar e desenvolver uma liderança mais eficaz. Os assírios também apreciavam produtos do leste, como [[lápis-lazúli]], e a rota leste-oeste através da Média se tornava cada vez mais importante. Os chefes tribais ao longo da estrada poderiam obter lucros substanciais se estivessem dispostos a abandonar seu modo de vida nômade e se instalar em residências mais permanentes. O comércio pode explicar a ascensão de Ecbátana como a cidade central da Média e pode ter sido o gatilho que iniciou o processo de unificação.<ref name=":3" />


Vários dos sítios escavados no Irã, incluindo Godin Tepe, Tepe Nus-i Jã, Moush Tepe, Gunespan, Baba Jan e Tepe Ozbaki, apresentam semelhanças significativas na arquitetura, cerâmica e achados pequenos a ponto de serem considerados possivelmente medos. Os assentamentos medos podem ser resumidos como dispersos, com nodos fortificados controlando planícies, vales e passagens principais.<ref name=":39" /> Os maiores sítios identificados na Média medem apenas 3-4 hectares, o tamanho de pequenas aldeias. Notavelmente, a arquitetura monumental encontrada em muitos sítios medos não parece estar integrada a assentamentos maiores. É difícil conciliar essa imagem arqueológica com o sistema de "senhores da cidade" mencionado nas fontes assírias.<ref name=":29" /> A capital da Média, Ecbátana, é um local de grande interesse para o estudo arqueológico, mas as escavações até o momento revelaram vestígios que pertencem ao período sassânida.<ref name=":16" /> A antiga capital em Ecbátana foi simplesmente enterrada ou destruída pela ocupação subsequente substancial do local.<ref name=":29" /> A identificação de sítios medos fora do Irã é desafiadora, mas certas características cerâmicas e arquitetônicas podem indicar uma presença ou pelo menos alguma influência meda dispersa em locais como Nor Armavir e Arinberd na Armênia, [[Altintepe]], [[Vã (cidade)|Vã]] e [[Tille Höyük]] na Turquia, [[Qizkapan]] e [[Tell Gubba]] no Iraque e [[Ulug Depe]] no Turquemenistão.<ref name=":39" /> Os achados arqueológicos no sítio urartiano de Erebuni, na Armênia, mostraram que uma sala com colunas inicialmente datada do período aquemênida agora provavelmente foi construída no final do século VII a.C. Este é o período após a queda da Assíria, quando os medos teriam começado sua expansão para o norte, de acordo com Heródoto. Uma sala semelhante com colunas em Altintepe, no leste da Turquia, também pode ser datada deste período. A disseminação da forma da sala com colunas antes da ascensão do Império Aquemênida sugere alguma forma de presença ou influência meda em regiões adjacentes durante o final do século VII e início do século VI a.C.<ref name=":29" /> Evidências de escavações e levantamentos recentes sugerem que o assentamento permanente na Média persistiu além do final do século VII a.C. A construção monumental parece ter continuado em vários sítios, e uma forma inicial de moeda aparentemente estava em uso no coração da Média por volta de 600 a.C.{{sfn|Rollinger|2021|p=213-214}} No entanto, o Império Medo ainda não é um fato arqueológico concreto e sua história é amplamente baseada nas informações fornecidas por Heródoto e outros textos influenciados direta ou indiretamente por ele.<ref>{{Citar web|url=https://www.livius.org/articles/place/tepe-nush-e-jan/|titulo=Tepe Nush-e Jan|acessodata=2021-11-29|website=Livius.org}}</ref>
=== Estabelecimento do Reino ===
[[imagem:Area_inicial_da_media.gif|miniaturadaimagem|Território original dos medos antes de sua expansão]]


== História ==
As condições exatas da fundação do reino medo permanecem inacessíveis no estado atual da documentação disponível sobre esse assunto. De acordo com [[Ctésias de Cnido|Ctésias]], a Média era uma província do Império Assírio e o medo [[Arbaces]] era um dos generais de [[Sardanápalo]], rei da Assíria. Arbaces teria liderado uma rebelião contra Sardanápalo em aliança com os persas, babilônios e árabes, e após sua vitória, ele teria se tornado o primeiro rei da Média e governaria por 28 anos. Mas isso não é confirmado por outras fontes históricas, e provavelmente foi uma história inventada pelo próprio Ctésias.<ref>{{Citar web|titulo=ARBACES – Encyclopaedia Iranica|url=http://www.iranicaonline.org/articles/arbaces-greek-form-of-an-old-iranian-proper-name|obra=www.iranicaonline.org|acessodata=2020-05-27}}</ref> Segundo [[Heródoto]], o unificador dos medos foi [[Déjoces]], um líder tribal, que consegue astuciosamente ser proclamado rei de seu povo e funda um grande reino organizado no início do {{-séc|VII}}, tendo [[Ecbátana]], supostamente fundada por ele, como capital.<ref name=":Dj">{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/deioces |titulo=DEIOCES – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-08-09 |website=iranicaonline.org}}</ref> No entanto, isso não é indicado em fontes textuais da época, nem em achados arqueológicos. Déjoces tem sido associado com um “rei” iraniano chamado [[Daiucu]], que é mencionado nas fontes textuais neoassírias como um dos cativos deportados para Assíria por [[Sargão II]] em {{AC|715|x}}; no entanto essa associação é altamente improvável e sem dúvida não se trata do mesmo rei mencionado por Heródoto, pois os fatos mencionados estariam localizados ao redor do [[lago Úrmia]] e não no território medo.<ref>{{en}} A. Panaino, « Herodotus I, 96-101 : Deioces' conquest of power and the foundation of sacred royalty », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=327-338}}</ref><ref name=":Dj" /> A julgar pelas fontes contemporâneas, nenhum reino medo unificado como Heródoto descreve existia no início do {{-séc|VII}} e seu relato é obviamente uma lenda meda sobre a fundação de seu reino.<ref name=":7">{{Citar web|titulo=Historic Personalities of Iran: Median Empire|url=http://www.iranchamber.com/history/median/median.php|obra=Iranchamber.com|acessodata=2020-06-05}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/place/ancient-Iran |titulo=Ancient Iran |acessodata=2020-08-07 |website=Encyclopedia Britannica |lingua=en}}</ref>
=== Campanhas assírias na Média ===
[[imagem:Empire neo assyrien-pt.svg|miniaturadaimagem|Mapa do Império Neoassírio]]


No final do {{AC|II milênio|x}}, as tribos medas começaram a se estabelecer no território da futura Média no oeste do Irã. A partir do {{-séc|IX}}, os assírios regularmente invadiram e saquearam regiões do noroeste do Irã, onde naquela época existiam dezenas de pequenos principados. A primeira menção dos medos em textos assírios refere-se a {{AC|834|x}}, quando o rei [[Salmaneser III]] {{-nwrap|r.|858|824}} retornava de uma campanha com seu exército passando na planície de Hamadã através do território medo.<ref name=EnIr /> Os medos se constituíram em numerosas pequenas entidades sob chefes tribais,<ref name=":9">[https://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200002956 "Medos, Média"]. ''Estudo Perspicaz das Escrituras''. '''2'''. Escritura-Mísia. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (1998).</ref> e mesmo conseguindo subjugar vários chefes medos, os os reis assírios nunca conquistaram toda a Média.<ref name=":3">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/people/medes/ |titulo=Medes |acessodata=2020-06-15 |obra=Livius.org}}</ref> Em {{AC|815|x}}, [[Samsiadade V]] {{-nwrap|r.|823|811}} marchou contra Saguebita, a "cidade real" do chefe medo Hanasiruca, e a conquistou. Segundo a inscrição assíria, 2.300 medos foram mortos e Saguebita, assim como 1.200 assentamentos localizados em suas proximidades, foram destruídos. Essa campanha foi de grande importância, pois a partir de então a Assíria impunha tributo regular às tribos medas em cavalos, gado e produtos artesanais. Agora os assírios transferiram a direção principal de seus ataques para a Média. Essa transferência foi parcialmente causada pelos eventos na zona de Úrmia, já que no final do {{-séc|IX}} os urartianos conquistaram as margens oeste e sul do lago Úrmia e começaram a avançar para [[Manai]]. A Assíria falhou em deter o avanço urartiano e gradualmente se tornou um aliado de Manai em sua luta contra [[Urartu]]. Os assírios não conseguiram de garantir os resultados das seis campanhas (nos anos 809, 800, 799, 793, 792 e {{AC|788|x}}) travadas contra os medos por [[Adadenirari III]] {{-nwrap|r.|810|781}} e, posteriormente, uma longa crise política começou a se desenvolver na Assíria. Mais tarde, durante o reinado de [[Tiglate-Pileser III]] {{-nwrap|r.|745|728}}, a Assíria começou a organizar províncias em países conquistados, o que garantiu uma fonte regular de renda e também serviu de base para a conquista de territórios vizinhos. A leste de seu país, os assírios criaram mais duas províncias, onde foram instalados governadores e guarnições assírias, fazendo as fronteiras da Assíria aproximaram-se da Média. Em {{AC|744|x}}, os assírios receberam tributo dos medos e em {{AC|737|x}}, Tiglate-Pileser invadiu a Média, e desta vez os assírios alcançaram as partes mais remotas do país e exigiram tributo dos "governantes da cidade" dos medos até o deserto de sal e o monte Bicni. Em um relato dessa campanha, Tiglate-Pileser menciona "as províncias dos poderosos medos" e também afirma que ele deportou 6.500 pessoas do noroeste do Irã para a Síria e a Fenícia.<ref name=EnIr />
Após anexarem a Babilônia como uma província comum em {{AC|689|x}}, os assírios voltaram a concentrar sua atenção nas províncias medas que estavam sujeitas a eles. O rei assírio [[Assaradão]] {{-nwrap|r.|680|669}} empreendeu várias expedições ao território iraniano, mas a situação na região tornou-se gradualmente mais tensa e as expedições assírias para coletar tributos às vezes terminavam malsucedidas. Assaradão se esforçou para anexar províncias na Média, e em {{AC|672|x}} concluiu um acordo de paz com alguns chefes medos. No entanto, no mesmo ano ou no ano seguinte, uma revolta aberta contra a Assíria eclodiu nas províncias do leste. A rebelião provavelmente se espalhou para várias províncias assírias orientais na primavera de {{AC|671|x}}<ref name=":14">M. Dandamaiev e È. Grantovski, “ASSYRIA i. The Kingdom of Assyria and its Relations with Iran,” Encyclopaedia Iranica, II/8, pp. 806-815, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/assyria-i (acessado em 02 de Setembro de 2021).</ref> Entre os três chefes medos que lideraram a revolta, [[Castariti]] desempenhou o papel principal e começou gradualmente a unir as tribos medas. A revolta foi bem-sucedida e os medos alcançaram a independência, embora seu estado ainda não incluísse todas as províncias e tribos medas, e algumas áreas no oeste do Irã ainda estavam sob o domínio assírio.<ref name=EnIr /> As fontes assírias cessam antes {{AC|650|x}} sem mencionar a fundação do reino medo centralizado, mas tudo indica que o surgimento do império foi após {{AC|650|x}}<ref name=":1" /> O unificador de todas as tribos medas em um único reino deve ter sido o filho de Déjoces, [[Fraortes (rei)|Fraortes]],<ref>{{Citar web|titulo=Deioces {{!}} king of Media|url=https://www.britannica.com/biography/Deioces|obra=Encyclopedia Britannica|lingua=en}}</ref> que provavelmente é a mesma pessoa que Castariti mencionado acima.<ref>{{Citar web|titulo=PHRAORTES – Encyclopaedia Iranica|url=http://www.iranicaonline.org/articles/phraortes|obra=www.iranicaonline.org|acessodata=2020-05-31}}</ref> Também é possível que o estado medo unificado só tenha surgido durante o reinado de Ciaxares, filho de Fraortes.<ref>{{harv|Young|1988|pp=19-21}}</ref>


Sob [[Sargão II]] {{-nwrap|r.|722|705}}, a presença assíria na Média atingiu o seu ponto culminante. Sargão tentou estabelecer um controle administrativo direto sobre essas regiões distantes, seguindo o sistema provincial já implementado em áreas mais acessíveis e próximas. Os governadores assírios coexistiram com os senhores de cidades locais: os primeiros, provavelmente, eram responsáveis pelo controle do comércio de longa distância e a arrecadação de tributos, enquanto os últimos permaneciam no poder para lidar com assuntos locais.<ref name=":16" /> Apesar de estar ativo na região de Zagros, [[Senaqueribe]] {{-nwrap|r.|704|681}} operou em um nível muito discreto em comparação com seus antecessores, Tiglate-Pileser III e Sargão II. Isso pode sugerir que, após os problemas iniciais para controlar as novas províncias Kar-Sarrukin e Kār-Nergal, as coisas progrediram tranquilamente nos territórios assírios orientais após 713 a.C. O sistema dual estabelecido, envolvendo a administração provincial assíria e os senhores locais das cidades, parece ter encontrado um equilíbrio mutuamente benéfico. As fontes disponíveis mostram o controle contínuo assírio sobre as províncias fundadas por Tiglate-Pileser e Sargão, pelo menos até o reinado de Assaradão. Em 702 a.C., Senaqueribe envolveu-se com os medos durante uma campanha contra o reino de Elipi, nas montanhas de Zagros. Isso marcou seu único contato direto registrado com os medos em seu próprio território, recebendo tributo dos medos que residiam fora das regiões controladas pelos assírios.<ref name=":30" />
Em meados do {{-séc|VII}}, [[Urartu]], assim como a Assíria, representava uma séria ameaça para a Média e na primeira metade do {{-séc|VII}} continuou sua atividade militar no leste, penetrando em território iraniano. Por volta de {{AC|640|x}}, no entanto, todas as fortalezas na parte oriental de Urartu foram destruídas e abandonadas. Isso poderia ser resultado apenas da expansão meda, pois naquela época não existia nenhum outro poder na região que fosse capaz de destruir Urartu. Provavelmente, os medos não apenas atacaram a parte oriental do país, mas também penetraram no interior de Urartu, que assim deixou de existir como um estado independente. Após a queda de Urartu, os medos começaram a conquistar a [[Pérsia]]. Mas, de acordo com Heródoto, que aparentemente não sabia nada sobre Urartu e Elão, a Pérsia foi a primeira nação a ser conquistada pelos medos. Acredita-se que a conquista da Pérsia tenha acontecido apenas algum tempo depois de {{AC|641|x}}, quando [[Ciro I]], governante persa de [[Ansã]], se tornou um tributário assírio após uma vitória decisiva dos assírios sobre o Elão.<ref name=EnIr /> Que um rei medo nesse período exerceu controle político e militar sobre a Pérsia é inteiramente razoável, embora não possa ser provado.<ref name=":7" /> Segundo Heródoto, o rei Fraortes liderou um ataque contra a Assíria, mas o rei assírio conseguiu repelir a invasão e o próprio Fraortes, juntamente com grande parte de seu exército, teria morrido na batalha.<ref>{{citar heródoto|1|102}}</ref> É pouco provável que o ataque fracassado de Fraortes tenha ocorrido durante o reinado de [[Assurbanípal]] {{-nwrap|r.|668|631|}}. Somente após a morte de Assurbanípal é que tal ataque é pensável.<ref name=":4" />


Os assírios consistentemente se referiam aos medos como habitantes de assentamentos governados por ''bēl ālāni'' ("senhores das cidades"). A coalescência de um poder autoritário mais amplo provavelmente teve suas origens nas relações interpessoais entre esses ''bēl ālāni'' medos.<ref name=":33" /> A aplicação de um modelo de formação de Estado secundário ao caso da Média propõe que, estimulados por décadas de intrusão assíria agressiva, os ''bēl ālāni'' medos aprenderam pelo exemplo a se organizar e administrar politicamente e economicamente para alcançar um status semelhante ao de um Estado.<ref name=":39">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=kb5vEAAAQBAJ&pg=RA7-PA1978 |título=The Archaeology of Iran from the Palaeolithic to the Achaemenid Empire|ultimo=Matthews|primeiro=Roger|ultimo2=Nashli|primeiro2=Hassan Fazeli|data=2022-06-30|editora=Taylor & Francis|lingua=en}}</ref> Os frequentes ataques assírios forçaram os vários habitantes da Média a cooperar e desenvolver uma liderança mais eficaz. Os assírios também apreciavam produtos do leste, como o [[lápis-lazúli]] bactriano, e a rota leste-oeste através da Média se tornava cada vez mais importante. O comércio pode explicar a ascensão de Ecbátana como a cidade central da Média e pode ter sido o gatilho que iniciou o processo de unificação.<ref name=":3" />
===Interregno cita===
[[Imagem:Scythians shooting with bows Kertch antique Panticapeum Ukrainia 4th century BCE.jpg|thumb|Arqueiros citas atirando com [[Arco compósito|arco composto]], [[Querche]] (antigo [[Panticapeu]]), [[Crimeia]], {{-séc|IV}}]]
Nos tempos antigos, as extensas áreas ao norte do Mar Negro e do Cáspio eram habitadas pelos [[citas]]. Etnicamente, esse povo parece ter sido conectado com muitos povos meridionais, como os partas e os ibéricos.{{sfn|name=Gut|Rawlinson|2007}} No final do {{-séc|VIII}} e início do {{-séc|VII}}, grupos de guerreiros nômades entraram no oeste do Irã. Entre os grupos dominantes estavam os citas, e sua entrada nos assuntos do planalto ocidental durante o {{-séc|VII}} talvez possa marcar um dos pontos de virada mais importantes na história da [[Idade do Ferro]]. Heródoto fala com alguns detalhes de um período de domínio cita, o chamado [[interregno]] cita na dinastia meda. A datação desse evento permanece incerta, mas tradicionalmente é vista como ocorrendo entre os reinados de Fraortes e Ciaxares.<ref name=":7" /> O iranologista russo [[Edvin Grantovski]] data esse evento como ocorrendo entre {{AC|635|x}} e {{AC|615|x}}, enquanto o historiador [[George C. Cameron|George Cameron]] data entre {{AC|653|x}} e {{AC|625|x}}<ref name=EnIr />


=== Unificação ===
Heródoto relata que [[Ciaxares]] queria vingar a morte de seu pai, Fraortes, e levantou um grande exército para derrotar os assírios. Ciaxares derrotou os assírios na batalha e cercava [[Nínive]], a capital assíria, quando de repente foi atacado por um grande exército de citas.<ref name=":12" /> É possível que os citas tenham se interessado na batalha dos medos ou o fato dos medos terem subjugados os citas do sul levou a uma grande invasão de citas da região transcaucasiana. Os exércitos meda e cita não eram incompatíveis: ambos eram guerreiros resistentes, tinham cavalaria e o arco como sua principal arma. Os medos certamente eram mais disciplinados e tinham uma maior variedade de armas e soldados, mas os citas tinham a vantagem numérica, além de ousadia imprudente e táticas difíceis. Os citas, liderados por [[Mádies]], obtiveram a vitória e Ciaxares admitiu a suserania dos citas concordando em pagar um tributo anual. O jugo cita deve ter sido muito insuportável, caracterizado pela brutalidade, injustiça e altos impostos. A condição da Média e dos países circunvizinhos durante o domínio cita é desconhecida, mas parece os invasores não estabeleceram lugares fixos. Eles certamente ocuparam poucos lugares no vasto território que haviam subjugado e, consequentemente, não havia muito contato entre eles e os povos conquistados. Conforme o tempo passava, os citas se espalhavam gradualmente por um espaço cada vez mais amplo, invadindo a Mesopotâmia, Síria, Palestina, Armênia e Capadócia, tornando-se cada vez mais fracos. Diante da situação favorável, os medos se prepararam para recuperar sua independência. Segundo Heródoto, Ciaxares convidou os líderes citas para um banquete e os induziu a beber até que estivessem totalmente bêbados, atacou-os e os matou facilmente. Consequentemente teria se sucedido uma guerra, cuja duração e circunstâncias são desconhecidas. Segundo Ctésias, os partas se aliaram aos citas e a guerra teria durado muitos anos; e a paz foi finalmente concluída sem que nenhum lado ganhasse a vantagem. Mas essa história dificilmente pode ser aceita como tendo qualquer fundamento histórico. A única certeza é que o resultado da guerra foi a derrota dos citas, que perderam sua posição de preeminência na Média e nos países adjacentes.<ref name=Gut /> No entanto, é mais provável que, nessa época, os citas se retirassem voluntariamente do oeste do Irã e fossem saquear em outros lugares ou fossem simplesmente absorvidos por uma confederação em rápido desenvolvimento sob a hegemonia meda.<ref name=":7" />
Segundo Heródoto, [[Déjoces]] planejou estrategicamente estabelecer um governo autocrático sobre os medos. Em um período de grande anarquia na Média, Déjoces trabalhou diligentemente para estabelecer a justiça, ganhando uma reputação como juiz imparcial e justo. Eventualmente, ele deixou de administrar a justiça, levando ao caos na Média. Isso levou os medos a se reunirem e decidirem eleger um rei, resultando finalmente em Déjoces tornando-se o governante deles. Em seguida, uma cidade fortaleza chamada Ecbátana foi construída, onde toda a autoridade governante foi centralizada.<ref name=":Dj">{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/deioces |titulo=DEIOCES – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-08-09 |website=iranicaonline.org}}</ref><ref name=":29" /> No entanto, isso não é indicado em fontes textuais da época, nem em achados arqueológicos.<ref>{{en}} A. Panaino, « Herodotus I, 96-101 : Deioces' conquest of power and the foundation of sacred royalty », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=327-338}}</ref> A julgar pelas fontes assírias, nenhum Estado medo unificado como o que Heródoto descreve para o reinado de Déjoces existia no início do {{-séc|VII}} e seu relato é na melhor das hipóteses uma lenda meda sobre a fundação de seu reino.<ref name=":7">{{Citar web|titulo=Historic Personalities of Iran: Median Empire|url=http://www.iranchamber.com/history/median/median.php|obra=Iranchamber.com|acessodata=2020-06-05}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.britannica.com/place/ancient-Iran |titulo=Ancient Iran |acessodata=2020-08-07 |website=Encyclopedia Britannica |lingua=en}}</ref><ref name=":30" /> Em contraste, Ctésias apresenta uma narrativa diferente centrada em um medo chamado [[Arbaces]]. Arbaces serviu como general no exército assírio e como governador dos medos em nome do rei assírio. Ele conheceu seu futuro aliado, o babilônico Belesys, em Nínive, onde ambos comandaram as tropas auxiliares medas e babilônicas da Assíria durante um ano de serviço militar. Encorajados pela fraqueza do rei assírio [[Sardanápalo]], Arbaces e Belesys se rebelaram contra a Assíria, e Arbaces emergiu como o primeiro rei da Média. Embora nomes semelhantes ou idênticos a Déjoces e Arbaces apareçam em fontes assírias, esses nomes parecem ter sido comuns entre as pessoas do planalto iraniano durante o período assírio. Assim, nenhum dos indivíduos com esses nomes pode ser identificado conclusivamente como os protagonistas descritos pelos historiadores gregos. Embora alguns personagens em Heródoto e Ctésias possam ser identificados com figuras conhecidas em fontes assírias e babilônicas, permanece desconhecido em que medida muitos detalhes em suas histórias refletem a realidade histórica.<ref name=":27" />


O rei assírio [[Assaradão]] {{-nwrap|r.|680|669}} realizou várias expedições ao território iraniano. Comparado com as conquistas de Sargão, os resultados da campanha de Assaradão foram bastante insignificantes.<ref name=EnIr /> Provavelmente em 676 a.C., e certamente antes de 672 a.C., os senhores das cidades Uppis de Partakka, Zanasana de Partukka e Ramateia de Urakazabarna trouxeram cavalos e lápis-lazúli como tributo a Nínive. Esses governantes, originários de regiões além das províncias assírias no Zagros, se submeteram a Assaradão e buscaram sua assistência contra senhores das cidades rivais. Este episódio é seguido pela deportação de dois senhores das cidades do país de Patušarri para a Assíria, indicando que as atividades de Assaradão contra os medos "distantes" alcançaram o Mar Cáspio e o Deserto de Sal próximo ao Monte Bicni. No entanto, ao contrário de seus predecessores, Assaradão não parece ter expandido o território assírio no Irã.<ref name=":30" /> Ramateia também é mencionado nos chamados “juramentos de lealdade” que foram concluídos por ocasião da nomeação do sucessor do trono assírio em {{AC|672|x}} Nesse ano foram concluídos acordos entre Assaradão e chefes de várias regiões ocidentais da Média, que garantiam sua lealdade ao rei assírio, bem como a segurança de suas posses. Os estudiosos geralmente consideram este acordo como um “tratado vassalo” imposto pela administração assíria aos vassalos recentemente submetidos, mas [[Mario Liverani]] argumentou que este acordo foi resultado de lutas internas entre vários grupos medos, bem como da presença de guerreiros armados medos no palácio assírio servindo como guarda-costas do príncipe herdeiro. Os chefes medos tiveram que fazer um juramento de que seus homens na corte assíria seriam leais a Assaradão e seu filho Assurbanípal.<ref name=EnIr />
Heródoto acreditava que desde a vitória cita sobre os medos até o assassinato dos líderes citas foi um período de exatamente 28 anos, mas essa cronologia está aberta a grandes objeções.<ref name=Gut /> É muito improvável que os citas tenham dominado os medos por vinte oito anos, os citas eram nômades da Ucrânia moderna e, embora fossem guerreiros ferozes, eram incapazes de governar grandes territórios por um longo período.<ref name=":12" /> Se 28 dos 40 anos de reinado atribuídos a Ciaxares forem considerados anos de inação, todas as suas grandes façanhas, seus cercos à Nínive, a conquista dos países ao norte e oeste da Média, e sua guerra de cinco anos contra a Lídia, seriam aglomerados de forma muito improvável num curto espaço de tempo. Essas e outras razões levam à conclusão que a dominação cita foi de muito mais curta. Não pode ter se passado muito tempo depois do ataque cita para que os medos começassem a se recuperar e limpar seus territórios dos citas. Se a invasão ocorreu no reinado de Ciaxares, e não no reinado de Fraortes, onde [[Eusébio de Cesareia|Eusébio]] a coloca, devemos supor que oito anos após sua ocorrência os medos estavam fortes para retomar seus antigos projetos e, pela segunda vez, levar um exército para a Assíria.<ref name=Gut /> Embora não seja implausível, exceto pela duração da invasão cita,<ref name=":12" /> a história da dominação cita tem um caráter lendário e não é confiável, uma vez que não pode ser reconciliada com a verdadeira história da Média no {{-séc|VII}} e com todo o resto do antigo Oriente Próximo.<ref name=EnIr /> Apesar da historicidade do interregno cita ser duvidosa, os citas são mencionados nas fontes assírias no mesmo período do suposto interregno.<ref>{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/iran-vi1-earliest-evidence |titulo=IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Ear – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-08-05 |website=iranicaonline.org}}</ref>


A julgar pelos textos assírios da época de Assaradão, a situação nas fronteiras orientais da Assíria era extremamente tensa.<ref name=EnIr /> Enquanto entrar nas províncias assírias em Zagros para coletar tributos é rotina para vários governadores após 713 a.C., tais missões eram repletas de perigo na época de Assaradão. Esse aumento no risco decorreu não apenas de adversários tradicionais como os medos e maneanos, mas também dos cimérios e citas ativos no Irã. A principal ameaça no leste provinha das ações de [[Kaštaritu]], o senhor da cidade de Kār-Kaššî, que é mencionado de forma proeminente em consultas de oráculos sobre assuntos medos. Os assírios viam Kaštaritu como um líder político de influência substancial e uma força a ser considerada; Assaradão estava preocupado com Kaštaritu tramando com outros senhores das cidades medas, mobilizando-se contra a Assíria e atacando as fortalezas e cidades assírias. As fontes disponíveis não revelam se uma resolução pacífica ou militar para os problemas com Kaštaritu foi alcançada; esse silêncio pode sugerir um desfecho negativo. Ataques às fortalezas assírias mostram que a Assíria começou a perder o controle do território no leste durante o reinado de Assaradão. Saparda, que foi incorporada à província de Harhar em 716 a.C., não estava mais sob controle assírio, e seu senhor da cidade, Dusanni, é mencionado, ao lado de Kaštaritu, como inimigo da Assíria em várias consultas de oráculos.<ref name=":30">{{en}} K. Radner, « [https://www.academia.edu/441280/2003 An Assyrian View of the Medes] », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=37-64}}</ref> Durante o reinado de [[Assurbanípal]] {{-nwrap|r.|668|630}}, referências aos medos tornam-se muito escassas. Em uma inscrição, Assurbanípal relata que três senhores da cidade medos haviam se rebelado contra o domínio assírio, foram derrotados e levados para Nínive durante sua quinta campanha em 656 a.C. Esta é a última menção aos medos nas fontes assírias. O fato de os três governantes medos serem descritos como senhores da cidade pode indicar que a estrutura de poder entre os medos nesse momento era a mesma que no século VIII a.C. Não se sabe se as províncias assírias nos Zagros, Parsua, Bīt-Hamban, Kišessim (Kār-Nergal) e Harhar (Kar-Sarrukin), ainda faziam parte do império durante o reinado de Assurbanípal.<ref name=":30" /> Embora o silêncio mantido nas fontes assírias sobre os iranianos nesse período possa indicar que a Assíria estava menos preocupada com eles do que durante o reinado de Assaradão,<ref name=":4">{{Citar web |url=https://www.iranicaonline.org/articles/assurbanipal-king-of-assyria-666-25-bc |titulo=AŠŠURBANIPAL – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-11-07 |website=iranicaonline.org}}</ref> tudo parece indicar que os assírios estão perdendo o controle sobre as províncias estabelecidas nos Zagros. Isso poderia ter ajudado a deixar espaço para o desenvolvimento de um Estado medo unificado<ref>{{harvsp|id=BRO|Brown|1990|p=621-622}}</ref> e embora as fontes assírias não façam referência a um Estado territorial medo unificado que seria comparável à própria Assíria ou a outros principados contemporâneos, como Elão, Manai ou Urartu, muitos estudiosos ainda relutam em atribuir nenhuma relevância histórica ao relato de Heródoto.<ref name=":30" />
===Queda do Império Assírio===
{{Ver artigo principal|Conquista medo-babilônica do Império Assírio}}
[[Imagem:Map of Assyria-pt.svg|thumb|Mapa do Império Neoassírio]]
As fontes assírias mantêm silêncio sobre os iranianos durante o reinado de [[Assurbanípal]] {{-nwrap|r.|668|631}}, o que pode ou não indicar que a Assíria estava menos preocupada com eles do que durante o reinado de Assaradão.<ref name=":4">{{Citar web |url=https://www.iranicaonline.org/articles/assurbanipal-king-of-assyria-666-25-bc |titulo=AŠŠURBANIPAL – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-11-07 |website=iranicaonline.org}}</ref> No entanto, tudo parece indicar que os assírios estão gradualmente perdendo o controle sobre as províncias estabelecidas nos Zagros, enquanto suas ofensivas militares prejudicaram várias entidades políticas na região, principalmente [[Manai]] e [[Ellipi]]. Isso poderia ter ajudado a deixar espaço para o desenvolvimento de um reino medo unificado, que nunca é mencionado nas fontes assírias, que não documentam essa região nos anos que seriam os da ascensão de Ciaxares.<ref>{{harvsp|id=BRO|Brown|1990|p=621-622}}</ref> Após a morte de Assurbanípal em {{AC|631|x}}, o Império Assírio entrou num período de instabilidade política e começou a se desfazer.<ref>{{Citar web |url=https://www.worldhistory.org/assyria/ |titulo=Assyria |acessodata=2021-09-23 |website=World History Encyclopedia |lingua=en}}</ref> Em {{AC|626|x}}, os babilônios se rebelaram contra a dominação assíria. Nabopolassar, governador das regiões do sul e líder da revolta, foi logo reconhecido como rei da Babilônia, e em {{AC|616|x}} ele estava no controle total de todo o território babilônico; então ele marchou contra a Assíria.<ref name=EnIr />


Os medos reaparecem em fontes contemporâneas cerca de quarenta anos depois, em 615 a.C., sob a liderança de Ciaxares, lançando um ataque ao coração do Império Assírio e aliando-se aos babilônios. Nada nas fontes assírias existentes fornece ''insights'' sobre como Ciaxares assumiu a liderança de uma força meda unificada, uma vez que as décadas anteriores são marcadas por uma escassez de fontes sobre as políticas internas e externas da Assíria.<ref name=":30" /> O raciocínio atual sustenta que a transição em direção a um Estado unificado pode ter ocorrido no período de 670 a {{AC|615|x}}, durante o reinado do rei Assurbanípal ou de seus sucessores. A falta de registros assírios ou outras fontes contemporâneas para esse período deixou o espaço "livre" para a aceitação do relato de Heródoto. Embora as informações do historiador grego sobre os períodos anteriores carecem de confiabilidade, no caso de Ciaxares, sua existência e seu papel na queda de Nínive são corroborados pela Crônica Babilônica. Assim, as demais informações concernentes à cronologia de seu reinado e ao seu status como rei de um Estado unificado têm mais credibilidade.<ref name=":16" /> Segundo Heródoto, Déjoces foi sucedido por seu filho [[Fraortes (rei)|Fraortes]]. Heródoto pode ter adiantado os eventos relacionados aos reis medos por um reinado. Assim, o fundador do reino medo, que uniu todas as tribos medas e construiu a nova capital da Média, poderia ter sido o sucessor de Déjoces.{{sfn|Diakonoff|1985|p=109}} Fraortes é comumente identificado com o Castariti que liderou a revolta meda contra os assírios em 672 a.C., embora alguns estudiosos tendem a rejeitar essa identificação ou considerá-la duvidosa.<ref name=EnIr /> Outros estudiosos acreditam que os medos só foram unificados sob Ciaxares, que segundo Heródoto era filho de Fraortes e iniciou seu reinado por volta de {{AC|625|x}}<ref>{{harv|Young|1988|pp=19-21}}</ref><ref name=":9" /><ref name="EnBri">[http://www.britannica.com/EBchecked/topic/372125/Media "Media (ancient region, Iran)"] [[Encyclopædia Britannica]]. Pesquisa em 28/04/17</ref> A partir de 627 a.C., os assírios estavam definitivamente com sérios problemas, tanto em casa quanto na Babilônia, e, portanto, é provável que o Reino Medo tenha surgido após 627, ou possivelmente já após 631 a.C.<ref name=":27" />
[[Ciaxares]] {{-nwrap|r.|625|585}}, filho de Fraortes, é uma figura totalmente histórica sendo mencionado nas fontes cuneiformes. Os anos de sua suposta ascensão no poder não são documentados pelas fontes assírias, que nunca deixaram nada além da imagem de um país politicamente fragmentado.<ref name="rad">{{en}} K. Radner, « An Assyrian View of the Medes », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=37-64}}</ref> O historiador Heródoto fala de como ele reorganizou o exército medo em unidades por tipo de armamento, dividindo-o em lanceiros, arqueiros e cavalaria no lugar das antigas levas estruturados por princípios tribais. Os eventos subsequentes da história meda são bem conhecidos a partir de fontes babilônicas, e seus vários episódios são descritos por Heródoto. Os medos unificados e reorganizados eram páreo para os assírios, a força político-militar mais poderosa da região. Liderados por seu rei Ciaxares, os medos também decidiram guerrear contra os assírios e em novembro de {{AC|615|x}} atacaram uma das importantes cidades fronteiriças assírias, [[Arrapa]] (atual [[Quircuque]]) e anexaram o território de seu ex-aliado, Manai. Em {{AC|614|x}}, os medos apreenderam [[Tarbisu]], localizada ao longo do rio Tigre, ao norte de [[Nínive]], a capital da Assíria. Eles também cercaram Nínive, mas não conseguiram capturá-la, e, em vez disso, tomaram com sucesso o centro religioso assírio, [[Assur (Assíria)|Assur]].<ref name=EnIr /> O rei [[Nabopolassar]] foi com seu exército ao campo de batalha para ajudar os medos na conquista de Assur, porém, quando chegaram, a cidade já havia sido conquistada. A partir deste momento Ciaxares e Nabopolassar uniram forças e atacaram o Império Assírio em duas frentes. O historiador babilônico [[Beroso]] menciona que essa aliança entre a Babilônia e a Média foi selada com o casamento da neta de Ciaxares, [[Amitis da Média|Amitis]], com o filho de Nabopolassar, [[Nabucodonosor II]]. Mas é impossível que Amitis seja neta de Ciaxares, pois Astíages, o filho dele, era muito jovem; e com toda a probabilidade, Amitis era filha do próprio Ciaxares e portanto, irmã de Astíages.<ref name=":12">{{Citar web|titulo=Cyaxares|url=https://www.livius.org/articles/person/cyaxares/|obra=Livius.org|acessodata=2020-06-08}}</ref> Em agosto de {{AC|612|x}}, após três meses de cerco, as forças militares medas e babilônicas unidas finalmente entraram em Nínive e a conquistaram. O rei assírio [[Sinsariscum]] foi morto, mas parte do exército assírio conseguiu romper as linhas do cerco a Nínive e fugir para [[Harã]], na [[Mesopotâmia Superior|Alta Mesopotâmia]], onde, sob comando de [[Assurubalite II]], continuaram a guerra. Nesse ínterim, os medos voltaram para sua terra com a parte dos despojos, deixando os babilônios para terminar a guerra com os assírios. O faraó egípcio [[Neco II]] enviou ajuda ao exército assírio que havia se entrincheirado em Harã. Então Nabopolassar parece ter pedido ajuda aos medos.<ref name=":14" /> Em novembro de {{AC|610|x}}, os medos retornaram a Mesopotâmia em assistência aos babilônios e suas forças unidas marcharam para Harã; ao se aproximarem, os assírios e egípcios recuaram para [[Carquemis]], uma cidade no Alto Eufrates. Os medos saquearam Harã e retornaram para sua terra. Em {{AC|605|x}}, os babilônios marcharam para Carquemis e a conquistaram, derrotando totalmente os assírios e egípcios. Não está claro se os medos também participaram dessa derrota final dos assírios,<ref name=EnIr /> mas é provável que eles tenham auxiliado os babilônios.<ref name=Gut /> A questão, é claro, era como dividir o território assírio entre a Média e a Babilônia. As fontes cuneiformes são comparativamente silenciosas<ref name=":7" /> e há controvérsias sobre onde ficava a fronteira entre os dois países. Fontes gregas diretas implicam ocupação meda, fontes cuneiformes não negam isso, mas não impõe uma visão da Assíria e do norte da Mesopotâmia como parte do Império Medo.<ref name=":1" /> Até recentemente, era uma opinião comum que, como resultado da queda da Assíria, os medos tomaram posse das terras assírias a leste do rio Tigre, bem como da região de Harã. Esta visão foi revisada e acredita-se que o núcleo assírio estava sob o domínio babilônico. Em qualquer caso, nenhum conflito direto entre a Média e a Babilônia pela fronteira foi registrado, mas as relações entre os dois países se deterioraram claramente desde a queda da Assíria. Os limites ocidentais da Média ficaram perto das planícies mesopotâmicas<ref name=EnIr /> tendo os medos tomado posse das áreas montanhosas ao norte da Mesopotâmia e as províncias assírias na Ásia Menor.<ref name=":7" /> Assim, dois impérios consideráveis surgiram ao mesmo tempo — o [[Império Neobabilônico|Império Babilônico]] em direção ao sul e sudoeste, estendeu-se do [[Golfo Pérsico]] às fronteiras do Egito, e o Império Medo ao norte, alcançando desde o [[deserto de Cavir]] até o Alto Eufrates.<ref name=Gut /> De fato, a razão para a ascensão da Média sob Ciaxares e um colapso tão rápido da Assíria permanecem inexplicáveis devido à falta de fontes assírias desta época.<ref name=":22" />


===Expansão===
=== Interregno cita ===
{{VT|Citas}}
[[Imagem:Qyzqapan tomb relief Cyaxeres.jpg|thumb|esquerda|Um relevo que provavelmente representa Ciaxares, Quizcapã, [[Suleimânia]], [[Curdistão iraquiano]]]]
[[Imagem:Scythians shooting with bows Kertch antique Panticapeum Ukrainia 4th century BCE.jpg|thumb|Arqueiros citas atirando com [[Arco compósito]], [[Querche]] (antigo [[Panticapeu]]), [[Ucrânia]], {{-séc|IV}}]]
O período de expansão das fronteiras medas não é mencionado nos registros assírios e, uma vez que não há registro dos próprios medos, sua história não pode ser restaurada por materiais históricos contemporâneos.<ref>{{harvnb|Diakonoff|1985|p=110}}.</ref>
Nos tempos antigos, as extensas áreas ao norte do Mar Negro e do Cáspio eram habitadas pelos [[citas]].{{sfn|name=Gut|Rawlinson|2007}} No final do {{-séc|VIII}} e início do {{-séc|VII}}, grupos de guerreiros nômades entraram no oeste do Irã. Entre os grupos dominantes estavam os citas, e sua entrada nos assuntos do planalto ocidental durante o {{-séc|VII}} talvez possa marcar um dos pontos de virada mais importantes na história da [[Idade do Ferro]]. Heródoto fala com alguns detalhes de um período de domínio cita, o chamado [[interregno]] cita na dinastia meda. A datação desse evento permanece incerta, mas tradicionalmente é vista como ocorrendo entre os reinados de Fraortes e Ciaxares.<ref name=":7" /> O iranologista russo [[Edvin Grantovski]] data esse evento como ocorrendo entre {{AC|635|x}} e {{AC|615|x}}, enquanto o historiador [[George C. Cameron|George Cameron]] data entre {{AC|653|x}} e {{AC|625|x}}<ref name=EnIr />


Segundo Heródoto, o rei Fraortes liderou um ataque contra a Assíria, mas o rei assírio conseguiu repelir a invasão e o próprio Fraortes, juntamente com grande parte de seu exército, teria morrido na batalha.<ref>{{citar heródoto|1|102}}</ref> Heródoto relata que Ciaxares queria vingar a morte de seu pai e marchou com o exército em direção a capital assíria [[Nínive]], com o objetivo de destruir a cidade. Enquanto sitiavam Nínive, os medos foram atacados por um grande exército de citas sob o comando de [[Mádies]], filho de [[Bartatua]]. Uma batalha foi travada, na qual os medos foram derrotados e perderam seu poder na Ásia, que foi tomada em sua totalidade pelos citas.<ref name=":12" /> O jugo cita teria sido muito insuportável, caracterizado pela brutalidade, injustiça e altos impostos. Segundo Heródoto, Ciaxares convidou os líderes citas para um banquete e os induziu a beber até que estivessem totalmente bêbados, atacou-os e os matou facilmente. Consequentemente teria se sucedido uma guerra que resultou na derrota dos citas.<ref name=Gut /> No entanto, é mais provável que, nessa época, os citas se retirassem voluntariamente do oeste do Irã e fossem saquear em outros lugares ou fossem simplesmente absorvidos por uma confederação em rápido desenvolvimento sob a hegemonia meda.<ref name=":7" />
Após a conquista da Assíria, Ciaxares teria continuado a expandir as fronteiras de seu império subjugando os países vizinhos. As evidências indiretas posteriores parecem sugerir que os medos podem ter expandido suas fonteiras para as terras ao leste do Irã, mas tal extensão para o leste é muito questionável.<ref name=":1" /> Ciaxares parece ter obtido sucesso na conquista da [[Hircânia]] e [[Pártia]].<ref name=EnIr /> Os medos também podem ter subjugado [[Sagárcia]],<ref name=":10" /> [[Ária (satrapia)|Ária]]<ref name=":24">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/people/arians/ |titulo=Arians |acessodata=2020-12-03 |website=Livius.org}}</ref> e [[Drangiana]].<ref name=":15">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/place/drangiana/ |titulo=Drangiana |acessodata=2020-12-03 |website=Livius.org}}</ref> A autoridade meda até parece estar implícita sobre a [[Báctria]] - por Ctésias, relacionando sua submissão a Ciro, o Grande devido à sua aparente legitimidade no trono medo. Qualquer que seja o papel político dos medos no leste, a representação de uma embaixada indiana na corte de Ciaxares ([[Xenofonte]], ''[[Ciropédia]]'' 2.4.1) parece um resultado plausível de contatos comerciais e até mesmo de tributo pago pelos indianos a oeste do [[Rio Indo|Indo]] parece possível ([[Arriano]], ''[[Indica (Arriano)|Ind]]''. 1.3).<ref name=":10">{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://iranicaonline.org/articles/iran-v2-peoples-pre-islamic |titulo=IRAN v. PEOPLES OF IRAN (2) Pre-Islamic |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref>


Heródoto acreditava que desde a vitória cita sobre os medos até o assassinato dos líderes citas foi um período de exatamente 28 anos, mas essa cronologia é problemática.<ref name=Gut /> É muito improvável que os citas tenham dominado os medos por quase três décadas, os citas eram nômades e, embora fossem guerreiros ferozes, eram incapazes de governar grandes territórios por um longo período.<ref name=":12" /> Essas e outras razões levam à conclusão que a dominação cita foi de muito mais curta. Não pode ter se passado muito tempo depois do ataque cita para que os medos começassem a se recuperar e limpar seus territórios dos citas. Se a invasão ocorreu no reinado de Ciaxares, e não no reinado de Fraortes, onde [[Eusébio de Cesareia|Eusébio]] a coloca, é provável que oito anos após sua ocorrência os medos estavam fortes para retomar seus antigos projetos e, pela segunda vez, levar um exército para a Assíria.<ref name=Gut /> Embora o relato de Heródoto sobre o interregno cita não seja implausível, exceto pela duração da dominação cita,<ref name=":12" /> seu relato tem um caráter lendário e não é confiável.<ref name=EnIr /> Apesar da historicidade do interregno cita ser duvidosa, os citas são mencionados nas fontes assírias no mesmo período do suposto interregno.<ref>{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/iran-vi1-earliest-evidence |titulo=IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Ear – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-08-05 |website=iranicaonline.org}}</ref>
Ciaxares teria avançado progressivamente para o noroeste, anexando Urartu{{efn|Urartu pode ter sido conquistado por Fraortes na década de {{AC|640|x}}<ref name=EnIr /> ou por Ciaxares por volta de {{AC|605|x}}<ref name=":3" /> A região passou a ser conhecida como Armênia no {{-séc|VI}}}} e a Capadócia. Os povos que estavam sob o jugo da Assíria foram libertados após sua queda, e certamente usariam a oportunidade para reestabelecer sua independência, caso não lhes fosse mostrado o mais rápido possível que um novo poder político de força similar havia ocupado o lugar dos assírios e estavam prontos para reivindicar sua herança. Em poucas palavras, Heródoto nos diz que Ciaxares subjugou toda a Ásia à leste do rio Hális. Não é possível determinar quanto território pode ser incluído nesta expressão, mas, ''[[prima facie]]'', pelo menos parece sugerir que ele se envolveu numa sequência de batalhas com várias tribos e nações da região e conseguiu impor seu jugo sobre elas. [[Urartu]] resistiu por séculos aos esforços assírios para trazê-la aos seus domínios, porém, após um período de declínio, o país se tornou dependente da Assíria.<ref name="Gut" /> Sabe-se muito pouco sobre o fim de Urartu pois as fontes escritas termina após {{AC|640|x}} e embora os citas e os medos serem postulados como responsáveis pelo fim de Urartu, o consenso geral é de que Urartu foi destruído pelos medos no final do {{-séc|VII}} Uma razão particular para esta visão é a afirmação de Heródoto de que os medos expandiram suas fronteiras até o rio Hális. A fronteira meda até o Hális é geralmente aceita como um fato histórico, sendo os medos de alguma forma capazes de estender seu domínio para o oeste.<ref name=":1" /> Se os medos não avançaram tanto para o oeste, consequentemente, não haveria conquista e Urartu.<ref name=":22" /> A [[Capadócia]] estava mais distante das fronteiras assírias e ainda não tinha colidido com nenhuma das grandes potências asiáticas. No início do {{-séc|VII}}, os cimérios invadiram o Cáucaso e a Anatólia. Enquanto os cimérios se estabeleciam nas planícies da Capadócia, emergia na Anatólia um reino em rápido desenvolvimento, a [[Lídia]], com capital em Sardes. Os governantes lídios repeliram a invasão ciméria e iniciaram uma ofensiva para o leste, aproximando-se gradualmente da Capadócia.<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/place/cappadocia/ |titulo=Cappadocia |acessodata=2020-11-11 |website=Livius.org}}</ref> O poder cimério — outrora grande e significativo na Capadócia também entrou em colapso, quase ao mesmo tempo que Urartu. Havia espaço para os medos, que após anexar Urartu, entraram na Ásia Menor subjugando a Capadócia.<ref name=":1" />


=== Queda do Império Assírio ===
Outras tribos que viviam nesta região eram os [[ibenanos]], [[Cólquida|colcos]], [[macronos]], [[Muški|moscos]], [[marres]], [[mossínecos]] e [[tibarenos]]. A afirmação de Heródoto, de que os medos avançaram até o Hális, parece implicar que todas essas tribos, com exceção dos colcos, foram subjugadas por Ciaxares, que assim estendeu seu império ao Cáucaso e ao [[Mar Negro]] até o rio Hális (atual [[rio Quizil-Irmaque|Quizil-Irmaque]]). Pode ser que a subjugação desses territórios não tenha sido uma conquista, e sim, uma submissão espontânea dos habitantes ao país que aparentava ser suficientemente forte para libertá-los da opressiva dominação dos citas, que provavelmente ainda estavam na Ásia Ocidental. Segundo o geógrafo [[Estrabão]], a Armênia e a Capadócia foram as regiões mais severamente devastadas pelos citas. Tanto os armênios quanto os capadócios devem ter achado a dominação cita tão insuportável que a trocaram alegremente para a dependência de uma nação igualmente civilizada. Uma causa semelhante exerceu uma influência unificadora na Ásia Menor, a necessidade de unir forças contra os invasores cimérios fez com que as tribos que habitavam a oeste do rio Hális se estabelecessem sobre a supremacia dos lídios. Evidentemente, é provável que opressiva dominação cita tenha disposto os povos da margem oriental do rio a adotar o mesmo remédio, pois os medos já haviam demonstrado sua força, primeiramente expulsando os citas de seu país e posteriormente derrotando os assírios.<ref name="Gut" />
{{Artigo principal|Conquista medo-babilônica do Império Assírio}}
[[Imagem:Map of Assyria-pt.svg|thumb|Mapa do Império Neoassírio]]


Após a morte de Assurbanípal em {{AC|631|x}}, o Império Assírio entrou num período de instabilidade política.<ref>{{Citar web |url=https://www.worldhistory.org/assyria/ |titulo=Assyria |acessodata=2021-09-23 |website=World History Encyclopedia |lingua=en}}</ref> Em {{AC|626|x}}, os babilônios se [[Revolta da Babilônia (626 a.C.)|rebelaram]] contra a dominação assíria. Nabopolassar, governador das regiões do sul e líder da revolta, foi logo reconhecido como rei da Babilônia.<ref name=EnIr /> Nabopolassar ganhou controle da cidade de Babilônia, mas não de todo o território babilônico. Ele estava envolvido em combates intensos com os assírios, e provavelmente deve ter procurado possíveis aliados. É interessante notar que Heródoto menciona que o rei medo Fraortes foi morto por volta de 625 a.C. durante uma invasão malsucedida da Assíria. Não há evidências sobre as relações entre os medos e os assírios entre 624 e 617 a.C. Não se sabe se os medos ainda estavam geograficamente separados do coração da Assíria pelas montanhas Zagros e povos circundantes, ou se já estavam se afirmando nas províncias montanhosas assírias, especialmente em Mazamua (atual [[Suleimaniya]]). No entanto, para os anos subsequentes de 616 a 595 a.C., grande parte da Crônica Babilônica está preservada e fornece um relato razoavelmente confiável dos eventos. O documento não é um registro completo da história do período,<ref name=":36">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/30994213 |título=2003. Why did the Medes invade Assyria? |acessodata=2024-01-12 |ultimo=Reade |primeiro=Julian E.}}</ref> concentrando-se exclusivamente nos eventos na Mesopotâmia.<ref name=":27" /> Após
[[Imagem:Alter Orient 0600BC.svg|thumb|Expansão do território medo para o oeste]]
assegurar controle total do território babilônico, Nabopolassar {{-nwrap|r.|626|605}} marchou contra a Assíria.<ref name=EnIr />
Outra causa que também poderia ter facilitado a conquista meda foi um influxo ariano nos países situados entre o Cáspio e o Hális. Durante o período assírio as tribos [[Turan|turanianas]] eram predominantes na região, mas na segunda metade do {{-séc|VII}} essas tribos parecem ter cedido a supremacia aos arianos. A difusão dos arianos na Armênia e na Capadócia teria contribuído para facilitar a supremacia meda, pois as tribos arianas não se incomodariam muito em entregar sua independência nas mãos de um povo próximo.<ref name=Gut /> Além de Heródoto, não temos nenhuma outra fonte que possa lançar luz sobre a expansão meda para o oeste. As escassas informações fornecidas pelas fontes cuneiformes não mostram a dominação ou influência meda no leste da Anatólia.<ref name=":1">{{Citar periódico |titulo=Medes in Media, Mesopotamia and Anatolia: empire, hegemony, devolved domination or illusion? |url=https://www.academia.edu/8102970/Medes_in_Media_Mesopotamia_and_Anatolia_empire_hegemony_devolved_domination_or_illusion |jornal=Ancient West &amp; East 3 (2004) [published 2005], 223-251 |acessodata=2020-10-18 |lingua=en |primeiro=Christopher |ultimo=Tuplin}}</ref> A expansão meda para o oeste ainda permanece em debate e na ausência de evidências concretas, o historiador [[Robert Rollinger]] sugeriu que a Ásia Menor nunca esteve sob controle direto e estável dos medos.<ref name="rol">{{en}} R. Rollinger, « The Western Expansion of the Median “Empire”: A Re-Examination », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=289-320}}</ref>


Em 616 a.C., os babilônios derrotaram um exército assírio no meio do Eufrates e capturaram as forças maneanas que estavam ajudando os assírios. Se o reino de Manai ainda existia nessa época permanece incerto. No mesmo ano, os babilônios derrotaram os assírios perto de Arrapa (atual [[Quircuque]]). No terceiro mês de 615 a.C., os babilônios marcharam diretamente pelo Tigre e atacaram Assur, mas foram repelidos. No oitavo mês, os medos estavam ativos perto de Arrapa, o que sugere um acordo mútuo entre medos e babilônios.<ref name=":36" /> Uma vez que Arrapa estava muito perto dos principais centros da Assíria (Assur, Nínive e Arbela), todas as posições do império no oeste do Irã provavelmente já haviam sido perdidas.<ref name=":27" /> Os medos chegaram a Nínive no quinto mês de 614 a.C., devastando o território entre Arrapa e Nínive. Em meados de 614 a.C., os medos capturaram [[Tarbisu]], uma cidade ao norte de Nínive, e depois desceram o Tigre para atacar Assur, que capturaram antes da chegada do exército babilônico que estava vindo em sua ajuda. Este esforço colaborativo indica uma aliança preexistente entre Nabopolassar e o rei medo Ciaxares {{-nwrap|r.|625|585}}, que então se encontram pessoalmente e formalizam sua relação.<ref name=":36" /> O historiador babilônico [[Beroso]] menciona que essa aliança entre a Babilônia e a Média foi selada com o casamento de [[Amitis da Média|Amitis]], provavelmente filha de Ciaxares, com o filho de Nabopolassar, [[Nabucodonosor II]].<ref name=":12">{{Citar web|titulo=Cyaxares|url=https://www.livius.org/articles/person/cyaxares/|obra=Livius.org|acessodata=2020-06-08}}</ref> Posteriormente, Ciaxares e seu exército retornaram para sua terra. Em 613 a.C., os medos não são mencionados na crônica. No entanto, em 612 a.C., o rei dos ''ummān-manda'' aparece em cena; ele é certamente idêntico ao rei dos medos, embora seja estranho que uma única tabuinha cuneiforme descreva um povo por dois termos diferentes. As forças militares combinadas de Ciaxares e Nabopolassar sitiaram Nínive, resultando em sua queda após três meses. Após o saque da capital assíria, apenas os babilônios parecem ter continuado a campanha, e parte do exército babilônio avançou sobre [[Nasibina]] e [[Rasappa]], enquanto Ciaxares e seu exército retornaram à Média. Enquanto isso, os assírios estavam se reorganizando sob um novo rei mais a oeste, em Harã. Os medos parecem estar ausentes do relato de 611 a.C., enquanto os babilônios estão militarmente ativos avançando em direção à Síria e ao alto Eufrates.<ref name=":36" /> O faraó egípcio [[Neco II]] enviou ajuda ao exército assírio que se havia entrincheirado em Harã. Então, Nabopolassar parece ter pedido ajuda aos medos.<ref name=":14">M. Dandamaiev e È. Grantovski, “ASSYRIA i. The Kingdom of Assyria and its Relations with Iran,” Encyclopaedia Iranica, II/8, pp. 806-815, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/assyria-i (acessado em 02 de Setembro de 2021).</ref> Os medos reapareceram em cena em 610 a.C., quando se uniram aos babilônios para um ataque a Harã. Diante da formidável aliança, os assírios e seus aliados egípcios abandonaram Harã, que foi capturada. Depois disso, os medos partiram pela última vez,<ref name=":36" /> e conhecemos suas atividades principalmente por fontes clássicas.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=y8EqAAAAMAAJ|título=Excavations at Qasrij Cliff and Khirbet Qasrij|ultimo=Curtis|primeiro=John|ultimo2=Collon|primeiro2=Dominique|data=1989|editora=British Museum Publications|lingua=en}}</ref> Em {{AC|605|x}}, os babilônios marcharam para [[Batalha de Carquemis|Carquemis]] e a conquistaram, derrotando totalmente os assírios e egípcios. Não está claro se os medos também participaram dessa derrota final dos assírios.<ref name=EnIr />
===Conflitos com a Lídia===
[[Imagem:Lydian kingdom-pt.svg|esquerda|miniaturadaimagem|Lídia (em amarelo) no mapa]]
O avanço de sua fronteira ocidental até o rio Hális, colocou os medos em contato com um novo poder político — a [[Lídia]], que se tornara um dos países mais ricos e poderosos da época, e era o poder político dominante na [[Ásia Menor]]. A Lídia, em comparação com a Média, era apenas um estado pequeno, mas seus recursos não eram inferiores. Assim, mesmo sozinha, a Lídia não era um inimigo desprezível; mas é pouco provável que ela teria sido páreo para a Média sem a ajuda de aliados. Quando Ciaxares terminou de conquistar a Capadócia deve ter olhado para as terras a oeste do rio Hális e visto uma região de grandes planícies férteis, que parecia convide um invasor e um pretexto para um ataque logo aconteceria. Um grupo de citas nômades havia prestado serviço aos medos sob o comando de Ciaxares, e por algum tempo serviu-o fielmente, principalmente como caçadores. Uma causa de disputa, entretanto, surgiu depois de um tempo; e os citas, não gostando de sua posição ou desconfiando das intenções de seu soberano em relação a eles, abandonaram o território medo e fugiram para a Lídia. Ciaxares enviou uma embaixada à corte de Sardes para exigir a extradição dos fugitivos, mas o monarca lídio, [[Alíates]], recusou-se a atender seu pedido e, como resultado, o rei medo marchou contra a Lídia com um enorme exército, levando a uma guerra que durou por cinco anos. Ciaxares cruzou o Hális, mas ele só poderia chegar a Lídia através dos territórios de outras nações, que evidentemente pretendia conquistar. Durante o período de domínio assírio, desenvolveu-se entre as tribos asiáticas uma tendência de se unir em ligas para resistir ao inimigo e as circunstâncias exigiam que tal liga fosse formada. Concluir-se, portanto, que os reis da Ásia Menor resolveram fazer causa comum, e que, já tendo atuado sob Lídia na expulsão dos cimérios de seus territórios, eles naturalmente a colocaram à frente quando se uniram pela segunda vez. Ciaxares deve ter solicitado e obtido um contingente do rei babilônico, Nabucodonosor II, e provavelmente recebeu a ajuda de outros aliados também. Não existe um relato detalhado da guerra, mas, de acordo com Heródoto, Ciaxares encontrou uma resistência muito forte; nos cinco anos de guerra que se sucederam numerosos combates foram travados; às vezes os medos derrotavam seus adversários; e outras vezes, os lídios e seus aliados obtiveram vitórias decisivas sobre os medos.<ref name=Gut /> A guerra de cinco anos pode até se assemelhar às ações medas contra os assírios entre 615 e {{AC|610|x}} — incursões intermitentes, deixando um legado de alarme sobre os inimigos que aparecem através de uma fronteira oriental. Na verdade, o tipo de horror que os medos causaram é aludido em {{citar bíblia|livro=Isaías|capítulo=13|verso=17-18}} em que os medos são descritos como um povo que não se importam com ouro e prata e massacram rapazes, crianças e bebês sem piedade pode ser uma evidência positiva a favor de tal cenário.<ref name=":1" />


O resultado da queda da Assíria para a expansão territorial meda é desconhecido, mas a ''Crônica Babilônica'' e outras evidências implicam que a maior parte do antigo território assírio passou para o controle babilônico.<ref name=":38">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=bb7eH1LHRcAC&pg=PA5|título=The Persian Empire: A Corpus of Sources from the Achaemenid Period|ultimo=Kuhrt|primeiro=Amélie|data=2013-04-15|editora=Routledge|lingua=en}}</ref> Mario Liverani argumenta contra a noção de que os medos e os babilônios compartilharam o território assírio, em vez os medos apenas assumiram o Zagros, que a Assíria já havia perdido anteriormente.<ref name=":16" /> Até recentemente, era uma opinião comum que, como resultado da queda da Assíria, os medos tomaram posse das terras assírias a leste do rio Tigre, bem como da região de Harã. Esta visão é parcialmente baseada em um texto do rei babilônico Nabonido, que indica que os medos dominaram Harã por 54 anos até o terceiro ano de seu reinado, e fontes clássicas posteriores. Nesse caso, os medos possuíram Harã de 607 a {{AC|553|x}} No entanto, alguns estudiosos argumentam que o coração assírio e Harã permaneceram sob controle babilônico desde {{AC|609|x}} e até a queda do Império Neobabilônico em {{AC|539|x}} É verdade que, a julgar pela Crônica Babilônica, Harã permaneceu sob domínio babilônico, enquanto os medos voltaram para sua terra. No entanto, é possível que algum tempo depois de {{AC|609|x}}, os medos tomaram Harã novamente e permaneceram lá por um longo período de tempo.<ref name=EnIr />
No sexto ano de guerra uma circunstância notável a levou ao fim. Os dois exércitos mais uma vez se encontraram e estavam lutando, quando, no meio do conflito, uma escuridão assombrosa caiu sobre os combatentes e os encheu de temor supersticioso. O sol foi eclipsado, total ou pelo menos consideravelmente, de modo que a atenção dos dois exércitos foi atraída para ele; e, interrompendo a luta. No Antigo Oriente, a ocorrência de eclipse era vista com muito pavor. Convencidos de que a ira dos deuses caíra sobre eles, as duas nações agora estavam dispostas a concluir um tratado de paz, mediado por [[Labineto]] da Babilônia (possivelmente Nabucodonosor II) e [[Sienésis I]] da [[Reino da Cilícia|Cilícia]]. O tratado e os termos de paz foi aceito por ambos os lados. Uma vez que nada é dito sobre os citas, presumir-se que Alíates os reteve. É claro que ele e seus aliados preservaram sem redução seus territórios e sua independência. A base territorial do tratado era portanto, o que na linguagem diplomática moderna é chamado de ''[[status quo]]''; em outras palavras, as coisas voltaram à posição em que estavam antes do início da guerra. A única diferença é que Ciaxares ganhou um aliado; visto que os dois reis deveriam jurar amizade, e que, para selar o acordo, Alíates deveria dar sua filha [[Arienis]] em casamento a Astíages, filho de Ciaxares.<ref name=Gut /> Assim, um novo equilíbrio de poder foi estabelecido no Oriente Médio entre medos, lídios, babilônios e, muito mais ao sul, egípcios.<ref name=":7" /> Como as datas dos eclipses podem ser determinadas astronomicamente, a [[Batalha do Hális]] deve ter ocorrido em 28 de maio de {{AC|585|x}}<ref name=":12" />


===Período de prosperidade===
=== Império ? ===
{{VT|Batalha do Hális}}
[[Imagem:Median Empire-The first half of the 6th century BC.png|centro|miniaturadaimagem|Mapa do Império Medo em sua extensão máxima|272x272px]]
[[Imagem:Median Empire-The first half of the 6th century BC.png|centro|miniaturadaimagem|Mapa hipotético da extensão máxima do Império Medo|272x272px]]


Ao final do século VII a.C., os medos parecem ter se unido em uma entidade política significativa sob um monarca, como evidenciado pela conquista medo-babilônica da Assíria. Nada se sabe sobre a estrutura sociopolítica meda, e os estudiosos diferem significativamente no que inferem a partir de evidências bastante ambíguas. Alguns postulam a existência de um império altamente desenvolvido, fortemente influenciado pelas práticas imperiais assírias. Em contraste, outros, destacando a falta de evidências concretas, inclinam-se a ver os medos como certamente uma força poderosa, mas sem desenvolver instituições estatais..<ref name=":38" /> É no período entre a queda de Nínive em 612 a.C. e a conquista da capital meda Ecbátana pelo rei persa Ciro II em 550 a.C. que se postula a existência de um poderoso Império Medo. No entanto, fontes contemporâneas sobre os medos nesse período são escassas.<ref name=":16" /> Em qualquer caso, a evidência disponível nas fontes babilônicas e bíblicas indicam de que os medos desempenharam um papel político importante no antigo Oriente Próximo após a queda da Assíria.<ref name=":8" /> Quatro potências dominavam o antigo Oriente Próximo a partir de então: [[Império Neobabilônico|Babilônia]], Média, [[Reino da Lídia|Lídia]] e, mais ao sul, [[XXVI dinastia egípcia|Egito]].<ref name=EnIr />
Com o acordo estabelecido entre Ciaxares e Alíates, as três grandes potências da época — Média, Lídia e Babilônia — foram colocadas em termos de amizade e de parentesco consanguíneo. Os príncipes herdeiros dos três países se tornaram parentes. Do Mar Egeu ao planalto iraniano, a Ásia Ocidental estava governada por dinastias interconectadas, obrigadas a respeitar os direitos umas das outras e talvez a prestar ajuda mútua em conjunturas importantes. Após séculos de guerra e devastação quase constantes, a antiga monarquia da Assíria entrou em declínio dando espaço para o novo Império Medo erguer-se em seu lugar, e, consequentemente, esta parte do continente asiático entrou num período de paz nunca antes experimentado. Desde o acordo entre os medos e lídios, as três potências da época permaneceram aliadas por quase meio século, seguindo seus caminhos sem disputas ou colisões, e assim as nações dentro de seus respectivos domínios também desfrutaram de um período de paz.<ref name=Gut /> Ciaxares morreu em {{AC|585|x}}, quase imediatamente após o acordo de paz com os lídios, após um reinado que durou quarenta anos, deixando o trono para seu filho Astíages. Devido ao seu casamento com [[Arienis]], [[Astíages]] se tornou cunhado do futuro rei [[Creso]]; e graças ao casamento de sua irmã, [[Amitis da Média|Amitis]], com o rei babilônico, [[Nabucodonosor II]], ele se tornou cunhado deste último também.<ref name=":12" /> A filha de Astíages, [[Mandane]], se casa com o vassalo governante persa [[Cambises I]], com quem teria um filho, [[Ciro, o Grande]], conectando a [[dinastia meda]] a [[dinastia aquemênida]].<ref name=":5" />


Os medos parecem ter estabelecido uma fronteira comum com a Lídia, na Anatólia central. Segundo Heródoto, hostilidades entre os medos e os lídios começaram cinco anos antes de uma batalha precisamente datada por um eclipse em 585 a.C. Se esse relato for verdadeiro, isso implica que, antes de 590 a.C., os medos já haviam subjugado Manai e Urartu. [[Julian Reade]] propôs que a entrada na Crônica Babilônica para 609 a.C. pode se referir a um ataque medo a Urartu em vez de um ataque babilônico. Esse evento, ocorrendo pouco antes dos ataques babilônicos em 608 e possivelmente 607 a.C., pode indicar que os babilônios forneceram apoio para a expansão meda para oeste no planalto anatoliano. Outra hipótese é que, já em 615 a.C., Ciaxares e Nabopolassar tinham forjado um plano para destruir tanto Urartu quanto a Assíria.<ref name=":36" /> Sabe-se muito pouco sobre o fim de Urartu pois as fontes escritas termina após 640 a.C. e embora os citas e os medos serem postulados como responsáveis pelo fim de Urartu, o consenso geral é de que Urartu foi destruído pelos medos no final do {{-séc|VII}}<ref name=":1" />
Aparentemente, o longo reinado de Astíages foi relativamente imperturbado até pouco antes de seu encerramento, por guerras. [[Eusébio de Cesareia|Eusébio]] relata que Astíages conduziu a grande competição lídia; e [[Moisés de Corene]] declara que travou uma longa luta com um rei armênio chamado [[Tigranes Orôntida|Tigranes]]. Mas pouco crédito pode ser atribuído a essas declarações, a primeira contradiz Heródoto, enquanto a última não tem o apoio de nenhum outro escritor. Algumas razões levam a acreditar, que sob Astíages, os medos conseguiram estender rapidamente os limites de seu império para alguma direção. Na fronteira nordeste vivia os [[cadúsios]], uma poderosa tribo de origem ariana, que mantinha sua independência. Parece que os cadúsios se submeteram aos medos, sem qualquer luta hostil.<ref name=Gut />


No início do {{-séc|VII}}, os cimérios invadiram o Cáucaso e a Anatólia. Enquanto os cimérios se estabeleciam nas planícies da [[Capadócia]], emergia na Anatólia o reino da [[Lídia]], com capital em Sardes. Os governantes lídios repeliram a invasão ciméria e iniciaram uma ofensiva para o leste, aproximando-se gradualmente da Capadócia.<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/place/cappadocia/ |titulo=Cappadocia |acessodata=2020-11-11 |website=Livius.org}}</ref> O poder cimério — outrora grande e significativo na Capadócia entrou em colapso, quase ao mesmo tempo que Urartu. Havia espaço para os medos, que após conquistar Urartu, entraram na Ásia Menor subjugando a Capadócia. O espaço talvez fosse também familiar, visto que textos assírios do século VII a.C. descrevem a situação na Anatólia a oeste do Eufrates de maneira semelhante à região de Zagros.<ref name=":1" /> Heródoto relata que Ciaxares enviou uma embaixada para a Lídia para exigir a extradição de fugitivos citas da Média, mas o monarca lídio Alíates recusou-se, levando a guerra entre os dois reinos. A guerra entre os medos e lídios resultou em uma série de confrontos ao longo de cinco anos, onde ambas as partes tiveram vitórias alternadas. No sexto ano de conflito a ocorrência de um eclipse solar interrompeu uma batalha e levou os dois lados a concluir um tratado de paz mediado por [[Labineto]] da Babilônia e [[Sienésis I]] da [[Reino da Cilícia|Cilícia]]. Como resultado, o rio Hális foi estabelecido como a fronteira entre as duas potências. O tratado foi selado pelo casamento entre [[Arienis]], filha de Alíates, e [[Astíages]], filho de Ciaxares,<ref name=Gut /> e estabeleceu um novo equilíbrio de poder entre as potências do Oriente Próximo.<ref name=":7" />
Durante seu reinado que durou trinta e cinco anos, Astíages se absteve quase totalmente de empreendimentos militares e as classes superiores e inferiores prosperaram muito nesse período de paz.<ref name=Gut /> É possível caracterizar o reinado de Astíages, que prestou grande atenção ao progresso do país, fortalecendo a situação econômica e social, como um período de desenvolvimento de vários campos da cultura meda.<ref>{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/29756758 |titulo=The Medes A Reassessment of the Archaeological Evidence |data=1986 |acessodata=2021-10-15 |jornal=East and West |número=1/3 |ultimo=Genito |primeiro=Bruno |paginas=11–81 |issn=0012-8376}}</ref>


Em poucas palavras, Heródoto afirma que Ciaxares subjugou toda a Ásia à leste do rio Hális, o que pelo menos sugere que ele se envolveu numa sequência de batalhas com vários povos da região para subjugá-los. Essa afirmação pode implicar que além da Capadócia e Urartu, os [[ibenanos]], [[macronos]], [[Muški|moscos]], [[marres]], [[mossínecos]] e [[tibarenos]] foram subjugados por Ciaxares.<ref name="Gut" /> Evidências indiretas posteriores sugerem que os medos teriam conquistado a [[Hircânia]], [[Pártia]],<ref name=EnIr /> [[Sagárcia]],<ref name=":10" /> [[Drangiana]],<ref name=":15">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/place/drangiana/ |titulo=Drangiana |acessodata=2020-12-03 |website=Livius.org}}</ref> [[Ária (satrapia)|Ária]]<ref name=":24">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/people/arians/ |titulo=Arians |acessodata=2020-12-03 |website=Livius.org}}</ref> e [[Báctria]] tornando-se um império que se estendia da Anatólia, no oeste, até a Ásia Central, no leste.<ref name=EnIr /> Qualquer que seja o papel político dos medos no leste, a representação de uma embaixada indiana na corte de Ciaxares ([[Xenofonte]], ''[[Ciropédia]]'' 2.4.1) parece um resultado plausível de contatos comerciais.<ref name=":10">{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://iranicaonline.org/articles/iran-v2-peoples-pre-islamic |titulo=IRAN v. PEOPLES OF IRAN (2) Pre-Islamic |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref>
===Queda do Império===
{{Ver artigo principal|Revolta Persa}}
[[Imagem:Olympic Park Cyrus.jpg|thumb|direita|250px|Relevo mostrando Ciro, o Grande, fundador do Império Aquemênida]]
A Pérsia era um reino vassalo dos medos desde o final do {{-séc|VII}}<ref name=":5">{{Citar web|titulo=Astyages |url=https://www.livius.org/articles/person/astyages/|obra=Livius.org|acessodata=2020-06-05}}</ref> Em {{AC|553|x}}, os persas se revoltaram contra o domínio medo. De acordo com Heródoto, Ciro, sendo neto de Astíages e seu vassalo, rebelou-se contra ele. As fontes babilônicas não afirmam que ele era neto de Astíages e seu vassalo; eles se referem a ele apenas como "o rei de Ansã" (ou seja, da Pérsia), enquanto Astíages é chamado de "rei dos medos". Como visto nas fontes babilônicas, a guerra entre a Média e a Pérsia começou no terceiro ano do reinado de Nabonido, ou seja, em {{AC|553|x}}, e a data da derrota da Média no sexto ano de Nabonido (isto é, {{AC|550|x}}). Segundo Heródoto, o general meda [[Hárpago]] organizou uma conspiração contra Astíages e durante [[Batalha de Pasárgada|uma batalha]] ele desertou com grande parte das tropas para o lado de Ciro. Então o próprio Astíages comandou o exército na batalha, mas os medos foram derrotados e seu rei foi feito prisioneiro. Esta afirmação de Heródoto é apoiada em esboço pela [[Crônica de Nabonido]], que afirma que, no sexto ano do reinado de Nabonido, Astíages convocou suas tropas e marchou contra Ciro. Em seguida, acrescenta que as tropas de Astíages se revoltaram, o fizeram prisioneiro e o entregaram a Ciro.<ref name=EnIr /> A captura de Astíages marcou o fim da [[dinastia meda|monarquia meda]]. Evidentemente, Astíages não tinha um filho homem para sucedê-lo e dá continuidade a luta. De qualquer forma, a captura do soberano possivelmente causaria a submissão imediata de seu povo. No Antigo Oriente, o rei era tão associado ao seu reino que a posse deste era considerada como uma transição do poder ao possuidor.<ref name=Gut /> É possível que a causa mais profunda da rebelião do exército medo tenha sido a insatisfação com a política de Astíages. No {{-séc|VI}}, as tribos iranianas se tornaram cada vez mais estabelecidas, e seus chefes não eram mais como os primeiros chefes tribais, mas começaram a se comportar como reis. Quando Astíages começou a punir alguns desses chefes tribais, a revolta foi inevitável.<ref name=":5" />


[[Imagem:Cadusii in Media.jpg|thumb|Antigo Oriente Próximo nos anos 600 a.C.]]
De acordo com a Crônica de Nabonido, após a captura de Astíages, Ciro marchou para [[Ecbátana]] e levou os objetos de valor da cidade para Ansã.<ref name=EnIr /> Parece que Ciro não precisou sitiar Ecbátana, pois todo o estado medo, juntamente com seus países súditos, imediatamente se submeteram aos persas, ao saber do ocorrido. De fato, a Média não recebeu auxílio dos países com que havia feito alianças tão estreitas — Lídia e Babilônia. A Lídia era um país muito distante do cenário do conflito, de modo que não pode dar uma ajuda eficiente, enquanto certos ocorridos na Babilônia tornaram esse país hostil aos medos. Se Nabucodonosor II estivesse no trono, certamente teria vindo em assistência ao seu cunhado, Astíages. No entanto, Nabucodonosor morreu em {{AC|562|x}} Seu filho, [[Evil-Merodaque]], provavelmente manteria as alianças de seu pai, mas ele foi assassinado em {{AC|560|x}} por [[Neriglissar]], que assumiu o trono babilônico e reinou até {{AC|556|x}} Naturalmente, este não teria boas relações com os medos e é possível que ele teria muito prazer em ver a ruína do Império Medo.<ref name=Gut /> Após sua morte, Neriglissar foi sucedido por seu filho, [[Labasi-Marduque]], que reinou apenas alguns meses antes de ser assassinado em um golpe palaciano. Seu sucessor, [[Nabonido]], evidentemente também não manteve boas relações com os medos.<ref>{{Citar web |url=http://gumilevica.kulichki.net/MOB/mob09.htm |titulo=В. А. Белявский. Вавилон легендарный и Вавилон исторический. 9. Перед Закатом |acessodata=2021-04-20 |website=gumilevica.kulichki.net}}</ref><ref name=":8">{{Citar web |url=https://www.newadvent.org/cathen/10117a.htm |titulo=CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: Media and Medes |acessodata=2021-09-24 |website=newadvent.org}}</ref>
Ciaxares morreu pouco tempo após o tratado com os lídios, deixando o trono para seu filho Astíages.<ref name=":12" /> Em comparação com Ciaxares, pouco se sabe sobre o reinado de Astíages.<ref name=":7" /> Seu casamento com Arienis o tornou cunhado do futuro rei lídio [[Creso]]; e o casamento de sua irmã, [[Amitis da Média|Amitis]], com o rei babilônico [[Nabucodonosor II]], o tornou cunhado deste último também.<ref name=":12" /> Nem tudo estava bem com a aliança com a Babilônia, e há algumas evidências que sugerem que a Babilônia pode ter temido o poder dos medos.<ref name=":7" /> As relações entre Babilônia e Média parecem ter se deteriorado, visto que, na década de 590 a.C., era esperado que os Medos invadissem o território babilônico, conforme pode ser visto nos discursos de Jeremias.{{sfn|Diakonoff|1985|p=125-127}} Segundo Heródoto, Astíages casou sua filha, [[Mandane]], com o rei persa [[Cambises I]], com quem ela teria um filho, [[Ciro II]], conectando a [[dinastia meda]] a [[dinastia aquemênida]]. Esse casamento teria ocorrido antes de {{AC|576|x}}, mas há alguma dúvida sobre sua historicidade.<ref name=":5">{{Citar web|url=https://www.livius.org/articles/person/astyages/|titulo=Astyages|acessodata=2020-06-05|obra=Livius.org}}</ref>


Durante seu reinado, Astíages teria se empenhado para fortalecer e centralizar o Estado medo, contrariando a vontade da nobreza tribal. Isso pode ter contribuído para a queda do reino.{{sfn|Dandamaev|1989|p=}} Segundo Ctesias, os reis medos também travaram guerras contra os [[cadúsios]] e os [[sacas]], embora não haja evidências concretas para apoiar isso. No entanto, a referência a uma guerra contra os sacas pode indicar desafios contínuos de incursões nômades, enquanto a narrativa sobre a guerra contra os cadúsios pode indicar que os medos não tinham controle sobre as margens sul do Mar Cáspio, onde os cadúsios viviam.<ref name=":34" /> Aparentemente, o reinado de Astíages foi relativamente imperturbado até pouco antes de seu encerramento. [[Moisés de Corene]] declara que ele travou uma longa luta com um rei armênio chamado [[Tigranes (lendário)|Tigranes]], mas pouco crédito pode ser atribuído a essas declarações.<ref name=Gut />
Assumir o controle do Império Medo vagamente organizado também implicava assumir o controle de vários países súditos: Armênia, Capadócia, Pártia, e talvez Ária.<ref name=":3" /> De acordo com Heródoto, o pai de Ciro, Cambises I, foi casado com Mandane, filha de Astíages. Isso explicaria por que os medos aceitaram o reinado de Ciro. Os casamentos diplomáticos eram comuns, mas também é possível que a história do casamento de Cambises com Mandane tenha sido inventada para justificar o governo de Ciro sobre os medos.<ref name=":18">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/person/cyrus-the-great/ |titulo=Cyrus the Great |acessodata=2020-12-28 |website=Livius.org}}</ref> Segundo o historiador Ctésias, Astíages tinha uma filha chamada [[Amitis (filha de Astíages)|Amitis]], que era casada com [[Espitamas]], um nobre meda, que assim se tornou o suposto sucessor de seu sogro. Após subjugar os medos e matar Espitamas, Ciro teria se casado com Amitis para obter legitimidade. Embora a autenticidade do relato de Ctésias seja questionável, é muito provável que Ciro tenha se casado com uma filha do rei medo.<ref>{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/amytis-median-and-persian-female-name |titulo=Amytis median and persian female name |acessodata=2021-04-07 |website=iranicaonline.org}}</ref>


=== Conquista pelos persas ===
Ecbátana tornou-se uma das capitais do recém-estabelecido Império Aquemênida.<ref name=EnIr /> A derrota de Astíages não foi o fim da guerra, entretanto, porque seu cunhado [[Creso]], rei da Lídia, iniciou um confronto contra Ciro na esperança de vingar a derrota de seu cunhado e expandir suas fronteiras para o leste. Essa batalha terminou numa derrota catastrófica para os lídios, que em {{AC|c=c|547|x}}, viram seu país ser conquistado pelos persas.<ref name=":5" /> Oito anos depois, Ciro conquistou a Babilônia, pondo fim aos três estados mais poderosos de todo o Oriente Próximo: Média, Lídia e Babilônia, em apenas uma década.<ref name=":8" />
{{Artigo principal|Conflito medo-persa|Média (satrapia)}}


Tanto Heródoto quanto Ctesias retratam o conflito medo-persa como uma longa rebelião liderada pelo rei persa Ciro II contra seu suserano medo. No entanto, a noção de suserania meda sobre a Pérsia carece de apoio em evidências contemporâneas. Segundo a Crônica de Nabonido, em 550 a.C., o rei medo Astíages marchou com suas tropas contra Ciro da Pérsia "para conquista". No entanto, seus próprios soldados se revoltaram, o capturaram e o entregaram a Ciro. Posteriormente, Ciro capturou a capital meda de Ecbatana. Os detalhes básicos deste relato se alinham com a narrativa detalhada de Heródoto. Que o confronto provavelmente foi mais longo do que a concisa entrada na crônica transmite é indicado por uma inscrição de Sipar onde o rei babilônico Nabonido parece se referir a um conflito entre persas e medos já em 553 a.C.<ref name=":35" />
=== Domínio aquemênida ===
{{Artigo principal|Média (satrapia)}}
[[imagem:Persepolis_Apadana_noerdliche_Treppe_Detail.jpg|miniaturadaimagem|Baixo-relevo aquemênida do {{-séc|V}} que mostra um soldado medo atrás de um soldado persa]]
Parece que Ciro não aboliu o reino medo. O que ocorreu foi uma transição do poder real de uma dinastia para outra. De qualquer forma, Ciro e seus sucessores aquemênidas adotaram os títulos oficiais dos reis medos e seu sistema de administração estatal. No Império Aquemênida, a Média manteve sua posição privilegiada, ocupando o segundo lugar, depois da própria Pérsia. A Média era uma província grande, e sua capital, Ecbátana, se tornou uma das capitais aquemênidas e a residência de verão dos reis persas.<ref name=EnIr /> O domínio persa na Média foi abalado por uma grande revolta no início do reinado de [[Dario I|Dario, o Grande]]. Ele toma o poder após assassinar o usurpador [[Gaumata]]. Esse evento foi seguido por uma série de rebeliões que ocorreram na Babilônia e Elão. Quando Dario suprimiu essas rebeliões e ficou na Babilônia, um certo [[Fraortes (rebelde)|Fraortes]] (ou Castariti) fez sua tentativa de conquistar o poder e restaurar a independência meda. Ele afirmou ser descendente de Ciaxares e assumiu o trono com o nome de ''Khshathrita''; ele conseguiu apreender Ecbátana, a capital da Média, em dezembro de {{AC|522|X}} Mais ou menos ao mesmo tempo, houve uma nova rebelião em Elão e houve rebeliões em províncias adjacentes, como Armênia, Assíria e Pártia. Na primavera, o líder persa invadiu a Média pelo oeste e, em maio de {{AC|521|x}}, derrotou Fraortes. A vitória persa foi completa, e Fraortes fugiu para a Pártia, mas foi capturado em [[Rages]] (atual [[Teerã]]). Posteriormente, o rei rebelde foi torturado e crucificado em Ecbátana. Após sua vitória, Dario poderia enviar tropas para a [[Armênia (satrapia)|Armênia]] e para a Pártia, onde seus generais conseguiram derrotar os rebeldes restantes.<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/person/phraortes/ |titulo=Phraortes |acessodata=2020-08-09 |website=Livius.org}}</ref>


Na narrativa de Heródoto, Ciro além de ser vassalo da Média era neto de Astíages. As fontes babilônicas não mencionam isso; elas se referem a Ciro apenas como "o rei de Ansã" (ou seja, da Pérsia), enquanto Astíages é chamado de "rei dos medos". Heródoto relata que o general medo [[Hárpago]] organizou uma conspiração contra Astíages e durante [[Batalha de Pasárgada|uma batalha]] ele desertou com grande parte das tropas para o lado de Ciro. Então o próprio Astíages comandou o exército na batalha, mas os medos foram derrotados e seu rei foi feito prisioneiro.<ref name=EnIr /> É possível que a causa mais profunda da rebelião do exército medo tenha sido a insatisfação com a política de Astíages. No {{-séc|VI}}, as tribos iranianas se tornaram cada vez mais estabelecidas, e seus chefes não eram mais como os primeiros chefes tribais, mas começaram a se comportar como reis. Quando Astíages começou a punir alguns desses chefes tribais, a revolta foi inevitável.<ref name=":5" />
Um sagárcio chamado [[Tritantecmes]], que também afirmava ser descendente de Ciaxares, deu continuidade a rebelião, mas também foi derrotado. A supressão desta última rebelião encerra as histórias de eventos que se relacionam pelo menos em parte ao antigo Império Medo. Após a conquista e a pacificação desta revolta, a Média continua sendo uma satrapia do Império Aquemênida. Nos primeiros anos após o golpe de Dario, o general persa [[Hidarnes I]] foi sátrapa da Média. Depois disso, o país mais ou menos desaparece dos registros históricos.<ref name=":2" />


Após a captura de Astíages, Ciro marchou para [[Ecbátana]] e levou os objetos de valor da cidade para Ansã.<ref name=EnIr /> Como a extensão do território controlado pelos medos é disputada, não se sabe exatamente o que Ciro conquistou com sua vitória.<ref name=":35">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=uZA7EAAAQBAJ&pg=PA404|título=A Companion to the Achaemenid Persian Empire, 2 Volume Set|ultimo=Jacobs|primeiro=Bruno|ultimo2=Rollinger|primeiro2=Robert|data=2021-08-31|editora=John Wiley & Sons|lingua=en}}</ref> Assumir o controle da Média pode ter implicado assumir o controle de estados vassalos como a Armênia, Capadócia, Pártia, Drangiana e Ária. Se Ciro foi neto de Astíages como Heródoto diz, então isso explicaria por que os medos aceitaram o seu reinado. Mas também é possível que a conexão entre Ciro e Astíages tenha sido inventada para justificar o governo persa sobre os medos.<ref name=":18">{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/person/cyrus-the-great/ |titulo=Cyrus the Great |acessodata=2020-12-28 |website=Livius.org}}</ref> Segundo Ctésias, Astíages tinha uma filha chamada [[Amitis (filha de Astíages)|Amitis]], que era casada com [[Espitamas]], que assim se tornou o sucessor presuntivo de seu sogro. Após matar Espitamas, Ciro teria se casado com Amitis para obter legitimidade. Embora a autenticidade do relato de Ctésias seja questionável, é muito provável que Ciro tenha se casado com uma filha do rei medo.<ref>{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/amytis-median-and-persian-female-name |titulo=Amytis median and persian female name |acessodata=2021-04-07 |website=iranicaonline.org}}</ref>
== Política e administração ==
=== Gerenciamento administrativo ===
[[Imagem:Median ua.PNG|thumb|Estado medo antes de suas fronteiras serem expandidas (laranja) e após sua expansão (amarelo)]]
Atualmente, não temos informações diretas sobre sua estrutura política, econômica e social. Aparentemente, em muitos aspectos o sistema administrativo medo se assemelhava ao da Assíria, sob cujos auspícios os medos está há muitos anos.<ref name=EnIr /> Acredita-se que a estrutura administrativa do estado medo mais tarde tenha se tornado uma forma mais desenvolvida no sistema administrativo do Império Aquemênida.<ref>{{Citar web |url=https://www.worldhistory.org/Persian_Government/ |titulo=Ancient Persian Government |acessodata=2021-10-26 |website=World History Encyclopedia |lingua=en}}</ref>


[[imagem:Persepolis_Apadana_noerdliche_Treppe_Detail.jpg|miniaturadaimagem|Baixo-relevo aquemênida do {{-séc|V}} que mostra um soldado medo atrás de um soldado persa]]
O Império Medo provavelmente era dividido em várias satrapias governados por sátrapas (“protetores do reino”).<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/concept/satraps-and-satrapies/ |titulo=Satraps and satrapies |acessodata=2020-12-31 |website=Livius.org}}</ref> Os “olhos do rei”, às vezes chamado de “olhos e ouvidos do rei”, foram designados pelo soberano para informá-lo sobre o que estava acontecendo no império. Eles supervisionavam o pagamento dos tributos e possíveis planos de conspiração relatando suas informações ao rei. Mesmo quando o monarca não estava presente, as pessoas sabiam que ele seria informado de suas ações.<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/concept/eye-of-the-king/ |titulo=Eye of the King |acessodata=2020-12-04 |website=Livius.org}}</ref> O Império Medo parece ter sido um aglomerado de reinos, cada um governado por um rei nativo. Os medos apenas reivindicaram suserania direta sobre as nações imediatamente após sua fronteiras; nações mais distantes eram colocadas sob o domínio das nações próximas, e era esperado que estes últimos coletassem e remetesse o imposto das nações remotas. O Império Medo era vagamente organizado e que sua falta de organização foi o que levou a sua queda.<ref name=Gut /> O historiador [[János Harmatta]] defende outra opinião e, com base em evidências linguísticas, afirma que os medos tinham um sistema burocrático altamente desenvolvido, que posteriormente foi adotada também pelos aquemênidas.<ref name=EnIr /> Também é possível que a autoridade sobre os vários povos, iranianos e não-iranianos, fosse exercida na forma de uma confederação, como está implícito no antigo título real iraniano, “rei dos reis”.<ref name=":7" />
Após a derrota de Astíages, o rei lídio [[Creso]] cruzou o rio Hális na esperança de expandir suas fronteiras para o leste. Isso resultou numa guerra, que levou a Lídia a ser conquistada pelos persas.<ref name=":5" /> Posteriormente, Ciro conquistou a Babilônia, pondo fim a três potências do Oriente Próximo: Média, Lídia e Babilônia, em apenas uma década.<ref name=":3" /> No [[Império Aquemênida]], a Média manteve sua posição privilegiada, ocupando o segundo lugar, depois da própria Pérsia. A Média era uma província grande, e sua capital, Ecbátana, se tornou uma das capitais aquemênidas e a residência de verão dos reis persas.<ref name=EnIr /> O domínio persa na Média foi abalado por uma grande revolta no início do reinado de [[Dario I|Dario, o Grande]], que tomou o poder após assassinar o usurpador [[Gaumata]]. Esse evento foi seguido por uma série de rebeliões nas satrapias aquemênidas. Quando Dario suprimiu essas rebeliões e ficou na Babilônia, um certo [[Fraortes (rebelde)|Fraortes]] (ou Castariti) fez sua tentativa de conquistar o poder e restaurar a independência meda. Ele afirmou ser descendente de Ciaxares e assumiu o trono com o nome de ''Khshathrita''; ele conseguiu apreender Ecbátana em dezembro de {{AC|522|X}} Mais ou menos ao mesmo tempo, houve uma nova rebelião em Elão e houve rebeliões em províncias adjacentes, como Armênia, Assíria e Pártia. Na primavera, o líder persa invadiu a Média pelo oeste e, em maio de {{AC|521|x}}, derrotou Fraortes. A vitória persa foi completa, e Fraortes fugiu para a Pártia, mas foi capturado em [[Rages]] (atual [[Teerã]]). Posteriormente, o rei rebelde foi torturado e crucificado em Ecbátana. Após sua vitória, Dario poderia enviar tropas para a [[Armênia (satrapia)|Armênia]] e para a Pártia, onde seus generais conseguiram derrotar os rebeldes restantes.<ref>{{Citar web |url=https://www.livius.org/articles/person/phraortes/ |titulo=Phraortes |acessodata=2020-08-09 |website=Livius.org}}</ref> Um sagárcio chamado [[Tritantecmes]], que também afirmava ser descendente de Ciaxares, deu continuidade a rebelião, mas também foi derrotado. Essa é última rebelião meda contra o domínio aquemênida. Após o fim do Império Aquemênida, a Média continuou a ter grande importância sob os posteriores impérios [[Império Selêucida|selêucida]] e [[Império Parta|parta]].<ref name=":2">{{Citar web|titulo=Medes (2)|url=https://www.livius.org/articles/people/medes/medes-2/|obra=Livius.org|acessodata=2020-06-02}}</ref>

Segundo a geografia armênia, a Média era dividida em onze distritos, mas em geral os geógrafos modernos preferem a divisão evidente e reconhecem nas partes constituintes do país apenas [[Atropatene|Média Atropatene]] (atual Azerbaijão) e Média Magna, uma divisão que quase corresponde as províncias iranianas de [[Iraque persa]] e [[Ardelan]]. É provável que essa divisão fosse antiga, Atropatene sendo o território original dos medos, e Média Magna um território conquistado posteriormente; mas devido a obscuridade da história do país ainda é incerto se essa divisão existia no período do império. Atropatene era um distrito localizado no extremo norte da Média, estando logo ao sul do Mar Cáspio e compreendendo toda a bacia do lago Úrmia.<ref name=Gut />

=== Corte real ===
[[imagem:PLATE2BX.jpg|miniaturadaimagem|251x251px|Representação artística de nobres medos]]
As informações disponíveis sobre a corte imperial meda são muito limitadas e não totalmente confiáveis. Em sua descrição encantadora da juventude de [[Ciro, o Grande]], o historiador Heródoto sugere que a corte meda tinha vários cortesãos, sendo eles guarda-costas, mensageiros, o "olho do rei" (uma espécie de agente secreto) e construtores. Quando Ciro conquistou o Império Medo ele provavelmente continuou a organização e as práticas da corte meda, incluindo formas de etiqueta, cerimonial e protocolo diplomático que os medos, por sua vez, herdaram da Assíria. De acordo com Ctésias, um dos cargos da corte meda era o de copeiro real.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://iranicaonline.org/articles/courts-and-courtiers-i |titulo=COURTS AND COURTIERS I. In the Median and Achaemenid periods |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref> Entre outras posições na corte dos medos estariam o mordomo real, servos, porteiros e varredores.<ref name="Gut" />

De acordo com Heródoto, assim que assumiu o trono, Déjoces ordenou que uma cidade-fortaleza fosse construída para ser sua capital; toda a autoridade governamental estava centralizada nesta cidade, Ecbátana. Para a sua corte ele criou um cerimonial judicial regulamentado, para que as pessoas o considerassem como “de uma espécie diferente”.<ref name=":Dj" /> Em circunstâncias normais, o monarca se mantinha isolado em seu palácio e ninguém poderia vê-lo, a menos que ele formalmente solicitasse uma audiência e fosse apresentado à presença real por um oficial. Ele estava cercado por guarda-costas para sua segurança pessoal e raramente deixava seu palácio, contentando-se com os relatórios do estado de seu império que eram transmitidos a ele de vez em quando por seus oficiais.<ref name="Gut" /> Ninguém poderia rir ou cuspir diante da presença real, bem como na presença de qualquer outra pessoa, pois tal ato era considerado indigno e vergonhoso. Consolidada a autoridade real, Déjoces pôs-se a fazer justiça com toda severidade. Os processos lhe eram enviados por escrito; ele os julgava e os devolvia com a sentença. Ele impôs a lei e a ordem ao colocar observadores e ouvintes em todo o seu reino, os chamados "olhos do rei", vigiando as ações dos súditos reais.<ref>{{citar heródoto|1|99-100}}</ref><ref name=":Dj" /> Do mesmo modo como outros governantes orientais, o monarca medo tinha várias esposas e [[concubina]]s; e era comumente praticada a [[poligamia]] entre as classes mais ricas e proeminentes. As principais características da corte meda não parecem ter diferido muito da corte assíria.<ref name=Gut />

[[imagem:Hottenroth I-021 - 28 - Median male.jpg|miniaturadaimagem|241x241px|Trajes de um homem medo]]
Os magos, segundo Heródoto, era uma casta sacerdotal muito influente na corte dos medos. Considerados como pessoas honradas, tanto pelo rei, quanto pelo povo, eles atuavam como intérpretes de sonhos, feiticeiros e conselheiros sobre diversos assuntos, inclusive os assuntos da política imperial. Obviamente, o cerimonial religioso estava sob sua responsabilidade; e provavelmente altos cargos de estado foram concedidos a eles. Os magos eram os únicos que tinham uma verdadeira influência sobre o monarca.<ref name=Gut />

A principal diversão da corte, da qual o rei raramente participava, era a caça, que frequentemente ocorria em uma floresta nas proximidades da capital. Às vezes o rei e seus cortesãos saíam em uma grande caça em campo aberto, onde poderiam se encontrar leões, leopardos, ursos, javalis, jumentos selvagens, antílopes, gazelas, asnos selvagens e veados. Como de costume, esses animais eram perseguidos a cavalo e miravam-se neles com arco ou dardo. Enquanto o soberano ficava admirando o esporte de seus cortesãos, mas não participando ativamente da caça. Caçadas como essas são mostradas nas esculturas dos [[partas]], que alguns séculos mais tarde dominaram essa mesma região.<ref name=Gut />

=== Exército ===
[[Imagem:Meder-Persepolis.JPG|esquerda|miniaturadaimagem|Relevo aquemênida de um soldado medo, encontrado em Persépolis]]
Sabe-se pouco sobre o exército medo, mas certamente ele desempenhou um papel importante na história meda,<ref name=Gut /> uma vez que os medos viviam em constante conflito com nações vizinhas, como assírios, citas, lídios e persas. O tradicional exército medo era baseado na cavalaria, uma característica não apenas dos povos iranianos, mas também de muitos outros povos do Oriente Médio.<ref>A. Sh. Shahbazi, “ASB i. In Pre-Islamic Iran,” Enciclopédia Iranica, 2/7, pp. 724-730, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/asb-pre-islamic-iran (acessado em 05 de Novembro 2021).</ref> No final do {{-séc|VII}}, os medos alcançaram notável progresso militar sob o rei Ciaxares, que, segundo Heródoto, foi o primeiro governante a dividir o exército em unidades especiais; soldados de [[infantaria]], [[lanceiros]], [[arqueiros]] e [[Cavalaria|cavaleiros]]. Porque os gêneros mistos anteriores levaram a confusão do exército no campo de batalha. Esse testemunho mostra que antes de Ciaxares, os medos entraram em guerra em organização tribal - cada chefe trazendo e liderando sua infantaria e tropas montadas - e que o rei treinou as forças em um exército dividido em grupos táticos com armas unificadas; ele complementou isso com um batalhão de máquinas de cerco, e tendo-o suplementado com arqueiros sacas. Seu país montanhoso e natureza guerreira contribuíram para o desenvolvimento de um traje adequado para cavalaria: calças justas geralmente feitas de couro com um cinto extra para colocar uma espada curta; uma túnica longa e justa de couro e um [[elmo]] redondo de feltro com abas nas bochechas e protetor de pescoço, que também pode cobrir a boca; e um manto longo variegado jogado sobre os ombros e preso ao peito com mangas vazias suspensas nas laterais.<ref name=":0">{{Citar web |ultimo=Shahbazi |primeiro=A. Sh. |url=https://iranicaonline.org/articles/army-i |titulo=ARMY i. Pre-Islamic Iran |acessodata=2021-08-15 |website=Encyclopaedia Iranica |paginas=489-499 |lingua=en-US}}</ref>

O exército medo teve uma grande influência na formação do exército persa, como evidenciado pelas obras de Heródoto e pelos relevos de Persépolis, bem como pelo fato de que muitos generais medos, como [[Hárpago]], [[Mazares]] e [[Dátis]], serviram no exército persa.<ref name=":0" /> Segundo Heródoto, durante as [[Guerras Médicas|guerras greco-persas]] os soldados medos não diferiram muito dos persas. Ambos lutavam a cavalo e também a pé usando lanças, arcos e [[Adaga|adagas]], grandes escudos de vime e carregando as aljavas nas costas. As características do exército medo original, conforme indicado nas Escrituras Hebraicas e por Xenofonte, é mais simplista que a descrição de Heródoto. O exército medo aparenta ter sido baseado na arquearia a cavalo.&nbsp;Treinados desde a infância numa diversidade de [[hipismo|exercícios equestres]] e no uso do arco, os medos procederam contra seus inimigos montados a cavalo, semelhante aos citas, e obtiveram suas vitórias sobretudo por sua destreza ao disparar flechas enquanto avançavam ou recuavam. Eles também usavam espada e lança, cujo emprego era comum em quase todo Oriente, mas evidentemente o terror que os medos inspiravam surgiu de sua habilidade excepcional na arquearia.<ref name=Gut />

=== Cidades ===
A cidade mais importante do império era a capital, [[Ecbátana]] — conhecida pelos medos e persas como ''Hagmatan''. De acordo com Políbio e [[Diodoro]], esta cidade estava situada no sopé do Monte Orontes (atual [[Monte Alvand]]), a leste dos Zagros. Diodoro atribui a capital meda uma circunferência de duzentos e cinquenta estádios, uma área equivalente a quase cinquenta milhas quadradas, mais do que o dobro da de Londres. É improvável que a capital meda tenha sido em seu auge uma cidade maior que [[Nínive]], a capital do Império Neoassírio. Também é incerto se a cidade foi em algum momento cercada por muralhas. Políbio afirma que em seus dias Ecbátana era uma cidade sem muralhas e existem evidências para suspeitar que sempre esteve nessa condição. Como consequência, a cidade jamais teria resistido a um cerco. Quando os medos foram derrotados no campo de batalha, Ecbátana (ao contrário de Nínive e Babilônia) se submeteu aos persas sem qualquer luta hostil. É possível que a principal cidade no norte do país, que em tempos posteriores tinha o nome de [[Ganzaca]], também se chamava Ecbátana e às vezes era confundida pelos gregos com a capital ao sul. Outra cidade muito importante era [[Rages]], nas proximidades do Mar Cáspio, nos limites orientais do país. A posição que ocupa nos livros de [[Livro de Tobias|Tobias]] e [[Livro de Judite|Judite]] indica sua importância na época do império. A cidade era o centro religioso do país e estava localizada em um distrito homônimo, que compreendia a estreita faixa de território fértil entre o Elburz e o deserto.<ref name=Gut />

Outras cidades medas, cuja localização pode ser determinada com grande probabilidade, estavam na parte ocidental da Média, na região de Zagros. Bagistana, [[Adrapana]], [[Kangavar|Cancobar]] e Aspadana são algumas delas. Segundo [[Isidoro]], Bagistana é uma “cidade situada em uma colina, onde havia um pilar e uma estátua de [[Semíramis]]”. A descrição de Isidoro e Diodoro identificam o lugar com a atual [[Beistum (cidade)|Beistum]]. Entre Bagistana e Ecbátana está situada a cidade de Adrapana. Segundo Isidoro, nesta cidade havia um palácio, que fora destruído por um rei armênio. É provável que Adrapana seja a atual vila de [[Artiman]], localizada ao sul do Monte Alvand e bem adaptada para uma residência real. Durante o rigoroso inverno a capital e as regiões circunvizinhas ficam cobertas de neve, mas em Adrapana encontrar-se um clima quente e ensolarado; e no verão o lugar fica bem irrigado por vários riachos, permitindo que bosques cresçam abundantemente. Naturalmente este lugar seria escolhido para construir um palácio, aonde a corte real poderia se estabelecer, evitando assim o calor intenso do verão ou o frio e a poeira do inverno que tornam enfadonha a residência em Ecbátana. A cidade de Aspadana (moderna [[Isfahan]]), localizada no território da tribo meda dos paratacênios, é mencionada somente por [[Cláudio Ptolemeu|Ptolemeu]]. É duvidoso se tal cidade existia na época do império. Se existisse, era, na melhor das hipóteses, uma cidade periférica sem grande importância no extremo sul do país, onde fazia fronteira com a Pérsia.<ref name=Gut />

Concluir-se que as cidades medas eram poucas, pois os medos preferiam espalhar-se em aldeias por seu vasto e variado território. A proteção das muralhas, que era necessária para os habitantes das terras baixas, não era necessária para um povo cujo país era repleto de fortalezas naturais. Com exceção de Ecbátana, Ganzaca e Rages, as cidades medas eram sem grande importância. Mesmo essas cidades eram provavelmente de tamanhos moderados e tinham pouco esplendor arquitetônico, diferentemente das cidades mesopotâmicas.<ref name="Gut" />

== Economia ==
[[imagem:Biandintz eta zaldiak - modified2.jpg|miniaturadaimagem|A criação de cavalos foi um dos principais ramos da economia meda]]
Os medos, assim como outros povos iranianos que se estabeleceram no planalto iraniano, viviam um estilo de vida pastoral. Sua principal atividade econômica era a criação de animais, como cavalos, gado, ovelhas e cabras domésticas.<ref name=":6" /> A evidência arqueológica mostra que os medos possuíam hábeis trabalhadores em bronze e ouro. Os textos cuneiformes que relatam as incursões assírias na Média mostram que a excelente raça de cavalos criada pelos medos era um dos principais prêmios procurados pelos invasores. Em relevos assírios, os medos são às vezes representados usando o que parece serem capas de pele de ovelhas sobre as túnicas, e com botas altas com cordões, equipamento para o trabalho pastoril nos planaltos, onde os invernos traziam neves e frio intenso.<ref name=":9" />

O rico material arqueológico de [[Tepe Nus-i Jã]], [[Godin Tepe]] e outros locais antigos, bem como relevos assírios, demonstram que na primeira metade do primeiro milênio antes de Cristo existiram assentamentos do tipo urbano em várias regiões da Média, que eram centros de produção de artesanato e de uma economia agrícola e pecuária sedentária. A julgar pelas fontes assírias, as ocupações econômicas básicas da população meda eram a criação de cavalos e a produção de artesanato. Dos distritos medos, os assírios receberam tributo a cavalos, gado, ovelhas nativas, camelos bactrianos, [[lápis-lazúli]], bronze, ouro, prata e outros metais, além de tecidos de linho e lã.<ref name=EnIr /> Partes da Média eram ricas e produtivas, mas também havia muitas terras áridas. Embora o caráter geral do país seja a esterilidade natural, algumas regiões são mais favorecidas, como o Zagros e o Azerbaijão, onde o solo é quase todo cultivável e, se arado e semeado, produzirá uma excelente safra de grãos.<ref name=Gut /> A agricultura era possível apenas nas partes leste e oeste do planalto iraniano. A parte central era um deserto, quase desprovido de vegetação, onde a agricultura estava restrita a poucos oásis. As partes oeste e leste estavam ligadas ao norte por uma estreita faixa de solo fértil ao sul do [[Cáspio]], onde a terra é coberta por uma densa floresta<ref name=":9" /> que proporciona uma madeira de excelente qualidade. O país é rico em metais, tais como ferro, cobre e aço. Também é rico em produtos minerais, como o quartzo, bem abundante no Curdistão. Entre todos os produtos minerais, nenhum é mais abundante do que o sal. Ao lado do deserto, na foz do [[rio Aji Chay]], perto de [[Tabriz]], existem extensas planícies que fornecem o sal em grande abundância. Na Média há inúmeras nascentes e riachos salinos, de onde o sal é obtido por evaporação. O país também fornece outros produtos importantes, como o [[salitre]], enxofre, [[nafta]] e gesso.<ref name=Gut /><ref>Rezakhani, Khodad. «Medes, the First (Western) Iranian Kingdom». ''History of Iran''. Publicação acessada em [https://www.cais-&#x20;soas.com/CAIS/History/madha/medes_first_iranian_kingdom.htm The Circle of Ancient Iranian Studies]</ref> A criação de cavalos acima mencionada teve um papel importante na economia local, no comércio e nas forças armadas, uma vez que os medos eram conhecidos por sua cavalaria.<ref name=":6">{{citar web|url=https://www.iranologie.com/history/history3.html|titulo=História do Irã, III. Capítulo - Média, primeiro reino iraniano (ocidental) (Iranologie.com)|acessodata=25/06/2020|publicado=Iranologie.com}}</ref> A economia das aldeias se baseava em culturas como cevada, pão de trigo, ervilhas, lentilhas e uvas. As montanhas generosamente arborizadas proporcionavam uma extensa gama de caça, mas a criação de animais continuava nobre; a amostra de ossos domésticos em Nus-i Jã inclui nove espécies, sendo as mais comuns ovelhas, cabras, porcos e gado.<ref>{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/archeology-ii |titulo=ARCHEOLOGY ii. Median and Achaemenid – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-07-30 |website=iranicaonline.org}}</ref>

O Império Medo provavelmente foi dividido em [[satrapia]]s governadas por governantes provinciais, supõe-se que os povos subjugados como armênios, partas, arianos, drangianos e persas pagassem o imposto prescrito.<ref name=":18" /> A importância do tráfego da Média está principalmente relacionada ao controle de grande parte da estrada leste-oeste que era conhecida na Idade Média como [[Rota da Seda]]. Essa estrada ligava os mundos oriental e ocidental, e conectava a Média com a Babilônia, Assíria, Armênia e o Mediterrâneo no oeste, e com a Pártia, Ária, Báctria, [[Sogdiana]] e China no leste. Outra estrada importante conectava Ecbátana com as capitais da Pérsia, Persépolis e Pasárgada. Além de controlar o comércio leste-oeste, a Média também era rica em produtos agrícolas. Os vales dos Zagros são férteis, e a Média era bem conhecida por suas plantas, ovelhas e cabras. O país poderia alimentar uma grande população e ostentava muitas aldeias e algumas cidades como [[Rages]] e [[Gabas]].<ref name=":3" /> A partir dos dados de Heródoto sabemos que, exceto durante alguns anos em que o Egito era uma província assíria, os recursos da Média ultrapassavam os da Assíria.<ref name=Gut />

== Cultura ==
=== Sociedade ===
[[imagem:Mad-5223.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|282x282px|Relevo em pedra de um homem medo]]
Antes da ascensão dos aquemênidas sob Ciro, o Grande, a Média obviamente era o foco do desenvolvimento do material iraniano e da cultura intelectual.<ref name=EnIr /> A quase completa falta de material escrito torna difícil saber como os medos concebiam sua sociedade. De acordo com Heródoto, a sociedade persa durante o reinado de Ciro, o Grande era composta de "numerosas tribos" (''génea''), e cada tribo foi dividida em “clãs” (''phrātría''). Este esboço geral do historiador grego reflete o conceito de que os grupos sociais aos quais os indivíduos pertencem são a família, o clã, a tribo e o país. Nas inscrições reais, a Pérsia é considerada o melhor país; o rei obtém "bons homens" e "bons cavalos" dele e busca a proteção de Aúra-Masda para ele por meio de suas orações. Dario, o Grande se descreve como persa, filho de persa e aquemênida. Embora as afiliações de clã ou conexões tribais de indivíduos importantes raramente sejam mencionadas em textos do período aquemênida, não pode haver dúvida de que os persas ainda se identificavam por suas relações com a família (nome do pai), clã e tribo. É bem provável que os medos também o tivessem feito, porque, de acordo com Heródoto, sua nação também era composta de tribos (''génēa'').<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://iranicaonline.org/articles/class-system-ii |titulo=CLASS SYSTEM II. In the Median and Achaemenid Periods |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref>

Heródoto menciona seis tribos medas, mas quase não temos informações sobre essas tribos.<ref name=EnIr /> A vida familiar dos medos era baseada na autoridade patriarcal e a poligamia era permitida. [[Estrabão]] (''Geograf''. XI, 13.11) menciona uma lei estranha aplicada a todos os medos - uma lei que obrigava todo homem não ter menos que cinco esposas. É muito improvável que tal fardo fosse realmente obrigatório para alguém: muito provavelmente cinco esposas legítimas, e não mais, eram permitidas pela lei mencionada, assim como quatro esposas, e não mais, são legais para os [[muçulmanos]].<ref name=Gut />

Os medos são retratados nos relevos de [[Persépolis]]. Esses relevos datam de {{AC|515|x}}, ou seja, apenas trinta e cinco anos após a queda do Império Medo, o que indica que essas representações podem ser relevantes no contexto da representação da aparência e das vestes medas. Os relevos representando os medos aparecem em três lugares, mostrando guardas, nobres e suas delegações. A razão para sua frequente representação reside no fato de que os medos tinham um status privilegiado no Império Aquemênida. O primeiro relevo mostra quatro medos e lanceiros persas. Nesse relevo, os medos usam casacos curtos, calças e gorros redondos, sob os quais parecem com cabelos crespos.{{sfn|Stierlin|2006|p=145}} Até o presente momento não foram encontradas representações das mulheres medas em esculturas, mas de acordo com [[Xenofonte]] elas eram notáveis por sua estatura e beleza. As mesmas qualidades eram observáveis nas mulheres persas, conforme é dito por [[Plutarco]] e outros.<ref name=Gut />

=== Religião ===
[[Imagem:Farvahar background.jpg|miniaturadaimagem|[[Faravahar]], um símbolo do zoroastrismo]]
As informações sobre a religião dos medos são muito escassas. Entre 1967 e 1977, [[David Stronach]] escavou um edifício que havia sido construído por volta de {{AC|750|x}} e parece ter caráter principalmente religioso. Esse edifício está localizada em Tepe Nus-i Jã, cerca de 60 km ao sul de [[Hamadã]]. O edifício foi erguido sobre uma rocha com cerca de 30 metros de altura e inclui um “Santuário Central”, “Santuário Ocidental”, “Fortaleza” e “Salão Colunado”, que eram cercados por uma parede de suporte circular de tijolos. O Santuário Central tinha uma forma de torre com um altar interno triangular. Seu espaço é de 11×7 metros e as paredes têm oito metros de altura. Perto do canto oeste do altar, foi descoberto um altar de fogo escalonado, construído com tijolos de barro. Como se sabe, o culto ao fogo era um legado indo-iraniano comum.<ref name=EnIr />

O restante de nossas informações sobre a religião meda baseia-se principalmente nas ''Histórias'' de Heródoto. De acordo com o que ele relata os medos têm uma casta sacerdotal, os [[mago]]s, que seriam uma das tribos deste povo. Eles tinham o direito ou privilégio de servir como sacerdotes não apenas para os medos, mas também para os persas. Assim, eles constituíam uma casta sacerdotal que passava suas funções de pai para filho. Na corte do rei Astíages, os magos atuavam como conselheiros, feiticeiros, intérpretes de sonhos e adivinhos. Assim, aparentemente, os magos tiveram um papel significativo na corte dos últimos reis medos. Os nomes pessoais dos indivíduos medos também são uma fonte de informação a respeito da religião meda. Os textos assírios dos séculos IX e {{AC|VIII|x}} contém exemplos nos quais o primeiro elemento é familiar tanto do antigo persa quanto do [[língua avéstica|avéstico]]: a palavra indo-iraniana ''arta-'' (lit. verdade) ou [[Nome teóforo|nomes teofóricos]] com Masdacu e até o nome do deus [[Aúra-Masda]]. A religião que os magos promoveram poderia ser algum tipo de pré-zoroastrismo ou o próprio [[zoroastrismo]]. Este é um tópico controverso sobre o qual os estudiosos ainda não concordaram. Os autores clássicos consideravam por unanimidade os magos como sacerdotes zoroastrianos. O orientalista [[Igor Diakonoff]] supôs que Astíages e talvez até Ciaxares já haviam adotado uma religião derivada dos ensinamentos de [[Zoroastro]] (embora certamente não seja idênticos à sua doutrina). A maioria dos estudiosos, no entanto, não compartilha dessa opinião. [[Mary Boyce]] chegou a argumentar que a existência dos magos na Média com suas próprias tradições e formas de culto era um obstáculo para o proselitismo zoroastriano ali. Com toda a probabilidade, desde o {{-séc|VIII}}, prevaleceu na Média um tipo de [[masdaísmo]] com tradições indo-iranianas comuns, para o qual características específicas do zoroastrismo eram estranhas, enquanto a religião reformada por Zoroastro começou a se espalhar no oeste do Irã apenas na primeira metade do {{-séc|VI}}, sob os últimos reis medos.<ref name=EnIr /><ref>{{Citar web|titulo=History of Medes in Ancient Iran (607 B.C – 549 B.C)|url=https://www.destinationiran.com/history-of-medes-ancient-iran.htm|obra=Destination Iran Tours|data=2018-07-31|acessodata=2020-07-15|lingua=en-US|primeiro=Rahman|ultimo=Mehraby}}</ref> Também é sugerido que os medos podem ter praticado o [[mitraísmo]] e tiveram [[Mitra (mitologia)|Mitra]] como sua divindade suprema.{{HarvRef|Soudavar|2003|p=84}}

=== Língua ===
{{Ver artigo principal|Língua meda|Literatura meda}}
[[Imagem:Bilingual Linear Elamite Akkadian inscription of king Kutik-Inshushinak Table of the Lion Louvre Museum Sb 17.jpg|thumb|miniaturadaimagem|esquerda|O [[linear elamita]] pode ter sido escrito na língua meda]]
Os medos falavam a [[língua meda]], cuja origem e as características ainda são debatidas. No entanto, é claro que se trata de uma língua iraniana antiga, próxima do [[Língua persa antiga|persa antigo]], talvez ancestral do [[Língua curda|curdo]].<ref name=":19">P. Lecop, ''The Inscriptions of Achaemenid Persia'', Paris, 1997, p. 46-49</ref> Em sua ''[[Geografia (Estrabão)|Geografia]]'', [[Estrabão]] menciona a afinidade da língua meda com outras línguas iranianas, afirmando que os povos iranianos falavam praticamente a mesma língua, mas com pequenas variações.<ref>''[[Geografia (Estrabão)|Geografia]]'', [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0239%3Abook%3D15%3Achapter%3D2%3Asection%3D8 Estrabão. 15.2.8]</ref>

Nenhum documento datado do período meda foi preservado, e não se sabe com qual escrita os textos produzidos por este povo eram feitos. Até agora apenas uma placa de bronze que data do período pré-aquemênida foi encontrada no território medo, um registro de uma escrita cuneiforme em [[Língua acádia|acádio]] que data do {{-séc|VIII}}, mas não menciona nenhum nome medo. Uma inscrição cuneiforme em um pedaço de prata foi escavada na Média em Tepe Nus-i Jã, mas apenas o final de um sinal e o início do próximo foram preservados. Não se sabe se os medos usavam a escrita acadiana para escrever.<ref name=EnIr /> Alguns estudiosos modernos sugeriram que o [[linear elamita]] (ainda não decifrado) pode ter sido escrito na língua meda, assumindo que ''Kutik-Inshushinak'' poderia ter sido o nome iraniano original do rei Ciaxares, em vez do rei elamita muito anterior.<ref>Gunnar Heinsohn, ''Cyaxares: Media's Great King in Egypt, Assyria & Iran,'' [[Universidade de Bremen]], maio de 2006</ref>

Palavras de origem meda aparecem em vários outros dialetos iranianos, incluindo o persa antigo. Uma característica das inscrições do persa antigo é o grande número de palavras e nomes de outras línguas, e a língua meda leva a esse respeito um lugar especial por razões históricas. As palavras medas nos textos persas antigos, cuja origem meda pode ser estabelecida por critérios fonéticos, aparecem com mais frequência entre os títulos reais e entre os termos da chancelaria, assuntos militares e judiciais.<ref>{{harv|Schmitt|2008|p=98}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://www.crystalinks.com/media.html |titulo=Median Empire |acessodata=2020-07-18 |obra=Crystalinks.com}}</ref> Na ausência de textos encontrados nesta língua e com apenas algumas palavras atribuídas à língua meda, sua gramática não pode ser reconstruída.<ref name=":19" />

=== Arte ===
[[imagem:Gold Rhyton in the form of a Ram's Head - Reza Abbasi Museum - Tehran, Iran.jpg|miniaturadaimagem|[[Ritão]] de ouro na forma de uma cabeça de carneiro, [[Museu Reza Abbasi]], [[Teerã]].]]
A arte meda permanece uma questão de especulação, e mesmo sua existência é negada por alguns estudiosos. [[Oscar White Muscarella|Oscar Muscarella]] observa que “nenhum exemplo de arte e artefatos medos existem no registro arqueológico”. Ainda, outros estudiosos presumem que os sítios arqueológicos como Tepe Nus-i Jã e Godin Tepe localizados na Média e datados dos séculos VIII e {{AC|VII|x}} são exemplos de se considerar a existência da arte meda. Embora Tepe Nus-i Jã não fosse uma capital, segundo David Stronach, tornou-se um elo importante em uma cadeia de evidências sobre a composição e o desenvolvimento da arquitetura meda, bem como na incorporação da cultura meda na antigas civilizações orientais. Na arquitetura de Tepe Nus-i Jã e Godin Tepe podem ser rastreados influência e empréstimos diretos de detalhes finos e formas arquitetônicas inteiras e ''design'' de edifícios que tiveram análogos precisos na [[Arte da Assíria|arte assíria]] e [[Arte de Urartu|urartiana]]. Os medos não apenas tomaram emprestado alguns elementos da arte estrangeira, mas também os utilizaram em formas com novas funções e significados, ou seja, em um novo contexto sem suas qualidades típicas e iniciais. Mais tarde, os aquemênidas emprestaram as conquistas culturais do antigo Oriente Próximo por intermédio dos medos.<ref name=EnIr />

Heródoto faz uma descrição do palácio de Déjoces em Ecbátana, que, segundo ele, era um complexo arquitetônico construído em uma colina e cercado por sete círculos de paredes, de modo que as [[ameia]]s de cada parede superavam as da parede seguinte fora dele. O próprio palácio e os tesouros reais estavam dentro do círculo mais interno. As ameias desses círculos foram pintadas com sete cores diferentes, o que atesta que os medos desenvolveram um rico [[policromia|policromado]]; e os dois círculos internos foram cobertos com prata e ouro, respectivamente. As contribuições artísticas dos [[Ourivesaria|ourives]] medos também são mencionadas nos registros persas.<ref name=EnIr />

A [[Retrato pictórico|arte pictórica]] até agora foi escavada em quantidades absurdamente pequenas e em qualidade um tanto decepcionante. As evidências mostram que a arte pictórica meda foi fortemente influenciada pelos [[caldeus|babilônios]], [[assírios]], [[elamitas]] e, talvez, pela primeira fase do “estilo animal” do Oriente Próximo, mas nenhum traço de uma genuína arte meda. O artesanato local é indicado por jarros de bronze escavados. A pintura arquitetônica, atestada tanto em [[Baba Jan Tepe|Baba Jan]] quanto em [[Tepe Nush-i Jan|Nush-i Jan]], pode ser comparada com o estilo geométrico não muito sofisticado encontrado em [[Tepe Sialk]]. [[Richard David Barnett|R. D. Barnett]] argumentou que o chamado [[Arte cita|estilo cita]], mais precisamente a fase mais antiga deste estilo, também fizesse parte da arte meda contemporânea (final do {{-séc|VIII}}). Até agora, no entanto, essa teoria não foi provada nem refutada.<ref>https://iranicaonline.org/articles/art-in-iran-ii-median</ref>


== Dinastia ==
== Organização ==
{{Artigo principal|Dinastia meda}}
{{Artigo principal|Dinastia meda}}
{|class="wikitable"
{|class="wikitable"
Linha 273: Linha 190:
|}
|}


=== Gerenciamento administrativo ===
== Geografia ==
[[Imagem:Median (greatest extent).svg|miniaturadaimagem|Localização do Império Medo]]
A Média era principalmente um planalto montanhoso com a altitude média de 900 a 1.500 metros acima do nível do mar. Uma parte considerável desta terra é uma estepe árida, onde há pouca precipitação pluvial, embora haja planícies férteis muito produtivas. A maioria dos rios flui para o grande deserto central, onde suas águas se dissipam em brejos e pântanos que secam no verão quente e deixam depósitos de sal. As barreiras naturais tornavam a defesa relativamente fácil. A [[cordilheira de Zagros]] é a mais elevada, com numerosos picos de mais de 4.270 metros de altitude, mas o cume mais elevado, o [[Monte Damavand]], que tem 5.771 metros, se encontra na [[cordilheira Elbruz]], perto do [[Mar Cáspio]].<ref name=":9" />


Atualmente, não possuímos informações diretas sobre a estrutura política, econômica e social dos medos. No entanto, é provável que em muitos aspectos o sistema administrativo medo se assemelhava ao da Assíria, sob cuja influência os medos estiveram por um longo período. Alguns elementos do sistema administrativo introduzido pelos assírios podem ter persistido nas províncias medas mesmo após a queda da Assíria.<ref name=EnIr /> Em vez de ser uma monarquia centralizada, o Estado medo era mais como uma confederação com vários governantes. O sistema de governo medo favorecia uma estrutura piramidal de lealdade, onde pequenos governantes prestavam sua lealdade a um rei provincial, que por sua vez, devia lealdade à corte central em Ecbátana. Esse sistema lembrava em certa medida o sistema satrapal e feudal.<ref name=":21">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=0y1jeSqbHLwC&pg=PR9|título=The History of Ancient Iran|ultimo=Frye|primeiro=Richard Nelson|data=1984|editora=C.H.Beck|lingua=en}}</ref> O exercício de autoridade sobre os vários povos, iranianos e não-iranianos, na forma de uma confederação está implícito no antigo título real iraniano, “rei dos reis”.<ref name=":7" />
As fronteiras da Média mudaram gradualmente ao longo do tempo; portanto, sua extensão geográfica precisa permanece desconhecida para nós.<ref name="EnIr"/> As mudanças nas fronteiras não eram grandes, e os limites naturais, em três lados pelo menos, podem ser estabelecidos com certa precisão. Ao norte, a Média parece ter sido limitada pelo [[rio Araxes]] até sua entrada na região baixa e pela cordilheira Elbruz localizada ao sul do Cáspio. Abaixo da bacia do Araxes encontra-se uma cadeia de montanhas que se junta a bacia do [[lago Úrmia]]. A oeste, a Média era limitada pela cordilheira de Zagros. Ao leste, a Média era limitada pelo [[Contraforte (geologia)|contraforte]] rochoso que se estende desde o Elbruz até o [[deserto de Cavir]]. Ao sul não havia nenhum limite natural para determinar a fonteira, o que torna difícil afirmar com alguma exatidão quanto do planalto iraniano pertencia à Média e quanto à [[Pérsis|Pérsia]]. No entanto, se considerarmos a localização de [[Ecbátana]], que sendo capital deveria ter sido toleravelmente central, e o relato geral sobre o tamanho da Média dado pelos historiadores e geógrafos, podemos colocar o limite sul com muita probabilidade na linha do [[Paralelo 32 N|32ª paralelo]].<ref name=Gut />

Os discursos de Jeremias datados de 593 a.C. mencionam "reis da Média" no plural, junto com sátrapas e governadores. Heródoto dá essa caracterização da estrutura do reino medo (1, 134): "... um povo governava outro, mas os medos governavam sobre todos e especialmente sobre aqueles que habitavam mais perto deles, e esses governavam sobre seus vizinhos, e assim por diante".{{sfn|Diakonoff|1985|p=125-127}} É assumido por alguns estudiosos que a estrutura administrativa meda mais tarde tenha se tornado uma forma mais desenvolvida no sistema administrativo do Império Aquemênida.<ref>{{Citar web |url=https://www.worldhistory.org/Persian_Government/ |titulo=Ancient Persian Government |acessodata=2021-10-26 |website=World History Encyclopedia |lingua=en}}</ref>

Provavelmente, nunca existiu um império medo ''strictu sensu''.<ref name=":26" /> E o termo “império” para se referir à entidade política que os medos construíram pode não ser adequado.<ref name=":GS">{{citar web|url=https://www.globalsecurity.org/military/world/iran/history-medes-modern.htm|titulo=BC 788 - 550 BC - Empire Median|data=|acessodata=30/07/2020|publicado=globalsecurity.org}}</ref> Segundo Andreas Fuchs, o reino medo era provavelmente apenas uma frouxa federação de chefes e reis do Irã ocidental cuja unidade era mantida por seus laços pessoais com o rei medo, que era menos um monarca absoluto do que um primeiro entre iguais. Isso se encaixa na descrição de outros governantes "que marcham ao lado" do rei medo mencionados em fontes babilônicas.<ref name=":27">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=jTOxEAAAQBAJ&pg=PA674 |título=The Oxford History of the Ancient Near East: Volume IV: the Age of Assyria|ultimo=Radner|primeiro=Karen|ultimo2=Moeller|primeiro2=Nadine|ultimo3=Potts|primeiro3=Daniel T.|data=2023-04-14|editora=Oxford University Press|lingua=en}}</ref> [[Maria Brosius]] visualiza a Média como um território de chefaturas que, entre 614 e 550 a.C., uniram suas forças militares sob um senhor da cidade, tendo Ecbátana como sua base de poder.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=GCIGEAAAQBAJ&pg=RA1-PA10|título=A History of Ancient Persia: The Achaemenid Empire|ultimo=Brosius|primeiro=Maria|data=2020-10-29|editora=John Wiley & Sons|lingua=en}}</ref>

=== Corte real ===
[[imagem:PLATE2BX.jpg|miniaturadaimagem|251x251px|Representação artística de nobres medos]]
As informações disponíveis sobre a corte meda são muito limitadas e não totalmente confiáveis. Em sua descrição encantadora da juventude de [[Ciro II]], Heródoto sugere que a corte meda incluía guarda-costas, mensageiros, o "olho do rei" (uma espécie de agente secreto) e construtores. Ctésias menciona o copeiro real como um dos cargos da corte meda. Ao fundar o Império Aquemênida, Ciro provavelmente continuou a organização e as práticas da corte meda, incluindo formas de etiqueta, cerimonial e protocolo diplomático que os medos, por sua vez, herdaram da Assíria.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://iranicaonline.org/articles/courts-and-courtiers-i |titulo=COURTS AND COURTIERS I. In the Median and Achaemenid periods |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref>

De acordo com Heródoto, assim que assumiu o trono, Déjoces ordenou que uma cidade-fortaleza fosse construída para ser sua capital; toda a autoridade governamental estava centralizada nesta cidade, Ecbátana.<ref name=":Dj" /> Ele estabeleceu uma guarda real e um protocolo de corte muito rigoroso, de tal forma que os líderes das grandes famílias medas "o consideraram um ser de natureza diferente da deles".<ref name=":23" /> Em circunstâncias normais, o monarca se mantinha isolado em seu palácio e ninguém poderia vê-lo, a menos que ele formalmente solicitasse uma audiência e fosse apresentado à presença real por um oficial. Ele estava cercado por guarda-costas para sua segurança pessoal e raramente deixava seu palácio, contentando-se com os relatórios do estado de seu reino que eram transmitidos a ele de vez em quando por seus oficiais.<ref name="Gut" /> Ninguém poderia rir ou cuspir diante da presença real, bem como na presença de qualquer outra pessoa, pois tal ato era considerado indigno e vergonhoso. Consolidada a autoridade real, Déjoces pôs-se a fazer justiça com toda severidade. Os processos lhe eram enviados por escrito; ele os julgava e os devolvia com a sentença.<ref>{{citar heródoto|1|99-100}}</ref> Ele impôs a lei e a ordem introduzindo "observadores e ouvintes" em todo o seu reino, vigiando as ações de seus súditos.<ref name=":Dj" /> Do mesmo modo como outros governantes orientais, o monarca medo tinha várias esposas e [[concubina]]s; e a [[poligamia]] era comumente praticada entre as classes mais ricas e proeminentes. As principais características da corte meda pode ter sido semelhantes ao da corte assíria.<ref name=Gut />

Os magos, segundo Heródoto, eram uma casta sacerdotal muito influente na corte considerados como pessoas honradas, tanto pelo rei, quanto pelo povo. Eles atuavam como intérpretes de sonhos, feiticeiros e conselheiros sobre diversos assuntos, inclusive os assuntos políticos. O cerimonial religioso estava sob sua responsabilidade, e provavelmente altos cargos de Estado foram concedidos a eles. A principal diversão da corte era a caça, que frequentemente ocorria em uma floresta onde se poderia encontrar leões, leopardos, ursos, javalis, jumentos selvagens, antílopes, gazelas, asnos selvagens e veados. Como de costume, esses animais eram perseguidos a cavalo e miravam-se neles com arco ou dardo.<ref name=Gut />

=== Exército ===
[[Imagem:Meder-Persepolis.JPG|esquerda|miniaturadaimagem|220x220px|Relevo aquemênida de um soldado medo, encontrado em Persépolis]]
Sabe-se pouco sobre o exército medo, mas certamente ele desempenhou um papel importante na história meda.<ref name=Gut /> No final do {{-séc|VII}}, os medos alcançaram notável progresso militar sob Ciaxares, que, segundo Heródoto, dividiu o exército em unidades especiais; soldados de [[infantaria]], [[lanceiro]]s, [[arqueiro]]s e [[Cavalaria|cavaleiros]], pois os gêneros mistos anteriores levaram a confusão do exército no campo de batalha. Isso indica que antes de Ciaxares, os medos entraram em guerra em organização tribal - cada chefe trazendo e liderando sua infantaria e tropas montadas - e que o rei treinou as forças em um exército dividido em grupos táticos com armas unificadas. Os medos usavam a carruagem com menos frequência e contavam principalmente com a cavalaria equipada com [[cavalos niseanos]]. Seus equipamentos marciais eram a lança, o arco, a espada e a adaga. Seu país montanhoso e natureza guerreira contribuíram para o desenvolvimento de um traje adequado para cavalaria: calças justas geralmente feitas de couro com um cinto extra para colocar uma espada curta; uma túnica longa e justa de couro e um [[elmo]] redondo de feltro com abas nas bochechas e protetor de pescoço, que também pode cobrir a boca; e um manto longo variegado jogado sobre os ombros e preso ao peito com mangas vazias suspensas nas laterais. O traje medo rapidamente ganhou popularidade entre outros povos iranianos.<ref name=":0">{{Citar web |ultimo=Shahbazi |primeiro=A. Sh. |url=https://iranicaonline.org/articles/army-i |titulo=ARMY i. Pre-Islamic Iran |acessodata=2021-08-15 |website=Encyclopaedia Iranica |paginas=489-499 |lingua=en-US}}</ref> A presença de soldados medos nos palácios assírios evidentemente influenciou significativamente a reestruturação das táticas militares medas, adotando técnicas mais avançadas.<ref name=":16" /> A cavalaria meda era altamente treinada e bem equipada, e teve um papel importante na batalha contra os assírios.<ref>A. Sh. Shahbazi, “ASB i. In Pre-Islamic Iran,” Enciclopédia Iranica, 2/7, pp. 724-730, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/asb-pre-islamic-iran (acessado em 05 de Novembro 2021).</ref>

Ocupando a segunda posição mais importante no Império Aquemênida, os medos pagavam menos tributos, mas forneciam mais soldados ao exército persa do que outros povos. Assim os medos compunham uma porção significativa do [[exército aquemênida]], isso é evidenciado pelos relevos de Persépolis e por Heródoto, bem como pelo fato de que muitos generais medos, como [[Hárpago]], [[Mazares]] e [[Dátis]], serviram no exército persa.<ref name=":0" /> Segundo Heródoto, durante as [[Guerras Médicas|guerras greco-persas]] os soldados medos não diferiram muito dos persas. Ambos lutavam a cavalo e também a pé usando lanças, arcos e [[adaga]]s, grandes escudos de vime e carregando as aljavas nas costas. As características do exército medo original, conforme indicado nas Escrituras Hebraicas e por Xenofonte, é mais simplista que a descrição de Heródoto. O exército medo aparenta ter sido baseado na arquearia a cavalo. Treinados desde a infância numa diversidade de [[hipismo|exercícios equestres]] e no uso do arco, os medos procederam contra seus inimigos montados a cavalo, semelhante aos citas, e obtiveram suas vitórias sobretudo por sua destreza ao disparar flechas enquanto avançavam ou recuavam. Evidentemente o terror que os medos inspiravam surgiu de sua habilidade excepcional na arquearia.<ref name=Gut />

=== Economia ===
[[imagem:Biandintz eta zaldiak - modified2.jpg|miniaturadaimagem|A criação de cavalos foi um dos principais ramos da economia meda]]
Os medos viviam um estilo de vida pastoral, com sua principal atividade econômica sendo criação de animais como gado, ovelhas, cabras, jumentos, mulas e cavalos. Este último era um dos principais prêmios cobiçado pelos assírios uma vez que os textos cuneiformes sobre as incursões assírias na Média mostram que os medos criavam uma excelente raça de cavalos. Em relevos assírios, os medos são às vezes representados usando o que parece serem capas de pele de ovelhas sobre as suas túnicas, e com botas altas com cordões, equipamento necessário para o trabalho pastoril nos planaltos, onde os invernos traziam neves e frio intenso. A evidência arqueológica mostra que os medos possuíam hábeis trabalhadores em bronze e ouro.<ref name=":9" />


O rico material arqueológico de [[Tepe Nus-i Jã]], [[Godin Tepe]] e outros locais antigos, bem como relevos assírios, demonstram que na primeira metade do primeiro milênio a.C. existiram assentamentos do tipo urbano em várias regiões da Média, que eram centros de produção de artesanato e de uma economia agrícola e pecuária sedentária. Dos distritos medos, os assírios receberam tributo a cavalos, gado, ovelhas, camelos bactrianos, [[lápis-lazúli]], bronze, ouro, prata e outros metais, além de tecidos de linho e lã.<ref name=EnIr /> Partes da Média eram ricas e produtivas, mas também havia muitas terras áridas. Nas regiões favorecidas da Média, como o Zagros e o Azerbaijão, o solo é quase todo cultivável e capaz de produzir uma excelente safra de grãos.<ref name=Gut /> Ao sul do [[Cáspio]] há uma estreita faixa de solo fértil, onde a terra é coberta por uma densa floresta<ref name=":9" /> que proporciona uma madeira de excelente qualidade.<ref name=Gut /> A economia das aldeias se baseava em culturas como cevada, farro, pão de trigo, ervilhas, lentilhas e uvas. As montanhas generosamente arborizadas proporcionavam uma extensa gama de caça, mas a criação de animais continuava nobre; a amostra de ossos domésticos em Nus-i Jã inclui nove espécies, sendo as mais comuns ovelhas, cabras, porcos e gado. Há também indícios, inteiramente de acordo com a reputação milenar das pastagens da Média, de que a criação de [[cavalo niseano|cavalos]] acima mencionada desempenhava um papel significativo na economia local.<ref name=":19">{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/archeology-ii |titulo=ARCHEOLOGY ii. Median and Achaemenid – Encyclopaedia Iranica |acessodata=2020-07-30 |website=iranicaonline.org}}</ref>
A região de Zagros, situada ao oeste, era habitada por várias tribos independentes que acabaram sendo absorvidas pelos medos. Inicialmente, apenas uma barreira natural que protegia os medos dos assírios, os Zagros tornou-se o principal centro do poder medo. O deserto de Cavir ao leste era intransitável para qualquer exército, sendo uma barreira que protegia efetivamente a Média ao longo da maior parte de sua fronteira oriental. Sendo protegida por uma cadeia montanhosa ao norte, a Média era vulnerável apenas no sul, onde fazia fronteira com um povo semelhante, os persas. Apesar de serem inimigos formidáveis, [[Urartu]] ao noroeste, [[Pérsia]] ao sul e a [[Império Neoassírio|Assíria]] ao oeste, foram subjugadas ou absorvidas pela Média, que assim atingiu proporções imperiais.<ref name=Gut /> Os medos também teriam subjugado a [[Capadócia]], [[Hircânia]], [[Pártia]], [[Elão]],<ref name=EnIr /> [[Sagárcia]],<ref name=":10" /> [[Drangiana]],<ref name=":15" /> [[Ária (satrapia)|Ária]]<ref name=":24" /> e [[Báctria]] tornando-se um império que se estendia da Anatólia, no oeste, até a Ásia Central, no leste.<ref name=EnIr /><ref name=":10" /> De acordo com a determinação desafiadora dos limites mais amplos deste império mapeados em dez estados modernos, a área do Império Medo cobrem um território de pouco mais de 2,8 milhões de km² tornando esse estado um dos maiores impérios da história.<ref name=":11">{{Citar periódico |titulo=Size and Duration of Empires: Growth-Decline Curves, 600 B.C. to 600 A.D. |url=https://www.jstor.org/stable/1170959 |jornal=Social Science History |data=1979 |issn=0145-5532 |paginas=115–138 |numero=3/4 |acessodata=2020-10-11 |doi=10.2307/1170959 |primeiro=Rein |ultimo=Taagepera}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Turchin|primeiro=Peter|ultimo2=Adams|primeiro2=Jonathan M.|ultimo3=Hall|primeiro3=Thomas D.|data=2006-08-26|titulo=East-West Orientation of Historical Empires and Modern States|url=https://jwsr.pitt.edu/ojs/jwsr/article/view/369|jornal=Journal of World-Systems Research|lingua=en|paginas=219–229|doi=10.5195/jwsr.2006.369|issn=1076-156X}}</ref>


Hilary Gopnik vê o Estado medo como uma "força econômica dominante" no controle das rotas comerciais do norte do Zagros nos séculos VII e VI a.C.<ref name=":28" /> Sendo o povo mais poderoso no planalto iraniano na primeira metade do {{-séc|VI}}, os medos podem ter exigido tributo de povos como os persas, armênios, partas, drangianos e arianos.<ref name=":18" /><ref name=":12" /> A importância do tráfego da Média está principalmente relacionada ao controle de grande parte da rota leste-oeste que era conhecida na Idade Média como [[Rota da Seda]]. Essa rota ligava os mundos oriental e ocidental, e conectava a Média à Babilônia, Assíria, Armênia e ao Mediterrâneo no oeste, e à Pártia, Ária, Báctria, [[Sogdiana]] e China no leste. Outra estrada importante conectava Ecbátana com as capitais da Pérsia, Persépolis e Pasárgada. Além de controlar o comércio leste-oeste, a Média também era rica em produtos agrícolas. Os vales dos Zagros são férteis, e a Média era bem conhecida por suas plantas, ovelhas e cabras. O país poderia alimentar uma grande população e ostentava muitas aldeias e algumas cidades como [[Rages]] e [[Gabas]].<ref name=":3" />
== Controvérsia ==
[[imagem:Medijsko Carstvo 600. pr. Kr..PNG|Mapa do Império Medo como é geralmente concebido durante o período de sua extensão máxima, mas na realidade muito hipotético|miniaturadaimagem|279x279px|esquerda]]
Os textos assírios mencionam cidades medas ricas, mas os saques registrados consistiam principalmente em armas, gado, jumentos, cavalos, camelos e ocasionalmente lápis-lazúli, obtido por meio do comércio medo mais a leste. Na época de sua unificação ou pouco depois, parece que os medos adquiriram meios para se abastecerem com riquezas mais substanciais. Isso é inferido por um trecho da "Crônica Babilônica" do século VI a.C., que menciona que o rei Ciro II levou prata, o ouro, bens, propriedades de Ecbátana como despojo para Ansã.<ref name=":20" />


== Historicidade ==
Até o {{séc|XX}} acreditava-se que o estado medo era um vasto império que se estendia do rio Hális até a Ásia Central e que existiu de {{AC|612|x}}, quando Nínive foi destruída, até a vitória dos persas sobre os medos em {{AC|550|x}} Isso é exatamente o que as fontes antigas preservaram sobre o estado medo. No entanto, no final do {{séc|XX}}, iniciou-se uma revisão dessas fontes, e os historiadores começaram a redesenhar o mapa do antigo Oriente Médio.<ref name=":22" /> Em 1988, [[Heleen Sancisi-Weerdenburg]] negou com argumentos de peso considerável a existência de um Império Medo como uma entidade política com estruturas comparáveis ​​às dos impérios neoassírio, neobabilônico ou aquemênida.<ref name=":1" /> Em termos sucintos, ela argumentou que a notável ausência de evidências para tal regime equivale à ausência de império. Embora as reações imediatas fossem céticas, seus argumentos foram agora examinados por assiriólogos, historiadores clássicos e arqueólogos e são amplamente aceitos pela maioria dos estudiosos.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://iranicaonline.org/articles/sancisi-weerdenburg-heleen |titulo=SANCISI-WEERDENBURG, Heleen |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref> [[Ernst Herzfeld]] considera o estado medo um poderoso império, que se estendia do norte da Mesopotâmia até Báctria e Índia. Por outro lado, H. Sancisi-Weerdenburg insiste em que não há evidências reais sobre a própria existência do Império Medo e que era uma formação estatal instável.<ref name=EnIr /> A ausência de inscrições reais medas, bem como a ausência até o momento de evidências arqueológicas que mostrem a existência de um importante estado medo, encoraja a ver no estado medo uma construção política indefinida. Portanto, permanece difícil postular a constituição de um poderoso estado medo estruturado por Ciaxares.<ref name="liv">{{en}} M. Liverani, « The Rise and Fall of Media », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=1-12}}</ref> Estudos mais recentes adicionam mais dúvidas sobre a existência de um império medo,<ref name=":1" /> Alguns estudiosos começaram a retirar de sua composição suas supostas províncias e reinos vassalos, como a Pérsia, Elão, Assíria, Armênia, Capadócia, Drangiana, Pártia e Ária. Assim, o estado medo começou a se transformar em uma formação de estado primitiva, cuja influência e contornos se limitaram ao território de [[Ecbátana]] com a região adjacente.<ref name=":22">{{Citar web |url=http://liberea.gerodot.ru/a_hist/midia.htm |titulo=Медведская И.Н., Дандамаев М.А. «История Мидии в новейшей западной литературе» {{!}} Либерея "Нового Геродота" |acessodata=2020-10-12 |lingua=ru-RU |titulotrad=Medvedskaya I.N., Dandamaev M.A. «História dos medos na mais nova Literatura Ocidental» {{!}} Do "Novo Heródoto"}}</ref> Há pouca dúvida, porém, de que os medos eram uma influente sociedade tribal no Irã e que exerciam alguma influência significativa na região dos séculos IX ao {{AC|VI|x}} Tampouco se pode duvidar que os medos não tenham sido os responsáveis pela queda do Império Neoassírio, mas é difícil avaliar se os medos preencheram um vácuo de poder no mundo pós-assírio.<ref>{{citar web|url=https://www.researchgate.net/publication/314841142_Median_Empire |titulo=Median Empire|acessodata=04/08/2020 |publicado=}}</ref> O chamado Império Medo parece ser uma concepção herodoteana, que simplifica os assuntos políticos mais complexos da primeira metade do {{-séc|VI}}<ref>{{Citar web |url=https://iranicaonline.org/articles/herodotus-ii |titulo=Herodotus II. The Histories As A Source For Persia And Persians |acessodata=2021-10-07 |website=Encyclopaedia Iranica |lingua=en-US}}</ref>
[[imagem:Medijsko Carstvo 600. pr. Kr..PNG|Mapa do Império Medo como é geralmente concebido durante o período de sua extensão máxima, mas na realidade muito hipotético|miniaturadaimagem|279x279px|centro]]


Até o final do século XX, os estudiosos geralmente concordavam que o colapso do [[Império Assírio]] foi seguido pela ascensão de um império medo. Dizia-se que o Império Medo se assemelhava ao posterior [[Império Aquemênida]] e governava uma vasta porção do [[antigo Oriente Próximo]] por meio século, até seu último rei, [[Astíages]], ser derrubado por seu próprio vassalo, [[Ciro, o Grande]].{{sfn|Rollinger|2021|p=213-214}} Em 1988, 1994 e 1995, a historiadora [[Heleen Sancisi-Weerdenburg]] questionou a existência de um Império Medo como uma entidade política possuidora de estruturas comparáveis às dos Impérios Neoassírio, Neobabilônico ou Aquemênida. Ela lançou dúvidas sobre a validade geral de nossa fonte mais importante, ou seja, ''Medikos Logos'' de Heródoto, e apontou para lacunas nas fontes não-clássicas, principalmente para a primeira metade do {{-séc|VI}}<ref name=":8" /><ref name=":25">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/11349598/R_Rollinger_The_Median_Empire_the_End_of_Urartu_and_Cyrus_the_Great_Campaign_in_547_BC_Nabonidus_Chronicle_II_16_In_Ancient_West_and_East_7_2009_49_63 |título=R. Rollinger, The Median “Empire”, the End of Urartu and Cyrus’ the Great Campaign in 547 BC (Nabonidus Chronicle II 16). In: Ancient West &amp; East 7, 2009, 49-63 |acessodata=2023-12-16 |ultimo=Rollinger |primeiro=Robert}}</ref> Sancisi-Weerdenburg também destacou que praticamente apenas fontes clássicas gregas foram usadas pela historiografia moderna para construir a história meda, e que as fontes do antigo Oriente Próximo foram quase completamente ignoradas.{{sfn|Rollinger|2021|p=337–338}} Ela argumentou que não há evidências diretas ou indiretas substanciais, não provenientes de Heródoto, que sustentem a existência de um Império Medo, e que tal império é uma construção grega a partir de poucos dados disponíveis via Babilônia.<ref name=":1" /> Em 2001, foi realizado um simpósio internacional em Pádua, Itália, focado no problema do Império Medo. Não foi alcançado um consenso sobre a existência de um Império Medo, mas foi geralmente acordado que não há prova conclusiva para sua existência. A discussão persiste até o presente.{{sfn|Rollinger|2021|p=337–338}}<ref name=":25" /><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=y3HpDwAAQBAJ&pg=PA189&dq=#v=|título=Short-term Empires in World History|ultimo=Rollinger|primeiro=Robert|ultimo2=Degen|primeiro2=Julian|ultimo3=Gehler|primeiro3=Michael|data=2020-06-04|editora=Springer Nature|lingua=en}}</ref>
Aos olhos de alguns estudiosos a teoria de Heródoto de um grande Império Medo é uma ficção total projetada para preencher uma lacuna em sua visão de uma sequência de impérios orientais. Alguns estudiosos aderiram a uma visão maximalista, considerando o estado medo um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida e sua cultura, em especial devido à importância que os medos parecem ter no período aquemênida. Mesmo os defensores da visão maximalista acreditam que a ascensão do reino medo não poderia começar antes de {{AC|615|x}} No entanto, é difícil imaginar que os medos poderiam preparar forças para derrotar os assírios em poucos anos. Revisores atribuem o início da ascensão meda após a bem-sucedida revolta anti-assíria em {{AC|672|x}} Dos anos 660 a {{AC|615|x}}, os medos foram capazes de se preparar para se opor à Assíria, aumentando seus recursos, subjugando países como Urartu e Pérsia, fortalecendo seu exército e conquistando aliados. Outros estudiosos mantêm uma visão minimalista, reduzindo o estado medo a um espaço insignificante em torno de Ecbátana. A visão mais radical considera que os medos nunca formaram um reino sólido, mas sempre permaneceram divididos, as incursões na Assíria nada mais são do que ataques em grande parte por medos mercenários pertencentes ao exército assírio e unidos para a ocasião. A visão mais aceita pela maioria dos estudiosos considera que o Império Medo não existiu e que era uma federação tribal instável. Segundo [[Robert Rollinger]], o estado medo não poderia possuir e governar o vasto território que as fontes gregas o atribuem. Na verdade, esse estado parece ter sido uma espécie de unidade tribal sem estabilidade política. Rollinger exclui a Pérsia de suas posses, considerando a subjugação dos persas pelos medos uma ficção. Rollinger admite que os medos podem ter estado na Capadócia por um curto período de tempo. Uma união de tribos sob a liderança de Ciaxares poderia conduzir expedições militares no leste da Anatólia e ter algum tipo de contato com o oeste.<ref name=":22" />


Em torno de 650 a.C., as informações sobre as províncias assírias nos Zagros foram consideravelmente reduzidas, e as fontes assírias não mencionam mais os medos. Quando os medos reaparecem nos registros contemporâneos em 615 a.C., eles estão atacando a Assíria. Não há indicação de como Ciaxares trouxe uma força meda unificada para um uso tão eficaz e devastador. Atualmente existem dois pontos de vista acadêmicos contrastantes: a perspectiva tradicional vê Ciaxares como o rei de um Estado medo unificado que confrontou a Assíria como uma potência igual, enquanto a visão alternativa considera os medos como uma força militar que contribuiu para a queda da Assíria, mas carecia de coesão política.<ref name=":28" /> A ausência de evidências assírias relevantes após 650 a.C. não descarta a existência de uma autoridade meda mais ampla centrada em Ecbátana. Algumas teorias sugerem que as demandas tributárias e a exploração comercial ao longo da Grande Estrada de Coração podem ter contribuído para o acúmulo de riqueza pelos chefes medos, levando um indivíduo ambicioso a buscar autoridade mais ampla. Alternativamente, conflitos entre chefes medos levaram à intervenção assíria convidada em 676 a.C. e o juramento de fidelidade em 672 a.C. As preocupações assírias com ameaças potenciais dos medos, citas e cimérios durante esse período podem ter criado uma oportunidade para o surgimento de um líder dominante. O ataque à Assíria de 615 a 610 a.C. provavelmente desempenhou um papel crucial na consolidação da autoridade desse líder.<ref name=":1" /> [[David Stronach]] afirma que não há motivos suficientes para postular a existência de um reino medo robusto, independente e unificado em qualquer data antes de 615 a.C. No entanto, ele discorda de estender essa avaliação negativa para o período de 615 até meados do século VI.<ref name=":29" /> Para o período de 615 a 550 a.C. as fontes babilônicas contêm duas informações importantes que estão de acordo com o relato de Heródoto: em 615-610 a.C., os medos, unidos sob a liderança de Ciaxares, destruíram as capitais assírias; em 550 a.C., o exército medo, sob a liderança de Astíages, desertou para rei persa Ciro, o que foi seguido pela conquista de Ecbátana. Assim, o início e o fim de um reino medo independente parece está presente, embora a natureza de tal reino não é necessariamente igual à descrita por Heródoto como um verdadeiro império prenunciando o Império Aquemênida.<ref name=":16" /> É provável que um reino medo unificado tenha exercido controle sobre uma parte significativa do norte do Irã, pelo menos na primeira metade do século VI a.C. No entanto, alguns estudiosos também levantaram dúvidas sobre a existência de um reino medo unificado e de curta duração.{{sfn|Rollinger|2021|p=213-214}} O historiador Mario Liverani propôs que não houve transição de senhores da cidade para governantes regionais ou reis, mas sim uma breve unificação sob um rei medo principal, especificamente para confrontar uma Assíria enfraquecida na década de 610 a.C., seguida por um rápido retorno ao ''status quo'' anterior.<ref name=":33" /><ref name=":16" /> Esta visão, no entanto, não é amplamente apoiada.<ref name=":29" />{{sfn|Rollinger|2021|p=213-214}}
O “Império Medo” seria, portanto, uma entidade política que permanece ilusória, de modo que a realidade de sua existência é negada por certos estudiosos. Nada se sabe sobre a organização dessa entidade política. Muitas vezes assumiu-se que as estruturas do reino medo foram amplamente dominadas por seus sucessores persas, mas isso permanece altamente especulativo, e a herança elamita agora é considerada mais decisiva na formação do Império Aquemênida.<ref>{{en}} W. Henkelman, « Persians, Medes and Elamites, Acculturation in the Neo-Elamite Period », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger(ed.)|2003|p=181-231}}</ref>

Enquanto alguns estudiosos ainda consideram a Média um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida,<ref name=":22" /> a existência de tal império ainda carece de evidências arqueológicas concretas.{{sfn|Rollinger|2021|p=344-345}} Outros estudiosos consideram o Império Medo uma ficção criada por Heródoto para preencher uma lacuna entre o Império Assírio e o Império Persa em sua visão de uma sequência de impérios orientais.<ref name=":22" /><ref name=":8" /><ref name=":16" /> [[Karen Radner]] conclui que, sem Heródoto e a tradição grega, é "altamente duvidoso" que os pesquisadores modernos postulariam a existência de um Império Medo. Heleen Sancisi-Weerdenburg expressou esse ponto de vista ao dizer que "o Império Medo existe para nós porque Heródoto diz que existiu".<ref name=":30" /> Uma visão alternativa à noção de um império medo propõe uma frouxa confederação de tribos capazes de causar efeitos devastadores, como a conquista da Assíria, mas sem as estruturas, mecanismos e burocracias de controle imperial centralizado.<ref name=":39" /><ref name=":32" /> Essa confederação operaria por meio de alianças e dependências frouxas, impulsionadas por metas e ambições momentaneamente sobrepostas. Se alguma autoridade organizada e estável existisse, provavelmente estaria centrada na região central de Zagros, entre o Lago Urmia e Elão. A hipótese é sustentável e plausível, mas permanece uma probabilidade, uma vez que a evidência textual não é conclusiva.{{sfn|Rollinger|2021|p=344-345}} Embora a evidência arqueológica apoie muitos dos julgamentos baseados em fontes textuais, pelo menos para o período até aproximadamente 650, ainda há incerteza suficiente para o período após 650 a.C. A reconsideração dos medos como uma confederação ou coalizão, em vez de um império "tradicional", se alinha com as evidências limitadas, mas tal reconsideração não necessariamente desvaloriza sua importância na história do Oriente Próximo.<ref name=":32">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/866796/Cyrus_and_the_Medes |título=Cyrus and the Medes |acessodata=2024-01-09 |ultimo=Waters |primeiro=Matt}}</ref>

Segundo [[Matt Waters]], a evidência existente mostra um rei medo exercendo influência ou autoridade diretamente ou indiretamente sobre muitos povos por meio de um sistema de governo hierárquico e informal, sem a existência de um "Império Medo" formal, ou seja, uma estrutura centralizada e burocrática.<ref name=":33" /> Nos anos 590 a.C., [[livro de Jeremias|Jeremias]] menciona 'os reis dos medos' (51:11) e 'os reis dos medos, seus vice-reis (''pechah''), todos os seus governadores (''sagan'') e todas as terras (''eretz'') de seus domínios (''memshalah'')' (51:27-28). A pluralidade de "reis" é impressionante (embora a Septuaginta use o singular “rei”); se o fato de que Jeremias (25:25) também lista "todos os reis de Elão e da Média" entre as nações condenadas mostra que o plural e o singular são simplesmente retoricamente intercambiáveis ​​é discutível. A possível explicação pode ser encontrada nas referências de Nabonido aos "''Ummān-manda'', seu país e os reis que marcham ao lado deles". Nabonido está apontando para uma ameaça unitária, composta por componentes que incluem uma pluralidade de reis. A fórmula de Jeremias pode ser uma maneira alternativa de expressar isso, especialmente porque o profeta hebreu não está preocupado com as complexidades da situação. As descrições de Nabonido e Jeremias são consistentes com a descrição do domínio medo por Heródoto em 1.134:<ref name=":1" /> {{Quote2|Quando os medos dominavam, da mesma forma as nações governavam umas às outras. Os medos governavam todos juntos e (diretamente) aqueles que viviam mais próximos; e estes, por sua vez, governavam seus vizinhos e assim por diante, seguindo o mesmo princípio pelo qual os persas estimam os outros. Assim, de fato, progrediu, cada nação governando e governando (seu vizinho).}}

== Extensão territorial ==
[[imagem:Area_inicial_da_media.gif|miniaturadaimagem|Território original dos medos antes de sua expansão]]
A extensão geográfica da Média é objeto
de debate.<ref name=":29" /> As fronteiras da Média mudaram gradualmente ao longo do tempo, resultando em uma extensão geográfica cujo detalhes precisos permanecem desconhecidos. O território original da Média, como era conhecido pelos assírios durante o período do último terço do {{-séc|IX}} até o início do {{-séc|VII}}, era delimitado ao norte por Gizilbunda, localizada nas montanhas de Qaflankuh, ao norte da planície de [[Hamadã]]. A oeste e noroeste, a Média não se estendia além da planície de Hamadã e era delimitada pelas montanhas Zagros, exceto no sudoeste, onde a Média ocupava o vale de Zagros e sua fronteira se estendia até a cordilheira de Garrin, que a separava do [[Elipi|reino de Elipi]], localizado ao sul de [[Quermanxá]]. Ao sul, fazia fronteira com a região elamita de Simaški, que corresponde à atual província de [[Lorestão]]. A leste e sudeste, a Média parece ter sido delimitada pelo [[deserto de Cavir]]. Patusarra e o Monte Bicni provavelmente foram os territórios mais remotos da Média que os assírios penetraram durante sua maior expansão na segunda metade do {{-séc|VIII}} e nas primeiras décadas do {{-séc|VII}} Normalmente, os estudiosos identificam Bicni com o [[Monte Damavand]], localizado a nordeste de Teerã. Outros estudiosos, no entanto, o identificam com o Monte Alvande, imediatamente a oeste de Hamadã. Se essa identificação estiver correta, significa que os assírios nunca cruzaram esta montanha e que todo o território medo que eles conquistaram ou conheciam ficava a oeste de Hamadã.<ref name="EnIr"/> A evidência arqueológica disponível é limitada, mas o sítio mais a leste com cerâmica potencialmente meda é [[Tepe Ozbaki]], situado a 75 km a oeste de Teerã; portanto, é provável que no leste a Média tenha se estendido pelo menos até lá.<ref name=":29">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/34285360/The_Median_Confederacy |título=The Median Confederacy |data=2021-01-22 |acessodata=2023-12-19 |publicado=Academia.edu |ultimo=Gopnik |primeiro=Hilary |paginas=39–62 |lingua=en |isbn=978-90-04-46064-5}}</ref>

No século VI e depois, grande parte do norte do Irã e alguns territórios vizinhos foram atribuídos à Média. Isso foi o resultado das conquistas medas da segunda metade do século VII.<ref name=":14" /> É comumente assumido que após a queda da Assíria no final do {{-séc|VII}}, os medos assumiram controle sobre uma vasta área estendendo das proximidades de Teerã, no leste, até o rio Hális, no oeste. Assim, o "Império Medo" teria governado sobre o Irã, a Armênia, o leste da Anatólia e o norte da Mesopotâmia, enquanto os babilônios controlaram o sul da Mesopotâmia e o Levante. No entanto, há dúvidas sobre essa assumida enorme expansão territorial.<ref name=":8" />

=== Expansão meda ===

De acordo com Heródoto, Fraortes expandiu o reino redo conquistando a Pérsia, que nesse momento provavelmente era um Estado relativamente pequeno ao sul da Média.<ref name=":29" /> O evento é descrito como parte de uma ampla onda de conquistas, onde Fraortes e seus sucessores subjulgaram vários principados ao longo da cordilheira de Zagros.<ref name=":23" /> No entanto, a ideia de que a Pérsia teria sido um "vassalo" da Média baseia-se apenas em fontes clássicas posteriores e é considerada bastante improvável por alguns estudiosos.<ref name=":16" /><ref name=":8" /> Aparentemente, os medos não compartilhavam uma fronteira direta com o território neoelamita. No período neoassírio, a principal entidade ao norte de Elão era o reino de Elipi, mas seu poder parece ter declinado, e por volta de 660 a.C. o reino desapareceu dos registros históricos. É possível que, talvez após a queda da Assíria, os medos e elamitas tenham preenchido o vácuo deixado por Elipi. Com base em fontes bíblicas, Zawadzki sugeriu que Elão caiu sob o domínio dos medos pois Elão teria sido enfraquecido após as campanhas assírias na década de 640 a.C. Dandamayev chegou a uma conclusão semelhante, mas com a aceitação de uma dominação babilônica antes. Interpretações de passagens de Jeremias (Jer. 49:34-38) e Ezequiel (Eze. 32:24-25), que sugerem que Elão foi subjugado, são difíceis e não são destinadas como declarações históricas precisas. Uma vez que as evidências textuais e arqueológicas do Irã não indicam uma dominação meda do [[Cuzistão]] e tanto as fontes bíblicas quanto babilônicas não mencionam explicitamente a supremacia da Média sobre Elão, a ideia enfrenta muito ceticismo.<ref name=":26" />

O reino medo provavelmente anexou Manai ao seu território após a derrota dos assírios em uma batalha em 616 a.C.<ref>{{Citar periódico |url=https://riviste.fupress.net/index.php/asiana/article/view/1746 |título=An Archaeological View to the Mannaean Kingdom |data=2023-01-25 |acessodata=2024-01-21 |periódico=Asia Anteriore Antica. Journal of Ancient Near Eastern Cultures |ultimo=Hassanzadeh |primeiro=Yousef |paginas=13–46 |doi=10.36253/asiana-1746 |issn=2611-8912}}</ref> O envolvimento dos medos com a Assíria de 615 a 610 é marcada por três, talvez quatro, campanhas, cada uma concluída com o saque de uma cidade importante. A partida dos medos após cada conquista sugere uma falta de interesse no controle político sobre o coração do antigo Império Assírio. [[Julian Reade]] sugere que as províncias assírias dentro do Zagros, como Mazamua, e talvez as regiões de Tušhan e Šupria no Tigre superior, eram as únicas mais adequadas para a expansão meda devido à sua familiaridade com o território medo. No entanto, às vezes é sugerido que os medos assumiram o controle do coração assírio, conforme afirmado por fontes gregas posteriores. Heródoto (1, 106), escrevendo por volta de 450 a.C., relata que Ciaxares conquistou toda a Assíria; o que quer que tenha sido entendido por Assíria nesse contexto. Ctésias, por volta de 400 a.C., menciona o reassentamento de Nínive sob o domínio medo. Xenofonte, que viajou pelo país em 401 a.C., considera a Assíria metropolitana como parte da Média. Ele chegou a dizer que Ninrude e Nínive eram antigas cidades medas conquistadas pelos Persas. A relevância dessas informações para a situação no século VI a.C. é duvidosa. A Crônica Babilônica registra que em 547 a.C., o rei persa Ciro passou por Arbela (atual Erbil) a caminho de atacar um reino cujo nome está danificado, mas que frequentemente se supõe que tenha sido a Lídia.<ref name=":36" /> Foi argumentado que a travessia do Tigre a jusante de Arbela é uma evidência de que esta região em direção ao Zabe Inferior estava sob controle dos persas, indicando um controle medo anterior da região, enquanto o território ao sul deste rio era babilônico. No entanto, é possível que a Crônica apenas mencione a rota tomada por Ciro porque ele estava passando por território babilônico, com ou sem permissão.<ref name=":25" /><ref name=":36" /> A identificação de Xenofonte da margem leste do Tigre ao norte de Bagdá como 'Média' e a menção de Heródoto à região baixa de [[Matiene]] (5. 52. 5) permanecem questionáveis em termos de controle histórico medo a oeste do Zagros. A principal evidência da presença meda nas planícies da Mesopotâmia após 610 a.C. gira em torno de Harã. As inscrições de Nabonido indicam que a cidade estava vulnerável a incursões dos medos na década de 550 a.C., embora isso possa ter ocorrido em outros períodos também.<ref name=":1" /> Os medos são descritos por Nabonido como responsáveis pela destruição do Ehulhul em Harã e como um impedimento ao seu desejado trabalho de reconstrução lá. Isso sugere que os medos controlavam o templo e, portanto, Harã. No entanto, a ''Crônica Babilônica'' registra a conquista de Harã em 610 a.C. e implica controle babilônico na cidade. Alguns estudiosos favorecem a versão da crônica, enfatizando os elementos propagandísticos das inscrições de Nabonido.<ref name=":28" /><ref name=":8" /> Em 550 a.C., Ciro conquistou [[Gutium]], o que sugere que havia uma região no Zagros Ocidental que não estava sob controle medo nesse período, embora a localização exata de Gutium permaneça desconhecida. O papel de Ugbaru de Gutium como apoiador de Ciro pode decorrer de Gutium ter rejeitado recentemente a autoridade meda.<ref name=":1" />

[[Imagem:Median (greatest extent).svg|miniaturadaimagem|esquerda|De certa forma, a extensão do suposto Império Medo foi inferida a partir da extensão territorial do posterior Império Aquemênida.<ref name=":16" />]]
Segundo Heródoto, o controle medo no oeste se estendeu até o rio Hális, onde eles teriam compartilhado uma fronteira com os lídios. Ao contrário do problema de quem detinha o controle político sobre Harã, não há fontes contemporâneas que atestem uma presença meda se estendendo até o rio Hális.<ref name=":8" /> O historiador [[Robert Rollinger]] reconhece uma guerra lido-meda. No entanto, ele questiona a fronteira do Hális, apontando para descrição errônea do curso do rio dada por Heródoto e a ausência de detalhes históricos na sua narrativa explicando como o Hális se tornou a fronteira entre os domínios lídios e medos.<ref name=":8">{{en}} R. Rollinger, « [https://www.academia.edu/13842356 The Western Expansion of the Median “Empire”: A Re-Examination] », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger (ed.)|2003|p=289-320}}</ref> Ele admite que os medos podem ter estado na Anatólia por um breve período de tempo e até mesmo concluído um tratado com os lídios, mas desconsidera que houve controle medo permanente na Anatólia oriental e central no século VI a.C.{{sfn|Rollinger|2021|p=344-345}} O fim do reino de Urartu permanece obscuro devido à ausência de fontes escritas após os anos quarenta do século VII a.C. No entanto, parece haver um consenso de que o reino foi destruído pelos medos visto que a fronteira no Hális é aceita por muitos estudiosos.<ref name=":8" /> A destruição de Urartu por forças externas tem sido convencionalmente datada por volta de 590 a.C., com base em referências na Bíblia Hebraica e nas crônicas babilônicas. [[S. Kroll]], no entanto, observou que os textos relevantes podem se referir a uma região geográfica em vez de um Estado político, e ele sugere que o Estado urartiano se desintegrou por volta de 640 a.C. após uma invasão cita.<ref name=":37">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/6442985/Urartu_and_the_Medikos_Logos_of_Herodotus |título=Urartu and the Medikos Logos of Herodotus |acessodata=2024-01-28 |ultimo=Steele |primeiro=Laura}}</ref> Sem nenhuma estrutura regional para resistir a incursões militares, os babilônios invadiram Urartu em 608-607 a.C., e talvez em 609 a.C., e mais tarde os medos devem ter afirmado sua autoridade sobre a região.<ref name=":1">{{Citar periódico |titulo=Medes in Media, Mesopotamia and Anatolia: empire, hegemony, devolved domination or illusion? |url=https://www.academia.edu/8102970/Medes_in_Media_Mesopotamia_and_Anatolia_empire_hegemony_devolved_domination_or_illusion |jornal=Ancient West &amp; East 3 (2004) [published 2005], 223-251 |acessodata=2020-10-18 |lingua=en |primeiro=Christopher |ultimo=Tuplin}}</ref> A Crônica de Nabonido relata uma campanha de Ciro, o Grande, em 547 a.C. para uma terra cujo nome está danificado no texto e apenas o primeiro caractere ainda é reconhecível. Embora seja debatido, a interpretação predominante o identifica como Lídia, lendo o caractere danificado como Lu-. No entanto, [[Joachim Oelsner]] identificou o sinal como Ú, o primeiro sinal de Urartu. É provável que Ciro, após conquistar a Média em 550 a.C., tenha passado vários anos estabelecendo seu poder sobre regiões que antes estavam sob controle medo como Urartu.<ref>{{Citar web|url=https://www.livius.org/articles/misc/the-end-of-lydia-547/|titulo=The End of Lydia: 547? - Livius|acessodata=2024-01-19|website=Livius.org}}</ref> No entanto, considerando a visão da fragilidade do poder medo em sua ala ocidental e as dúvidas sobre a existência de um Império Medo, Rollinger conclui que Urartu provavelmente sobreviveu apenas para ser conquistado por Ciro. Mas pode ter havido um período de supremacia ou suserania meda, já que a inscrição de Beistum trata as revoltas no primeiro ano do reinado de Dario nessa região como parte das revoltas na Média, dividindo a 'Média' em pelo menos três partes: Média propriamente dita, Sagárcia e Urartu (Armênia).<ref name=":25" />

Heródoto e Ctésias sugerem que a autoridade meda se estendeu para o leste além dos Zagros, mas a extensão exata do domínio dos medos a leste permanece incerta. Ao ler a inscrição de Beistum de Dario para reconstruir uma Média que, sob Astíages, abrangia Média, Armênia e Sagárcia, parece razoável, mas a inscrição diferencia regiões orientais que muitos postulariam como tendo estado sob autoridade meda com base em fontes clássicas.<ref name=":32" /> Pártia e Hircânia, por exemplo, são tratadas como entidades separadas.<ref name=":1" /> Muitas áreas orientais que aparecem como partes do Império Aquemênida na inscrição de Beistum encontram pouca ou nenhuma menção nas fontes relevantes para a história política dos cinquenta anos anteriores, por exemplo, [[Ária (satrapia)|Ária]], [[Drangiana]] e [[Aracósia]], entre outras. Permanece desconhecido como e quando essas áreas foram incorporadas ao Império Persa.<ref name=":32" /> Uma lista aquemênida inicial coloca a Média na décima posição, seguida por Armênia, Capadócia e províncias iranianas orientais (Pártia, Drangiana, Ária, etc.). A inclusão da Armênia e Capadócia em uma seção que começa com Média e depois se estende para o leste pode ser interpretada como uma indicação da antiga extensão territorial dos medos.<ref name=":1" /> Segundo Ctésias, a vitória de Ciro sobre Astíages levou à submissão dos hircânios, partas, citas e bactrianos ao rei persa.<ref name=":32" /> Segundo Heródoto, quando Ciro conquistou a Média, ele se deparou a leste com a missão de conquistar os [[masságetas]], um povo nômade da Ásia Central, e Báctria (no atual Tajiquistão e norte do Afeganistão). Isso sugere que as regiões situadas mais a oeste, Hircânia, Pártia, Ária, Drangiana, já deviam pertencer aos medos. O fato de que durante as revoltas de 522 a.C. a Hircânia e a Pártia apoiaram o rebelde medo Fraortes também pode apontar para um controle anterior dos medos nessas regiões.{{sfn|Diakonoff|1985|p=125-127}}

De acordo com uma estimativa, a área do Império Medo pode ter abrangido um território de pouco mais de 2.800.000 km² tornando-o um dos maiores impérios da história,<ref>{{citar jornal|último1=Turchin|primeiro1=Peter|autorlink=Peter Turchin|ultimo2=Adams|primeiro2=Jonathan M.|ultimo3=Hall|primeiro3=Thomas D.|data=2006-12|título=East-West Orientation of Historical Empires|url=http://peterturchin.com/PDF/Turchin_Adams_Hall_2006.pdf|urlmorta=no|jornal=[[Journal of World-Systems Research]]|volume=12|issue=2|lingua=en|páginas=219–229|doi=10.5195/jwsr.2006.369|issn=1076-156X|arquivourl=https://web.archive.org/web/20200707181315/http://peterturchin.com/PDF/Turchin_Adams_Hall_2006.pdf|arquivodata=2020-07-07|acessodata=2020-07-07}}</ref> mas é possível que nunca tenha ultrapassado o tamanho do Império Neoassírio, que em seu auge cobria 1.400.000 km².<ref name=":11">{{Citar periódico|titulo=Size and Duration of Empires: Growth-Decline Curves, 600 B.C. to 600 A.D.|url=https://www.jstor.org/stable/1170959|jornal=[[Social Science History]]|data=1979|issn=0145-5532|paginas=115–138|numero=3/4|acessodata=2020-10-11|doi=10.2307/1170959|primeiro=Rein|ultimo=Taagepera}}</ref> Uma reavaliação recente das evidências históricas, tanto arqueológicas quanto textuais, levou estudiosos modernos a questionar noções anteriores sobre a extensão territorial dos medos. Assim, alguns estudiosos começaram a retirar da composição do “Império Medo” muitas de suas supostas “províncias” e “reinos dependentes”, como a Pérsia, Elão, Assíria, norte da Síria, Armênia, Capadócia, Drangiana, Pártia e Ária.<ref name=":28">{{Citar jornal|último=Waters|primeiro=Matthew|data=2005|editor1-link=Giovanni Battista Lanfranchi (historian)|editor2-link=Michael Roaf|editor-last=Lanfranchi|editor-first=Giovanni B.|editor2-last=Roaf|editor2-first=Michael|editor3-last=Rollinger|editor3-first=Robert|editor3-link=Robert Rollinger|título=Media and Its Discontents|url=https://www.academia.edu/1040674/Media_and_Its_Discontents|jstor=20064424|jornal=[[Journal of the American Oriental Society]]|volume=125|número=4|páginas=517–533|issn=0003-0279}}</ref> Assim, a influência e extensão territorial do Estado medo começou a se limitar ao território adjacente à de [[Ecbátana]].<ref name=":22" />{{HarvRef|Lanfranchi|2003|p=397-406}}


== Legado ==
== Legado ==
A formação do reino medo é um dos momentos decisivos da história iraniana. Foi o prenúncio da ascensão ariana ao poder dinástico, que continuou daí em diante, moldando a vida cultural e política no planalto iraniano e em outros territórios ocupados pelos iranianos.<ref>Ehsan Yarshater, “IRAN ii. IRANIAN HISTORY (1) Pre-Islamic Times,” Encyclopædia Iranica, XIII/2, pp. 212-224 and XIII/3, p. 225, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/iran-ii1-pre-islamic-times (acessado em 25 de Outubro de 2021).</ref> Pela primeira vez na história, os povos iranianos se uniram, criando um contrapeso político as principais potências do oeste, Lídia e Babilônia. A vitória persa sob os medos constituiu um passo em direção à glória para Ciro, que então seguiu uma série de vitórias e funda o [[Império Aquemênida]], o maior e mais poderoso estado iraniano da história, pois ele subjugou as grandes potências aliadas dos medos. É certo dizer que a evolução da sociedade tribal para um estado primitivo, que começou na Média, terminou na Pérsia.<ref name=":3" />
A formação do reino medo é um dos momentos decisivos da história iraniana. Foi o prenúncio da ascensão ariana ao poder dinástico, que continuou daí em diante, moldando a vida cultural e política no planalto iraniano e em outros territórios ocupados pelos iranianos.<ref>Ehsan Yarshater, “IRAN ii. IRANIAN HISTORY (1) Pre-Islamic Times,” Encyclopædia Iranica, XIII/2, pp. 212-224 and XIII/3, p. 225, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/iran-ii1-pre-islamic-times (acessado em 25 de Outubro de 2021).</ref> Os povos iranianos se uniram pela primeira vez, criando um contrapeso político as principais potências do oeste, Lídia e Babilônia. A vitória persa sob a Média constituiu um passo em direção à glória para Ciro II, que então seguiu uma série de vitórias e funda o [[Império Aquemênida]], o maior e mais poderoso Estado iraniano da história.<ref name=":3" /> Segundo as fontes clássicas a vitória persa sobre os medos em 550 a.C. teria concedido ao rei Ciro um império já estabelecido, estendendo-se do rio Hális até a Ásia Central. Assim, o Império Aquemênida foi estabelecido com base em uma herança direta do Império Medo.<ref name=":16">{{Citar livro|último=Liverani|primeiro=Mario|autorlink=Mario Liverani |editor1-last=Lanfranchi |editor1-first=Giovanni B. |editor2-last=Roaf |editor2-first=Michael |editor-link2=Michael Roaf |editor3-last=Rollinger |editor3-first=Robert |editor-link3=Robert Rollinger |data=2003 |título=Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia |capítulo=The Rise and Fall of Media |capítulourl=http://m-hosseini.ir/mad-hakha/articles-1/20.pdf |local=[[Padua]] |publicado=S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria |páginas=1–12 |isbn=978-9-990-93968-2}}</ref> Alguns historiadores, ao analisarem o vocabulário administrativo e palaciano aquemênida, sugerem que os empréstimos linguísticos medos eram particularmente frequentes na titulatura real e na burocracia. Além disso, é hipotetizado que os medos transmitiram indiretamente tradições assírio-babilônicas e urartianas aos persas. A inferência é que Ciro assimilou as tradições medas, dada a supremacia política anterior da Média.<ref name=":23" />

Recentemente, vários estudiosos tem enfatizado, em vez disso, o papel crucial desempenhado pelos impérios desenvolvidos do Oriente Próximo, especialmente Elão e Babilônia, na articulação do Império Aquemênida.<ref name=":38" /><ref name=":28" /><ref name=":26">{{en}} W. Henkelman, « [https://www.academia.edu/3559995 Persians, Medes and Elamites, Acculturation in the Neo-Elamite Period] », em {{harvsp|id=CON|Lanfranchi|Roaf|Rollinger(ed.)|2003|p=181-231}}</ref><ref name=":23" /> A noção de que o Império Medo serviu como um canal para a transmissão das tradições assírias para o Império Aquemênida, impactando vários aspectos da arte, arquitetura e administração, tem sido questionada devido à "natureza nebulosa da entidade política meda". Enquanto a arte e a arquitetura apresentam evidências menos problemáticas para essa cadeia de transmissão proposta, o aspecto da administração e governo é onde as contribuições medas são mais questionáveis. A suposta transmissão de influências assírias para os aquemênidas via o Império Medo inclui elementos como o serviço postal assírio, a estrada real, deportações em massa, títulos reais, o sistema assírio de governo provincial e um sistema feudal de posse de terras. No entanto, o sistema governamental e administrativo neobabilônico parece ter sido muito semelhante ao sistema neoassírio, tornando-o um elo plausível para a influência das tradições assírias nos aquemênidas. Mas traços culturais assírios también podem ter chegado aos persas através do noroeste do Irã mesmo sem a existência de um Império Medo.<ref name=":17">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/951549/Observations_on_the_Problem_of_the_Median_Empireon_the_Basis_of_Babylonian_Sources |título=Observations on the Problem of the Median &#39;Empire&#39;on the Basis of Babylonian Sources |data=2004-01-01 |acessodata=2024-01-19 |periódico=Lanfranchi, Roaf, and Rollinger |ultimo=Jursa |primeiro=Michael}}</ref>


Os gregos tendiam a confundir medos e persas. A terminologia "medo" é frequentemente usada para se referir ao "persa". É a terminologia com a qual os gregos da Anatólia reagiram aos sucessores de Ciro, o Grande, mais tarde assumida por outros gregos, e é recorrente no conceito de [[medismo]]. É improvável que Ciro tenha se autodenominado como um rei medo, então a melhor explicação para esse fenômeno reside no caráter medo do território no qual Creso tão desastrosamente tentou conquistar e de sua desculpa para fazer isso, talvez reforçada por memórias do caráter temeroso dos medos com quem seu antecessor conseguira fazer um acordo.<ref name=":1" />
Devido à sua localização, os persas eram muito suscetíveis à influência elamita. A permanência da influência elamita em todos os aspectos da vida social e política sugere que a organização do Reino de Ciro e de seus sucessores deve mais ao legado elamita, que pode ser identificado precisamente, do que aos empréstimos medos, que são muito difíceis de isolar.<ref name=":23" /><ref name=":16" /> No entanto, a importância significativa do Estado medo, e seu domínio através do Irã, centralizado ou não, como precursora da Pérsia aquemênida, não pode ser subestimada.<ref name=":39" /> O papel da Média no Império Aquemênida é bastante peculiar. Não há uma conclusão definitiva, mas é possível que questões relacionadas a ideologias religiosas e sociais tenham sido a causa dessa peculiaridade.<ref name=":16" /> Os gregos tendiam a confundir medos e persas, e o termo "medo" era frequentemente usado para se referir ao "persa". É a terminologia com a qual os gregos da Anatólia reagiram aos sucessores de Ciro II, mais tarde assumida por outros gregos, e é recorrente no conceito de [[medismo]]. É provável que esse fenômeno reside no caráter medo do território no qual o rei lídio Creso tentou conquistar e de sua desculpa para fazer isso, talvez reforçada por memórias do caráter temeroso dos medos com quem seu antecessor conseguira fazer um acordo.<ref name=":1" /> Além dos gregos, os judeus, egípcios e outros povos do mundo antigo também chamavam os persas de “medos” e consideravam o domínio persa uma continuação do dos medos.<ref name=EnIr />


[[imagem:Bible.malmesbury.arp.jpg|centro|miniaturadaimagem|Uma Bíblia escrita à mão em latim, em exibição na [[Abadia de Malmesbury]], [[Wiltshire]], [[Inglaterra]]]]
[[imagem:Bible.malmesbury.arp.jpg|centro|miniaturadaimagem|Uma Bíblia escrita à mão em latim, em exibição na [[Abadia de Malmesbury]], [[Wiltshire]], [[Inglaterra]]]]
Embora a existência de um Império Medo seja questionável, os textos bíblicos considera a Média como um poder significativo. O [[livro de Isaías]] mostra que os medos eram um inimigo potencial e viciosamente destrutivo da Babilônia. o [[livro de Jeremias]] em {{AC|c=c|595|x}} especifica 'os reis da Média' (51:11) e 'os reis da Média, seus vice-reis, todos os seus governadores e todas as terras de seus domínios' (51:28). A pluralidade de "reis" é impressionante; se o fato de que Jeremias (25:25) também lista "todos os reis de Elão e Média" entre as nações condenadas mostra que o plural e o singular são simplesmente retoricamente intercambiáveis ​​é discutível. Antes dos medos, {{Citar bíblia|livro=Jeremias|capítulo=51|verso=27}} lista os reinos de Urartu, Manai e os Citas como inimigos da Babilônia. Alguns o lêem como sugerindo que os três reinos estavam dentro do domínio do(s) rei(s) medo(s).<ref name=":1" /> O [[livro de Daniel]] menciona uma visão de quatro bestas, que representam as antigas monarquias do Velho Oriente que governaram a cidade de [[Babilônia]]:<ref>{{Citar web|titulo=Daniel on the fourth beast|url=https://www.livius.org/sources/content/bible/daniel-on-the-fourth-beast/|obra=Livius.org|acessodata=2020-06-26}}</ref>
Os textos bíblicos consideram a Média como uma potência significativa. Os livros de [[livro de Isaías|Isaías]] e [[livro de Jeremias|Jeremias]] retratam os medos como um inimigo potencial e viciosamente destrutivo da Babilônia.<ref name=":1" /> O [[livro de Daniel]] menciona a [[Profecia dos quatro animais|visão das quatro bestas]], que representam as antigas monarquias do Antigo Oriente que governaram a cidade de [[Babilônia]]:


# O leão com asas de águia: [[Império Neobabilônico]];
# O leão com asas de águia: [[Império Neobabilônico]];
# O urso: Império Medo;
# O urso: Império Medo;
# O leopardo de quatro cabeças com asas: [[Império Aquemênida]];
# O leopardo de quatro cabeças com asas: [[Império Aquemênida]];
# A besta de dez chifres com dentes de ferro: [[Império Macedônio]];
# A besta de dez chifres com dentes de ferro: [[Império Macedônio]] de [[Alexandre, o Grande]];


A interpretação que descreve o Império Neobabilônico está correta, pois essas representações são características da [[arte babilônica]]. Além disso, [[Alexandre, o Grande]] é frequentemente representado com os chifres de carneiro de seu pai mitológico [[Ámon]]. O problema da interpretação é precisamente o Império Medo, que, de acordo com todas as outras fontes históricas, nunca conquistou a Babilônia. O livro de Daniel menciona um governante chamado [[Dario, o Medo]], que teria conquistado a Babilônia, mas essa figura é desconhecida em outras fontes históricas. Os estudiosos crêem que o livro de Daniel foi escrito por volta de {{AC|165|x}} e supõe que seu autor tenha sido influenciado pela visão grega da história, e por isso é provável que a importância dada a Média seja exagerada. Outra explicação é que a interpretação da Média se refere ao usurpador medo [[Gaumata]], que em {{AC|522|x}}, se declarou rei do [[Império Aquemênida]] em detrimento de [[Cambises II]] e governou o império por vários meses até que foi derrubado por [[Dario, o Grande]].<ref name=":2" />
pouca dúvida sobre essa interpretação, mas o problema da interpretação é precisamente o Império Medo, que nunca conquistou a Babilônia e é citado como um império importante mundial em textos gregos. O livro de Daniel menciona um governante chamado [[Dario, o Medo]], que teria conquistado a Babilônia, mas essa figura é desconhecida em outras fontes históricas. É muito provável que o autor de Daniel, que escreveu por volta de {{AC|165|x}}, tenha sido influenciado pela visão grega da história e por isso tenha dado a Média uma importância exagerada.<ref name=":2" />


Na [[Translatio imperii|teoria da sucessão de impérios]], a Média está após a Assíria e antes da Pérsia, ou seja, num período de entre 612 e {{AC|550|x}} Na historiografia grega, esse esquema incluía o Império Assírio, Império Medo, Império Aquemênida e, mais tarde, o [[Império Selêucida]] foi incluído nele. Após a vitória de [[Pompeu]] sobre os selêucidas em {{AC|63|x}}, os historiadores romanos completaram o conceito dos quatro impérios, incluindo o [[Império Romano]] como o quinto e último. Os gregos consideravam o estado medo como um império universal, cujo modelo correspondia ao aquemênida e, em geral, ao modelo oriental de estado. Na tradição hebraica, o Império Babilônico ocupa o lugar do Império Assírio. Mas nem as tradições greco-romanas nem as hebraicas privaram a Média de seu papel proeminente na história. Somente na literatura judaica e cristã tardia que o segundo estado foi identificado como Império Medo-Persa, o que, privou os medos de um papel independente na história mundial.<ref name=":22" />
Na [[Translatio imperii|teoria da sucessão de impérios]], a Média está após a Assíria e antes da Pérsia, ou seja, num período de entre 612 e {{AC|550|x}} Na historiografia grega, esse esquema incluía o Império Assírio, Império Medo, Império Aquemênida e, mais tarde, o [[Império Selêucida]] foi incluído nele. Após a vitória de [[Pompeu]] sobre os selêucidas em {{AC|63|x}}, os historiadores romanos completaram o conceito dos quatro impérios, incluindo o [[Império Romano]] como o quinto e último. Os gregos consideravam o Estado medo como um império universal, cujo modelo correspondia ao aquemênida e, em geral, ao modelo oriental de Estado. Na tradição hebraica, o Império Babilônico ocupa o lugar do Império Assírio. Mas nem as tradições greco-romanas nem as hebraicas privaram a Média de seu papel proeminente na história. Somente na literatura judaica e cristã tardia que o segundo Estado foi identificado como Império Medo-Persa, o que, privou os medos de um papel independente na história mundial.<ref name=":22">{{Citar periódico |url=https://www.academia.edu/en/71550157/ |título=Тюрки Передней Азии в эпоху Мидийской империи |acessodata=2023-01-08 |ultimo=Гумбатов |primeiro=Гахраман}}</ref>


{{notas e referências}}
{{notas e referências}}


== Bibliografia ==
== Bibliografia ==
{{InícioRef|2}}


{{InícioRef|2}}
* {{Citar web|ultimo1=Dandamayev|primeiro1=M.|ultimo2=Medvedskaya|primeiro2=I.|título=Media|url=https://iranicaonline.org/articles/media|ano=2006|website=Iranicaonline.org|ref=harv}}
* {{Citar web|ultimo1=Dandamayev|primeiro1=M.|ultimo2=Medvedskaya|primeiro2=I.|título=Media|url=https://iranicaonline.org/articles/media|ano=2006|website=Iranicaonline.org|ref=harv}}


* {{Citar livro|url=http://www.gutenberg.org/files/16163/16163-h/16163-h.htm|título=The Seven Great Monarchies of the Ancient Eastern World|último=Rawlinson|primeiro=George|publicado=John B. Eldan Press|ano=2007|volume=7|local=Nova Iorque|isbn=1-931956-46-4|ref=harv|anooriginal=1885}}
* {{Citar livro|url=http://www.gutenberg.org/files/16163/16163-h/16163-h.htm|título=The Seven Great Monarchies of the Ancient Eastern World|último=Rawlinson|primeiro=George|publicado=John B. Eldan Press|ano=2007|volume=7|local=Nova Iorque|isbn=1-931956-46-4|ref=harv|anooriginal=1885}}

* {{citar livro|último=Rollinger|primeiro=Robert|capítulo=The Median Dilemma|editor-last1=Jacobs|editor-first1=Bruno|editor-last2=Rollinger|editor-first2=Robert|título=A Companion to the Achaemenid Persian Empire|data=2021|publicado=John Wiley & Sons|url=https://books.google.com/books?id=qZA7EAAAQBAJ|páginas=457–473|isbn=978-1119174288}}


* {{citation|publisher=BRILL|isbn=978-90-04-09271-6|last1=Boyce|first1=Mary|last2=Grenet|first2=Frantz|title=Zoroastrianism under Macedonian and Roman rule|year=1991}}
* {{citation|publisher=BRILL|isbn=978-90-04-09271-6|last1=Boyce|first1=Mary|last2=Grenet|first2=Frantz|title=Zoroastrianism under Macedonian and Roman rule|year=1991}}
Linha 320: Linha 287:
* {{Citar livro|publicado=Taylor & Francis|último=Bryce|primeiro=Trevor|título=The Routledge Handbook of the Peoples and Places of Ancient Western Asia. From the Early Bronze Age to the Fall of the Persian Empire|isbn=0415394856|língua=en|ano=2009}}
* {{Citar livro|publicado=Taylor & Francis|último=Bryce|primeiro=Trevor|título=The Routledge Handbook of the Peoples and Places of Ancient Western Asia. From the Early Bronze Age to the Fall of the Persian Empire|isbn=0415394856|língua=en|ano=2009}}


* {{Citar web|ultimo=Stierlin|primeiro=Henri|título=Splendeurs de I’Empire perse|url=https://www.amazon.com/Splendeurs-lEmpire-Perse-Henri-Stierlin/dp/270001524X|publicado=Grund|lingua=fr|local=Paris|ano=2006|isbn=978-2700015249| ref=harv}}
* {{Citar livro|ref=harv|último=Dandamaev|primeiro=M. A.|título=A Political History of the Achaemenid Empire|url=https://books.google.com/books?id=ms30qA6nyMsC&pg=PA15|ano=1989|publicado=BRILL|isbn=978-90-04-09172-6|páginas=}}


* {{Citation|last=Henrickson|first1=R. C.|contribution=Baba Jan Teppe|year=1988|title=Encyclopaedia Iranica|volume=2|url=http://www.iranica.com/articles/baba-jan-tepe|isbn=978-0-933273-67-2|publisher=Routledge & Kegan Paul}}
* {{Citation|last=Henrickson|first1=R. C.|contribution=Baba Jan Teppe|year=1988|title=Encyclopaedia Iranica|volume=2|url=http://www.iranica.com/articles/baba-jan-tepe|isbn=978-0-933273-67-2|publisher=Routledge & Kegan Paul}}
Linha 330: Linha 297:
* {{Citar livro|língua=de|último=Stuart C. |primeiro= Brown|capítulo = Medien (Media)|título=Reallexicon der Assyriologie und Vorderasiatischen Archäologie|volume = 7| local= Berlim|editora=De Gruyter|ano=1990 |páginas= 619-623| id=BRO}}
* {{Citar livro|língua=de|último=Stuart C. |primeiro= Brown|capítulo = Medien (Media)|título=Reallexicon der Assyriologie und Vorderasiatischen Archäologie|volume = 7| local= Berlim|editora=De Gruyter|ano=1990 |páginas= 619-623| id=BRO}}


* {{citation|last=Diakonoff|first=I. M.|chapter=Media|title=The Cambridge History of Iran|volume=2|edition=Edited by Ilya Gershevitch|pages=36–148|place=Cambridge, England|publisher=Cambridge University Press|year=1985|isbn=978-0-521-20091-2}}
* {{citation|last=Diakonoff|first=I. M.|chapter=Media|chapter-url=https://books.google.com.br/books?id=BBbyr932QdYC&pg=PA36|title=The Cambridge History of Iran|volume=2|editor-last=Gershevitch|editor-first=Ilya|pages=36–148|place=Cambridge, England|publisher=Cambridge University Press|year=1985|isbn=978-0-521-20091-2}}


* {{Citation|publisher=Brill|isbn=978-90-04-00857-1|volume=1|last=Gershevitch|first=I.|title=Iranian Studies|chapter=Old Iranian Literature|location=1–30|series=Hanbuch Der Orientalistik – Abeteilung – Der Nahe Und Der Mittlere Osten|year=1968}}
* {{Citação|publisher=Brill|isbn=978-90-04-00857-1|volume=1|último=Gershevitch|primeiro=I.|título=Iranian Studies|capítulo=Old Iranian Literature|local=1–30|series=Hanbuch Der Orientalistik – Abeteilung – Der Nahe Und Der Mittlere Osten|ano=1968}}


* {{Citation|doi=10.2307/4300482|issn=0578-6967|volume=11|pages=1–27|last=Levine|first=Louis D.|title=Geographical Studies in the Neo-Assyrian Zagros: I|journal=Iran|date=1973-01-01|jstor=4300482}}
* {{Citação|doi=10.2307/4300482|issn=0578-6967|volume=11|pages=1–27|last=Levine|first=Louis D.|title=Geographical Studies in the Neo-Assyrian Zagros: I|journal=Iran|date=1973-01-01|jstor=4300482}}


* {{Citation|doi=10.2307/4300506|issn=0578-6967|volume=12|pages=99–124|last=Levine|first=Louis D.|title=Geographical Studies in the Neo-Assyrian Zagros-II|journal=Iran|date=1974-01-01|jstor=4300506}}
* {{Citation|doi=10.2307/4300506|issn=0578-6967|volume=12|pages=99–124|last=Levine|first=Louis D.|title=Geographical Studies in the Neo-Assyrian Zagros-II|journal=Iran|date=1974-01-01|jstor=4300506}}


* {{citation|publisher=Wiley Blackwell|last1=Van De Mieroop|first1=Marc|title=A History of the Ancient Near East, ca. 3000-323 BC|year=2015}}
* {{citation|publisher=Wiley Blackwell|last1=Van De Mieroop|first1=Marc|title=A History of the Ancient Near East, ca. 3000-323 BC|year=2015}}

* {{citation|last=Diakonoff|first=I.M.|chapter=Media I: The Medes and their Neighbours|volume=2|year=1985|pages=36-148|title=Cambridge History of Iran|editor-last=Gershevitch|editor-first=Ilya|publisher=Cambridge University Press}}

* {{citation|publisher=Mazda Publishers|isbn=978-1-56859-109-4|last=Soudavar|first=Abolala|title=The aura of kings: legitimacy and divine sanction in Iranian kingship|year=2003}}


* {{citation|last=Young|editor3-last=Lewis|chapter-url=http://histories.cambridge.org/extract?id=chol9780521228046_CHOL9780521228046A002|doi=10.1017/CHOL9780521228046.002|year=1988|publisher=Cambridge University Press|volume=4|editor4-first=M.|editor4-last=Ostwald|editor3-first=D. M.|first=T. Cuyler, Jr.|editor2-last=Hammond|editor2-first=N. G. L.|editor1-first=John|editor1-last=Boardman|title=The Cambridge Ancient History|pages=1–52|chapter=The early history of the Medes and the Persians and the Achaemenid empire to the death of Cambyses|isbn=9781139054317}}
* {{citation|last=Young|editor3-last=Lewis|chapter-url=http://histories.cambridge.org/extract?id=chol9780521228046_CHOL9780521228046A002|doi=10.1017/CHOL9780521228046.002|year=1988|publisher=Cambridge University Press|volume=4|editor4-first=M.|editor4-last=Ostwald|editor3-first=D. M.|first=T. Cuyler, Jr.|editor2-last=Hammond|editor2-first=N. G. L.|editor1-first=John|editor1-last=Boardman|title=The Cambridge Ancient History|pages=1–52|chapter=The early history of the Medes and the Persians and the Achaemenid empire to the death of Cambyses|isbn=9781139054317}}
Linha 349: Linha 312:


* {{citation|doi=10.2307/4300620|issn=0578-6967|volume=40|pages=89–151|last=Zadok|first=Ran|title=The Ethno-Linguistic Character of Northwestern Iran and Kurdistan in the Neo-Assyrian Period|journal=Iran|year=2002|jstor=4300620}}
* {{citation|doi=10.2307/4300620|issn=0578-6967|volume=40|pages=89–151|last=Zadok|first=Ran|title=The Ethno-Linguistic Character of Northwestern Iran and Kurdistan in the Neo-Assyrian Period|journal=Iran|year=2002|jstor=4300620}}

* {{Citation|last=Schmitt|first=Rüdiger|year=2008|publisher=Cambridge University Press|contribution=Old Persian|editor-last=Woodard|editor-first=Roger D.|title=The Ancient Languages of Asia and the Americas|isbn=978-0-521-68494-1|pages=76–100}}


* {{citation|doi=10.2307/3258384|issn=0026-1521|volume=27|issue=3|pages=177–186|last=Stronach|first=David|title=Tepe Nush-i Jan: A Mound in Media|journal=The Metropolitan Museum of Art Bulletin|series=New Series|year=1968|jstor=3258384}}
* {{citation|doi=10.2307/3258384|issn=0026-1521|volume=27|issue=3|pages=177–186|last=Stronach|first=David|title=Tepe Nush-i Jan: A Mound in Media|journal=The Metropolitan Museum of Art Bulletin|series=New Series|year=1968|jstor=3258384}}
Linha 358: Linha 319:
* {{Citar livro|língua=en| primeiro1=Giovanni B. | último1=Lanfranchi | primeiro2=Michael |último2=Roaf | primeiro3=Robert | último3=Rollinger |título=Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia |local=Padoue |editora=S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria|ano=2003|isbn=| id=CON}}
* {{Citar livro|língua=en| primeiro1=Giovanni B. | último1=Lanfranchi | primeiro2=Michael |último2=Roaf | primeiro3=Robert | último3=Rollinger |título=Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia |local=Padoue |editora=S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria|ano=2003|isbn=| id=CON}}


* {{citation|isbn=978-0-939214-79-2|primeiro=Gernot L.|último=Windfuhr|editor-sobrenome=Yarshater|editor-nome=E.|contribuição=Central dialects|ano=1991|páginas=242–51|título=Encyclopædia Iranica}}
* {{Citation|isbn=978-0-939214-79-2|primeiro=Gernot L.|último=Windfuhr|editor-sobrenome=Yarshater|editor-nome=E.|contribuição=Central dialects|ano=1991|páginas=242–51|título=Encyclopædia Iranica}}

* B. Kienast, « The So-Called ‘Median Empire’ », dans Bulletin of the Canadian Society for Mesopotamian Studies 34, 1999, p. 59-67.


{{-fim}}
{{-fim}}


{{Impérios}}
{{Impérios}}
{{Portal3|História|Irã|Estados extintos}}


[[Categoria:Império Medo]]
[[Categoria:Império Medo]]

Edição atual tal como às 18h41min de 6 de março de 2024

Média

Império Medo

678 a.C.[a]550 a.C. 

Mapa hipotético do Império Medo em sua extensão máxima
Região Ásia Ocidental
Capital Ecbátana

Línguas oficiais meda
Religião antiga religião iraniana

Forma de governo Monarquia
Rei
• 700–678 a.C.  Déjoces
• 678–625 a.C.  Fraortes
• 625–585 a.C.  Ciaxares
• 585–550 a.C.  Astíages

Período histórico Idade do Ferro
• 678 a.C.[a]  Ascensão de Fraortes
• 671 a.C.  Revolta meda contra a Assíria
• 625 a.C.  Ascensão de Ciaxares
• 612 a.C.  Medos e babilônios conquistam Nínive
• 585 a.C.  Batalha do Hális
• 553-550 a.C.  Conflito medo-persa
• 550 a.C.  Conquistado por Ciro, o Grande

A Média (em persa antigo: Māda; em grego: Mēdía; em acádio: Mādāya[1]) foi uma entidade política centrada em Ecbátana que do século VII a.C. até meados do século VI a.C. teria dominado grande parte do planalto iraniano, precedendo o Império Aquemênida.[2] A frequente interferência dos assírios nos Zagros resultou no processo de unificação das tribos medas. Em 612 a.C., os medos eram fortes o suficiente para derrubar o declinante Império Assírio em aliança com os babilônios. No entanto, estudiosos modernos são céticos sobre a existência de um "reino" ou "Estado" medo unificado, pelo menos durante a maior parte do século VII a.C.[3]

Segundo a historiografia clássica, a Média emergiu como uma grande potência no antigo Oriente Próximo após o colapso da Assíria. Sob Ciaxares (r. 625–585 a.C.), as fronteiras do país foram estendidas para leste e oeste com a subjugação de povos vizinhos, como os persas e armênios. A expansão territorial da Média resultou na formação do primeiro império iraniano, que no auge de sua extensão territorial teria exercido controle sobre mais de dois milhões de quilômetros quadrados, estendendo-se das margens orientais do rio Hális, na Anatólia, até a Ásia Central. Nesse período, o Império Medo[b] foi uma das grandes potências econômicas, políticas e militares do antigo Oriente Próximo juntamente com a Babilônia, Lídia e Egito. Durante seu reinado, Astíages (r. 585–550 a.C.) empenhou-se para fortalecer e centralizar o Estado medo, contrariando a vontade da nobreza tribal, o que pode ter contribuído para a queda do reino. Em 550 a.C., a capital meda Ecbátana foi conquistada pelo rei persa Ciro II, marcando o início ao Império Aquemênida.[5]

Embora seja geralmente aceito que os medos desempenharam um papel significativo no antigo Oriente Próximo após a queda da Assíria, há um debate entre os historiadores sobre a existência de um império ou até mesmo de um reino medo. Alguns estudiosos aceitam a existência de um poderoso e estruturado império que teria influenciado as estruturas políticas do posterior Império Aquemênida. Outros estudiosos argumentam que os medos constituíram uma frouxa confederação de tribos e não um Estado centralizado.

Fontes históricas

[editar | editar código-fonte]

Fontes textuais

[editar | editar código-fonte]

Durante o período neoassírio dos séculos IX ao VII a.C., bem como nos subsequentes períodos neobabilônico e persa inicial, as fontes oferecem apenas uma visão externa dos medos. Não há uma única fonte meda representando uma perspectiva meda sobre sua própria história.[6] As fontes textuais disponíveis sobre a Média consiste principalmente em textos contemporâneos assírios e babilônicos,[7] bem como a inscrição persa de Beistum, as Histórias do historiador grego Heródoto, a Pérsica de Ctésias, e alguns textos bíblicos.[8] Antes das descobertas arqueológicas das ruínas e arquivos cuneiformes assírios e babilônicos, em meados do século XIX, a história das civilizações do Oriente Próximo no período anterior ao Império Aquemênida baseava-se apenas em fontes clássicas e bíblicas. As informações sobre os medos, assim como os assírios e os babilônicos, derivavam das obras de autores clássicos como Heródoto e seus sucessores. Eles coletavam informações de círculos eruditos do Império Aquemênida, mas essas informações não eram diretas nem contemporâneas, tampouco baseadas em arquivos sólidos ou materiais históricos. Embora nenhuma fonte textual contemporânea foi descoberta na Média, as informações disponíveis nas fontes assírias e babilônicas são bastante relevantes.[9]

Imagem do mundo segundo Heródoto, século V a.C.

Devido à ausência de registros escritos da Média pré-aquemênida e, até recentemente, à falta de evidências arqueológicas, o "Median logos" de Heródoto (1. 95-106) foi por muito tempo a principal e geralmente aceita narrativa histórica dos antigos medos.[2] Em seu relato no primeiro livro de suas Histórias, Heródoto traça o desenvolvimento de um Estado ou império medo unificado, com uma capital em Ecbátana.[10] Embora o que ele descreve tenha acontecido séculos antes e ele provavelmente tenha se baseado em relatos orais não confiáveis, seu relato pode ser correlacionado em algum grau com as fontes assírias e babilônicas.[11] O historiador grego Ctésias trabalhou como médico à serviço do rei aquemênida Artaxerxes II e escreveu sobre a Assíria, a Média e o Império Aquemênida em sua obra Pérsica,[12] que consiste em 23 livros supostamente baseados em arquivos reais persas.[13] Embora tenha criticado muito Heródoto e o acusasse de contar muitas mentiras, Ctésias segue Heródoto e também relata que houve um longo período em que os medos governaram um vasto império.[12] O que sobreviveu de sua obra está repleto de histórias românticas, anedotas exóticas, fofocas da corte e listas de confiabilidade duvidosa.[13] Isso faz de Ctésias um dos poucos autores antigos não muito confiáveis. No entanto, outros o consideraram uma fonte importante.[12][14]

As inscrições reais assírias, datando de Salmaneser a Assaradão (ca. 850-670 a.C.) contêm o maior conjunto de informações históricas sobre os medos. O relato herodoteano ao lidar com o período anterior a Ciaxares foi praticamente descartado em favor dos registros contemporâneos assírios.[9] As fontes assírias que fornecem informações sobre os medos nunca mencionam um Estado medo unificado. Em vez disso, essas fontes mostram uma paisagem política fragmentada, composta por entidades em pequena escala lideradas por vários senhores da cidade. Embora estudiosos tenham sugerido conexões entre certos indivíduos nesse meio e os nomes mencionados em fontes clássicas, as identificações baseadas em semelhança de nomes são questionáveis.[15] As fontes assírias oferecem uma visão clara apenas até aproximadamente 650 a.C. Para o período subsequente, há uma lacuna na quantidade e qualidade das fontes assírias.[16] A evidência histórica de um Estado medo unificado só surge muito mais tarde, quando em 615 a.C. os medos reaparecem em fontes babilônicas liderados por Ciaxares. Após esse evento, os medos mais uma vez retrocedem da história até 550 a.C., quando o rei persa Ciro II derrota o rei medo Astíages para se tornar a figura política dominante no Irã.[10] Assim, a história do período de c. 650 a 550 a.C., durante o qual o poder dos medos teria atingido seu auge, permanece pouco compreendida.[17] Embora fontes gregas clássicas afirmem a existência de um Império Medo durante este período, evidências tangíveis que sustentem a existência de tal império ainda não foram encontradas e fontes contemporâneas desse período raramente fazem referência aos medos.[18]

Fontes arqueológicas

[editar | editar código-fonte]

O período medo é um dos períodos menos compreendidos da arqueologia iraniana, e a geografia meda permanece em grande parte obscura.[19] Qualquer esforço para identificar elementos distintivos da cultura material meda da Idade do Ferro III (c. 800-550 a.C.) na região oeste do Irã concentra-se principalmente em sítios próximos à antiga capital da Média, Ecbátana (atual Hamadã).[20] Além disso, a falta de clareza no registro arqueológico torna desafiador determinar se certos materiais arqueológicos devem ser atribuídos à cultura meda ou à aquemênida.[8][21] A atividade arqueológica moderna na área central da antiga Média foi especialmente intensa e frutífera nas décadas de 1960 e 1970, quando foram realizadas as escavações de Godin Tepe, Tepe Nus-i Jã, Baba Jã. Além disso, na região adjacente do antigo reino de Manai, as escavações em Hasanlu e em Ziwiye também tiveram resultados produtivos. A atividade arqueológica nessa região revelou que, durante os séculos VIII e VII a.C., os sítios medos experimentaram um notável crescimento, mas foram despovoados na primeira metade do século VI a.C., período em que se presume que o suposto Império Medo atingiu seu apogeu de desenvolvimento.

A fase Nus-i Jã I, com data aproximada de 750 a.C. a 600 a.C., revelou uma sequência de vários edifícios no local. O "Edifício Central" foi construído no início dessa fase, no século VIII a.C., enquanto o "Forte" e o "Edifício Ocidental", este último com seu notável salão de colunas, foram acrescentados ao sítio ao longo do século VII a.C. Esses edifícios públicos foram posteriormente abandonados, e na primeira metade do século VI a.C. o sítio foi ocupado por populações de caráter menos institucional. Em um de seus relatórios, os escavadores David Stronach e Michael Roaf conjecturaram que o colapso da Assíria e a gradual erosão do poder cita podem ter influenciado a deserção de várias fortalezas, especialmente aquelas localizadas próximas ao núcleo territorial da Média. Em outro relatório, foi sugerido que os vários edifícios foram abandonados de maneiras diferentes durante o período em que o poder medo ainda estava em ascensão. O Nível II de Godin Tepe, escavado por T. Cuyler Young e Louis Levine, contêm estruturas arquitetônicas semelhantes às de Nus-i Jã I e apresenta uma narrativa semelhante: o progressivo crescimento de edifícios públicos durante as fases 1 a 4, seguido por um período de "abandono pacífico" e "ocupação irregular" na fase 5. Uma história semelhante também é contada pelos resultados das escavações em Baba Jã, embora o escavador apoie uma cronologia mais elevada com a florescente fase III nos séculos IX-VIII e a ocupação irregular no século VII - mas principalmente por razões históricas (supostos ataques assírios e citas). De qualquer forma, o sítio parece está completamente abandonado na primeira metade do século VI a.C.

Os desenvolvimentos arqueológicos em Manai parecem ter sido exatamente os mesmos da Média: assentamentos florescentes com edifícios públicos na segunda metade do século VIII a.C. e durante todo o século VII a.C., seguidos por um período de ocupação irregular na primeira metade do século VI a.C. Tal imagem não se encaixa com a reconstrução de um Império Medo com base nos historiadores clássicos.[9] O historiador Mario Liverani argumenta que as evidências arqueológicas desses sítios medos se alinham bem com as evidências das fontes mesopotâmicas.[22] Alguns estudiosos sugerem que o abandono de Tepe Nus-i Jã e outros sítios no noroeste do Irã pode estar relacionado à centralização do poder em Ecbatana. Nesse contexto, a observação de Heródoto sobre Déjoces compelindo os nobres medos a deixarem suas pequenas cidades para viver perto da capital torna-se pertinente.[23] Um cenário possível sugere que Tepe Nus-i Jã passou por um fechamento formal por volta de 550 a.C., com ocupação informal ou irregular persistindo até aproximadamente 500 a.C. A datação revisada sugere que Tepe Nus-i Jã e potencialmente outros sítios do período III da Idade do Ferro mantiveram uma ocupação formal até o início do período aquemênida. Se isso for o caso, então não haveria interrupção na ocupação de sítios medos entre 600 e 550 a.C., como sugerido por alguns estudiosos, implicando uma quebra de autoridade central nesse período.[3] Segundo Stuart Brown, a ascensão do domínio persa pode ter sido um fator contribuinte para o abandono de vários sítios medos, incluindo Godin Tepe.[23]

Mapa da Média, de 1839

Vários dos sítios escavados no Irã, incluindo Godin Tepe, Tepe Nus-i Jã, Moush Tepe, Gunespan, Baba Jan e Tepe Ozbaki, apresentam semelhanças significativas na arquitetura, cerâmica e achados pequenos a ponto de serem considerados possivelmente medos. Os assentamentos medos podem ser resumidos como dispersos, com nodos fortificados controlando planícies, vales e passagens principais.[10] Os maiores sítios identificados na Média medem apenas 3-4 hectares, o tamanho de pequenas aldeias. Notavelmente, a arquitetura monumental encontrada em muitos sítios medos não parece estar integrada a assentamentos maiores. É difícil conciliar essa imagem arqueológica com o sistema de "senhores da cidade" mencionado nas fontes assírias.[24] A capital da Média, Ecbátana, é um local de grande interesse para o estudo arqueológico, mas as escavações até o momento revelaram vestígios que pertencem ao período sassânida.[9] A antiga capital em Ecbátana foi simplesmente enterrada ou destruída pela ocupação subsequente substancial do local.[24] A identificação de sítios medos fora do Irã é desafiadora, mas certas características cerâmicas e arquitetônicas podem indicar uma presença ou pelo menos alguma influência meda dispersa em locais como Nor Armavir e Arinberd na Armênia, Altintepe, e Tille Höyük na Turquia, Qizkapan e Tell Gubba no Iraque e Ulug Depe no Turquemenistão.[10] Os achados arqueológicos no sítio urartiano de Erebuni, na Armênia, mostraram que uma sala com colunas inicialmente datada do período aquemênida agora provavelmente foi construída no final do século VII a.C. Este é o período após a queda da Assíria, quando os medos teriam começado sua expansão para o norte, de acordo com Heródoto. Uma sala semelhante com colunas em Altintepe, no leste da Turquia, também pode ser datada deste período. A disseminação da forma da sala com colunas antes da ascensão do Império Aquemênida sugere alguma forma de presença ou influência meda em regiões adjacentes durante o final do século VII e início do século VI a.C.[24] Evidências de escavações e levantamentos recentes sugerem que o assentamento permanente na Média persistiu além do final do século VII a.C. A construção monumental parece ter continuado em vários sítios, e uma forma inicial de moeda aparentemente estava em uso no coração da Média por volta de 600 a.C.[2] No entanto, o Império Medo ainda não é um fato arqueológico concreto e sua história é amplamente baseada nas informações fornecidas por Heródoto e outros textos influenciados direta ou indiretamente por ele.[25]

Campanhas assírias na Média

[editar | editar código-fonte]
Mapa do Império Neoassírio

No final do II milênio a.C., as tribos medas começaram a se estabelecer no território da futura Média no oeste do Irã. A partir do século IX a.C., os assírios regularmente invadiram e saquearam regiões do noroeste do Irã, onde naquela época existiam dezenas de pequenos principados. A primeira menção dos medos em textos assírios refere-se a 834 a.C., quando o rei Salmaneser III (r. 858–824 a.C.) retornava de uma campanha com seu exército passando na planície de Hamadã através do território medo.[1] Os medos se constituíram em numerosas pequenas entidades sob chefes tribais,[26] e mesmo conseguindo subjugar vários chefes medos, os os reis assírios nunca conquistaram toda a Média.[8] Em 815 a.C., Samsiadade V (r. 823–811 a.C.) marchou contra Saguebita, a "cidade real" do chefe medo Hanasiruca, e a conquistou. Segundo a inscrição assíria, 2.300 medos foram mortos e Saguebita, assim como 1.200 assentamentos localizados em suas proximidades, foram destruídos. Essa campanha foi de grande importância, pois a partir de então a Assíria impunha tributo regular às tribos medas em cavalos, gado e produtos artesanais. Agora os assírios transferiram a direção principal de seus ataques para a Média. Essa transferência foi parcialmente causada pelos eventos na zona de Úrmia, já que no final do século IX a.C. os urartianos conquistaram as margens oeste e sul do lago Úrmia e começaram a avançar para Manai. A Assíria falhou em deter o avanço urartiano e gradualmente se tornou um aliado de Manai em sua luta contra Urartu. Os assírios não conseguiram de garantir os resultados das seis campanhas (nos anos 809, 800, 799, 793, 792 e 788 a.C.) travadas contra os medos por Adadenirari III (r. 810–781 a.C.) e, posteriormente, uma longa crise política começou a se desenvolver na Assíria. Mais tarde, durante o reinado de Tiglate-Pileser III (r. 745–728 a.C.), a Assíria começou a organizar províncias em países conquistados, o que garantiu uma fonte regular de renda e também serviu de base para a conquista de territórios vizinhos. A leste de seu país, os assírios criaram mais duas províncias, onde foram instalados governadores e guarnições assírias, fazendo as fronteiras da Assíria aproximaram-se da Média. Em 744 a.C., os assírios receberam tributo dos medos e em 737 a.C., Tiglate-Pileser invadiu a Média, e desta vez os assírios alcançaram as partes mais remotas do país e exigiram tributo dos "governantes da cidade" dos medos até o deserto de sal e o monte Bicni. Em um relato dessa campanha, Tiglate-Pileser menciona "as províncias dos poderosos medos" e também afirma que ele deportou 6.500 pessoas do noroeste do Irã para a Síria e a Fenícia.[1]

Sob Sargão II (r. 722–705 a.C.), a presença assíria na Média atingiu o seu ponto culminante. Sargão tentou estabelecer um controle administrativo direto sobre essas regiões distantes, seguindo o sistema provincial já implementado em áreas mais acessíveis e próximas. Os governadores assírios coexistiram com os senhores de cidades locais: os primeiros, provavelmente, eram responsáveis pelo controle do comércio de longa distância e a arrecadação de tributos, enquanto os últimos permaneciam no poder para lidar com assuntos locais.[9] Apesar de estar ativo na região de Zagros, Senaqueribe (r. 704–681 a.C.) operou em um nível muito discreto em comparação com seus antecessores, Tiglate-Pileser III e Sargão II. Isso pode sugerir que, após os problemas iniciais para controlar as novas províncias Kar-Sarrukin e Kār-Nergal, as coisas progrediram tranquilamente nos territórios assírios orientais após 713 a.C. O sistema dual estabelecido, envolvendo a administração provincial assíria e os senhores locais das cidades, parece ter encontrado um equilíbrio mutuamente benéfico. As fontes disponíveis mostram o controle contínuo assírio sobre as províncias fundadas por Tiglate-Pileser e Sargão, pelo menos até o reinado de Assaradão. Em 702 a.C., Senaqueribe envolveu-se com os medos durante uma campanha contra o reino de Elipi, nas montanhas de Zagros. Isso marcou seu único contato direto registrado com os medos em seu próprio território, recebendo tributo dos medos que residiam fora das regiões controladas pelos assírios.[27]

Os assírios consistentemente se referiam aos medos como habitantes de assentamentos governados por bēl ālāni ("senhores das cidades"). A coalescência de um poder autoritário mais amplo provavelmente teve suas origens nas relações interpessoais entre esses bēl ālāni medos.[17] A aplicação de um modelo de formação de Estado secundário ao caso da Média propõe que, estimulados por décadas de intrusão assíria agressiva, os bēl ālāni medos aprenderam pelo exemplo a se organizar e administrar politicamente e economicamente para alcançar um status semelhante ao de um Estado.[10] Os frequentes ataques assírios forçaram os vários habitantes da Média a cooperar e desenvolver uma liderança mais eficaz. Os assírios também apreciavam produtos do leste, como o lápis-lazúli bactriano, e a rota leste-oeste através da Média se tornava cada vez mais importante. O comércio pode explicar a ascensão de Ecbátana como a cidade central da Média e pode ter sido o gatilho que iniciou o processo de unificação.[8]

Segundo Heródoto, Déjoces planejou estrategicamente estabelecer um governo autocrático sobre os medos. Em um período de grande anarquia na Média, Déjoces trabalhou diligentemente para estabelecer a justiça, ganhando uma reputação como juiz imparcial e justo. Eventualmente, ele deixou de administrar a justiça, levando ao caos na Média. Isso levou os medos a se reunirem e decidirem eleger um rei, resultando finalmente em Déjoces tornando-se o governante deles. Em seguida, uma cidade fortaleza chamada Ecbátana foi construída, onde toda a autoridade governante foi centralizada.[28][24] No entanto, isso não é indicado em fontes textuais da época, nem em achados arqueológicos.[29] A julgar pelas fontes assírias, nenhum Estado medo unificado como o que Heródoto descreve para o reinado de Déjoces existia no início do século VII a.C. e seu relato é na melhor das hipóteses uma lenda meda sobre a fundação de seu reino.[30][31][27] Em contraste, Ctésias apresenta uma narrativa diferente centrada em um medo chamado Arbaces. Arbaces serviu como general no exército assírio e como governador dos medos em nome do rei assírio. Ele conheceu seu futuro aliado, o babilônico Belesys, em Nínive, onde ambos comandaram as tropas auxiliares medas e babilônicas da Assíria durante um ano de serviço militar. Encorajados pela fraqueza do rei assírio Sardanápalo, Arbaces e Belesys se rebelaram contra a Assíria, e Arbaces emergiu como o primeiro rei da Média. Embora nomes semelhantes ou idênticos a Déjoces e Arbaces apareçam em fontes assírias, esses nomes parecem ter sido comuns entre as pessoas do planalto iraniano durante o período assírio. Assim, nenhum dos indivíduos com esses nomes pode ser identificado conclusivamente como os protagonistas descritos pelos historiadores gregos. Embora alguns personagens em Heródoto e Ctésias possam ser identificados com figuras conhecidas em fontes assírias e babilônicas, permanece desconhecido em que medida muitos detalhes em suas histórias refletem a realidade histórica.[32]

O rei assírio Assaradão (r. 680–669 a.C.) realizou várias expedições ao território iraniano. Comparado com as conquistas de Sargão, os resultados da campanha de Assaradão foram bastante insignificantes.[1] Provavelmente em 676 a.C., e certamente antes de 672 a.C., os senhores das cidades Uppis de Partakka, Zanasana de Partukka e Ramateia de Urakazabarna trouxeram cavalos e lápis-lazúli como tributo a Nínive. Esses governantes, originários de regiões além das províncias assírias no Zagros, se submeteram a Assaradão e buscaram sua assistência contra senhores das cidades rivais. Este episódio é seguido pela deportação de dois senhores das cidades do país de Patušarri para a Assíria, indicando que as atividades de Assaradão contra os medos "distantes" alcançaram o Mar Cáspio e o Deserto de Sal próximo ao Monte Bicni. No entanto, ao contrário de seus predecessores, Assaradão não parece ter expandido o território assírio no Irã.[27] Ramateia também é mencionado nos chamados “juramentos de lealdade” que foram concluídos por ocasião da nomeação do sucessor do trono assírio em 672 a.C. Nesse ano foram concluídos acordos entre Assaradão e chefes de várias regiões ocidentais da Média, que garantiam sua lealdade ao rei assírio, bem como a segurança de suas posses. Os estudiosos geralmente consideram este acordo como um “tratado vassalo” imposto pela administração assíria aos vassalos recentemente submetidos, mas Mario Liverani argumentou que este acordo foi resultado de lutas internas entre vários grupos medos, bem como da presença de guerreiros armados medos no palácio assírio servindo como guarda-costas do príncipe herdeiro. Os chefes medos tiveram que fazer um juramento de que seus homens na corte assíria seriam leais a Assaradão e seu filho Assurbanípal.[1]

A julgar pelos textos assírios da época de Assaradão, a situação nas fronteiras orientais da Assíria era extremamente tensa.[1] Enquanto entrar nas províncias assírias em Zagros para coletar tributos é rotina para vários governadores após 713 a.C., tais missões eram repletas de perigo na época de Assaradão. Esse aumento no risco decorreu não apenas de adversários tradicionais como os medos e maneanos, mas também dos cimérios e citas ativos no Irã. A principal ameaça no leste provinha das ações de Kaštaritu, o senhor da cidade de Kār-Kaššî, que é mencionado de forma proeminente em consultas de oráculos sobre assuntos medos. Os assírios viam Kaštaritu como um líder político de influência substancial e uma força a ser considerada; Assaradão estava preocupado com Kaštaritu tramando com outros senhores das cidades medas, mobilizando-se contra a Assíria e atacando as fortalezas e cidades assírias. As fontes disponíveis não revelam se uma resolução pacífica ou militar para os problemas com Kaštaritu foi alcançada; esse silêncio pode sugerir um desfecho negativo. Ataques às fortalezas assírias mostram que a Assíria começou a perder o controle do território no leste durante o reinado de Assaradão. Saparda, que foi incorporada à província de Harhar em 716 a.C., não estava mais sob controle assírio, e seu senhor da cidade, Dusanni, é mencionado, ao lado de Kaštaritu, como inimigo da Assíria em várias consultas de oráculos.[27] Durante o reinado de Assurbanípal (r. 668–630 a.C.), referências aos medos tornam-se muito escassas. Em uma inscrição, Assurbanípal relata que três senhores da cidade medos haviam se rebelado contra o domínio assírio, foram derrotados e levados para Nínive durante sua quinta campanha em 656 a.C. Esta é a última menção aos medos nas fontes assírias. O fato de os três governantes medos serem descritos como senhores da cidade pode indicar que a estrutura de poder entre os medos nesse momento era a mesma que no século VIII a.C. Não se sabe se as províncias assírias nos Zagros, Parsua, Bīt-Hamban, Kišessim (Kār-Nergal) e Harhar (Kar-Sarrukin), ainda faziam parte do império durante o reinado de Assurbanípal.[27] Embora o silêncio mantido nas fontes assírias sobre os iranianos nesse período possa indicar que a Assíria estava menos preocupada com eles do que durante o reinado de Assaradão,[33] tudo parece indicar que os assírios estão perdendo o controle sobre as províncias estabelecidas nos Zagros. Isso poderia ter ajudado a deixar espaço para o desenvolvimento de um Estado medo unificado[34] e embora as fontes assírias não façam referência a um Estado territorial medo unificado que seria comparável à própria Assíria ou a outros principados contemporâneos, como Elão, Manai ou Urartu, muitos estudiosos ainda relutam em atribuir nenhuma relevância histórica ao relato de Heródoto.[27]

Os medos reaparecem em fontes contemporâneas cerca de quarenta anos depois, em 615 a.C., sob a liderança de Ciaxares, lançando um ataque ao coração do Império Assírio e aliando-se aos babilônios. Nada nas fontes assírias existentes fornece insights sobre como Ciaxares assumiu a liderança de uma força meda unificada, uma vez que as décadas anteriores são marcadas por uma escassez de fontes sobre as políticas internas e externas da Assíria.[27] O raciocínio atual sustenta que a transição em direção a um Estado unificado pode ter ocorrido no período de 670 a 615 a.C., durante o reinado do rei Assurbanípal ou de seus sucessores. A falta de registros assírios ou outras fontes contemporâneas para esse período deixou o espaço "livre" para a aceitação do relato de Heródoto. Embora as informações do historiador grego sobre os períodos anteriores carecem de confiabilidade, no caso de Ciaxares, sua existência e seu papel na queda de Nínive são corroborados pela Crônica Babilônica. Assim, as demais informações concernentes à cronologia de seu reinado e ao seu status como rei de um Estado unificado têm mais credibilidade.[9] Segundo Heródoto, Déjoces foi sucedido por seu filho Fraortes. Heródoto pode ter adiantado os eventos relacionados aos reis medos por um reinado. Assim, o fundador do reino medo, que uniu todas as tribos medas e construiu a nova capital da Média, poderia ter sido o sucessor de Déjoces.[35] Fraortes é comumente identificado com o Castariti que liderou a revolta meda contra os assírios em 672 a.C., embora alguns estudiosos tendem a rejeitar essa identificação ou considerá-la duvidosa.[1] Outros estudiosos acreditam que os medos só foram unificados sob Ciaxares, que segundo Heródoto era filho de Fraortes e iniciou seu reinado por volta de 625 a.C.[36][26][37] A partir de 627 a.C., os assírios estavam definitivamente com sérios problemas, tanto em casa quanto na Babilônia, e, portanto, é provável que o Reino Medo tenha surgido após 627, ou possivelmente já após 631 a.C.[32]

Interregno cita

[editar | editar código-fonte]
Arqueiros citas atirando com Arco compósito, Querche (antigo Panticapeu), Ucrânia, século IV a.C.

Nos tempos antigos, as extensas áreas ao norte do Mar Negro e do Cáspio eram habitadas pelos citas.[38] No final do século VIII a.C. e início do século VII a.C., grupos de guerreiros nômades entraram no oeste do Irã. Entre os grupos dominantes estavam os citas, e sua entrada nos assuntos do planalto ocidental durante o século VII a.C. talvez possa marcar um dos pontos de virada mais importantes na história da Idade do Ferro. Heródoto fala com alguns detalhes de um período de domínio cita, o chamado interregno cita na dinastia meda. A datação desse evento permanece incerta, mas tradicionalmente é vista como ocorrendo entre os reinados de Fraortes e Ciaxares.[30] O iranologista russo Edvin Grantovski data esse evento como ocorrendo entre 635 a.C. e 615 a.C., enquanto o historiador George Cameron data entre 653 a.C. e 625 a.C.[1]

Segundo Heródoto, o rei Fraortes liderou um ataque contra a Assíria, mas o rei assírio conseguiu repelir a invasão e o próprio Fraortes, juntamente com grande parte de seu exército, teria morrido na batalha.[39] Heródoto relata que Ciaxares queria vingar a morte de seu pai e marchou com o exército em direção a capital assíria Nínive, com o objetivo de destruir a cidade. Enquanto sitiavam Nínive, os medos foram atacados por um grande exército de citas sob o comando de Mádies, filho de Bartatua. Uma batalha foi travada, na qual os medos foram derrotados e perderam seu poder na Ásia, que foi tomada em sua totalidade pelos citas.[40] O jugo cita teria sido muito insuportável, caracterizado pela brutalidade, injustiça e altos impostos. Segundo Heródoto, Ciaxares convidou os líderes citas para um banquete e os induziu a beber até que estivessem totalmente bêbados, atacou-os e os matou facilmente. Consequentemente teria se sucedido uma guerra que resultou na derrota dos citas.[38] No entanto, é mais provável que, nessa época, os citas se retirassem voluntariamente do oeste do Irã e fossem saquear em outros lugares ou fossem simplesmente absorvidos por uma confederação em rápido desenvolvimento sob a hegemonia meda.[30]

Heródoto acreditava que desde a vitória cita sobre os medos até o assassinato dos líderes citas foi um período de exatamente 28 anos, mas essa cronologia é problemática.[38] É muito improvável que os citas tenham dominado os medos por quase três décadas, os citas eram nômades e, embora fossem guerreiros ferozes, eram incapazes de governar grandes territórios por um longo período.[40] Essas e outras razões levam à conclusão que a dominação cita foi de muito mais curta. Não pode ter se passado muito tempo depois do ataque cita para que os medos começassem a se recuperar e limpar seus territórios dos citas. Se a invasão ocorreu no reinado de Ciaxares, e não no reinado de Fraortes, onde Eusébio a coloca, é provável que oito anos após sua ocorrência os medos estavam fortes para retomar seus antigos projetos e, pela segunda vez, levar um exército para a Assíria.[38] Embora o relato de Heródoto sobre o interregno cita não seja implausível, exceto pela duração da dominação cita,[40] seu relato tem um caráter lendário e não é confiável.[1] Apesar da historicidade do interregno cita ser duvidosa, os citas são mencionados nas fontes assírias no mesmo período do suposto interregno.[41]

Queda do Império Assírio

[editar | editar código-fonte]
Mapa do Império Neoassírio

Após a morte de Assurbanípal em 631 a.C., o Império Assírio entrou num período de instabilidade política.[42] Em 626 a.C., os babilônios se rebelaram contra a dominação assíria. Nabopolassar, governador das regiões do sul e líder da revolta, foi logo reconhecido como rei da Babilônia.[1] Nabopolassar ganhou controle da cidade de Babilônia, mas não de todo o território babilônico. Ele estava envolvido em combates intensos com os assírios, e provavelmente deve ter procurado possíveis aliados. É interessante notar que Heródoto menciona que o rei medo Fraortes foi morto por volta de 625 a.C. durante uma invasão malsucedida da Assíria. Não há evidências sobre as relações entre os medos e os assírios entre 624 e 617 a.C. Não se sabe se os medos ainda estavam geograficamente separados do coração da Assíria pelas montanhas Zagros e povos circundantes, ou se já estavam se afirmando nas províncias montanhosas assírias, especialmente em Mazamua (atual Suleimaniya). No entanto, para os anos subsequentes de 616 a 595 a.C., grande parte da Crônica Babilônica está preservada e fornece um relato razoavelmente confiável dos eventos. O documento não é um registro completo da história do período,[43] concentrando-se exclusivamente nos eventos na Mesopotâmia.[32] Após assegurar controle total do território babilônico, Nabopolassar (r. 626–605 a.C.) marchou contra a Assíria.[1]

Em 616 a.C., os babilônios derrotaram um exército assírio no meio do Eufrates e capturaram as forças maneanas que estavam ajudando os assírios. Se o reino de Manai ainda existia nessa época permanece incerto. No mesmo ano, os babilônios derrotaram os assírios perto de Arrapa (atual Quircuque). No terceiro mês de 615 a.C., os babilônios marcharam diretamente pelo Tigre e atacaram Assur, mas foram repelidos. No oitavo mês, os medos estavam ativos perto de Arrapa, o que sugere um acordo mútuo entre medos e babilônios.[43] Uma vez que Arrapa estava muito perto dos principais centros da Assíria (Assur, Nínive e Arbela), todas as posições do império no oeste do Irã provavelmente já haviam sido perdidas.[32] Os medos chegaram a Nínive no quinto mês de 614 a.C., devastando o território entre Arrapa e Nínive. Em meados de 614 a.C., os medos capturaram Tarbisu, uma cidade ao norte de Nínive, e depois desceram o Tigre para atacar Assur, que capturaram antes da chegada do exército babilônico que estava vindo em sua ajuda. Este esforço colaborativo indica uma aliança preexistente entre Nabopolassar e o rei medo Ciaxares (r. 625–585 a.C.), que então se encontram pessoalmente e formalizam sua relação.[43] O historiador babilônico Beroso menciona que essa aliança entre a Babilônia e a Média foi selada com o casamento de Amitis, provavelmente filha de Ciaxares, com o filho de Nabopolassar, Nabucodonosor II.[40] Posteriormente, Ciaxares e seu exército retornaram para sua terra. Em 613 a.C., os medos não são mencionados na crônica. No entanto, em 612 a.C., o rei dos ummān-manda aparece em cena; ele é certamente idêntico ao rei dos medos, embora seja estranho que uma única tabuinha cuneiforme descreva um povo por dois termos diferentes. As forças militares combinadas de Ciaxares e Nabopolassar sitiaram Nínive, resultando em sua queda após três meses. Após o saque da capital assíria, apenas os babilônios parecem ter continuado a campanha, e parte do exército babilônio avançou sobre Nasibina e Rasappa, enquanto Ciaxares e seu exército retornaram à Média. Enquanto isso, os assírios estavam se reorganizando sob um novo rei mais a oeste, em Harã. Os medos parecem estar ausentes do relato de 611 a.C., enquanto os babilônios estão militarmente ativos avançando em direção à Síria e ao alto Eufrates.[43] O faraó egípcio Neco II enviou ajuda ao exército assírio que se havia entrincheirado em Harã. Então, Nabopolassar parece ter pedido ajuda aos medos.[44] Os medos reapareceram em cena em 610 a.C., quando se uniram aos babilônios para um ataque a Harã. Diante da formidável aliança, os assírios e seus aliados egípcios abandonaram Harã, que foi capturada. Depois disso, os medos partiram pela última vez,[43] e conhecemos suas atividades principalmente por fontes clássicas.[45] Em 605 a.C., os babilônios marcharam para Carquemis e a conquistaram, derrotando totalmente os assírios e egípcios. Não está claro se os medos também participaram dessa derrota final dos assírios.[1]

O resultado da queda da Assíria para a expansão territorial meda é desconhecido, mas a Crônica Babilônica e outras evidências implicam que a maior parte do antigo território assírio passou para o controle babilônico.[46] Mario Liverani argumenta contra a noção de que os medos e os babilônios compartilharam o território assírio, em vez os medos apenas assumiram o Zagros, que a Assíria já havia perdido anteriormente.[9] Até recentemente, era uma opinião comum que, como resultado da queda da Assíria, os medos tomaram posse das terras assírias a leste do rio Tigre, bem como da região de Harã. Esta visão é parcialmente baseada em um texto do rei babilônico Nabonido, que indica que os medos dominaram Harã por 54 anos até o terceiro ano de seu reinado, e fontes clássicas posteriores. Nesse caso, os medos possuíram Harã de 607 a 553 a.C. No entanto, alguns estudiosos argumentam que o coração assírio e Harã permaneceram sob controle babilônico desde 609 a.C. e até a queda do Império Neobabilônico em 539 a.C. É verdade que, a julgar pela Crônica Babilônica, Harã permaneceu sob domínio babilônico, enquanto os medos voltaram para sua terra. No entanto, é possível que algum tempo depois de 609 a.C., os medos tomaram Harã novamente e permaneceram lá por um longo período de tempo.[1]

Mapa hipotético da extensão máxima do Império Medo

Ao final do século VII a.C., os medos parecem ter se unido em uma entidade política significativa sob um monarca, como evidenciado pela conquista medo-babilônica da Assíria. Nada se sabe sobre a estrutura sociopolítica meda, e os estudiosos diferem significativamente no que inferem a partir de evidências bastante ambíguas. Alguns postulam a existência de um império altamente desenvolvido, fortemente influenciado pelas práticas imperiais assírias. Em contraste, outros, destacando a falta de evidências concretas, inclinam-se a ver os medos como certamente uma força poderosa, mas sem desenvolver instituições estatais..[46] É no período entre a queda de Nínive em 612 a.C. e a conquista da capital meda Ecbátana pelo rei persa Ciro II em 550 a.C. que se postula a existência de um poderoso Império Medo. No entanto, fontes contemporâneas sobre os medos nesse período são escassas.[9] Em qualquer caso, a evidência disponível nas fontes babilônicas e bíblicas indicam de que os medos desempenharam um papel político importante no antigo Oriente Próximo após a queda da Assíria.[47] Quatro potências dominavam o antigo Oriente Próximo a partir de então: Babilônia, Média, Lídia e, mais ao sul, Egito.[1]

Os medos parecem ter estabelecido uma fronteira comum com a Lídia, na Anatólia central. Segundo Heródoto, hostilidades entre os medos e os lídios começaram cinco anos antes de uma batalha precisamente datada por um eclipse em 585 a.C. Se esse relato for verdadeiro, isso implica que, antes de 590 a.C., os medos já haviam subjugado Manai e Urartu. Julian Reade propôs que a entrada na Crônica Babilônica para 609 a.C. pode se referir a um ataque medo a Urartu em vez de um ataque babilônico. Esse evento, ocorrendo pouco antes dos ataques babilônicos em 608 e possivelmente 607 a.C., pode indicar que os babilônios forneceram apoio para a expansão meda para oeste no planalto anatoliano. Outra hipótese é que, já em 615 a.C., Ciaxares e Nabopolassar tinham forjado um plano para destruir tanto Urartu quanto a Assíria.[43] Sabe-se muito pouco sobre o fim de Urartu pois as fontes escritas termina após 640 a.C. e embora os citas e os medos serem postulados como responsáveis pelo fim de Urartu, o consenso geral é de que Urartu foi destruído pelos medos no final do século VII a.C.[48]

No início do século VII a.C., os cimérios invadiram o Cáucaso e a Anatólia. Enquanto os cimérios se estabeleciam nas planícies da Capadócia, emergia na Anatólia o reino da Lídia, com capital em Sardes. Os governantes lídios repeliram a invasão ciméria e iniciaram uma ofensiva para o leste, aproximando-se gradualmente da Capadócia.[49] O poder cimério — outrora grande e significativo na Capadócia entrou em colapso, quase ao mesmo tempo que Urartu. Havia espaço para os medos, que após conquistar Urartu, entraram na Ásia Menor subjugando a Capadócia. O espaço talvez fosse também familiar, visto que textos assírios do século VII a.C. descrevem a situação na Anatólia a oeste do Eufrates de maneira semelhante à região de Zagros.[48] Heródoto relata que Ciaxares enviou uma embaixada para a Lídia para exigir a extradição de fugitivos citas da Média, mas o monarca lídio Alíates recusou-se, levando a guerra entre os dois reinos. A guerra entre os medos e lídios resultou em uma série de confrontos ao longo de cinco anos, onde ambas as partes tiveram vitórias alternadas. No sexto ano de conflito a ocorrência de um eclipse solar interrompeu uma batalha e levou os dois lados a concluir um tratado de paz mediado por Labineto da Babilônia e Sienésis I da Cilícia. Como resultado, o rio Hális foi estabelecido como a fronteira entre as duas potências. O tratado foi selado pelo casamento entre Arienis, filha de Alíates, e Astíages, filho de Ciaxares,[38] e estabeleceu um novo equilíbrio de poder entre as potências do Oriente Próximo.[30]

Em poucas palavras, Heródoto afirma que Ciaxares subjugou toda a Ásia à leste do rio Hális, o que pelo menos sugere que ele se envolveu numa sequência de batalhas com vários povos da região para subjugá-los. Essa afirmação pode implicar que além da Capadócia e Urartu, os ibenanos, macronos, moscos, marres, mossínecos e tibarenos foram subjugados por Ciaxares.[38] Evidências indiretas posteriores sugerem que os medos teriam conquistado a Hircânia, Pártia,[1] Sagárcia,[50] Drangiana,[51] Ária[52] e Báctria tornando-se um império que se estendia da Anatólia, no oeste, até a Ásia Central, no leste.[1] Qualquer que seja o papel político dos medos no leste, a representação de uma embaixada indiana na corte de Ciaxares (Xenofonte, Ciropédia 2.4.1) parece um resultado plausível de contatos comerciais.[50]

Antigo Oriente Próximo nos anos 600 a.C.

Ciaxares morreu pouco tempo após o tratado com os lídios, deixando o trono para seu filho Astíages.[40] Em comparação com Ciaxares, pouco se sabe sobre o reinado de Astíages.[30] Seu casamento com Arienis o tornou cunhado do futuro rei lídio Creso; e o casamento de sua irmã, Amitis, com o rei babilônico Nabucodonosor II, o tornou cunhado deste último também.[40] Nem tudo estava bem com a aliança com a Babilônia, e há algumas evidências que sugerem que a Babilônia pode ter temido o poder dos medos.[30] As relações entre Babilônia e Média parecem ter se deteriorado, visto que, na década de 590 a.C., era esperado que os Medos invadissem o território babilônico, conforme pode ser visto nos discursos de Jeremias.[53] Segundo Heródoto, Astíages casou sua filha, Mandane, com o rei persa Cambises I, com quem ela teria um filho, Ciro II, conectando a dinastia meda a dinastia aquemênida. Esse casamento teria ocorrido antes de 576 a.C., mas há alguma dúvida sobre sua historicidade.[54]

Durante seu reinado, Astíages teria se empenhado para fortalecer e centralizar o Estado medo, contrariando a vontade da nobreza tribal. Isso pode ter contribuído para a queda do reino.[5] Segundo Ctesias, os reis medos também travaram guerras contra os cadúsios e os sacas, embora não haja evidências concretas para apoiar isso. No entanto, a referência a uma guerra contra os sacas pode indicar desafios contínuos de incursões nômades, enquanto a narrativa sobre a guerra contra os cadúsios pode indicar que os medos não tinham controle sobre as margens sul do Mar Cáspio, onde os cadúsios viviam.[18] Aparentemente, o reinado de Astíages foi relativamente imperturbado até pouco antes de seu encerramento. Moisés de Corene declara que ele travou uma longa luta com um rei armênio chamado Tigranes, mas pouco crédito pode ser atribuído a essas declarações.[38]

Conquista pelos persas

[editar | editar código-fonte]
Ver artigos principais: Conflito medo-persa e Média (satrapia)

Tanto Heródoto quanto Ctesias retratam o conflito medo-persa como uma longa rebelião liderada pelo rei persa Ciro II contra seu suserano medo. No entanto, a noção de suserania meda sobre a Pérsia carece de apoio em evidências contemporâneas. Segundo a Crônica de Nabonido, em 550 a.C., o rei medo Astíages marchou com suas tropas contra Ciro da Pérsia "para conquista". No entanto, seus próprios soldados se revoltaram, o capturaram e o entregaram a Ciro. Posteriormente, Ciro capturou a capital meda de Ecbatana. Os detalhes básicos deste relato se alinham com a narrativa detalhada de Heródoto. Que o confronto provavelmente foi mais longo do que a concisa entrada na crônica transmite é indicado por uma inscrição de Sipar onde o rei babilônico Nabonido parece se referir a um conflito entre persas e medos já em 553 a.C.[55]

Na narrativa de Heródoto, Ciro além de ser vassalo da Média era neto de Astíages. As fontes babilônicas não mencionam isso; elas se referem a Ciro apenas como "o rei de Ansã" (ou seja, da Pérsia), enquanto Astíages é chamado de "rei dos medos". Heródoto relata que o general medo Hárpago organizou uma conspiração contra Astíages e durante uma batalha ele desertou com grande parte das tropas para o lado de Ciro. Então o próprio Astíages comandou o exército na batalha, mas os medos foram derrotados e seu rei foi feito prisioneiro.[1] É possível que a causa mais profunda da rebelião do exército medo tenha sido a insatisfação com a política de Astíages. No século VI a.C., as tribos iranianas se tornaram cada vez mais estabelecidas, e seus chefes não eram mais como os primeiros chefes tribais, mas começaram a se comportar como reis. Quando Astíages começou a punir alguns desses chefes tribais, a revolta foi inevitável.[54]

Após a captura de Astíages, Ciro marchou para Ecbátana e levou os objetos de valor da cidade para Ansã.[1] Como a extensão do território controlado pelos medos é disputada, não se sabe exatamente o que Ciro conquistou com sua vitória.[55] Assumir o controle da Média pode ter implicado assumir o controle de estados vassalos como a Armênia, Capadócia, Pártia, Drangiana e Ária. Se Ciro foi neto de Astíages como Heródoto diz, então isso explicaria por que os medos aceitaram o seu reinado. Mas também é possível que a conexão entre Ciro e Astíages tenha sido inventada para justificar o governo persa sobre os medos.[56] Segundo Ctésias, Astíages tinha uma filha chamada Amitis, que era casada com Espitamas, que assim se tornou o sucessor presuntivo de seu sogro. Após matar Espitamas, Ciro teria se casado com Amitis para obter legitimidade. Embora a autenticidade do relato de Ctésias seja questionável, é muito provável que Ciro tenha se casado com uma filha do rei medo.[57]

Baixo-relevo aquemênida do século V a.C. que mostra um soldado medo atrás de um soldado persa

Após a derrota de Astíages, o rei lídio Creso cruzou o rio Hális na esperança de expandir suas fronteiras para o leste. Isso resultou numa guerra, que levou a Lídia a ser conquistada pelos persas.[54] Posteriormente, Ciro conquistou a Babilônia, pondo fim a três potências do Oriente Próximo: Média, Lídia e Babilônia, em apenas uma década.[8] No Império Aquemênida, a Média manteve sua posição privilegiada, ocupando o segundo lugar, depois da própria Pérsia. A Média era uma província grande, e sua capital, Ecbátana, se tornou uma das capitais aquemênidas e a residência de verão dos reis persas.[1] O domínio persa na Média foi abalado por uma grande revolta no início do reinado de Dario, o Grande, que tomou o poder após assassinar o usurpador Gaumata. Esse evento foi seguido por uma série de rebeliões nas satrapias aquemênidas. Quando Dario suprimiu essas rebeliões e ficou na Babilônia, um certo Fraortes (ou Castariti) fez sua tentativa de conquistar o poder e restaurar a independência meda. Ele afirmou ser descendente de Ciaxares e assumiu o trono com o nome de Khshathrita; ele conseguiu apreender Ecbátana em dezembro de 522 a.C. Mais ou menos ao mesmo tempo, houve uma nova rebelião em Elão e houve rebeliões em províncias adjacentes, como Armênia, Assíria e Pártia. Na primavera, o líder persa invadiu a Média pelo oeste e, em maio de 521 a.C., derrotou Fraortes. A vitória persa foi completa, e Fraortes fugiu para a Pártia, mas foi capturado em Rages (atual Teerã). Posteriormente, o rei rebelde foi torturado e crucificado em Ecbátana. Após sua vitória, Dario poderia enviar tropas para a Armênia e para a Pártia, onde seus generais conseguiram derrotar os rebeldes restantes.[58] Um sagárcio chamado Tritantecmes, que também afirmava ser descendente de Ciaxares, deu continuidade a rebelião, mas também foi derrotado. Essa é última rebelião meda contra o domínio aquemênida. Após o fim do Império Aquemênida, a Média continuou a ter grande importância sob os posteriores impérios selêucida e parta.[59]

Organização

[editar | editar código-fonte]
Ver artigo principal: Dinastia meda
Governante Período Nota
*Heródoto *George Cameron *Edvin A. Grantovski *I. M. Diakonoff
Déjoces 700−647 a.C. 728−675 a.C. 672−640 a.C. 700−678 a.C. Filho de Fraortes
Fraortes 647−625 a.C. 675−653 a.C. 640−620 a.C. 678−625 a.C. Filho de Déjoces
Mádies X 653−625 a.C. 635−615 a.C. X Governante interino cita
Ciaxares 625−585 a.C. 625−585 a.C. 620−584 a.C. 625−585 a.C. Filho de Fraortes
Astíages 585−550 a.C. 585−550 a.C. 584−550 a.C. 585−550 a.C. Filho de Ciaxares
Todas as estimativas cronológicas são da Enciclopédia Iranica (Média - Dinastia Meda)

Gerenciamento administrativo

[editar | editar código-fonte]

Atualmente, não possuímos informações diretas sobre a estrutura política, econômica e social dos medos. No entanto, é provável que em muitos aspectos o sistema administrativo medo se assemelhava ao da Assíria, sob cuja influência os medos estiveram por um longo período. Alguns elementos do sistema administrativo introduzido pelos assírios podem ter persistido nas províncias medas mesmo após a queda da Assíria.[1] Em vez de ser uma monarquia centralizada, o Estado medo era mais como uma confederação com vários governantes. O sistema de governo medo favorecia uma estrutura piramidal de lealdade, onde pequenos governantes prestavam sua lealdade a um rei provincial, que por sua vez, devia lealdade à corte central em Ecbátana. Esse sistema lembrava em certa medida o sistema satrapal e feudal.[60] O exercício de autoridade sobre os vários povos, iranianos e não-iranianos, na forma de uma confederação está implícito no antigo título real iraniano, “rei dos reis”.[30]

Os discursos de Jeremias datados de 593 a.C. mencionam "reis da Média" no plural, junto com sátrapas e governadores. Heródoto dá essa caracterização da estrutura do reino medo (1, 134): "... um povo governava outro, mas os medos governavam sobre todos e especialmente sobre aqueles que habitavam mais perto deles, e esses governavam sobre seus vizinhos, e assim por diante".[53] É assumido por alguns estudiosos que a estrutura administrativa meda mais tarde tenha se tornado uma forma mais desenvolvida no sistema administrativo do Império Aquemênida.[61]

Provavelmente, nunca existiu um império medo strictu sensu.[62] E o termo “império” para se referir à entidade política que os medos construíram pode não ser adequado.[63] Segundo Andreas Fuchs, o reino medo era provavelmente apenas uma frouxa federação de chefes e reis do Irã ocidental cuja unidade era mantida por seus laços pessoais com o rei medo, que era menos um monarca absoluto do que um primeiro entre iguais. Isso se encaixa na descrição de outros governantes "que marcham ao lado" do rei medo mencionados em fontes babilônicas.[32] Maria Brosius visualiza a Média como um território de chefaturas que, entre 614 e 550 a.C., uniram suas forças militares sob um senhor da cidade, tendo Ecbátana como sua base de poder.[64]

Representação artística de nobres medos

As informações disponíveis sobre a corte meda são muito limitadas e não totalmente confiáveis. Em sua descrição encantadora da juventude de Ciro II, Heródoto sugere que a corte meda incluía guarda-costas, mensageiros, o "olho do rei" (uma espécie de agente secreto) e construtores. Ctésias menciona o copeiro real como um dos cargos da corte meda. Ao fundar o Império Aquemênida, Ciro provavelmente continuou a organização e as práticas da corte meda, incluindo formas de etiqueta, cerimonial e protocolo diplomático que os medos, por sua vez, herdaram da Assíria.[65]

De acordo com Heródoto, assim que assumiu o trono, Déjoces ordenou que uma cidade-fortaleza fosse construída para ser sua capital; toda a autoridade governamental estava centralizada nesta cidade, Ecbátana.[28] Ele estabeleceu uma guarda real e um protocolo de corte muito rigoroso, de tal forma que os líderes das grandes famílias medas "o consideraram um ser de natureza diferente da deles".[21] Em circunstâncias normais, o monarca se mantinha isolado em seu palácio e ninguém poderia vê-lo, a menos que ele formalmente solicitasse uma audiência e fosse apresentado à presença real por um oficial. Ele estava cercado por guarda-costas para sua segurança pessoal e raramente deixava seu palácio, contentando-se com os relatórios do estado de seu reino que eram transmitidos a ele de vez em quando por seus oficiais.[38] Ninguém poderia rir ou cuspir diante da presença real, bem como na presença de qualquer outra pessoa, pois tal ato era considerado indigno e vergonhoso. Consolidada a autoridade real, Déjoces pôs-se a fazer justiça com toda severidade. Os processos lhe eram enviados por escrito; ele os julgava e os devolvia com a sentença.[66] Ele impôs a lei e a ordem introduzindo "observadores e ouvintes" em todo o seu reino, vigiando as ações de seus súditos.[28] Do mesmo modo como outros governantes orientais, o monarca medo tinha várias esposas e concubinas; e a poligamia era comumente praticada entre as classes mais ricas e proeminentes. As principais características da corte meda pode ter sido semelhantes ao da corte assíria.[38]

Os magos, segundo Heródoto, eram uma casta sacerdotal muito influente na corte considerados como pessoas honradas, tanto pelo rei, quanto pelo povo. Eles atuavam como intérpretes de sonhos, feiticeiros e conselheiros sobre diversos assuntos, inclusive os assuntos políticos. O cerimonial religioso estava sob sua responsabilidade, e provavelmente altos cargos de Estado foram concedidos a eles. A principal diversão da corte era a caça, que frequentemente ocorria em uma floresta onde se poderia encontrar leões, leopardos, ursos, javalis, jumentos selvagens, antílopes, gazelas, asnos selvagens e veados. Como de costume, esses animais eram perseguidos a cavalo e miravam-se neles com arco ou dardo.[38]

Relevo aquemênida de um soldado medo, encontrado em Persépolis

Sabe-se pouco sobre o exército medo, mas certamente ele desempenhou um papel importante na história meda.[38] No final do século VII a.C., os medos alcançaram notável progresso militar sob Ciaxares, que, segundo Heródoto, dividiu o exército em unidades especiais; soldados de infantaria, lanceiros, arqueiros e cavaleiros, pois os gêneros mistos anteriores levaram a confusão do exército no campo de batalha. Isso indica que antes de Ciaxares, os medos entraram em guerra em organização tribal - cada chefe trazendo e liderando sua infantaria e tropas montadas - e que o rei treinou as forças em um exército dividido em grupos táticos com armas unificadas. Os medos usavam a carruagem com menos frequência e contavam principalmente com a cavalaria equipada com cavalos niseanos. Seus equipamentos marciais eram a lança, o arco, a espada e a adaga. Seu país montanhoso e natureza guerreira contribuíram para o desenvolvimento de um traje adequado para cavalaria: calças justas geralmente feitas de couro com um cinto extra para colocar uma espada curta; uma túnica longa e justa de couro e um elmo redondo de feltro com abas nas bochechas e protetor de pescoço, que também pode cobrir a boca; e um manto longo variegado jogado sobre os ombros e preso ao peito com mangas vazias suspensas nas laterais. O traje medo rapidamente ganhou popularidade entre outros povos iranianos.[67] A presença de soldados medos nos palácios assírios evidentemente influenciou significativamente a reestruturação das táticas militares medas, adotando técnicas mais avançadas.[9] A cavalaria meda era altamente treinada e bem equipada, e teve um papel importante na batalha contra os assírios.[68]

Ocupando a segunda posição mais importante no Império Aquemênida, os medos pagavam menos tributos, mas forneciam mais soldados ao exército persa do que outros povos. Assim os medos compunham uma porção significativa do exército aquemênida, isso é evidenciado pelos relevos de Persépolis e por Heródoto, bem como pelo fato de que muitos generais medos, como Hárpago, Mazares e Dátis, serviram no exército persa.[67] Segundo Heródoto, durante as guerras greco-persas os soldados medos não diferiram muito dos persas. Ambos lutavam a cavalo e também a pé usando lanças, arcos e adagas, grandes escudos de vime e carregando as aljavas nas costas. As características do exército medo original, conforme indicado nas Escrituras Hebraicas e por Xenofonte, é mais simplista que a descrição de Heródoto. O exército medo aparenta ter sido baseado na arquearia a cavalo. Treinados desde a infância numa diversidade de exercícios equestres e no uso do arco, os medos procederam contra seus inimigos montados a cavalo, semelhante aos citas, e obtiveram suas vitórias sobretudo por sua destreza ao disparar flechas enquanto avançavam ou recuavam. Evidentemente o terror que os medos inspiravam surgiu de sua habilidade excepcional na arquearia.[38]

A criação de cavalos foi um dos principais ramos da economia meda

Os medos viviam um estilo de vida pastoral, com sua principal atividade econômica sendo criação de animais como gado, ovelhas, cabras, jumentos, mulas e cavalos. Este último era um dos principais prêmios cobiçado pelos assírios uma vez que os textos cuneiformes sobre as incursões assírias na Média mostram que os medos criavam uma excelente raça de cavalos. Em relevos assírios, os medos são às vezes representados usando o que parece serem capas de pele de ovelhas sobre as suas túnicas, e com botas altas com cordões, equipamento necessário para o trabalho pastoril nos planaltos, onde os invernos traziam neves e frio intenso. A evidência arqueológica mostra que os medos possuíam hábeis trabalhadores em bronze e ouro.[26]

O rico material arqueológico de Tepe Nus-i Jã, Godin Tepe e outros locais antigos, bem como relevos assírios, demonstram que na primeira metade do primeiro milênio a.C. existiram assentamentos do tipo urbano em várias regiões da Média, que eram centros de produção de artesanato e de uma economia agrícola e pecuária sedentária. Dos distritos medos, os assírios receberam tributo a cavalos, gado, ovelhas, camelos bactrianos, lápis-lazúli, bronze, ouro, prata e outros metais, além de tecidos de linho e lã.[1] Partes da Média eram ricas e produtivas, mas também havia muitas terras áridas. Nas regiões favorecidas da Média, como o Zagros e o Azerbaijão, o solo é quase todo cultivável e capaz de produzir uma excelente safra de grãos.[38] Ao sul do Cáspio há uma estreita faixa de solo fértil, onde a terra é coberta por uma densa floresta[26] que proporciona uma madeira de excelente qualidade.[38] A economia das aldeias se baseava em culturas como cevada, farro, pão de trigo, ervilhas, lentilhas e uvas. As montanhas generosamente arborizadas proporcionavam uma extensa gama de caça, mas a criação de animais continuava nobre; a amostra de ossos domésticos em Nus-i Jã inclui nove espécies, sendo as mais comuns ovelhas, cabras, porcos e gado. Há também indícios, inteiramente de acordo com a reputação milenar das pastagens da Média, de que a criação de cavalos acima mencionada desempenhava um papel significativo na economia local.[20]

Hilary Gopnik vê o Estado medo como uma "força econômica dominante" no controle das rotas comerciais do norte do Zagros nos séculos VII e VI a.C.[22] Sendo o povo mais poderoso no planalto iraniano na primeira metade do século VI a.C., os medos podem ter exigido tributo de povos como os persas, armênios, partas, drangianos e arianos.[56][40] A importância do tráfego da Média está principalmente relacionada ao controle de grande parte da rota leste-oeste que era conhecida na Idade Média como Rota da Seda. Essa rota ligava os mundos oriental e ocidental, e conectava a Média à Babilônia, Assíria, Armênia e ao Mediterrâneo no oeste, e à Pártia, Ária, Báctria, Sogdiana e China no leste. Outra estrada importante conectava Ecbátana com as capitais da Pérsia, Persépolis e Pasárgada. Além de controlar o comércio leste-oeste, a Média também era rica em produtos agrícolas. Os vales dos Zagros são férteis, e a Média era bem conhecida por suas plantas, ovelhas e cabras. O país poderia alimentar uma grande população e ostentava muitas aldeias e algumas cidades como Rages e Gabas.[8]

Os textos assírios mencionam cidades medas ricas, mas os saques registrados consistiam principalmente em armas, gado, jumentos, cavalos, camelos e ocasionalmente lápis-lazúli, obtido por meio do comércio medo mais a leste. Na época de sua unificação ou pouco depois, parece que os medos adquiriram meios para se abastecerem com riquezas mais substanciais. Isso é inferido por um trecho da "Crônica Babilônica" do século VI a.C., que menciona que o rei Ciro II levou prata, o ouro, bens, propriedades de Ecbátana como despojo para Ansã.[7]

Historicidade

[editar | editar código-fonte]
Mapa do Império Medo como é geralmente concebido durante o período de sua extensão máxima, mas na realidade muito hipotético

Até o final do século XX, os estudiosos geralmente concordavam que o colapso do Império Assírio foi seguido pela ascensão de um império medo. Dizia-se que o Império Medo se assemelhava ao posterior Império Aquemênida e governava uma vasta porção do antigo Oriente Próximo por meio século, até seu último rei, Astíages, ser derrubado por seu próprio vassalo, Ciro, o Grande.[2] Em 1988, 1994 e 1995, a historiadora Heleen Sancisi-Weerdenburg questionou a existência de um Império Medo como uma entidade política possuidora de estruturas comparáveis às dos Impérios Neoassírio, Neobabilônico ou Aquemênida. Ela lançou dúvidas sobre a validade geral de nossa fonte mais importante, ou seja, Medikos Logos de Heródoto, e apontou para lacunas nas fontes não-clássicas, principalmente para a primeira metade do século VI a.C.[47][69] Sancisi-Weerdenburg também destacou que praticamente apenas fontes clássicas gregas foram usadas pela historiografia moderna para construir a história meda, e que as fontes do antigo Oriente Próximo foram quase completamente ignoradas.[70] Ela argumentou que não há evidências diretas ou indiretas substanciais, não provenientes de Heródoto, que sustentem a existência de um Império Medo, e que tal império é uma construção grega a partir de poucos dados disponíveis via Babilônia.[48] Em 2001, foi realizado um simpósio internacional em Pádua, Itália, focado no problema do Império Medo. Não foi alcançado um consenso sobre a existência de um Império Medo, mas foi geralmente acordado que não há prova conclusiva para sua existência. A discussão persiste até o presente.[70][69][71]

Em torno de 650 a.C., as informações sobre as províncias assírias nos Zagros foram consideravelmente reduzidas, e as fontes assírias não mencionam mais os medos. Quando os medos reaparecem nos registros contemporâneos em 615 a.C., eles estão atacando a Assíria. Não há indicação de como Ciaxares trouxe uma força meda unificada para um uso tão eficaz e devastador. Atualmente existem dois pontos de vista acadêmicos contrastantes: a perspectiva tradicional vê Ciaxares como o rei de um Estado medo unificado que confrontou a Assíria como uma potência igual, enquanto a visão alternativa considera os medos como uma força militar que contribuiu para a queda da Assíria, mas carecia de coesão política.[22] A ausência de evidências assírias relevantes após 650 a.C. não descarta a existência de uma autoridade meda mais ampla centrada em Ecbátana. Algumas teorias sugerem que as demandas tributárias e a exploração comercial ao longo da Grande Estrada de Coração podem ter contribuído para o acúmulo de riqueza pelos chefes medos, levando um indivíduo ambicioso a buscar autoridade mais ampla. Alternativamente, conflitos entre chefes medos levaram à intervenção assíria convidada em 676 a.C. e o juramento de fidelidade em 672 a.C. As preocupações assírias com ameaças potenciais dos medos, citas e cimérios durante esse período podem ter criado uma oportunidade para o surgimento de um líder dominante. O ataque à Assíria de 615 a 610 a.C. provavelmente desempenhou um papel crucial na consolidação da autoridade desse líder.[48] David Stronach afirma que não há motivos suficientes para postular a existência de um reino medo robusto, independente e unificado em qualquer data antes de 615 a.C. No entanto, ele discorda de estender essa avaliação negativa para o período de 615 até meados do século VI.[24] Para o período de 615 a 550 a.C. as fontes babilônicas contêm duas informações importantes que estão de acordo com o relato de Heródoto: em 615-610 a.C., os medos, unidos sob a liderança de Ciaxares, destruíram as capitais assírias; em 550 a.C., o exército medo, sob a liderança de Astíages, desertou para rei persa Ciro, o que foi seguido pela conquista de Ecbátana. Assim, o início e o fim de um reino medo independente parece está presente, embora a natureza de tal reino não é necessariamente igual à descrita por Heródoto como um verdadeiro império prenunciando o Império Aquemênida.[9] É provável que um reino medo unificado tenha exercido controle sobre uma parte significativa do norte do Irã, pelo menos na primeira metade do século VI a.C. No entanto, alguns estudiosos também levantaram dúvidas sobre a existência de um reino medo unificado e de curta duração.[2] O historiador Mario Liverani propôs que não houve transição de senhores da cidade para governantes regionais ou reis, mas sim uma breve unificação sob um rei medo principal, especificamente para confrontar uma Assíria enfraquecida na década de 610 a.C., seguida por um rápido retorno ao status quo anterior.[17][9] Esta visão, no entanto, não é amplamente apoiada.[24][2]

Enquanto alguns estudiosos ainda consideram a Média um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida,[72] a existência de tal império ainda carece de evidências arqueológicas concretas.[73] Outros estudiosos consideram o Império Medo uma ficção criada por Heródoto para preencher uma lacuna entre o Império Assírio e o Império Persa em sua visão de uma sequência de impérios orientais.[72][47][9] Karen Radner conclui que, sem Heródoto e a tradição grega, é "altamente duvidoso" que os pesquisadores modernos postulariam a existência de um Império Medo. Heleen Sancisi-Weerdenburg expressou esse ponto de vista ao dizer que "o Império Medo existe para nós porque Heródoto diz que existiu".[27] Uma visão alternativa à noção de um império medo propõe uma frouxa confederação de tribos capazes de causar efeitos devastadores, como a conquista da Assíria, mas sem as estruturas, mecanismos e burocracias de controle imperial centralizado.[10][16] Essa confederação operaria por meio de alianças e dependências frouxas, impulsionadas por metas e ambições momentaneamente sobrepostas. Se alguma autoridade organizada e estável existisse, provavelmente estaria centrada na região central de Zagros, entre o Lago Urmia e Elão. A hipótese é sustentável e plausível, mas permanece uma probabilidade, uma vez que a evidência textual não é conclusiva.[73] Embora a evidência arqueológica apoie muitos dos julgamentos baseados em fontes textuais, pelo menos para o período até aproximadamente 650, ainda há incerteza suficiente para o período após 650 a.C. A reconsideração dos medos como uma confederação ou coalizão, em vez de um império "tradicional", se alinha com as evidências limitadas, mas tal reconsideração não necessariamente desvaloriza sua importância na história do Oriente Próximo.[16]

Segundo Matt Waters, a evidência existente mostra um rei medo exercendo influência ou autoridade diretamente ou indiretamente sobre muitos povos por meio de um sistema de governo hierárquico e informal, sem a existência de um "Império Medo" formal, ou seja, uma estrutura centralizada e burocrática.[17] Nos anos 590 a.C., Jeremias menciona 'os reis dos medos' (51:11) e 'os reis dos medos, seus vice-reis (pechah), todos os seus governadores (sagan) e todas as terras (eretz) de seus domínios (memshalah)' (51:27-28). A pluralidade de "reis" é impressionante (embora a Septuaginta use o singular “rei”); se o fato de que Jeremias (25:25) também lista "todos os reis de Elão e da Média" entre as nações condenadas mostra que o plural e o singular são simplesmente retoricamente intercambiáveis ​​é discutível. A possível explicação pode ser encontrada nas referências de Nabonido aos "Ummān-manda, seu país e os reis que marcham ao lado deles". Nabonido está apontando para uma ameaça unitária, composta por componentes que incluem uma pluralidade de reis. A fórmula de Jeremias pode ser uma maneira alternativa de expressar isso, especialmente porque o profeta hebreu não está preocupado com as complexidades da situação. As descrições de Nabonido e Jeremias são consistentes com a descrição do domínio medo por Heródoto em 1.134:[48]

Extensão territorial

[editar | editar código-fonte]
Território original dos medos antes de sua expansão

A extensão geográfica da Média é objeto de debate.[24] As fronteiras da Média mudaram gradualmente ao longo do tempo, resultando em uma extensão geográfica cujo detalhes precisos permanecem desconhecidos. O território original da Média, como era conhecido pelos assírios durante o período do último terço do século IX a.C. até o início do século VII a.C., era delimitado ao norte por Gizilbunda, localizada nas montanhas de Qaflankuh, ao norte da planície de Hamadã. A oeste e noroeste, a Média não se estendia além da planície de Hamadã e era delimitada pelas montanhas Zagros, exceto no sudoeste, onde a Média ocupava o vale de Zagros e sua fronteira se estendia até a cordilheira de Garrin, que a separava do reino de Elipi, localizado ao sul de Quermanxá. Ao sul, fazia fronteira com a região elamita de Simaški, que corresponde à atual província de Lorestão. A leste e sudeste, a Média parece ter sido delimitada pelo deserto de Cavir. Patusarra e o Monte Bicni provavelmente foram os territórios mais remotos da Média que os assírios penetraram durante sua maior expansão na segunda metade do século VIII a.C. e nas primeiras décadas do século VII a.C. Normalmente, os estudiosos identificam Bicni com o Monte Damavand, localizado a nordeste de Teerã. Outros estudiosos, no entanto, o identificam com o Monte Alvande, imediatamente a oeste de Hamadã. Se essa identificação estiver correta, significa que os assírios nunca cruzaram esta montanha e que todo o território medo que eles conquistaram ou conheciam ficava a oeste de Hamadã.[1] A evidência arqueológica disponível é limitada, mas o sítio mais a leste com cerâmica potencialmente meda é Tepe Ozbaki, situado a 75 km a oeste de Teerã; portanto, é provável que no leste a Média tenha se estendido pelo menos até lá.[24]

No século VI e depois, grande parte do norte do Irã e alguns territórios vizinhos foram atribuídos à Média. Isso foi o resultado das conquistas medas da segunda metade do século VII.[44] É comumente assumido que após a queda da Assíria no final do século VII a.C., os medos assumiram controle sobre uma vasta área estendendo das proximidades de Teerã, no leste, até o rio Hális, no oeste. Assim, o "Império Medo" teria governado sobre o Irã, a Armênia, o leste da Anatólia e o norte da Mesopotâmia, enquanto os babilônios controlaram o sul da Mesopotâmia e o Levante. No entanto, há dúvidas sobre essa assumida enorme expansão territorial.[47]

Expansão meda

[editar | editar código-fonte]

De acordo com Heródoto, Fraortes expandiu o reino redo conquistando a Pérsia, que nesse momento provavelmente era um Estado relativamente pequeno ao sul da Média.[24] O evento é descrito como parte de uma ampla onda de conquistas, onde Fraortes e seus sucessores subjulgaram vários principados ao longo da cordilheira de Zagros.[21] No entanto, a ideia de que a Pérsia teria sido um "vassalo" da Média baseia-se apenas em fontes clássicas posteriores e é considerada bastante improvável por alguns estudiosos.[9][47] Aparentemente, os medos não compartilhavam uma fronteira direta com o território neoelamita. No período neoassírio, a principal entidade ao norte de Elão era o reino de Elipi, mas seu poder parece ter declinado, e por volta de 660 a.C. o reino desapareceu dos registros históricos. É possível que, talvez após a queda da Assíria, os medos e elamitas tenham preenchido o vácuo deixado por Elipi. Com base em fontes bíblicas, Zawadzki sugeriu que Elão caiu sob o domínio dos medos pois Elão teria sido enfraquecido após as campanhas assírias na década de 640 a.C. Dandamayev chegou a uma conclusão semelhante, mas com a aceitação de uma dominação babilônica antes. Interpretações de passagens de Jeremias (Jer. 49:34-38) e Ezequiel (Eze. 32:24-25), que sugerem que Elão foi subjugado, são difíceis e não são destinadas como declarações históricas precisas. Uma vez que as evidências textuais e arqueológicas do Irã não indicam uma dominação meda do Cuzistão e tanto as fontes bíblicas quanto babilônicas não mencionam explicitamente a supremacia da Média sobre Elão, a ideia enfrenta muito ceticismo.[62]

O reino medo provavelmente anexou Manai ao seu território após a derrota dos assírios em uma batalha em 616 a.C.[74] O envolvimento dos medos com a Assíria de 615 a 610 é marcada por três, talvez quatro, campanhas, cada uma concluída com o saque de uma cidade importante. A partida dos medos após cada conquista sugere uma falta de interesse no controle político sobre o coração do antigo Império Assírio. Julian Reade sugere que as províncias assírias dentro do Zagros, como Mazamua, e talvez as regiões de Tušhan e Šupria no Tigre superior, eram as únicas mais adequadas para a expansão meda devido à sua familiaridade com o território medo. No entanto, às vezes é sugerido que os medos assumiram o controle do coração assírio, conforme afirmado por fontes gregas posteriores. Heródoto (1, 106), escrevendo por volta de 450 a.C., relata que Ciaxares conquistou toda a Assíria; o que quer que tenha sido entendido por Assíria nesse contexto. Ctésias, por volta de 400 a.C., menciona o reassentamento de Nínive sob o domínio medo. Xenofonte, que viajou pelo país em 401 a.C., considera a Assíria metropolitana como parte da Média. Ele chegou a dizer que Ninrude e Nínive eram antigas cidades medas conquistadas pelos Persas. A relevância dessas informações para a situação no século VI a.C. é duvidosa. A Crônica Babilônica registra que em 547 a.C., o rei persa Ciro passou por Arbela (atual Erbil) a caminho de atacar um reino cujo nome está danificado, mas que frequentemente se supõe que tenha sido a Lídia.[43] Foi argumentado que a travessia do Tigre a jusante de Arbela é uma evidência de que esta região em direção ao Zabe Inferior estava sob controle dos persas, indicando um controle medo anterior da região, enquanto o território ao sul deste rio era babilônico. No entanto, é possível que a Crônica apenas mencione a rota tomada por Ciro porque ele estava passando por território babilônico, com ou sem permissão.[69][43] A identificação de Xenofonte da margem leste do Tigre ao norte de Bagdá como 'Média' e a menção de Heródoto à região baixa de Matiene (5. 52. 5) permanecem questionáveis em termos de controle histórico medo a oeste do Zagros. A principal evidência da presença meda nas planícies da Mesopotâmia após 610 a.C. gira em torno de Harã. As inscrições de Nabonido indicam que a cidade estava vulnerável a incursões dos medos na década de 550 a.C., embora isso possa ter ocorrido em outros períodos também.[48] Os medos são descritos por Nabonido como responsáveis pela destruição do Ehulhul em Harã e como um impedimento ao seu desejado trabalho de reconstrução lá. Isso sugere que os medos controlavam o templo e, portanto, Harã. No entanto, a Crônica Babilônica registra a conquista de Harã em 610 a.C. e implica controle babilônico na cidade. Alguns estudiosos favorecem a versão da crônica, enfatizando os elementos propagandísticos das inscrições de Nabonido.[22][47] Em 550 a.C., Ciro conquistou Gutium, o que sugere que havia uma região no Zagros Ocidental que não estava sob controle medo nesse período, embora a localização exata de Gutium permaneça desconhecida. O papel de Ugbaru de Gutium como apoiador de Ciro pode decorrer de Gutium ter rejeitado recentemente a autoridade meda.[48]

De certa forma, a extensão do suposto Império Medo foi inferida a partir da extensão territorial do posterior Império Aquemênida.[9]

Segundo Heródoto, o controle medo no oeste se estendeu até o rio Hális, onde eles teriam compartilhado uma fronteira com os lídios. Ao contrário do problema de quem detinha o controle político sobre Harã, não há fontes contemporâneas que atestem uma presença meda se estendendo até o rio Hális.[47] O historiador Robert Rollinger reconhece uma guerra lido-meda. No entanto, ele questiona a fronteira do Hális, apontando para descrição errônea do curso do rio dada por Heródoto e a ausência de detalhes históricos na sua narrativa explicando como o Hális se tornou a fronteira entre os domínios lídios e medos.[47] Ele admite que os medos podem ter estado na Anatólia por um breve período de tempo e até mesmo concluído um tratado com os lídios, mas desconsidera que houve controle medo permanente na Anatólia oriental e central no século VI a.C.[73] O fim do reino de Urartu permanece obscuro devido à ausência de fontes escritas após os anos quarenta do século VII a.C. No entanto, parece haver um consenso de que o reino foi destruído pelos medos visto que a fronteira no Hális é aceita por muitos estudiosos.[47] A destruição de Urartu por forças externas tem sido convencionalmente datada por volta de 590 a.C., com base em referências na Bíblia Hebraica e nas crônicas babilônicas. S. Kroll, no entanto, observou que os textos relevantes podem se referir a uma região geográfica em vez de um Estado político, e ele sugere que o Estado urartiano se desintegrou por volta de 640 a.C. após uma invasão cita.[75] Sem nenhuma estrutura regional para resistir a incursões militares, os babilônios invadiram Urartu em 608-607 a.C., e talvez em 609 a.C., e mais tarde os medos devem ter afirmado sua autoridade sobre a região.[48] A Crônica de Nabonido relata uma campanha de Ciro, o Grande, em 547 a.C. para uma terra cujo nome está danificado no texto e apenas o primeiro caractere ainda é reconhecível. Embora seja debatido, a interpretação predominante o identifica como Lídia, lendo o caractere danificado como Lu-. No entanto, Joachim Oelsner identificou o sinal como Ú, o primeiro sinal de Urartu. É provável que Ciro, após conquistar a Média em 550 a.C., tenha passado vários anos estabelecendo seu poder sobre regiões que antes estavam sob controle medo como Urartu.[76] No entanto, considerando a visão da fragilidade do poder medo em sua ala ocidental e as dúvidas sobre a existência de um Império Medo, Rollinger conclui que Urartu provavelmente sobreviveu apenas para ser conquistado por Ciro. Mas pode ter havido um período de supremacia ou suserania meda, já que a inscrição de Beistum trata as revoltas no primeiro ano do reinado de Dario nessa região como parte das revoltas na Média, dividindo a 'Média' em pelo menos três partes: Média propriamente dita, Sagárcia e Urartu (Armênia).[69]

Heródoto e Ctésias sugerem que a autoridade meda se estendeu para o leste além dos Zagros, mas a extensão exata do domínio dos medos a leste permanece incerta. Ao ler a inscrição de Beistum de Dario para reconstruir uma Média que, sob Astíages, abrangia Média, Armênia e Sagárcia, parece razoável, mas a inscrição diferencia regiões orientais que muitos postulariam como tendo estado sob autoridade meda com base em fontes clássicas.[16] Pártia e Hircânia, por exemplo, são tratadas como entidades separadas.[48] Muitas áreas orientais que aparecem como partes do Império Aquemênida na inscrição de Beistum encontram pouca ou nenhuma menção nas fontes relevantes para a história política dos cinquenta anos anteriores, por exemplo, Ária, Drangiana e Aracósia, entre outras. Permanece desconhecido como e quando essas áreas foram incorporadas ao Império Persa.[16] Uma lista aquemênida inicial coloca a Média na décima posição, seguida por Armênia, Capadócia e províncias iranianas orientais (Pártia, Drangiana, Ária, etc.). A inclusão da Armênia e Capadócia em uma seção que começa com Média e depois se estende para o leste pode ser interpretada como uma indicação da antiga extensão territorial dos medos.[48] Segundo Ctésias, a vitória de Ciro sobre Astíages levou à submissão dos hircânios, partas, citas e bactrianos ao rei persa.[16] Segundo Heródoto, quando Ciro conquistou a Média, ele se deparou a leste com a missão de conquistar os masságetas, um povo nômade da Ásia Central, e Báctria (no atual Tajiquistão e norte do Afeganistão). Isso sugere que as regiões situadas mais a oeste, Hircânia, Pártia, Ária, Drangiana, já deviam pertencer aos medos. O fato de que durante as revoltas de 522 a.C. a Hircânia e a Pártia apoiaram o rebelde medo Fraortes também pode apontar para um controle anterior dos medos nessas regiões.[53]

De acordo com uma estimativa, a área do Império Medo pode ter abrangido um território de pouco mais de 2.800.000 km² tornando-o um dos maiores impérios da história,[77] mas é possível que nunca tenha ultrapassado o tamanho do Império Neoassírio, que em seu auge cobria 1.400.000 km².[78] Uma reavaliação recente das evidências históricas, tanto arqueológicas quanto textuais, levou estudiosos modernos a questionar noções anteriores sobre a extensão territorial dos medos. Assim, alguns estudiosos começaram a retirar da composição do “Império Medo” muitas de suas supostas “províncias” e “reinos dependentes”, como a Pérsia, Elão, Assíria, norte da Síria, Armênia, Capadócia, Drangiana, Pártia e Ária.[22] Assim, a influência e extensão territorial do Estado medo começou a se limitar ao território adjacente à de Ecbátana.[72][79]

A formação do reino medo é um dos momentos decisivos da história iraniana. Foi o prenúncio da ascensão ariana ao poder dinástico, que continuou daí em diante, moldando a vida cultural e política no planalto iraniano e em outros territórios ocupados pelos iranianos.[80] Os povos iranianos se uniram pela primeira vez, criando um contrapeso político as principais potências do oeste, Lídia e Babilônia. A vitória persa sob a Média constituiu um passo em direção à glória para Ciro II, que então seguiu uma série de vitórias e funda o Império Aquemênida, o maior e mais poderoso Estado iraniano da história.[8] Segundo as fontes clássicas a vitória persa sobre os medos em 550 a.C. teria concedido ao rei Ciro um império já estabelecido, estendendo-se do rio Hális até a Ásia Central. Assim, o Império Aquemênida foi estabelecido com base em uma herança direta do Império Medo.[9] Alguns historiadores, ao analisarem o vocabulário administrativo e palaciano aquemênida, sugerem que os empréstimos linguísticos medos eram particularmente frequentes na titulatura real e na burocracia. Além disso, é hipotetizado que os medos transmitiram indiretamente tradições assírio-babilônicas e urartianas aos persas. A inferência é que Ciro assimilou as tradições medas, dada a supremacia política anterior da Média.[21]

Recentemente, vários estudiosos tem enfatizado, em vez disso, o papel crucial desempenhado pelos impérios desenvolvidos do Oriente Próximo, especialmente Elão e Babilônia, na articulação do Império Aquemênida.[46][22][62][21] A noção de que o Império Medo serviu como um canal para a transmissão das tradições assírias para o Império Aquemênida, impactando vários aspectos da arte, arquitetura e administração, tem sido questionada devido à "natureza nebulosa da entidade política meda". Enquanto a arte e a arquitetura apresentam evidências menos problemáticas para essa cadeia de transmissão proposta, o aspecto da administração e governo é onde as contribuições medas são mais questionáveis. A suposta transmissão de influências assírias para os aquemênidas via o Império Medo inclui elementos como o serviço postal assírio, a estrada real, deportações em massa, títulos reais, o sistema assírio de governo provincial e um sistema feudal de posse de terras. No entanto, o sistema governamental e administrativo neobabilônico parece ter sido muito semelhante ao sistema neoassírio, tornando-o um elo plausível para a influência das tradições assírias nos aquemênidas. Mas traços culturais assírios también podem ter chegado aos persas através do noroeste do Irã mesmo sem a existência de um Império Medo.[81]

Devido à sua localização, os persas eram muito suscetíveis à influência elamita. A permanência da influência elamita em todos os aspectos da vida social e política sugere que a organização do Reino de Ciro e de seus sucessores deve mais ao legado elamita, que pode ser identificado precisamente, do que aos empréstimos medos, que são muito difíceis de isolar.[21][9] No entanto, a importância significativa do Estado medo, e seu domínio através do Irã, centralizado ou não, como precursora da Pérsia aquemênida, não pode ser subestimada.[10] O papel da Média no Império Aquemênida é bastante peculiar. Não há uma conclusão definitiva, mas é possível que questões relacionadas a ideologias religiosas e sociais tenham sido a causa dessa peculiaridade.[9] Os gregos tendiam a confundir medos e persas, e o termo "medo" era frequentemente usado para se referir ao "persa". É a terminologia com a qual os gregos da Anatólia reagiram aos sucessores de Ciro II, mais tarde assumida por outros gregos, e é recorrente no conceito de medismo. É provável que esse fenômeno reside no caráter medo do território no qual o rei lídio Creso tentou conquistar e de sua desculpa para fazer isso, talvez reforçada por memórias do caráter temeroso dos medos com quem seu antecessor conseguira fazer um acordo.[48] Além dos gregos, os judeus, egípcios e outros povos do mundo antigo também chamavam os persas de “medos” e consideravam o domínio persa uma continuação do dos medos.[1]

Uma Bíblia escrita à mão em latim, em exibição na Abadia de Malmesbury, Wiltshire, Inglaterra

Os textos bíblicos consideram a Média como uma potência significativa. Os livros de Isaías e Jeremias retratam os medos como um inimigo potencial e viciosamente destrutivo da Babilônia.[48] O livro de Daniel menciona a visão das quatro bestas, que representam as antigas monarquias do Antigo Oriente que governaram a cidade de Babilônia:

  1. O leão com asas de águia: Império Neobabilônico;
  2. O urso: Império Medo;
  3. O leopardo de quatro cabeças com asas: Império Aquemênida;
  4. A besta de dez chifres com dentes de ferro: Império Macedônio de Alexandre, o Grande;

Há pouca dúvida sobre essa interpretação, mas o problema da interpretação é precisamente o Império Medo, que nunca conquistou a Babilônia e só é citado como um império importante mundial em textos gregos. O livro de Daniel menciona um governante chamado Dario, o Medo, que teria conquistado a Babilônia, mas essa figura é desconhecida em outras fontes históricas. É muito provável que o autor de Daniel, que escreveu por volta de 165 a.C., tenha sido influenciado pela visão grega da história e por isso tenha dado a Média uma importância exagerada.[59]

Na teoria da sucessão de impérios, a Média está após a Assíria e antes da Pérsia, ou seja, num período de entre 612 e 550 a.C. Na historiografia grega, esse esquema incluía o Império Assírio, Império Medo, Império Aquemênida e, mais tarde, o Império Selêucida foi incluído nele. Após a vitória de Pompeu sobre os selêucidas em 63 a.C., os historiadores romanos completaram o conceito dos quatro impérios, incluindo o Império Romano como o quinto e último. Os gregos consideravam o Estado medo como um império universal, cujo modelo correspondia ao aquemênida e, em geral, ao modelo oriental de Estado. Na tradição hebraica, o Império Babilônico ocupa o lugar do Império Assírio. Mas nem as tradições greco-romanas nem as hebraicas privaram a Média de seu papel proeminente na história. Somente na literatura judaica e cristã tardia que o segundo Estado foi identificado como Império Medo-Persa, o que, privou os medos de um papel independente na história mundial.[72]

Notas e referências

Notas

  1. As datas que o historiador grego Heródoto atribui aos quatro reis medos (Déjoces, Fraortes, Ciaxares e Astíages) somam 150 anos, colocando o início da dinastia meda em 700 a.C. No entanto, Heródoto também afirma que os medos governaram a Ásia por 128 anos. Assim, o início desses 128 anos teria sido em 678 a.C., que, segundo a cronologia proposta por George Rawlinson, é o ano em que o reinado de Fraortes começa. Fraortes teria derrubado o domínio assírio e, como afirma Heródoto, subjugado os persas e outros povos. Quanto a Déjoces, caso tenha existido, provavelmente foi apenas um chefe dos medos, que começou a consolidar a unidade das tribos medas.[1]
  2. A palavra "medo" (sentimento) é escrita da mesma forma que a palavra "medo" (referindo-se à Média ou ao seu habitante). No entanto, essas duas palavras têm pronúncias diferentes. "Medo" (sentimento) tem sua origem no latim "metu-" e é pronunciado como /mê-du/. Por outro lado, "medo" (referindo-se à Média) vem do latim "medu-" e é pronunciado como /mé-du/.[4]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x Dandamayev & Medvedskaya 2006.
  2. a b c d e f Rollinger 2021, p. 213-214.
  3. a b Curtis, Vesta Sarkhosh; Stewart, Sarah (8 de janeiro de 2010). Birth of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Bloomsbury Publishing 
  4. «Pronúncia de medo - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa». ciberduvidas.iscte-iul.pt. Consultado em 17 de setembro de 2020 
  5. a b Dandamaev 1989.
  6. Rollinger 2021, p. 338-344.
  7. a b Muscarella, Oscar White (1 de janeiro de 2013). Median Art and Medizing Scholarship (em inglês). [S.l.]: Brill 
  8. a b c d e f g «Medes». Livius.org. Consultado em 15 de junho de 2020 
  9. a b c d e f g h i j k l m n o p q Liverani, Mario (2003). «The Rise and Fall of Media» (PDF). In: Lanfranchi, Giovanni B.; Roaf, Michael; Rollinger, Robert. Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia. Padua: S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria. pp. 1–12. ISBN 978-9-990-93968-2 
  10. a b c d e f g Matthews, Roger; Nashli, Hassan Fazeli (30 de junho de 2022). The Archaeology of Iran from the Palaeolithic to the Achaemenid Empire (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis 
  11. Prods Oktor Skjærvø, “IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Earliest Evidence,” Encyclopaedia Iranica, XIII/4, pp. 345-348, available online at http://www.iranicaonline.org/articles/iran-vi1-earliest-evidence
  12. a b c «Ctesias of Cnidus». Livius.org. Consultado em 18 de julho de 2021 
  13. a b «Ctesias | Greek physician and historian». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 30 de junho de 2020 
  14. Waters, Matt (24 de janeiro de 2017). Ctesias’ Persica in Its Near Eastern Context (em inglês). [S.l.]: University of Wisconsin Pres 
  15. Rollinger, Robert; Wiesehöfer, Josef; Schottky, Martin (1 de dezembro de 2011). «VII. Iranian Empires and their vassal states». Brill. Brill’s New Pauly Supplements I - Volume 1 : Chronologies of the Ancient World - Names, Dates and Dynasties (em inglês). Consultado em 6 de fevereiro de 2024 
  16. a b c d e f Waters, Matt. «Cyrus and the Medes». Consultado em 9 de janeiro de 2024 
  17. a b c d Waters, Matt. «Notes on the Medes and Their 'Empire' from Jer. 25.25 to Hdt. 1.134». Consultado em 9 de janeiro de 2024 
  18. a b Nijssen, Daan. «The Median Dark Age». Consultado em 18 de janeiro de 2024 
  19. «ART IN IRAN ii. Median Art and Architecture». Encyclopaedia Iranica (em inglês). Consultado em 8 de outubro de 2022 
  20. a b «ARCHEOLOGY ii. Median and Achaemenid – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 30 de julho de 2020 
  21. a b c d e f Briant, Pierre (1 de janeiro de 2002). From Cyrus to Alexander: A History of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Eisenbrauns 
  22. a b c d e f Waters, Matthew (2005). Lanfranchi, Giovanni B.; Roaf, Michael; Rollinger, Robert, eds. «Media and Its Discontents». Journal of the American Oriental Society. 125 (4). pp. 517–533. ISSN 0003-0279. JSTOR 20064424 
  23. a b Zaghamee, Reza (25 de setembro de 2015). Discovering Cyrus: The Persian Conqueror Astride the Ancient World (em inglês). [S.l.]: Mage Publishers 
  24. a b c d e f g h i Gopnik, Hilary (22 de janeiro de 2021). «The Median Confederacy». Academia.edu (em inglês): 39–62. ISBN 978-90-04-46064-5. Consultado em 19 de dezembro de 2023 
  25. «Tepe Nush-e Jan». Livius.org. Consultado em 29 de novembro de 2021 
  26. a b c d "Medos, Média". Estudo Perspicaz das Escrituras. 2. Escritura-Mísia. Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (1998).
  27. a b c d e f g h (em inglês) K. Radner, « An Assyrian View of the Medes », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger (ed.), 2003, p. 37-64
  28. a b c «DEIOCES – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 9 de agosto de 2020 
  29. (em inglês) A. Panaino, « Herodotus I, 96-101 : Deioces' conquest of power and the foundation of sacred royalty », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger (ed.), 2003, p. 327-338
  30. a b c d e f g «Historic Personalities of Iran: Median Empire». Iranchamber.com. Consultado em 5 de junho de 2020 
  31. «Ancient Iran». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 7 de agosto de 2020 
  32. a b c d e Radner, Karen; Moeller, Nadine; Potts, Daniel T. (14 de abril de 2023). The Oxford History of the Ancient Near East: Volume IV: the Age of Assyria (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  33. «AŠŠURBANIPAL – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 7 de novembro de 2020 
  34. Brown, 1990, p. 621-622
  35. Diakonoff 1985, p. 109.
  36. (Young 1988, pp. 19-21)
  37. "Media (ancient region, Iran)" Encyclopædia Britannica. Pesquisa em 28/04/17
  38. a b c d e f g h i j k l m n Rawlinson 2007.
  39. Heródoto, Histórias, Livro I, Clio, 102 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
  40. a b c d e f g «Cyaxares». Livius.org. Consultado em 8 de junho de 2020 
  41. «IRAN vi. IRANIAN LANGUAGES AND SCRIPTS (1) Ear – Encyclopaedia Iranica». iranicaonline.org. Consultado em 5 de agosto de 2020 
  42. «Assyria». World History Encyclopedia (em inglês). Consultado em 23 de setembro de 2021 
  43. a b c d e f g h Reade, Julian E. «2003. Why did the Medes invade Assyria?». Consultado em 12 de janeiro de 2024 
  44. a b M. Dandamaiev e È. Grantovski, “ASSYRIA i. The Kingdom of Assyria and its Relations with Iran,” Encyclopaedia Iranica, II/8, pp. 806-815, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/assyria-i (acessado em 02 de Setembro de 2021).
  45. Curtis, John; Collon, Dominique (1989). Excavations at Qasrij Cliff and Khirbet Qasrij (em inglês). [S.l.]: British Museum Publications 
  46. a b c Kuhrt, Amélie (15 de abril de 2013). The Persian Empire: A Corpus of Sources from the Achaemenid Period (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  47. a b c d e f g h i (em inglês) R. Rollinger, « The Western Expansion of the Median “Empire”: A Re-Examination », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger (ed.), 2003, p. 289-320
  48. a b c d e f g h i j k l Tuplin, Christopher. «Medes in Media, Mesopotamia and Anatolia: empire, hegemony, devolved domination or illusion?». Ancient West & East 3 (2004) [published 2005], 223-251 (em inglês). Consultado em 18 de outubro de 2020 
  49. «Cappadocia». Livius.org. Consultado em 11 de novembro de 2020 
  50. a b «IRAN v. PEOPLES OF IRAN (2) Pre-Islamic». Encyclopaedia Iranica (em inglês). Consultado em 7 de outubro de 2021 
  51. «Drangiana». Livius.org. Consultado em 3 de dezembro de 2020 
  52. «Arians». Livius.org. Consultado em 3 de dezembro de 2020 
  53. a b c Diakonoff 1985, p. 125-127.
  54. a b c «Astyages». Livius.org. Consultado em 5 de junho de 2020 
  55. a b Jacobs, Bruno; Rollinger, Robert (31 de agosto de 2021). A Companion to the Achaemenid Persian Empire, 2 Volume Set (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons 
  56. a b «Cyrus the Great». Livius.org. Consultado em 28 de dezembro de 2020 
  57. «Amytis median and persian female name». iranicaonline.org. Consultado em 7 de abril de 2021 
  58. «Phraortes». Livius.org. Consultado em 9 de agosto de 2020 
  59. a b «Medes (2)». Livius.org. Consultado em 2 de junho de 2020 
  60. Frye, Richard Nelson (1984). The History of Ancient Iran (em inglês). [S.l.]: C.H.Beck 
  61. «Ancient Persian Government». World History Encyclopedia (em inglês). Consultado em 26 de outubro de 2021 
  62. a b c (em inglês) W. Henkelman, « Persians, Medes and Elamites, Acculturation in the Neo-Elamite Period », em Lanfranchi, Roaf y Rollinger(ed.), 2003, p. 181-231
  63. «BC 788 - 550 BC - Empire Median». globalsecurity.org. Consultado em 30 de julho de 2020 
  64. Brosius, Maria (29 de outubro de 2020). A History of Ancient Persia: The Achaemenid Empire (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons 
  65. «COURTS AND COURTIERS I. In the Median and Achaemenid periods». Encyclopaedia Iranica (em inglês). Consultado em 7 de outubro de 2021 
  66. Heródoto, Histórias, Livro I, Clio, 99-100 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
  67. a b Shahbazi, A. Sh. «ARMY i. Pre-Islamic Iran». Encyclopaedia Iranica (em inglês). pp. 489–499. Consultado em 15 de agosto de 2021 
  68. A. Sh. Shahbazi, “ASB i. In Pre-Islamic Iran,” Enciclopédia Iranica, 2/7, pp. 724-730, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/asb-pre-islamic-iran (acessado em 05 de Novembro 2021).
  69. a b c d Rollinger, Robert. «R. Rollinger, The Median "Empire", the End of Urartu and Cyrus' the Great Campaign in 547 BC (Nabonidus Chronicle II 16). In: Ancient West & East 7, 2009, 49-63». Consultado em 16 de dezembro de 2023 
  70. a b Rollinger 2021, p. 337–338.
  71. Rollinger, Robert; Degen, Julian; Gehler, Michael (4 de junho de 2020). Short-term Empires in World History (em inglês). [S.l.]: Springer Nature 
  72. a b c d Гумбатов, Гахраман. «Тюрки Передней Азии в эпоху Мидийской империи». Consultado em 8 de janeiro de 2023 
  73. a b c Rollinger 2021, p. 344-345.
  74. Hassanzadeh, Yousef (25 de janeiro de 2023). «An Archaeological View to the Mannaean Kingdom». Asia Anteriore Antica. Journal of Ancient Near Eastern Cultures: 13–46. ISSN 2611-8912. doi:10.36253/asiana-1746. Consultado em 21 de janeiro de 2024 
  75. Steele, Laura. «Urartu and the Medikos Logos of Herodotus». Consultado em 28 de janeiro de 2024 
  76. «The End of Lydia: 547? - Livius». Livius.org. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  77. Turchin, Peter; Adams, Jonathan M.; Hall, Thomas D. (dezembro de 2006). «East-West Orientation of Historical Empires» (PDF). Journal of World-Systems Research (em inglês). 12 (2). pp. 219–229. ISSN 1076-156X. doi:10.5195/jwsr.2006.369. Consultado em 7 de julho de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 7 de julho de 2020 
  78. Taagepera, Rein (1979). «Size and Duration of Empires: Growth-Decline Curves, 600 B.C. to 600 A.D.». Social Science History (3/4): 115–138. ISSN 0145-5532. doi:10.2307/1170959. Consultado em 11 de outubro de 2020 
  79. Lanfranchi 2003, p. 397-406.
  80. Ehsan Yarshater, “IRAN ii. IRANIAN HISTORY (1) Pre-Islamic Times,” Encyclopædia Iranica, XIII/2, pp. 212-224 and XIII/3, p. 225, disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/iran-ii1-pre-islamic-times (acessado em 25 de Outubro de 2021).
  81. Jursa, Michael (1 de janeiro de 2004). «Observations on the Problem of the Median 'Empire'on the Basis of Babylonian Sources». Lanfranchi, Roaf, and Rollinger. Consultado em 19 de janeiro de 2024 
  • Dandamayev, M.; Medvedskaya, I. (2006). «Media». Iranicaonline.org 
  • Boyce, Mary; Grenet, Frantz (1991), Zoroastrianism under Macedonian and Roman rule, ISBN 978-90-04-09271-6, BRILL 
  • Bryce, Trevor (2009). The Routledge Handbook of the Peoples and Places of Ancient Western Asia. From the Early Bronze Age to the Fall of the Persian Empire (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis. ISBN 0415394856 
  • Tavernier, Jan (2007), Iranica in the Achaemenid Period (ca. 550-330 B.C.): Linguistic Study of Old Iranian Proper Names and Loanwords, Attested in Non-Iranian Texts, ISBN 978-90-429-1833-7, Peeters Publishers 
  • Dandamaev, M. A.; Lukonin, V. G.; Kohl, Philip L.; Dadson, D. J. (2004), The Culture and Social Institutions of Ancient Iran, ISBN 978-0-521-61191-6, Cambridge, England: Cambridge University Press 
  • Stuart C., Brown (1990). «Medien (Media)». Reallexicon der Assyriologie und Vorderasiatischen Archäologie (em alemão). 7. Berlim: De Gruyter. pp. 619–623. BRO 
  • Diakonoff, I. M. (1985), «Media», in: Gershevitch, Ilya, The Cambridge History of Iran, ISBN 978-0-521-20091-2, 2, Cambridge, England: Cambridge University Press, pp. 36–148 
  • Citação:
  • Citação:
  • Van De Mieroop, Marc (2015), A History of the Ancient Near East, ca. 3000-323 BC, Wiley Blackwell 
  • Young, T. Cuyler (1997), «Medes», in: Meyers, Eric M., The Oxford encyclopedia of archaeology in the Near East, ISBN 978-0-19-511217-7, 3, Oxford University Press, pp. 448–450 
  • Stronach, David (1982), «Archeology ii. Median and Achaemenid», in: Yarshater, E., Encyclopædia Iranica, ISBN 978-0-933273-67-2, 2, Routledge & Kegan Paul, pp. 288–96 
  • Lanfranchi, Giovanni B.; Roaf, Michael; Rollinger, Robert (2003). Continuity of Empire (?) Assyria, Media, Persia (em inglês). Padoue: S.a.r.g.o.n. Editrice e Libreria. CON 
  • Windfuhr, Gernot L. (1991), «Central dialects», in: Yarshater, E., Encyclopædia Iranica, ISBN 978-0-939214-79-2, pp. 242–51 
  • B. Kienast, « The So-Called ‘Median Empire’ », dans Bulletin of the Canadian Society for Mesopotamian Studies 34, 1999, p. 59-67.