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Moçambique: diferenças entre revisões

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|língua_oficial = [[Língua portuguesa|Português]]<ref>Artigo 10 da Constituição</ref>{{Nota de rodapé|Outras línguas nacionais não oficiais, mas protegidas constitucionalmente são, incluindo mas não se limitando a: [[Língua macua|macua]], [[Língua tsonga|tsonga]], [[Língua ajaua|ajaua]], [[Língua sena|sena]], [[Língua xona|xona]], [[chuabo]], [[Língua nianja|nianja]], [[Língua ronga|ronga]], [[língua maconde|maconde]], [[nhúngue]], [[Língua chope|chope]], [[Guitonga (língua)|guitonga]], [[Língua suaíli|suaíli]]}}
|tipo_governo = [[República]] [[Semipresidencialismo|unitária semipresidencialista]] sob um [[sistema de partido dominante]]
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'''Moçambique''', oficialmente designado como '''República de Moçambique''', é um país localizado no sudeste do continente [[África|Africano]], banhado pelo [[oceano Índico]] a leste e que faz fronteira com a [[Tanzânia]] ao norte; [[Malawi|Maláui]] e [[Zâmbia]] a noroeste; [[Zimbabwe|Zimbábue]] a oeste e [[Essuatíni]] e [[África do Sul]] a sudoeste. A capital e maior cidade do país é [[Maputo]], anteriormente chamada de Lourenço Marques, durante o domínio português.
'''Moçambique''', oficialmente designado como '''República de Moçambique''', é um país localizado no sudeste do continente [[África|Africano]], banhado pelo [[oceano Índico]] a leste e que faz fronteira com a [[Tanzânia]] ao norte; [[Malawi|Maláui]] e [[Zâmbia]] a noroeste; [[Zimbabwe|Zimbábue]] a oeste e [[Essuatíni]] e [[África do Sul]] a sudoeste. A capital e maior cidade do país é [[Maputo]], anteriormente chamada de Lourenço Marques, durante o domínio português.


Entre o primeiro e o {{séc|V}}, povos [[bantos]] migraram de regiões do norte e oeste para essa região. Portos comerciais [[suaílis]] e, mais tarde, [[árabes]], existiram no litoral moçambicano até a chegada dos europeus. A área foi reconhecida por [[Vasco da Gama]] em 1498 e em 1505 foi anexada pelo [[Império Português]]. Depois de mais de quatro séculos de [[África Oriental Portuguesa|domínio português]], Moçambique [[Guerra da Independência de Moçambique|tornou-se independente em 1975]], transformando-se na [[República Popular de Moçambique]] pouco tempo depois. Após apenas dois anos de independência, o país mergulhou em uma [[Guerra Civil Moçambicana|guerra civil intensa e prolongada]] que durou de 1977 a 1992. Em 1994, o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias e manteve-se como uma [[república]] [[Presidencialismo|presidencial]] relativamente estável desde então.
Entre o primeiro e o {{séc|V}}, povos [[bantus]] migraram de regiões do norte e oeste para essa região. Portos comerciais [[suaílis]] e, mais tarde, [[árabes]], existiram no litoral moçambicano até a chegada dos europeus. A área foi reconhecida por [[Vasco da Gama]] em 1498 e em 1505 foi anexada pelo [[Império Português]]. Depois de mais de quatro séculos de [[África Oriental Portuguesa|domínio português]], Moçambique [[Guerra da Independência de Moçambique|tornou-se independente em 25 de Junho de 1975]], transformando-se na [[República Popular de Moçambique]] pouco tempo depois. Após apenas dois anos de independência, o país mergulhou em uma [[Guerra Civil Moçambicana|guerra civil intensa e prolongada]] que durou de 1977 a 1992. Em 1994, o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias e manteve-se como uma [[república]] [[Presidencialismo|presidencial]] relativamente estável desde então.


Moçambique é dotado de ricos e extensos [[Recurso natural|recursos naturais]]. A economia do país é baseada principalmente na [[agricultura]], mas o [[Indústria|sector industrial]], principalmente na fabricação de alimentos, bebidas, produtos químicos, [[alumínio]] e [[petróleo]], está crescendo. O sector de [[turismo]] do país também está em crescimento. A África do Sul é o principal parceiro comercial de Moçambique e a principal fonte de investimento directo estrangeiro. [[Portugal]], [[Brasil]], [[Espanha]] e [[Bélgica]] também estão entre os mais importantes parceiros económicos do país. Desde 2001, a taxa média de [[Crescimento econômico|crescimento económico]] anual do [[produto interno bruto]] (PIB) moçambicano tem sido uma das mais altas do mundo. No entanto, as taxas de [[PIB per capita|PIB ''per capita'']], [[Índice de Desenvolvimento Humano|índice de desenvolvimento humano]] (IDH), [[Desigualdade econômica|desigualdade de renda]] e [[Esperança de vida|expectativa de vida]] de Moçambique ainda estão entre as piores do planeta,<ref name="IDH"/> enquanto a [[Organização das Nações Unidas]] (ONU) considera Moçambique um dos [[País subdesenvolvido|países menos desenvolvidos]] do mundo.<ref>{{citar web|url=http://unohrlls.org/about-ldcs/ |título=About LDCs |obra=Least Developed Countries |publicado=UN-OHRLLS |acessodata=24 de janeiro de 2014}}</ref>
Moçambique é dotado de ricos e extensos [[Recurso natural|recursos naturais]]. A economia do país é baseada principalmente na [[agricultura]], mas o [[Indústria|sector industrial]], principalmente na fabricação de alimentos, bebidas, produtos químicos, [[alumínio]] e [[petróleo]], está crescendo. O sector de [[turismo]] do país também está em crescimento. A África do Sul é o principal parceiro comercial de Moçambique e a principal fonte de investimento directo estrangeiro. [[Portugal]], [[Brasil]], [[Espanha]] e [[Bélgica]] também estão entre os mais importantes parceiros económicos do país. Desde 2001, a taxa média de [[Crescimento econômico|crescimento económico]] anual do [[produto interno bruto]] (PIB) moçambicano tem sido uma das mais altas do mundo. No entanto, as taxas de [[PIB per capita|PIB ''per capita'']], [[Índice de Desenvolvimento Humano|índice de desenvolvimento humano]] (IDH), [[Desigualdade econômica|desigualdade de renda]] e [[Esperança de vida|expectativa de vida]] de Moçambique ainda estão entre as piores do planeta,<ref name="IDH"/> enquanto a [[Organização das Nações Unidas]] (ONU) considera Moçambique um dos [[País subdesenvolvido|países menos desenvolvidos]] do mundo.<ref>{{citar web|url=http://unohrlls.org/about-ldcs/|título=About LDCs|obra=Least Developed Countries|publicado=UN-OHRLLS|acessodata=24-01-2014|wayb=20131229064258|urlmorta=sim}}</ref>


A única [[língua oficial]] de Moçambique é o [[Língua portuguesa|português]], que é falado principalmente como [[segunda língua]] por cerca de metade da população. Entre as línguas nativas mais comuns estão o [[Língua macua|macua]], o [[língua tsonga|tsonga]] e o [[Língua sena|sena]]. A população de cerca de 30 milhões de pessoas é composta predominantemente por povos bantos. A religião com o maior número de adeptos em Moçambique é o [[cristianismo]] (a denominação católica é a que reúne maior número de adeptos), mas há uma presença significativa de seguidores do [[Islamismo em África|islamismo]]. O país é membro da [[União Africana]], da [[Commonwealth|''Commonwealth'' Britânica]], da [[Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]] (CPLP), da [[União Latina]], da [[Organização para a Cooperação Islâmica|Organização da Conferência Islâmica]], da [[Comunidade de Desenvolvimento da África Austral|Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral]] e da [[Organização Internacional da Francofonia]].
A única [[língua oficial]] de Moçambique é o [[Língua portuguesa|português]], que é falado principalmente como [[segunda língua]] por cerca de metade da população. Entre as línguas nativas mais comuns estão o [[Língua macua|macua]], o [[língua tsonga|tsonga]], [[Ndaus|ndau]], [[chuabo]] e o [[Língua sena|sena]]. A população de cerca de 30 milhões de pessoas é composta predominantemente por povos bantus. A religião com o maior número de adeptos em Moçambique é o [[cristianismo]] (a denominação católica é a que reúne maior número de adeptos), mas há uma presença significativa de seguidores do [[Islamismo em África|islamismo]]. O país é membro da [[União Africana]], da [[Commonwealth|''Commonwealth'' Britânica]], da [[Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]] (CPLP), da [[União Latina]], da [[Organização para a Cooperação Islâmica|Organização da Conferência Islâmica]], da [[Comunidade de Desenvolvimento da África Austral|Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral]] e da [[Organização Internacional da Francofonia]].


== Etimologia ==
== Etimologia ==
O nome ''Moçambique'', primeiramente utilizado para a [[ilha de Moçambique]], primeira capital da [[áfrica Oriental Portuguesa|colónia]], teria derivado do nome de um comerciante [[Árabes|árabe]] que ali viveu, ''Musa Al Bik'', ''Mossa Al Bique'' ou ''Ben Mussa Mbiki''.<ref>{{citar web |url=http://www.ilhademo.net/history.html |título=Ilha de Moçambique - History |publicado=Ilha de Moçambique |acessodata=2012-09-25 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20100630040028/http://www.ilhademo.net/history.html |arquivodata=2010-06-30 |urlmorta=yes }}</ref>
O nome ''Moçambique'', primeiramente utilizado para a [[ilha de Moçambique]], primeira capital da [[áfrica Oriental Portuguesa|colónia]], teria derivado do nome de um comerciante [[Árabes|árabe]] que ali viveu, ''Musa Al Bik'', ''Mossa Al Bique'' ou ''Ben Mussa Mbiki''.<ref>{{citar web|url=http://www.ilhademo.net/history.html|título=Ilha de Moçambique - History|publicado=Ilha de Moçambique|acessodata=2012-09-25|wayb=20100630040028|urlmorta=sim}}</ref>


== História ==
== História ==
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[[imagem:Ngungunhane_Gungunhana.jpg|thumb|esquerda|upright|[[Gungunhana]], o último [[Império de Gaza|imperador de Gaza]]]]
[[imagem:Ngungunhane_Gungunhana.jpg|thumb|esquerda|upright|[[Gungunhana]], o último [[Império de Gaza|imperador de Gaza]]]]


Os primeiros povos que habitaram o território do actual Moçambique eram [[Khoisan|bosquímanos]] caçadores e recolectores.<ref>{{citar web|url=http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/Periodo-Pre-Colonial|título=Período Pré-Colonial |publicado=Portal do Governo de Moçambique|acessodata=01-05-2019}}</ref> Entre o primeiro e o {{séc|V}}, ondas migratórias de povos de [[línguas bantas]] vieram de regiões do oeste e do norte de África através do vale do [[rio Zambeze]] e depois, gradualmente, seguiram para o planalto e áreas costeiras do país. Esses povos estabeleceram [[comunidade]]s ou [[sociedade]]s agrícolas baseadas na criação de [[gado]].<ref name="books.google.com"/>
Os primeiros povos que habitaram o território do atual Moçambique eram [[Khoisan|bosquímanos]] caçadores e recolectores.<ref>{{citar web|url=http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/Periodo-Pre-Colonial|título=Período Pré-Colonial |publicado=Portal do Governo de Moçambique|acessodata=01-05-2019}}</ref> Entre o primeiro e o {{séc|V}}, ondas migratórias de povos de [[línguas bantas]] vieram de regiões do oeste e do norte de África através do vale do [[rio Zambeze]] e depois, gradualmente, seguiram para o planalto e áreas costeiras do país. Esses povos estabeleceram [[comunidade]]s ou [[sociedade]]s agrícolas baseadas na criação de [[gado]].<ref name="briggs and edmunds"/>


Eles trouxeram com eles a tecnologia para extração e produção de utensílios de [[ferro]], um metal que eles usaram para fazer armas para conquistar povos vizinhos. As cidades moçambicanas durante a [[Idade Média]] ({{séc|V}} ao XVI) não eram muito robustas e pouco restou delas, como o porto de [[Sofala]].<ref name="books.google.com">{{citar livro|url=http://books.google.com/?id=cJ8ZJaxdbIQC&pg=PA7&lpg=PA7&dq=Mozambique,+medieval+cities |título=Mozambique by Philip Briggs and Danny Edmunds |publicado=Books.google.com |data=01-05-2007|acessodata=01-11-2013|isbn=978-1-84162-177-7}}</ref>
Eles trouxeram com eles a tecnologia para extração e produção de utensílios de [[ferro]], um metal que eles usaram para fazer armas para conquistar povos vizinhos. As cidades moçambicanas durante a [[Idade Média]] ({{séc|V}} ao XVI) não eram muito robustas e pouco restou delas, como o porto de [[Sofala]].<ref name="briggs and edmunds">{{Harvnb|Briggs|Edmunds|2007|p=7}}</ref>


O comércio costeiro de Moçambique primeiramente foi dominado por [[árabes]] e [[persas]], que tinham estabelecido assentamentos até o sul da [[Ilha de Moçambique]]. Assentamentos comerciais [[suaílis]], árabes e persas existiram ao longo da costa do país durante vários séculos. Vários portos comerciais suaílis pontilhavam a costa do país antes da chegada dos árabes, que comercializavam com [[Madagascar]] e com o [[Extremo Oriente]].<ref name="books.google.com"/>
O comércio costeiro de Moçambique primeiramente foi dominado por [[árabes]] e [[persas]], que tinham estabelecido assentamentos até o sul da [[Ilha de Moçambique]]. Assentamentos comerciais [[suaílis]], árabes e persas existiram ao longo da costa do país durante vários séculos. Vários portos comerciais suaílis pontilhavam a costa do país antes da chegada dos árabes, que comercializavam com [[Madagascar|Madagáscar]] e com o [[Extremo Oriente]].<ref name="briggs and edmunds"/>


=== Domínio português ===
=== Domínio português ===
{{Artigo principal|África Oriental Portuguesa}}
{{Artigo principal|África Oriental Portuguesa}}
{{Imagem múltipla
[[Imagem:Museu_Da_Ilha_De_Mocambique_(33387901932).jpg|thumb|Estátua de [[Vasco da Gama]] na praça em frente ao antigo [[Palácio dos Capitães-Generais (Ilha de Moçambique)|Palácio dos Capitães-Generais]], na [[Ilha de Moçambique]], uma pequena ilha de [[coral]] na entrada da Baía de Mossuril, na costa de [[Nampula]]]]
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[[Imagem:Slaves ruvuma.jpg|thumb|Traficantes de escravos árabes e seus cativos ao longo do [[rio Rovuma]]]]
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[[Imagem:TT CMZ-AF-GT E 2-1 10 81 - Oficina de Tipografia da Escola de Artes e Ofícios.jpg|thumb|Oficina de Tipografia da Escola de Artes e Ofícios, 1930]]
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| caption1 = Estátua de [[Vasco da Gama]] na praça em frente ao antigo [[Palácio dos Capitães-Generais (Ilha de Moçambique)|Palácio dos Capitães-Generais]], na [[Ilha de Moçambique]], uma pequena ilha de [[coral]] na entrada da Baía de Mossuril, na costa de [[Nampula]]
| caption2 = Traficantes de escravos árabes e seus cativos ao longo do [[rio Rovuma]]
| caption3 = Oficina de Tipografia da Escola de Artes e Ofícios, 1930
}}


Desde cerca de 1500, os postos e fortalezas comerciais portuguesas acabaram com a hegemonia comercial e militar árabe na região, tornando-se portas regulares da nova rota marítima europeia para o oriente. A viagem de [[Vasco da Gama]] em torno do [[Cabo da Boa Esperança]] em 1498 marcou a entrada portuguesa no comércio, política e cultura da região. Os [[portugueses]] conquistaram o controle da [[Ilha de Moçambique]] e da cidade portuária de [[Sofala]] no início do {{séc|XVI}} e, por volta da década de 1530, pequenos grupos de comerciantes e garimpeiros portugueses que procuravam [[ouro]] penetraram nas regiões do interior do país, onde montaram as guarnições e feitorias de Sena e [[Tete (cidade)|Tete]], no [[rio Zambeze]], e tentaram obter o controle exclusivo sobre o comércio de ouro.<ref name="História de Moçambique 3">Arme Slaves , Armando escravos: de tempos clássicos até a idade moderna , Christopher Leslie Brown, Philip D. Morgan, Gilder Lehrman: Centro para o Estudo da Escravatura, Resistência, e Abolição. Yale University Press, 2006 ISBN 0-300-10900-8 , ISBN 978-0-300-10900-9</ref> Os portugueses tentaram legitimar e consolidar a sua posição comercial através da criação dos [[Prazos da Coroa]] (um tipo de [[sesmaria]]), que eram ligados à administração de [[Portugal]]. Apesar dos ''prazos'' terem sido originalmente desenvolvidos para serem controlados por portugueses, por conta da [[miscigenação]] com os habitantes locais eles acabaram por se tornar centros luso-africanos defendidos por grandes exércitos de escravos africanos conhecidos como [[cundas]]. Historicamente, houve [[escravidão|escravatura]] em Moçambique. Seres humanos eram comprados e vendidos por chefes tribais locais e por comerciantes árabes, portugueses e [[franceses]]. Muitos dos escravos moçambicanos eram fornecidos por chefes tribais que invadiam tribos guerreiras vizinhas e vendiam seus cativos para os ''prazeiros''.<ref>[http://books.google.pt/books?id=6CuZ3lXGFz4C&pg=PP1&dq=Arming+slaves Arming Slaves], Arming slaves: from classical times to the modern age, Christopher Leslie Brown, Philip D. Morgan, Gilder Lehrman: Center for the Study of Slavery, Resistance, and Abolition. Yale University Press, 2006 ISBN 0-300-10900-8, ISBN 978-0-300-10900-9</ref>
Desde cerca de 1500, os postos e fortalezas comerciais portuguesas acabaram com a hegemonia comercial e militar árabe na região, tornando-se portas regulares da nova rota marítima europeia para o oriente. A viagem de [[Vasco da Gama]] em torno do [[Cabo da Boa Esperança]] em 1498 marcou a entrada portuguesa no comércio, política e cultura da região. Os [[portugueses]] conquistaram o controle da [[Ilha de Moçambique]] e da cidade portuária de [[Sofala]] no início do {{séc|XVI}} e, por volta da década de 1530, pequenos grupos de comerciantes e garimpeiros portugueses que procuravam [[ouro]] penetraram nas regiões do interior do país, onde montaram as guarnições e feitorias de Sena e [[Tete (cidade)|Tete]], no [[rio Zambeze]], e tentaram obter o controle exclusivo sobre o comércio de ouro.<ref name="História de Moçambique 3">{{Harvnb|Brown|Morgan|Lehrman|2006}}</ref> Os portugueses tentaram legitimar e consolidar a sua posição comercial através da criação dos [[Prazos da Coroa]] (um tipo de [[sesmaria]]), que eram ligados à administração de [[Portugal]]. Apesar dos ''prazos'' terem sido originalmente desenvolvidos para serem controlados por portugueses, por conta da [[miscigenação]] com os habitantes locais eles acabaram por se tornar centros luso-africanos defendidos por grandes exércitos de escravos africanos conhecidos como [[cundas]]. Historicamente, houve [[escravidão|escravatura]] em Moçambique. Seres humanos eram comprados e vendidos por chefes tribais locais e por comerciantes árabes, portugueses e [[franceses]]. Muitos dos escravos moçambicanos eram fornecidos por chefes tribais que invadiam tribos guerreiras vizinhas e vendiam seus cativos para os ''prazeiros''.<ref name="História de Moçambique 3"/>


Embora a influência portuguesa tenha se expandido de forma gradual, o seu poder era limitado e exercido por colonos individuais a quem era concedida uma extensa autonomia. Os portugueses foram capazes de arrancar grande parte do comércio litorâneo dos árabes entre os anos de 1500 e 1700, mas, com a tomada do [[Forte Jesus de Mombaça]] (no atual [[Quénia]]) pelos árabes em 1698, o pêndulo começou a oscilar na outra direção.<ref name="História de Moçambique 1">{{citar web | url = http://destinomocambique.com/pais/historia/dominio-portugues.html | titulo = Domínio português | publicado = Destino Moçambique | acessodata = 11 de agosto de 2015 | arquivourl = https://web.archive.org/web/20150906163353/http://destinomocambique.com/pais/historia/dominio-portugues.html | arquivodata = 2015-09-06 | urlmorta = yes }}</ref><ref name="História de Moçambique 2">{{citar web | url = http://country-stats.com/pt/paises-1/africa-pt-br/mocambique/45273-mocambique-historia-regra-portuguesa.html | titulo = Moçambique - história: Regra portuguesa | publicado = Country Stats|acessodata = }}</ref> Como resultado, o investimento português diminuiu enquanto [[Lisboa]] dedicou-se ao comércio mais lucrativo com a [[Índia]] e o [[Extremo Oriente]] e ao processo de [[colonização do Brasil]]. Durante essas guerras, tribos árabes do atual [[Omã]] recuperaram alguma parte do comércio da África Oriental a norte de Moçambique. Muitos ''prazos'' haviam diminuído em meados do {{séc|XIX}}, mas vários deles sobreviveram. Durante o {{séc|XIX}} outras potências europeias, particularmente os [[Império Britânico|britânicos]] ([[Companhia Britânica da África do Sul]]) e os [[Império colonial francês|franceses]] ([[Madagáscar]]), tornaram-se cada vez mais envolvidas no comércio e na política da região em torno dos territórios da [[África Oriental Portuguesa]].<ref name="História de Moçambique 2" />
Embora a influência portuguesa tenha se expandido de forma gradual, o seu poder era limitado e exercido por colonos individuais a quem era concedida uma extensa autonomia. Os portugueses foram capazes de arrancar grande parte do comércio litorâneo dos árabes entre os anos de 1500 e 1700, mas, com a tomada do [[Forte Jesus de Mombaça]] (no atual [[Quénia]]) pelos árabes em 1698, o pêndulo começou a oscilar na outra direção.<ref name="História de Moçambique 1">{{citar web|url=http://destinomocambique.com/pais/historia/dominio-portugues.html|titulo=Domínio português|publicado=Destino Moçambique|acessodata=11-08-2015|wayb=20150906163353|urlmorta=sim}}</ref><ref name="História de Moçambique 2">{{citar web|url=http://country-stats.com/pt/paises-1/africa-pt-br/mocambique/45273-mocambique-historia-regra-portuguesa.html|titulo=Moçambique - história: Regra portuguesa|publicado=Country Stats|wayb=20160303182228|urlmorta=sim}}</ref> Como resultado, o investimento português diminuiu enquanto [[Lisboa]] dedicou-se ao comércio mais lucrativo com a [[Índia]] e o [[Extremo Oriente]] e ao processo de [[colonização do Brasil]]. Durante essas guerras, tribos árabes do atual [[Omã]] recuperaram alguma parte do comércio da África Oriental a norte de Moçambique. Muitos ''prazos'' haviam diminuído em meados do {{séc|XIX}}, mas vários deles sobreviveram. Durante o {{séc|XIX}} outras potências europeias, particularmente os [[Império Britânico|britânicos]] ([[Companhia Britânica da África do Sul]]) e os [[Império colonial francês|franceses]] ([[Madagáscar]]), tornaram-se cada vez mais envolvidas no comércio e na política da região em torno dos territórios da [[África Oriental Portuguesa]].<ref name="História de Moçambique 2" />


No início do {{séc|XX}}, os portugueses mudaram a administração de grande parte de Moçambique para grandes empresas privadas — como a [[Companhia de Moçambique]], a [[Companhia da Zambézia]] e a [[Companhia do Niassa]] — controladas e financiadas principalmente por [[britânicos]], que estabeleceram [[Transporte ferroviário|linhas ferroviárias]] para os países vizinhos. Embora a escravidão tenha sido abolida legalmente em Moçambique, no final do {{séc|XIX}} as companhias promulgaram uma política de trabalho barato — muitas vezes forçado — para [[africanos]] em minas e plantações em colónias britânicas próximas e na [[África do Sul]]. A Companhia da Zambézia, a empresa mais rentável, assumiu uma série de participações em ''prazeiros'' menores e estabeleceu postos militares para proteger as suas propriedades. As companhias construíram estradas e portos para levar os seus produtos ao mercado, incluindo uma ferrovia que liga até hoje o [[Zimbábue]] ao porto moçambicano de [[Beira (Moçambique)|Beira]].<ref name="The Cambridge history of Africa">{{citar web|url=http://books.google.pt/books?id=zywkdNMeltkC&pg=PA495&dq=chartered+companies+mozambique#PPA496,M1|título=The Cambridge history of Africa|publicado=books.google.pt}}, The Cambridge history of Africa, John Donnelly Fage, A. D. Roberts, Roland Anthony Oliver, Edition: Cambridge University Press, 1986, ISBN 0-521-22505-1, ISBN 978-0-521-22505-2</ref><ref name="The Third Portuguese Empire, 1825-1975">{{citar web|url=http://books.google.pt/books?id=LA28AAAAIAAJ&pg=PA100&dq=chartered+companies+mozambique|título=The Third Portuguese Empire, 1825–1975|publicado=books.google.pt}}, The Third Portuguese Empire, 1825–1975: A Study in Economic Imperialism, W. G. Clarence-Smith, Edition: Manchester University Press ND, 1985, ISBN 0-7190-1719-X, 9780719017193</ref>
No início do {{séc|XX}}, os portugueses mudaram a administração de grande parte de Moçambique para grandes empresas privadas — como a [[Companhia de Moçambique]], a [[Companhia da Zambézia]] e a [[Companhia do Niassa]] — controladas e financiadas principalmente por [[britânicos]], que estabeleceram [[Transporte ferroviário|linhas ferroviárias]] para os países vizinhos. Embora a escravidão tenha sido abolida legalmente em Moçambique, no final do {{séc|XIX}} as companhias promulgaram uma política de trabalho barato — muitas vezes forçado — para [[africanos]] em minas e plantações em colónias britânicas próximas e na [[África do Sul]]. A Companhia da Zambézia, a empresa mais rentável, assumiu uma série de participações em ''prazeiros'' menores e estabeleceu postos militares para proteger as suas propriedades. As companhias construíram estradas e portos para levar os seus produtos ao mercado, incluindo uma ferrovia que liga até hoje o [[Zimbábue]] ao porto moçambicano de [[Beira (Moçambique)|Beira]].<ref name="The Cambridge history of Africa">{{Harvnb|Fage|Roberts|Oliver|1986|p=496}}</ref><ref name="The Third Portuguese Empire, 1825-1975">{{Harvnb|Clarence-Smith|1985|p=100}}</ref>


Devido ao desempenho insatisfatório e a uma mudança, sob o regime corporativista do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]] de [[António de Oliveira Salazar]], no sentido de um maior controle de [[Portugal]] sobre a economia do [[Império Português]], as concessões para as companhias não foram renovadas quando terminaram. Foi o que aconteceu em 1942 com a Companhia de Moçambique, que, contudo, continuou a operar nos sectores agrícola e comercial como uma corporação, e o que já tinha acontecido em 1929 com o término da concessão da Companhia do Niassa. Em 1951, as colónias ultramarinas portuguesas em África foram rebatizadas para províncias ultramarinas de Portugal.<ref name="The Cambridge history of Africa"/><ref name="The Third Portuguese Empire, 1825-1975"/>
Devido ao desempenho insatisfatório e a uma mudança, sob o regime corporativista do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]] de [[António de Oliveira Salazar]], no sentido de um maior controle de [[Portugal]] sobre a economia do [[Império Português]], as concessões para as companhias não foram renovadas quando terminaram. Foi o que aconteceu em 1942 com a Companhia de Moçambique, que, contudo, continuou a operar nos sectores agrícola e comercial como uma corporação, e o que já tinha acontecido em 1929 com o término da concessão da Companhia do Niassa. Em 1951, as colónias ultramarinas portuguesas em África foram rebatizadas para províncias ultramarinas de Portugal.<ref name="The Cambridge history of Africa"/><ref name="The Third Portuguese Empire, 1825-1975"/>
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[[Imagem:Sempreatentos...aoperigo!.jpg|thumb|esquerda|[[Exército de Portugal|Soldados portugueses]] durante a [[Guerra Colonial Portuguesa]]]]
[[Imagem:Sempreatentos...aoperigo!.jpg|thumb|esquerda|[[Exército de Portugal|Soldados portugueses]] durante a [[Guerra Colonial Portuguesa]]]]


Com ideologias [[Comunismo|comunistas]] e [[Anticolonialismo|anticoloniais]] espalhando-se por toda a [[África]], muitos movimentos políticos clandestinos foram estabelecidos em favor da [[independência de Moçambique]]. Estes movimentos afirmavam que as políticas e planos de desenvolvimento elaborados pelas autoridades do governo eram voltadas apenas para o benefício da população portuguesa que vivia em Moçambique, sendo que pouca atenção era dada à integração das tribos moçambicanas e ao desenvolvimento das comunidades nativas.<ref>Dinerman, Alice (26 de setembro de 2007). [http://www.ipri.pt/publicacoes/revista_ri/artigo_rri.php?ida=173 Independence redux in postsocialist Mozambique] {{Wayback|url=http://www.ipri.pt/publicacoes/revista_ri/artigo_rri.php?ida=173 |date=20150424020524 }}. ipri.pt</ref> De acordo com as declarações oficiais da [[guerrilha]], isso afetava a maioria da população indígena, que sofria tanto com a discriminação patrocinada pelo [[Estado]] quanto pela enorme pressão social. Muitos sentiam que tinham recebido muito pouca oportunidade ou recursos para melhorar as suas competências e melhorar a sua situação económica e social a um grau comparável à dos europeus moçambicanos. Estatisticamente, os brancos portugueses de Moçambique eram de facto muito mais ricos e qualificados do que a maioria negra nativa. Como resposta ao movimento guerrilheiro, o governo português iniciou mudanças graduais, com novas políticas sócio-económicas e igualitárias para todos os cidadãos a partir da década de 1960 e, principalmente, da década de 1970.<ref name="História de Moçambique - Frelimo">{{citar web | url = http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/35785/hoje+na+historia+1975++mocambique+proclama+sua+independencia+de+portugal.shtml | titulo = Hoje na História: 1975 – Moçambique proclama sua independência de Portugal - Movimento independentista foi visto por moçambicanos como o triunfo da liberdade sobre a opressão colonial portuguesa | publicado = Opera Mundi | autor = UOL| data = 25 de junho de 2014|acessodata = 13 de outubro de 2016}}</ref>
Com ideologias [[Comunismo|comunistas]] e [[Anticolonialismo|anticoloniais]] espalhando-se por toda a [[África]], muitos movimentos políticos clandestinos foram estabelecidos em favor da [[independência de Moçambique]]. Estes movimentos afirmavam que as políticas e planos de desenvolvimento elaborados pelas autoridades do governo eram voltadas apenas para o benefício da população portuguesa que vivia em Moçambique, sendo que pouca atenção era dada à integração das tribos moçambicanas e ao desenvolvimento das comunidades nativas.<ref>{{Citar web|autor=Dinerman, Alice|url=http://www.ipri.pt/publicacoes/revista_ri/artigo_rri.php?ida=173|título=Independence redux in postsocialist Mozambique|data=26-09-2007|wayb=20150424020524|urlmorta=sim|obra=ipri.pt}}</ref> De acordo com as declarações oficiais da [[guerrilha]], isso afetava a maioria da população indígena, que sofria tanto com a discriminação patrocinada pelo [[Estado]] quanto pela enorme pressão social. Muitos sentiam que tinham recebido muito pouca oportunidade ou recursos para melhorar as suas competências e melhorar a sua situação económica e social a um grau comparável à dos europeus moçambicanos. Estatisticamente, os brancos portugueses de Moçambique eram de facto muito mais ricos e qualificados do que a maioria negra nativa. Como resposta ao movimento guerrilheiro, o governo português iniciou mudanças graduais, com novas políticas sócio-económicas e igualitárias para todos os cidadãos a partir da década de 1960 e, principalmente, da década de 1970.<ref name="História de Moçambique - Frelimo">{{citar web|url=http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/35785/hoje+na+historia+1975++mocambique+proclama+sua+independencia+de+portugal.shtml|titulo=1975 – Moçambique proclama sua independência de Portugal - Movimento independentista foi visto por moçambicanos como o triunfo da liberdade sobre a opressão colonial portuguesa|publicado=Opera Mundi|autor=UOL|data=25-06-2014|acessodata=13-10-2016}}</ref>


A [[Frente de Libertação de Moçambique]] (FRELIMO) sob comando de [[Eduardo Mondlane]] deu início a uma campanha de guerrilha, contra o governo português, em setembro de 1964. Juntamente com os outros dois conflitos já iniciados em outras colónias portuguesas de [[África Ocidental Portuguesa]] (Angola) e da [[Guiné Portuguesa]], este entrave político tornou-se parte da chamada [[Guerra Colonial Portuguesa]] (1961-1974). Sob a ótica militar, o [[exército português]] manteve o controle dos centros populacionais, enquanto as forças de guerrilha procuraram espalhar a sua influência em áreas rurais, especialmente aquelas localizadas ao norte e oeste do país.<ref name="História de Moçambique - Frelimo" /><ref name="História de Moçambique - Frelimo 2">{{citar web | url = http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/A-Luta-pela-Independencia | titulo = A Luta pela Independência | publicado = Portal do Governo de Moçambique|acessodata=05-12-2018}}</ref>
A [[Frente de Libertação de Moçambique]] (FRELIMO) sob comando de [[Eduardo Mondlane]] deu início a uma campanha de guerrilha, contra o governo português, em setembro de 1964. Juntamente com os outros dois conflitos já iniciados em outras colónias portuguesas de [[África Ocidental Portuguesa]] (Angola) e da [[Guiné Portuguesa]], este entrave político tornou-se parte da chamada [[Guerra Colonial Portuguesa]] (1961–1974). Sob a ótica militar, o [[exército português]] manteve o controle dos centros populacionais, enquanto as forças de guerrilha procuraram espalhar a sua influência em áreas rurais, especialmente aquelas localizadas ao norte e oeste do país.<ref name="História de Moçambique - Frelimo" /><ref name="História de Moçambique - Frelimo 2">{{citar web|url=http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Historia-de-Mocambique/A-Luta-pela-Independencia|titulo=A Luta pela Independência|publicado=Portal do Governo de Moçambique|acessodata=05-12-2018|wayb=20151231204851|urlmorta=sim}}</ref>


Após dez anos de guerra e com o retorno de [[Portugal]] à [[democracia]] através de um golpe militar de [[Esquerda (política)|esquerda]] em [[Lisboa]], que substituiu o regime do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]] em Portugal por uma [[Junta de Salvação Nacional|junta militar]] (a [[Revolução dos Cravos]], de abril de 1974), e na sequência dos [[Acordos de Lusaka]], a FRELIMO assumiu o controle do território moçambicano. Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de junho de 1975. Após a independência, a maioria dos 250 mil portugueses que viviam em Moçambique deixaram o país, alguns expulsos pelo governo, outros fugindo com medo.<ref>Couto, Mia (Abril de 2004). [http://mondediplo.com/2004/04/15mozambique Carnation revolution]. ''Le Monde diplomatique''</ref>
Após dez anos de guerra e com o retorno de [[Portugal]] à [[democracia]] através de um golpe militar de [[Esquerda (política)|esquerda]] em [[Lisboa]], que substituiu o regime do [[Estado Novo (Portugal)|Estado Novo]] em Portugal por uma [[Junta de Salvação Nacional|junta militar]] (a [[Revolução dos Cravos]], de abril de 1974), e na sequência dos [[Acordos de Lusaka]], a FRELIMO assumiu o controle do território moçambicano. Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de junho de 1975. Após a independência, a maioria dos 250 mil portugueses que viviam em Moçambique deixaram o país, alguns expulsos pelo governo, outros fugindo com medo.<ref>Couto, Mia (Abril de 2004). [http://mondediplo.com/2004/04/15mozambique Carnation revolution]. ''Le Monde diplomatique''</ref>


=== Guerra civil ===
=== Guerra civil ===
{{Mais informações|Guerra Civil Moçambicana}}
{{Artigo principal|Guerra Civil Moçambicana}}
{{Imagem múltipla
[[Imagem:Land_mine_victim_2_(4364914733).jpg|thumb|Homem vítima de uma [[mina terrestre]]<ref>{{Citar web |url=https://www.invictory.org/news/persecutions/26183-fond-varnava-prizval-k-molitve-za-postradavshih-v-rezne-v-mozambike |titulo=Фонд Варнава призвал к молитве за пострадавших в резне в Мозамбике {{!}} Новости inVictory |data=2020-12-03 |acessodata=2021-02-06 |lingua=ru-RU}}</ref>]]
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[[Imagem:RhodesiaAllies1975.png|thumb|A situação geopolítica em 1975, nações amigas da [[FRELIMO]] são mostradas em laranja]]
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| caption1 = Homem vítima de uma [[mina terrestre]]<ref>{{Citar web|url=https://www.invictory.org/news/persecutions/26183-fond-varnava-prizval-k-molitve-za-postradavshih-v-rezne-v-mozambike|titulo=Фонд Варнава призвал к молитве за пострадавших в резне в Мозамбике|obra=Новости inVictory|data=2020-12-03|acessodata=2021-02-06|lingua=ru-RU}}</ref>
| caption2 = A situação geopolítica em 1975, nações amigas da [[FRELIMO]] são mostradas em laranja
| caption3 = Imagem da [[Estação do Caminho de Ferro de Maputo|Estação do Caminho de Ferro]] da cidade de [[Maputo]] em 1988
}}


Uma das primeiras ações do novo governo, sob a presidência de [[Samora Machel]], foi estabelecer um Estado [[Unipartidarismo|unipartidário]] baseado em princípios [[Marxismo|marxistas]]. [[Cuba]] e [[União Soviética]] foram as primeiras nações a estender os laços diplomáticos ao novo país, ajudando-o também com forças militares, como forma de manter a independência e reprimir a oposição.<ref name="História de Moçambique - Frelimo" /><ref>''Mozambique: a tortuous road to democracy'' by J .Cabrita, Macmillan 2001 ISBN 978-0-333-92001-5</ref> Logo após a independência, o país foi assolado por uma [[Guerra Civil Moçambicana|guerra civil longa e violenta]] entre forças oposicionistas da [[anticomunista]] [[Resistência Nacional Moçambicana]] (RENAMO) e o regime marxista da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Este conflito, combinado com as disputas diplomáticas e envolvimento do governo com movimentos guerrilheiros em países vizinhos,<ref name="David Martin 1981. Pg 321">David Martin; Johnson Phyllis, ''The Struggle for Zimbabwe''. London, Faber and Faber, Julho de 1981. ISBN 978-0-571-11066-7. Pg 321</ref> como a [[Rodésia]] (em que o governo moçambicano apoiou o grupo guerrilheiro organizado pelo [[Exército Africano para a Libertação Nacional do Zimbábue]] (ZANLA)<ref name="David Martin 1981. Pg 321"/> e a [[África do Sul]] do regime de ''[[apartheid]]'' (na qual o governo moçambicano proveu ajuda ao grupo capitaneado por [[Nelson Mandela]]<ref>David Martin; Johnson Phyllis, ''The Struggle for Zimbabwe''. London, Faber and Faber, Julho de 1981. ISBN 978-0-571-11066-7. Pg 327</ref>) além do excesso de planeamento central e implementação de políticas socialistas ineficazes<ref>Duignan, Peter; Gann, Lewis H. (1994). Communism in Sub-Saharan Africa: a Reappraisal. Stanford, California: Hoover Press. ISBN 978-0-8179-3712-6.</ref> que resultaram nas severas dificuldades econômicas que caracterizaram as primeiras décadas de independência de Moçambique, resultado das práticas adotadas pelo então regime vigente no país.<ref name="História de Moçambique - Frelimo" />
Uma das primeiras ações do novo governo, sob a presidência de [[Samora Machel]], foi estabelecer um Estado [[Unipartidarismo|unipartidário]] baseado em princípios [[Marxismo|marxistas]]. [[Cuba]] e [[União Soviética]] foram as primeiras nações a estender os laços diplomáticos ao novo país, ajudando-o também com forças militares, como forma de manter a independência e reprimir a oposição.<ref name="História de Moçambique - Frelimo" /><ref>{{Harvnb|Cabrita|2000}}</ref> Logo após a independência, o país foi assolado por uma [[Guerra Civil Moçambicana|guerra civil longa e violenta]] entre forças oposicionistas da [[anticomunista]] [[Resistência Nacional Moçambicana]] (RENAMO) e o regime marxista da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Este conflito, combinado com as disputas diplomáticas e envolvimento do governo com movimentos guerrilheiros em países vizinhos,<ref name="David Martin 1981. Pg 321">{{Harvnb|Martin|Phyllis|1981|p=321}}</ref> como a [[Rodésia]] (em que o governo moçambicano apoiou o grupo guerrilheiro organizado pelo [[Exército Africano para a Libertação Nacional do Zimbábue]] (ZANLA)<ref name="David Martin 1981. Pg 321"/> e a [[África do Sul]] do regime de ''[[apartheid]]'' (na qual o governo moçambicano proveu ajuda ao grupo capitaneado por [[Nelson Mandela]]<ref>{{Harvnb|Martin|Phyllis|1981|p=327}}</ref>) além do excesso de planeamento central e implementação de políticas socialistas ineficazes<ref>Duignan, Peter; Gann, Lewis H. (1994). Communism in Sub-Saharan Africa: a Reappraisal. Stanford, California: Hoover Press. ISBN 978-0-8179-3712-6.</ref> que resultaram nas severas dificuldades econômicas que caracterizaram as primeiras décadas de independência de Moçambique, resultado das práticas adotadas pelo então regime vigente no país.<ref name="História de Moçambique - Frelimo" />


Este período também foi marcado pelo êxodo de cidadãos portugueses,<ref name="História de Moçambique na era republicana">{{citar web | url=http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,913229-1,00.html | título = Dismantling the Portuguese Empire | publicado = Time Magazine |acessodata=05-12-2018 }}</ref> do colapso da infraestrutura nacional, da falta de investimentos em ativos produtivos e da nacionalização, pelo governo, de indústrias de propriedade privada, além de várias crises de fome generalizadas. Durante a maior parte da guerra civil, o governo central comandado pela FRELIMO foi incapaz de exercer controle efetivo fora das áreas urbanas do país, muitas das quais eram controladas a partir da capital, [[Maputo]]. Estima-se que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) tenha exercido controle em áreas que incluíam até 50% das partes rurais de várias províncias, e os serviços de assistência médica de qualquer tipo foram interrompidos por anos. O problema se agravou quando o governo cortou gastos em assistência médica.<ref name="Pfeiffer. J. 2003"/> A guerra civil foi marcada por diversas violações dos [[direitos humanos]] cometidas por ambos os lados do conflito, cenário que se tornou ainda pior quando a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) começou a usar táticas [[terrorismo|terroristas]] e a atacar civis indiscriminadamente.<ref name=autogenerated1>{{citar web | url = http://www.hawaii.edu/powerkills/SOD.TAB14.1C.GIF | título= Table 14.1C Centi-Kilo Murdering States: Estimates, Sources and Calculations | publicado=www.hawaii.edu }}</ref><ref>Gersony 1988, p.30f.</ref> O governo central executou dezenas de milhares de pessoas ao tentar estender seu controle por todo o país e mandou muitas pessoas para campos de reeducação, onde milhares foram mortos.<ref name=autogenerated1 />
Este período também foi marcado pelo êxodo de cidadãos portugueses,<ref name="História de Moçambique na era republicana">{{citar web|url=http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,913229-1,00.html|título=Dismantling the Portuguese Empire|publicado=Time Magazine|acessodata=05-12-2018|wayb=20090113204408|urlmorta=sim}}</ref> do colapso da infraestrutura nacional, da falta de investimentos em ativos produtivos e da nacionalização, pelo governo, de indústrias de propriedade privada, além de várias crises de fome generalizadas. Durante a maior parte da guerra civil, o governo central comandado pela FRELIMO foi incapaz de exercer controle efetivo fora das áreas urbanas do país, muitas das quais eram controladas a partir da capital, [[Maputo]]. Estima-se que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) tenha exercido controle em áreas que incluíam até 50% das partes rurais de várias províncias, e os serviços de assistência médica de qualquer tipo foram interrompidos por anos. O problema se agravou quando o governo cortou gastos em assistência médica.<ref name="Pfeiffer. J. 2003"/> A guerra civil foi marcada por diversas violações dos [[direitos humanos]] cometidas por ambos os lados do conflito, cenário que se tornou ainda pior quando a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) começou a usar táticas [[terrorismo|terroristas]] e a atacar civis indiscriminadamente.<ref name=autogenerated1>{{citar web|url=http://www.hawaii.edu/powerkills/SOD.TAB14.1C.GIF|título=Table 14.1C Centi-Kilo Murdering States: Estimates, Sources and Calculations|publicado=www.hawaii.edu}}</ref><ref>Gersony 1988, p.30f.</ref> O governo central executou dezenas de milhares de pessoas ao tentar estender seu controle por todo o país e mandou muitas pessoas para campos de reeducação, onde milhares foram mortos.<ref name=autogenerated1 />


Durante a guerra, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) propôs um acordo de paz baseado na [[secessão]] dos territórios do norte e oeste do país, que passariam a ser a república independente da Rombésia. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) recusou-se a negociar e reivindicou a soberania sobre todo o território do país. Estima-se que um milhão de moçambicanos tenham morrido durante a guerra civil no país, com cerca de outros 1,7 milhão buscando refúgio em países vizinhos e vários outros milhões tendo que se deslocar internamente por conta do conflito.<ref name="República de Moçambique e apoio da África do Sul e Rodésia ao RENAMO">{{citar web | url = https://www.nytimes.com/1992/10/13/world/a-mozambique-formally-at-peace-is-bled-by-hunger-and-brutality.html | título = A Mozambique Formally at Peace Is Bled by Hunger and Brutality | publicado = The New York Times | data = 13 de outubro de 1992 |acessodata=05-12-2018 | lingua = inglês }}</ref> O regime da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) também deu abrigo e apoiou movimentos rebeldes africanos, como o [[Congresso Nacional Africano]] (da África do Sul) e a [[União Nacional Africana do Zimbábue]]. Enquanto isso, os governos da Rodésia e da África do Sul (na época sob o regime do ''apartheid'') apoiavam as forças da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).<ref name="República de Moçambique e apoio da África do Sul e Rodésia ao RENAMO" />
Durante a guerra, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) propôs um acordo de paz baseado na [[secessão]] dos territórios do norte e oeste do país, que passariam a ser a república independente da Rombésia. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) recusou-se a negociar e reivindicou a soberania sobre todo o território do país. Estima-se que um milhão de moçambicanos tenham morrido durante a guerra civil no país, com cerca de outros 1,7 milhão buscando refúgio em países vizinhos e vários outros milhões tendo que se deslocar internamente por conta do conflito.<ref name="República de Moçambique e apoio da África do Sul e Rodésia ao RENAMO">{{citar web|url=https://www.nytimes.com/1992/10/13/world/a-mozambique-formally-at-peace-is-bled-by-hunger-and-brutality.html|título=A Mozambique Formally at Peace Is Bled by Hunger and Brutality|publicado=The New York Times|data=13-10-1992|acessodata=05-12-2018|lingua=en}}</ref> O regime da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) também deu abrigo e apoiou movimentos rebeldes africanos, como o [[Congresso Nacional Africano]] (da África do Sul) e a [[União Nacional Africana do Zimbábue]]. Enquanto isso, os governos da Rodésia e da África do Sul (na época sob o regime do ''apartheid'') apoiavam as forças da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).<ref name="República de Moçambique e apoio da África do Sul e Rodésia ao RENAMO" />


Em 19 de outubro de 1986, [[Samora Machel]] voltava de uma reunião internacional na [[Zâmbia]] em um [[Tupolev Tu-134]], quando o avião presidencial caiu nos [[Montes Libombos]], perto da localidade sul-africana de Mbuzini. Dez pessoas sobreviveram, mas o presidente Machel e trinta e três outros tripulantes morreram, incluindo ministros e funcionários do governo moçambicano. A delegação soviética das [[Nações Unidas]] divulgou um relatório alegando que a sua visita tinha sido prejudicada pelos sul-africanos. Os representantes da União Soviética avançaram com a teoria de que o avião tinha sido desviado intencionalmente por um sinal [[VOR]], usando uma tecnologia fornecida por agentes de [[inteligência militar]] do governo sul-africano.<ref name="TRC">{{citar web |titulo = Special Investigation into the death of President Samora Machel |publicado = Truth and Reconciliation Commission (South Africa) Report, vol.2, chapter 6a |url = http://www.news24.com/Content_Display/TRC_Report/2chap6a.htm |arquivourl = https://web.archive.org/web/20060413084020/http://www.news24.com/Content_Display/TRC_Report/2chap6a.htm |arquivodata = 2006-04-13 |acessodata = 18 de junho de 2006 |urlmorta = no }}</ref>
Em 19 de outubro de 1986, [[Samora Machel]] voltava de uma reunião internacional na [[Zâmbia]] em um [[Tupolev Tu-134]], quando o avião presidencial caiu nos [[Montes Libombos]], perto da localidade sul-africana de Mbuzini. Dez pessoas sobreviveram, mas o presidente Machel e trinta e três outros tripulantes morreram, incluindo ministros e funcionários do governo moçambicano. A delegação soviética das [[Nações Unidas]] divulgou um relatório alegando que a sua visita tinha sido prejudicada pelos sul-africanos. Os representantes da União Soviética avançaram com a teoria de que o avião tinha sido desviado intencionalmente por um sinal [[VOR]], usando uma tecnologia fornecida por agentes de [[inteligência militar]] do governo sul-africano.<ref name="TRC">{{citar web|titulo=Special Investigation into the death of President Samora Machel|publicado=Truth and Reconciliation Commission (South Africa) Report, vol.2, chapter 6a|url=http://www.news24.com/Content_Display/TRC_Report/2chap6a.htm|wayb=20060413084020|acessodata=18-06-2006|urlmorta=sim}}</ref>


=== Período multipartidário ===
=== Período multipartidário ===
[[Imagem:Helicopter_over_flooded_Central_Mozambique.jpg|thumb|esquerda|Um helicóptero dos Estados Unidos sobrevoando o [[rio Limpopo]] inundado durante a enchente de 2000]]
[[Imagem:Helicopter_over_flooded_Central_Mozambique.jpg|thumb|esquerda|Um helicóptero dos Estados Unidos sobrevoando o [[rio Limpopo]] inundado durante a enchente de 2000]]


O sucessor de Machel, [[Joaquim Chissano]], implementou mudanças radicais no país através de reformas, como a mudança da ideologia marxista para a [[Capitalismo|capitalista]], e começou negociações de paz com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A [[Constituição da República de Moçambique|nova constituição moçambicana]], promulgada em 1990, previa um sistema político [[multipartidário]], uma economia baseada no [[livre mercado]] e eleições livres. A guerra civil findou meados de outubro de 1992, com o [[Acordo Geral de Paz]],<ref name="Acordo de paz assinado em Moçambique pelos dois movimentos">{{citar web |titulo = História |publicado = Guia de Turismo de Moçambique |url = https://www.turismomocambique.co.mz/index.aspx?menuid=5&lang=P |acessodata=05-12-2018}}</ref> que foi mediado primeiramente pelo Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e depois assumido pela [[Comunidade de Santo Egídio]]. Sob a supervisão das [[forças de manutenção da paz das Nações Unidas]], a paz voltou a ser operada em Moçambique.<ref name="TRC 2">{{citar web |titulo = United Nations operation in Mozambique |publicado = Nações Unidas (ONU) |url = http://popp.gmu.edu/resource-bk/mission/onumoz.html |arquivourl = https://web.archive.org/web/20110516080313/http://popp.gmu.edu/resource-bk/mission/onumoz.html |arquivodata = 2011-05-16 |acessodata=05-12-2018 |lingua = inglês |urlmorta = yes }}</ref>
O sucessor de Machel, [[Joaquim Chissano]], implementou mudanças radicais no país através de reformas, como a mudança da ideologia marxista para a [[Capitalismo|capitalista]], e começou negociações de paz com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A [[Constituição da República de Moçambique|nova constituição moçambicana]], promulgada em 1990, previa um sistema político [[multipartidário]], uma economia baseada no [[livre mercado]] e eleições livres. A guerra civil findou meados de outubro de 1992, com o [[Acordo Geral de Paz]],<ref name="Acordo de paz assinado em Moçambique pelos dois movimentos">{{citar web|titulo=História|publicado=Guia de Turismo de Moçambique|url=https://www.turismomocambique.co.mz/index.aspx?menuid=5&lang=P|acessodata=05-12-2018|wayb=20061201153121|urlmorta=sim}}</ref> que foi mediado primeiramente pelo Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e depois assumido pela [[Comunidade de Santo Egídio]]. Sob a supervisão das [[forças de manutenção da paz das Nações Unidas]], a paz voltou a ser operada em Moçambique.<ref name="TRC 2">{{citar web |titulo = United Nations operation in Mozambique|publicado=Nações Unidas (ONU)|url=http://popp.gmu.edu/resource-bk/mission/onumoz.html|wayb=20110516080313|acessodata=05-12-2018|lingua=en|urlmorta=sim}}</ref>


Até 1993, cerca de 1,5 milhão de refugiados moçambicanos tinham procurado [[Direito de asilo|asilo]] em países vizinhos como [[Maláui]], Zimbábue, [[Essuatíni]], Zâmbia, [[Tanzânia]] e África do Sul como resultado da guerra civil e da seca que havia retornado, fenómeno que foi parte da maior repatriação testemunhada na [[África subsaariana]].<ref name="História recente de Moçambique">{{citar web | url = http://pi.library.yorku.ca/ojs/index.php/refuge/article/view/21751/20421 | título = Special issue on Mozambicam refugees | publicado = Library Yorku }}''Refuge'', Vol. 13, No. 6 (1993) Pi.library.yorku.ca. Acessado em 1 de novembro de 2013.</ref> No entanto, em anos recentes, Moçambique experimentou a volta do conflito armado em 2013, principalmente nas regiões centro e norte do país.<ref name="História recente de Moçambique 2">{{Citar periódico |ultimo = Schenoni|primeiro = Natália Bueno|titulo = Provincial Autonomy: The Territorial Dimension of Peace in Mozambique|url = https://www.academia.edu/19787524/Provincial_Autonomy_The_Territorial_Dimension_of_Peace_in_Mozambique | lingua = inglês }}</ref> Em 5 de setembro de 2014, o ex-presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO, [[Afonso Dhlakama]], assinaram o Acordo de Cessação das Hostilidades, o qual colocou fim às atividades militares hostis e permitiu com que ambos partidos concentrassem-se nas eleições gerais realizadas em outubro de 2014. Porém, logo após as eleições gerais, uma nova crise política emergiu e o país está novamente à beira de um conflito armado. A RENAMO não reconhece o resultado das eleições gerais e demanda o controle de seis províncias Nampula, Niassa, Tete, Zambézia, Sofala e Manica locais onde o partido alega ter ganho a maioria dos votos.<ref name="História recente do Moçambique 3">{{citar web |url = http://www.dw.com/pt-002/cronologia-do-conflito-entre-a-renamo-e-o-governo-de-mo%C3%A7ambique/a-19105846 |título = Cronologia do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique |data = 11 de março de 2016 |publicado = DW África |acessodata=01-05-2017 }}</ref>
Até 1993, cerca de 1,5 milhão de refugiados moçambicanos tinham procurado [[Direito de asilo|asilo]] em países vizinhos como [[Maláui]], Zimbábue, [[Essuatíni]], Zâmbia, [[Tanzânia]] e África do Sul como resultado da guerra civil e da seca que havia retornado, fenómeno que foi parte da maior repatriação testemunhada na [[África subsaariana]].<ref name="História recente de Moçambique">{{citar periódico|url=http://pi.library.yorku.ca/ojs/index.php/refuge/article/view/21751/20421|título=Special issue on Mozambicam refugees|publicado=Library Yorku|periódico=Refuge|volume=13|número=6|ano=1993|acessodata=01-11-2013}}</ref> No entanto, em anos recentes, Moçambique experimentou a volta do conflito armado em 2013, principalmente nas regiões centro e norte do país.<ref name="História recente de Moçambique 2">{{Citar periódico|ultimo=Schenoni|primeiro=Natália B.|titulo=Provincial Autonomy: The Territorial Dimension of Peace in Mozambique|língua=en|url=https://www.academia.edu/19787524/Provincial_Autonomy_The_Territorial_Dimension_of_Peace_in_Mozambique}}</ref> Em 5 de setembro de 2014, o ex-presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO, [[Afonso Dhlakama]], assinaram o Acordo de Cessação das Hostilidades, o qual colocou fim às atividades militares hostis e permitiu com que ambos partidos concentrassem-se nas eleições gerais realizadas em outubro de 2014. Porém, logo após as eleições gerais, uma nova crise política emergiu e o país está novamente à beira de um conflito armado. A RENAMO não reconhece o resultado das eleições gerais e demanda o controle de seis províncias Nampula, Niassa, Tete, Zambézia, Sofala e Manica locais onde o partido alega ter ganho a maioria dos votos.<ref name="História recente do Moçambique 3">{{citar web|url=http://www.dw.com/pt-002/cronologia-do-conflito-entre-a-renamo-e-o-governo-de-mo%C3%A7ambique/a-19105846|título=Cronologia do conflito entre a RENAMO e o Governo de Moçambique|data=11-03-2016|publicado=DW África|acessodata=01-05-2017}}</ref>


== Geografia ==
== Geografia ==
[[imagem:Mozambique sat.png|thumb|upright|[[Imagem de satélite]] de Moçambique]]
[[imagem:Mozambique sat.png|thumb|upright|[[Imagem de satélite]] de Moçambique]]
{{Artigo principal|Geografia de Moçambique}}
{{Artigo principal|Geografia de Moçambique}}
Com {{formatnum:801537}} quilómetros quadrados de área territorial, Moçambique é o [[Lista de países e territórios por área|34º maior país do mundo]] em área territorial, sendo comparável em tamanho à [[Turquia]]. Moçambique está localizado na costa sudeste da [[África]].<ref name="Geografia de Moçambique 2">{{citar web |titulo = Moçambique |publicado = Brasil Escola | autor = UOL |url = https://brasilescola.uol.com.br/geografia/mocambique.htm |acessodata=05-12-2018}}</ref> O [[Rifte Africano Oriental]] estende-se até ao sul de Moçambique. O ponto mais alto de Moçambique é o [[Monte Binga]], localizado na [[Fronteira Moçambique-Zimbabwe|fronteira do país com Zimbábue]], que se eleva a 2.436 metros acima do nível do mar.
Com {{formatnum:801537}} km quadrados de área territorial, Moçambique é o [[Lista de países e territórios por área|34º maior país do mundo]] em área territorial, sendo comparável em tamanho à [[Turquia]]. Moçambique está localizado na costa sudeste da [[África]].<ref name="Geografia de Moçambique 2">{{citar web|titulo=Moçambique|publicado=Brasil Escola|autor=UOL|url=https://brasilescola.uol.com.br/geografia/mocambique.htm|acessodata=05-12-2018}}</ref> O [[Rifte Africano Oriental]] estende-se até ao sul de Moçambique. O ponto mais alto de Moçambique é o [[Monte Binga]], localizado na [[Fronteira Moçambique-Zimbabwe|fronteira do país com Zimbábue]], que se eleva a 2 436 metros acima do nível do mar.


Moçambique está situado na [[costa]] oriental da [[África Austral]], limitado a norte pela [[Tanzânia]], a noroeste pela [[Zâmbia]] e [[Maláui]], a oeste pela [[Essuatíni]] e pelo [[Zimbábue]], a sul e oeste pela [[África do Sul]] e a leste pelo [[Canal de Moçambique]], uma porção do [[oceano Índico]]. O país limita-se, ainda, através de suas águas territoriais, com [[Madagáscar]] e as [[Comores]], no Canal de Moçambique.<ref name="Geografia de Moçambique 1">{{citar web |titulo = Geografia de Moçambique |publicado = Portal do Governo de Moçambique |url = http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Geografia-de-Mocambique |acessodata=05-12-2018}}</ref>
Moçambique está situado na [[costa]] oriental da [[África Austral]], limitado a norte pela [[Tanzânia]], a noroeste pela [[Zâmbia]] e [[Maláui]], a oeste pela [[Essuatíni]] e pelo [[Zimbábue]], a sul e oeste pela [[África do Sul]] e a leste pelo [[Canal de Moçambique]], uma porção do [[oceano Índico]]. O país limita-se, ainda, através de suas águas territoriais, com [[Madagáscar]] e as [[Comores]], no Canal de Moçambique.<ref name="Geografia de Moçambique 1">{{citar web|titulo=Geografia de Moçambique|publicado=Portal do Governo de Moçambique|url=http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Mocambique/Geografia-de-Mocambique|acessodata=05-12-2018}}</ref>


A norte do [[rio Zambeze]] o território é dominado por um grande [[planalto]], com uma pequena [[planície]] costeira bordejada de [[recife]]s de [[coral]] e, no interior, limita com maciços montanhosos pertencentes ao sistema do [[Grande Vale do Rifte]]. A sul é caracterizado por uma larga planície costeira de [[aluvião]], coberta por [[savana]]s e cortada pelos [[vale]]s de vários [[rio]]s, entre os quais destacando-se o [[rio Limpopo]].<ref name="Geografia de Moçambique 1" />
A norte do [[rio Zambeze]] o território é dominado por um grande [[planalto]], com uma pequena [[planície]] costeira bordejada de [[recife]]s de [[coral]] e, no interior, limita com maciços montanhosos pertencentes ao sistema do [[Grande Vale do Rifte]]. A sul é caracterizado por uma larga planície costeira de [[aluvião]], coberta por [[savana]]s e cortada pelos [[vale]]s de vários [[rio]]s, entre os quais destacando-se o [[rio Limpopo]].<ref name="Geografia de Moçambique 1" />


A maioria da área terrestre de Moçambique, 70%, é da savana de Miombo, [[Brachystegia|predominantemente decídua]]. Árvores e arbustos do mesmo género crescem em outros lugares da África, mas em Moçambique os arbustos decíduos são mais altos e mais densos do que em outros lugares. A zona costeira atinge 2.700 quilómetros de extensão e é uma das maiores da África.<ref>{{citar web | url=http://www.agu.org/pubs/crossref/2008/2007JG000551.shtml |titulo = Landscape-scale extent, height, biomass, and carbon estimation of Mozambique's mangrove forests with Landsat ETM+ and Shuttle Radar Topography Mission elevation data |publicado = Fatoyinbo et al | lingua ={{en}} | acessodata= 29 de novembro de 2009}}</ref> Sabe-se que pelo menos 5 600 espécies diferentes de plantas ocorrem em Moçambique. Existem 250 espécies nativas, das quais 45 só nas montanhas [[Chimanimani]]. Outra área famosa pela sua flora é o pantanal que se estende da Área de Conservação de [[ISimangaliso Wetland Park|Santa Lúcia]], no lado sul-africano, até à cidade de Xai-Xai<ref>{{citar web | url=http://www.worldwildlife.org/wildworld/profiles/terrestrial/at/at0119_full.html |titulo = Maputaland coastal forest mosaic |publicado = WWF | lingua = {{en}} | acessodata= 29 de novembro de 2009}}</ref>
A maioria da área terrestre de Moçambique, 70%, é da savana de Miombo, [[Brachystegia|predominantemente decídua]]. Árvores e arbustos do mesmo género crescem em outros lugares da África, mas em Moçambique os arbustos decíduos são mais altos e mais densos do que em outros lugares. A zona costeira atinge 2 700 km de extensão e é uma das maiores da África.<ref>{{citar web|url=http://www.agu.org/pubs/crossref/2008/2007JG000551.shtml|titulo=Landscape-scale extent, height, biomass, and carbon estimation of Mozambique's mangrove forests with Landsat ETM+ and Shuttle Radar Topography Mission elevation data|autor=Fatoyinbo et al.|lingua=en|acessodata=29-11-2009|wayb=20110511234107|urlmorta=sim}}</ref> Sabe-se que pelo menos 5 600 espécies diferentes de plantas ocorrem em Moçambique. Existem 250 espécies nativas, das quais 45 só nas montanhas [[Chimanimani]]. Outra área famosa pela sua flora é o pantanal que se estende da Área de Conservação de [[ISimangaliso Wetland Park|Santa Lúcia]], no lado sul-africano, até à cidade de Xai-Xai<ref>{{citar web|url=http://www.worldwildlife.org/wildworld/profiles/terrestrial/at/at0119_full.html|titulo=Maputaland coastal forest mosaic|publicado=WWF|lingua=en|acessodata=29-11-2009|wayb=20041221224310|urlmorta=sim}}</ref>


O [[Parque Nacional da Gorongosa]], localizado na província de Sofala, possui uma área de {{fmtn|3770}} quilómetros quadrados, no extremo sul do grande vale do Rifte da Africa Oriental. A exuberância paisagística e a particularidade da fauna bravia deste Parque tornam-no um dos principais atrativos turísticos. No parque, há a presença de elefantes, a na foz do Zambeze onde predomina o búfalo, além de reservas parciais como a de Gilé e a do Niassa respectivamente a nordeste de Quelimane e nas margens do rio Rovuma. Também no parque da reserva natural de Bazaruto se podem avistar aves exóticas, recifes de corais e espécies marinhas protegidas como dugongos, golfinhos e tartarugas marinhas.<ref name="Meio ambiente e biodiversidade em Moçambique 1">{{citar web | url = http://www.turismomocambique.co.mz/index.aspx?menuid=4&lang=P | título = Flora e Fauna | publicado = Portal do Governo de Moçambique |acessodata=05-12-2018}}</ref>
O [[Parque Nacional da Gorongosa]], localizado na província de Sofala, possui uma área de {{fmtn|3770}} km quadrados, no extremo sul do grande vale do Rifte da Africa Oriental. A exuberância paisagística e a particularidade da fauna bravia deste Parque tornam-no um dos principais atrativos turísticos. No parque, há a presença de elefantes, a na foz do Zambeze onde predomina o búfalo, além de reservas parciais como a de Gilé e a do Niassa respectivamente a nordeste de Quelimane e nas margens do rio Rovuma. Também no parque da reserva natural de Bazaruto se podem avistar aves exóticas, recifes de corais e espécies marinhas protegidas como dugongos, golfinhos e tartarugas marinhas.<ref name="Meio ambiente e biodiversidade em Moçambique 1">{{citar web|url=http://www.turismomocambique.co.mz/index.aspx?menuid=4&lang=P|título=Flora e Fauna|publicado=Portal do Governo de Moçambique|acessodata=05-12-2018|wayb=20070112022040|urlmorta=sim}}</ref>


{{Panorama|Mount Gorongosa, Gorongosa National Park, Mozambique (cropped).jpg|800px|[[Parque Nacional da Gorongosa]]}}
{{Panorama|Mount Gorongosa, Gorongosa National Park, Mozambique (cropped).jpg|800px|[[Parque Nacional da Gorongosa]]}}
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=== Clima ===
=== Clima ===
[[Imagem:Koppen-Geiger_Map_MOZ_present.svg|thumb|esquerda|250px|Moçambique pela [[classificação climática de Köppen-Geiger]]]]
[[Imagem:Koppen-Geiger_Map_MOZ_present.svg|thumb|esquerda|250px|Moçambique pela [[classificação climática de Köppen-Geiger]]]]
O clima do país é húmido e [[clima tropical|tropical]], influenciado pelo regime de monções do [[Índico]] e pela corrente quente do [[Canal de Moçambique]], com estações secas de Maio a Setembro. A pluviosidade anual é alta, especialmente no norte do país. A pluviosidade é mais forte, por um lado, nas terras altas na fronteira com o Zimbábue e o Maláui, e por outro lado, na costa entre Maputo e Beira, a qual está exposta às chuvas acompanhadas de vento durante todo o ano.<ref name="BBCWea">{{citar web | url=http://www.bbc.com/weather/features/18036297 | titulo=Country Guides: Mozambique | publicado =BBC Weather |acessodata=05-06-2014}}</ref>
O clima do país é húmido e [[clima tropical|tropical]], influenciado pelo regime de monções do [[Índico]] e pela corrente quente do [[Canal de Moçambique]], com estações secas de Maio a Setembro. A pluviosidade anual é alta, especialmente no norte do país. A pluviosidade é mais forte, por um lado, nas terras altas na fronteira com o Zimbábue e o Maláui, e por outro lado, na costa entre Maputo e Beira, a qual está exposta às chuvas acompanhadas de vento durante todo o ano.<ref name="BBCWea">{{citar web|url=http://www.bbc.com/weather/features/18036297|titulo=Country Guides: Mozambique|publicado=BBC Weather|acessodata=05-06-2014|wayb=20140309063148|urlmorta=sim}}</ref>


As temperaturas médias em [[Maputo]] variam entre os 13-24&nbsp;°C em Julho a 22-31&nbsp;°C em Fevereiro.<ref name="Clima em Moçambique">{{citar web |titulo = Clima |publicado = Guia de Turismo de Moçambique |url = http://www.turismomocambique.co.mz/index.aspx?menuid=2&lang=P |acessodata = 18 de junho de 2006}}</ref> A estação das [[chuva]]s ocorre entre Outubro e Abril. A precipitação média nas montanhas ultrapassa os 2 mil mm. A humidade relativa é elevada situando-se entre 70 a 80%, embora os valores diários cheguem a oscilar entre 10 e 90%. As temperaturas médias variam entre 20&nbsp;°C no Sul e 26&nbsp;°C no norte, sendo os valores mais elevados durante a época das chuvas.<ref name="Clima em Moçambique" />
As temperaturas médias em [[Maputo]] variam entre os 13–24&nbsp;°C em Julho a 22–31&nbsp;°C em Fevereiro.<ref name="Clima em Moçambique">{{citar web|titulo=Clima|publicado=Guia de Turismo de Moçambique|url=http://www.turismomocambique.co.mz/index.aspx?menuid=2&lang=P|acessodata=18-06-2006|wayb=20061201152833|urlmorta=sim}}</ref> A estação das [[chuva]]s ocorre entre Outubro e Abril. A precipitação média nas montanhas ultrapassa os 2 mil mm. A humidade relativa é elevada situando-se entre 70 a 80%, embora os valores diários cheguem a oscilar entre 10 e 90%. As temperaturas médias variam entre 20&nbsp;°C no Sul e 26&nbsp;°C no norte, sendo os valores mais elevados durante a época das chuvas.<ref name="Clima em Moçambique" />


Seca, desertificação e chuvas causadas por ciclones tropicais estão causando problemas ambientais. As inundações causadas por um furacão em 2000 foram os piores em 50 anos. Centenas de milhares de famílias tiveram que deixar as suas casas.<ref>{{citar web | url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/655227.stm | titulo = Mozambique: How disaster unfolded | publicado = BBC | data = 12 de maio de 2006 | lingua = {{en}} }}</ref> No entanto, a preparação da população para desastres melhorou e os danos causados ​​pelas inundações na primavera de 2007 foram significativamente menores. Na primavera de 2008, grandes evacuações foram realizadas em áreas de inundação.<ref>{{citar web | url = http://www.kepa.fi/uutiset/6448/?searchterm=None | titulo =Tulvasuojelu tepsii Mosambikissa – mutta kolera tappaa | publicado = KEPA | acessodata = 19 de maio de 2008}}</ref>
Seca, desertificação e chuvas causadas por ciclones tropicais estão causando problemas ambientais. As inundações causadas por um furacão em 2000 foram os piores em 50 anos. Centenas de milhares de famílias tiveram que deixar as suas casas.<ref>{{citar web|url=http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/655227.stm|titulo=Mozambique: How disaster unfolded|publicado=BBC|data=12-05-2006|lingua=en}}</ref> No entanto, a preparação da população para desastres melhorou e os danos causados pelas inundações na primavera de 2007 foram significativamente menores. Na primavera de 2008, grandes evacuações foram realizadas em áreas de inundação.<ref>{{citar web|url=http://www.kepa.fi/uutiset/6448/?searchterm=None|titulo=Tulvasuojelu tepsii Mosambikissa – mutta kolera tappaa|publicado=KEPA|acessodata=19-05-2008|wayb=20061201152833|urlmorta=sim}}</ref>


== Demografia ==
== Demografia ==
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Os [[macuas]] são o grupo dominante na parte norte do país, os [[Língua sena|sena]] e [[Shona (povo)|shonas]] (principalmente [[ndaus]]) são proeminentes no vale do [[Rio Zambeze|Zambeze]] e os [[tsongas]] são predominantes no sul de Moçambique. Outros grupos incluem os [[macondes]], [[WaYao]]s, [[suaílis]], [[tongas]], [[chopes]] e [[nguni]]s (incluindo [[zulus]]). Povos [[bantos]] compreendem 97,8% da população, enquanto o restante, incluindo africanos [[brancos]] (em grande parte de ascendência [[Portugueses|portuguesa]]), euro-africanos (mestiços de povos bantos e portugueses) e [[indianos]].<ref name=CIA /> Cerca de 45 mil pessoas de ascendência indiana residem em Moçambique.<ref>{{harvnb|Singhvi|2000|p=94}}</ref>
Os [[macuas]] são o grupo dominante na parte norte do país, os [[Língua sena|sena]] e [[Shona (povo)|shonas]] (principalmente [[ndaus]]) são proeminentes no vale do [[Rio Zambeze|Zambeze]] e os [[tsongas]] são predominantes no sul de Moçambique. Outros grupos incluem os [[macondes]], [[WaYao]]s, [[suaílis]], [[tongas]], [[chopes]] e [[nguni]]s (incluindo [[zulus]]). Povos [[bantos]] compreendem 97,8% da população, enquanto o restante, incluindo africanos [[brancos]] (em grande parte de ascendência [[Portugueses|portuguesa]]), euro-africanos (mestiços de povos bantos e portugueses) e [[indianos]].<ref name=CIA /> Cerca de 45 mil pessoas de ascendência indiana residem em Moçambique.<ref>{{harvnb|Singhvi|2000|p=94}}</ref>


Durante o [[África Oriental Portuguesa|governo colonial português]], uma grande minoria de pessoas de ascendência portuguesa vivia permanentemente em quase todas as regiões do país<ref>{{citar web | url=http://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/7035.htm | título= Mozambique (01/09) | publicado=www.state.gov }}, ''U.S. Department of State''</ref> e moçambicanos com sangue português, no momento da independência do país, eram cerca de 360 mil pessoas. Muitos deles deixaram a região após a independência moçambicana em 1975. Há várias estimativas para o tamanho da comunidade [[Chineses|chinesa]] em Moçambique, sete mil a doze mil pessoas.<ref>{{citar periódico|último=Jian|primeiro=Hong|ano=2007|título-translit=zh:莫桑比克华侨的历史与现状|título-trad=The History and Status Quo of Overseas Chinese in Mozambique|periódico=West Asia and Africa|publicado=[[Chinese Academy of Social Sciences]]|url=http://scholar.ilib.cn/A-xyfz200705010.html|acessodata=01-11-2013|número=5|issn=1002-7122|ref=harv|língua=zh|titulo=Cópia arquivada|arquivourl=https://web.archive.org/web/20110617044234/http://scholar.ilib.cn/A-xyfz200705010.html|arquivodata=2011-06-17|urlmorta=yes}}</ref><ref name="ISN">{{citar jornal|título=China, Mozambique: old friends, new business|data=13 de agosto de 2007|periodical=International Relations and Security Network Update|acessodata=01-11-2013|url=http://www.isn.ethz.ch/isn/Current-Affairs/Security-Watch/Detail/?id=53470&lng=en|último =Horta|primeiro =Loro|ref=harv|pontofinal=<!--None-->}}</ref>
Durante o [[África Oriental Portuguesa|governo colonial português]], uma grande minoria de pessoas de ascendência portuguesa vivia permanentemente em quase todas as regiões do país<ref>{{citar web|url=http://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/7035.htm|título=Mozambique (01/09)|obra=U.S. Department of State}}</ref> e moçambicanos com sangue português, no momento da independência do país, eram cerca de 360 mil pessoas. Muitos deles deixaram a região após a independência moçambicana em 1975. Há várias estimativas para o tamanho da comunidade [[Chineses|chinesa]] em Moçambique, sete mil a doze mil pessoas.<ref>{{citar periódico|último=Jian|primeiro=Hong|ano=2007|título-trad=The History and Status Quo of Overseas Chinese in Mozambique|periódico=West Asia and Africa|publicado=[[Chinese Academy of Social Sciences]]|url=http://scholar.ilib.cn/A-xyfz200705010.html|acessodata=01-11-2013|número=5|issn=1002-7122|ref=harv|língua=zh|titulo=zh:莫桑比克华侨的历史与现状|wayb=20110617044234|urlmorta=sim}}</ref><ref name="ISN">{{citar jornal|título=China, Mozambique: old friends, new business|data=13-08-2007|periodical=International Relations and Security Network Update|acessodata=01-11-2013|url=http://www.isn.ethz.ch/isn/Current-Affairs/Security-Watch/Detail/?id=53470&lng=en|último=Horta|primeiro=Loro|wayb=20100407032726|urlmorta=sim|ref=harv}}</ref>


=== Urbanização ===
=== Urbanização ===
{{VT|Lista de cidades de Moçambique}}
{{VT|Lista de cidades de Moçambique}}
{{Cidades mais populosas de Moçambique}}
{{Cidades mais populosas de Moçambique}}

A maior [[cidade]] de [[Moçambique]] é a cidade de [[Maputo]] que concentra mais de 3 milhões de habitantes em sua área [[metropolitana]], a cidade da [[Matola]] é a segunda maior cidade de Moçambique com mais de 1 milhão de habitantes, seguida das cidades de Nampula e Beira

Outras cidades importantes do país são as Cidades de [[Quelimane]], [[Nacala]], [[Tete]], [[Chimoio]], [[Pemba]], [[lichinga]], [[Xai-Xai]] e [[Inhambane]]


=== Idiomas ===
=== Idiomas ===
{{Artigo principal|Português moçambicano|Línguas de Moçambique}}
{{Artigo principal|Português moçambicano|Línguas de Moçambique}}
[[Imagem:Mz etnies.PNG|thumb|Mapa [[Etnia|étnico]] de Moçambique]]
[[Imagem:Mz etnies.PNG|thumb|Mapa [[Etnia|étnico]] de Moçambique]]
O [[Língua portuguesa|português]] é a [[língua oficial]] e a mais falada do país, usada por pouco mais da metade da população (50,4%). Cerca de 39,7%, principalmente a população africana nativa, usam o português como [[segunda língua]] e 12,78% falam-no como primeira língua. A maioria dos moçambicanos que vivem nas áreas urbanas usam o português como principal idioma.<ref>{{citar web|url=http://www.catedraportugues.uem.mz/lib/docs/lusofonia_em_mocambique.pdf|título=Lusofonia em Moçambique|acessodata=26 de maio de 2016}}</ref><ref>[https://web.archive.org/web/20120118121547/http://www.ine.gov.mz/censo2007/rdcenso09/nacionais/c0700q23/view?searchterm=L%C3%ADnguas QUADRO 23. POPULAÇÃO DE 5 ANOS E MAIS POR IDADE, SEGUNDO ÁREA DE RESIDÊNCIA, SEXO E LÍNGUA QUE FALA COM MAIS FREQUÊNCIA EM CASA.] ine.gov.mz</ref>
O [[Língua portuguesa|português]] é a [[língua oficial]] e a mais falada do país, usada por pouco mais da metade da população (50,4%). Cerca de 39,7%, principalmente a população africana nativa, usam o português como [[segunda língua]] e 12,78% falam-no como primeira língua. A maioria dos moçambicanos que vivem nas áreas urbanas usam o português como principal idioma.<ref>{{citar web|url=http://www.catedraportugues.uem.mz/lib/docs/lusofonia_em_mocambique.pdf|título=Lusofonia em Moçambique|acessodata=26-05-2016|wayb=20140704114205|urlmorta=sim}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.ine.gov.mz/censo2007/rdcenso09/nacionais/c0700q23/view?searchterm=L%C3%ADnguas|título=QUADRO 23. População de 5 anos e mais por idade, segundo área da residência, sexo e língua que fala com mais frequência em casa|obra=ine.gov.mz|wayb=20120118121547|urlmorta=sim}}</ref>


As [[línguas bantas]] de Moçambique, que são as mais faladas no país, variam muito em seus grupos e, em alguns casos, são bastante mal analisadas e documentadas.<ref name=r1>''Relatório do I Seminário sobre a Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas''. NELIMO, Universidade Eduardo Mondlane, 1989.</ref> Além de ser uma [[língua franca]] no norte do país, o [[Língua suaíli|suaíli]] é falado em uma pequena área do litoral próxima à fronteira com a [[Tanzânia]]; mais ao sul, na [[Ilha de Moçambique]], o mwani, considerado como um dialeto do suaíli, é falado. No interior da área de suaíli, o [[Língua maconde|maconde]] é o idioma mais falado, separado da área onde [[ciyao]] é usado por uma pequena faixa de território de falantes da [[língua macua]]. O maconde e o ciyao pertencem a grupos linguísticos diferentes,<ref>''Malangano ga Sambano'' (Yao New Testament), British and Foreign Bible Society, London, 1952</ref> sendo o ciyao muito próximo da língua mwera da área do planalto Rondo, na [[Tanzânia]].<ref>Harries, Rev. Lyndon, ''A Grammar of Mwera''. Witwatersrand University Press, Johannesburg, 1950.</ref> Alguns falantes do [[Língua nianja|nianja]] são encontrados na costa do [[lago Maláui]], bem como do outro lado do lago na fronteira com o [[Maláui]].<ref>Barnes, Herbert, ''Nyanja – English Vocabulary '' (mostly of Likoma Island). Society for Promoting Christian Knowledge, Londres. 1902.</ref><ref>''ChiChewa Intensive Course,'' (Chewa is similar to Nyanja) Lilongwe, Malawi, 1969.</ref>
As [[línguas bantas]] de Moçambique, que são as mais faladas no país, variam muito em seus grupos e, em alguns casos, são bastante mal analisadas e documentadas.<ref name=r1>''Relatório do I Seminário sobre a Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas''. NELIMO, Universidade Eduardo Mondlane, 1989.</ref> Além de ser uma [[língua franca]] no norte do país, o [[Língua suaíli|suaíli]] é falado em uma pequena área do litoral próxima à fronteira com a [[Tanzânia]]; mais ao sul, na [[Ilha de Moçambique]], o mwani, considerado como um dialeto do suaíli, é falado. No interior da área de suaíli, o [[Língua maconde|maconde]] é o idioma mais falado, separado da área onde [[ciyao]] é usado por uma pequena faixa de território de falantes da [[língua macua]]. O maconde e o ciyao pertencem a grupos linguísticos diferentes,<ref>''Malangano ga Sambano'' (Yao New Testament), British and Foreign Bible Society, London, 1952</ref> sendo o ciyao muito próximo da língua mwera da área do planalto Rondo, na [[Tanzânia]].<ref>Harries, Rev. Lyndon, ''A Grammar of Mwera''. Witwatersrand University Press, Johannesburg, 1950.</ref> Alguns falantes do [[Língua nianja|nianja]] são encontrados na costa do [[lago Maláui]], bem como do outro lado do lago na fronteira com o [[Maláui]].<ref>Barnes, Herbert, ''Nyanja – English Vocabulary '' (mostly of Likoma Island). Society for Promoting Christian Knowledge, Londres. 1902.</ref><ref>''ChiChewa Intensive Course,'' (Chewa is similar to Nyanja) Lilongwe, Malawi, 1969.</ref>
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}}
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Por força de sua Constituição, Moçambique é um estado laico, sendo expressamente proibido no texto constitucional quaisquer discriminações ou acepções baseadas na religião, garantindo-se, também, a liberdade religiosa a todos os cidadãos. A legislação moçambicana exige que todas as organizações religiosas sejam registradas junto ao Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, embora não sejam aplicadas sanções aos grupos religiosos pela ausência deste registro. Locais de culto também são protegidos por força legal e, de igual modo, também é assegurada a objeção ao serviço militar por razões religiosas.<ref name="Liberdade religiosa">{{citar web | autor = | url = https://mz.usembassy.gov/wp-content/uploads/sites/182/MO%C3%87AMBIQUE-2018-RELAT%C3%93RIO-DE-LIBERDADE-RELIGIOSA-INTERNACIONAL.pdf |titulo = Relatório de Liberdade Religiosa Internacional em Moçambique |data = 2018 |acessodata = 12 de fevereiro de 2021 |publicado = Relatório de Liberdade Religiosa | formato = PDF }}</ref>
Por força de sua Constituição, Moçambique é um estado laico, sendo expressamente proibido no texto constitucional quaisquer discriminações ou acepções baseadas na religião, garantindo-se, também, a liberdade religiosa a todos os cidadãos. A legislação moçambicana exige que todas as organizações religiosas sejam registradas junto ao Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, embora não sejam aplicadas sanções aos grupos religiosos pela ausência deste registro. Locais de culto também são protegidos por força legal e, de igual modo, também é assegurada a objeção ao serviço militar por razões religiosas.<ref name="Liberdade religiosa">{{citar web|url=https://mz.usembassy.gov/wp-content/uploads/sites/182/MO%C3%87AMBIQUE-2018-RELAT%C3%93RIO-DE-LIBERDADE-RELIGIOSA-INTERNACIONAL.pdf|titulo=Relatório de Liberdade Religiosa Internacional em Moçambique|ano=2018|acessodata=12-01-2021|publicado=Relatório de Liberdade Religiosa|formato=PDF}}</ref>


O censo de 2017 revelou que os [[Cristianismo|cristãos]] formam 56,1% da população (maioria Católica, com cerca de 27,2%) e os [[Islão|muçulmanos]] compunham 18,9% da população de Moçambique, enquanto 4,8% das pessoas afirmaram praticar outras crenças religiosas, principalmente o [[animismo]]. Cerca de 13,9% dos moçambicanos [[Irreligião|não tinham crenças religiosas]] e outros 2,5% não especificaram pertencer a algum grupo religioso.<ref name="CIA 2">{{citar web | autor = The World Factbook | url =https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/mozambique/#people-and-society |titulo = Moçambique |data = |acessodata = 12 de fevereiro de 2021 |publicado = CIA }}</ref> Há uma aderência significativa de parte da população à crenças religiosas tribais sincréticas, sendo este um segmento não incluído nas estimativas oficiais governamentais.
O censo de 2017 revelou que os [[Cristianismo|cristãos]] formam 56,1% da população (maioria Católica, com cerca de 27,2%) e os [[Islão|muçulmanos]] compunham 18,9% da população de Moçambique, enquanto 4,8% das pessoas afirmaram praticar outras crenças religiosas, principalmente o [[animismo]]. Cerca de 13,9% dos moçambicanos [[Irreligião|não tinham crenças religiosas]] e outros 2,5% não especificaram pertencer a algum grupo religioso.<ref name="CIA 2">{{citar web|autor=The World Factbook|url=https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/mozambique/#people-and-society|titulo=Moçambique|acessodata=12-02-2021|publicado=CIA}}</ref> Há uma aderência significativa de parte da população à crenças religiosas tribais sincréticas, sendo este um segmento não incluído nas estimativas oficiais governamentais.


A [[Igreja Católica Romana]] estabeleceu doze [[diocese]]s no país (Beira, Chimoio, Gurué, Inhambane, Lichinga, Maputo, Nacala, Nampula, Pemba, Quelimane, Tete e Xai-Xai; [[arquidiocese]]s são Beira, Maputo e Nampula). Estatísticas para o número de católicos variam entre 5,8% da população na diocese de Chimoio, para 32,50% na diocese de Quelimane.<ref>Anuário Católico de Moçambique, 2007</ref>
A [[Igreja Católica Romana]] estabeleceu doze [[diocese]]s no país (Beira, Chimoio, Gurué, Inhambane, Lichinga, Maputo, Nacala, Nampula, Pemba, Quelimane, Tete e Xai-Xai; [[arquidiocese]]s são Beira, Maputo e Nampula). Estatísticas para o número de católicos variam entre 5,8% da população na diocese de Chimoio, para 32,50% na diocese de Quelimane.<ref>Anuário Católico de Moçambique, 2007</ref>
{{Imagem dupla|right|Mesquita da Baixa Maputo Mozambique.jpg|215|Sé da Beira.jpg|150|[[Mesquita]] em [[Maputo]].|[[Catedral]] da [[Beira (Moçambique)|Beira]].}}
{{Imagem dupla|right|Mesquita da Baixa Maputo Mozambique.jpg|215|Sé da Beira.jpg|150|[[Mesquita]] em [[Maputo]]|[[Catedral]] da [[Beira (Moçambique)|Beira]]}}


Entre as principais igrejas [[Protestantismo|protestantes]] no país estão a [[Congregação Cristã em Moçambique]], a Igreja União Baptista de Moçambique, a [[Assembleia de Deus]] e os [[Batistas do Sétimo Dia]], este último com cerca de 6.442 membros.<ref>{{citar web |ultimo=Oliveira |primeiro=Claudir |url=https://ib7.org/artigos/noticias/igreja-no-mundo/1279-treinamento-ministerial-mocambique-primeira-viagem |titulo=Treinamento Ministerial Moçambique - Primeira Viagem |data=26 de Setembro de 2018 |acessodata=27/01/2021 |publicado=Igreja Batista do Sétimo Dia}}</ref> Também estão presentes no país os [[Adventistas do Sétimo Dia]], a [[Igreja Anglicana]] da África Austral, a Igreja do Evangelho Completo de Deus, a [[Igreja Metodista]] Unida, a [[Igreja Presbiteriana]] de Moçambique, a [[Igreja Unida de Cristo|Igreja de Cristo]] e a Assembleia Evangélica de Deus. A [[Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias]] (Igreja Mórmon) estabeleceu uma presença crescente no país e foi legalmente reconhecida em 1996, tendo começado a enviar missionários para a nação em 1999. Em fevereiro de 2021 este grupo religioso tinha cerca de {{formatnum:15030}} membros.<ref>{{citar web | url = https://newsroom.churchofjesuschrist.org/facts-and-statistics/country/mozambique |titulo = Facts and Statistics - Mozambique |data = |acessodata = 12 de fevereiro de 2021 |publicado = Newsroom }}</ref>
Entre as principais igrejas [[Protestantismo|protestantes]] no país estão a [[Congregação Cristã em Moçambique]], a Igreja União Baptista de Moçambique, a [[Assembleia de Deus]] e os [[Batistas do Sétimo Dia]], este último com cerca de 6.442 membros.<ref>{{citar web|ultimo=Oliveira|primeiro=Claudir|url=https://ib7.org/artigos/noticias/igreja-no-mundo/1279-treinamento-ministerial-mocambique-primeira-viagem|titulo=Treinamento Ministerial Moçambique - Primeira Viagem|data=26-09-2018|acessodata=27/01/2021|publicado=Igreja Batista do Sétimo Dia}}</ref> Também estão presentes no país os [[Adventistas do Sétimo Dia]], a [[Igreja Anglicana]] da África Austral, a Igreja do Evangelho Completo de Deus, a [[Igreja Metodista]] Unida, a [[Igreja Presbiteriana]] de Moçambique, a [[Igreja Unida de Cristo|Igreja de Cristo]] e a Assembleia Evangélica de Deus. A [[Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias]] (Igreja Mórmon) estabeleceu uma presença crescente no país e foi legalmente reconhecida em 1996, tendo começado a enviar missionários para a nação em 1999. Em fevereiro de 2021 este grupo religioso tinha cerca de {{formatnum:15030}} membros.<ref>{{citar web|url=https://newsroom.churchofjesuschrist.org/facts-and-statistics/country/mozambique|titulo=Facts and Statistics - Mozambique|acessodata=12-02-2021|publicado=Newsroom}}</ref>


A [[Fé Bahá'í]] tem estado presente em Moçambique desde o início da década de 1950, mas não se identificava abertamente nesse período devido à forte influência da [[Igreja Católica]] no governo, que não a reconheceu oficialmente como uma [[religião mundial]]. Com a independência, em 1975, o país viu a entrada de novos pioneiros. No total, havia cerca de três mil bahá'ís declarados em Moçambique em 2010.<ref>II recenseamento geral da população, 97, p.38-40</ref>
A [[Fé Bahá'í]] tem estado presente em Moçambique desde o início da década de 1950, mas não se identificava abertamente nesse período devido à forte influência da [[Igreja Católica]] no governo, que não a reconheceu oficialmente como uma [[religião mundial]]. Com a independência, em 1975, o país viu a entrada de novos pioneiros. No total, havia cerca de três mil bahá'ís declarados em Moçambique em 2010.<ref>II recenseamento geral da população, 97, p.38-40</ref>
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== Governo e política ==
== Governo e política ==
{{Artigo principal|Política de Moçambique}}
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{{Imagem múltipla
{{multiple image|align=left|width1=200|width2=260|image1=Filipe Nyusi.jpg|image2=Assembleia da República Mozambique.jpg|caption1=[[Filipe Nyusi]] (pronuncia-se /Nhússi/) é o actual [[Lista de presidentes de Moçambique|presidente do país]].|caption2= [[Assembleia da República de Moçambique]], o órgão legislativo do país.}}
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}}
Moçambique é uma [[república]] [[presidencialismo|presidencialista]], cujo [[governo]] é nomeado pelo [[Presidente da República]]. O parlamento de 250 membros, denominado Assembleia da República, tem como uma de suas funções, verificar as ações do governo. As [[eleição|eleições]] legislativas e presidenciais são realizadas a cada cinco anos.
Moçambique é uma [[república]] [[presidencialismo|presidencialista]], cujo [[governo]] é nomeado pelo [[Presidente da República]]. O parlamento de 250 membros, denominado Assembleia da República, tem como uma de suas funções, verificar as ações do governo. As [[eleição|eleições]] legislativas e presidenciais são realizadas a cada cinco anos.


A [[FRELIMO]] foi o movimento que lutou pela libertação desde o início da década de 1960. Após a independência, passou a controlar exclusivamente o poder, aliada aos países do então "bloco socialista", e introduzindo um sistema político de partido único, semelhante ao praticado naqueles países.<ref>John Saul, ''A Difficult Road: The transition to socialism in Mozambique'', Nova Iorque: Monthly Review Press, 1985; Christine Verschuur e outros, ''Mozambique: Dix and de solitude'', Paris: L'Harmattan, 1986</ref> O regime provocou a hostilidade dos estados vizinhos segregacionistas existentes na altura, [[África do Sul]] e [[Rodésia]], que apoiaram elementos brancos recolonizadores e [[guerrilha]]s internas. Esta situação viria a transformar-se numa [[guerra de desestabilização de Moçambique|guerra civil de 16 anos]]. O fim desse conflito armado foi marcado pela assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em Roma, Itália, em 1992. No entanto, em 2013, Moçambique presenciou o retorno do conflito armado<ref>{{Citar periódico|ultimo=Schenoni|primeiro=Natália Bueno|titulo=Provincial Autonomy: The Territorial Dimension of Peace in Mozambique|url=https://www.academia.edu/19787524/Provincial_Autonomy_The_Territorial_Dimension_of_Peace_in_Mozambique|idioma=en}}</ref> entre a FRELIMO e a RENAMO, afetando a população principalmente das regiões centro e norte do país. Apesar das inúmeras negociações, um novo acordo de paz ainda não foi concluído.
A [[FRELIMO]] foi o movimento que lutou pela libertação desde o início da década de 1960. Após a independência, passou a controlar exclusivamente o poder, aliada aos países do então "bloco socialista", e introduzindo um sistema político de partido único, semelhante ao praticado naqueles países.<ref>John Saul, ''A Difficult Road: The transition to socialism in Mozambique'', Nova Iorque: Monthly Review Press, 1985; Christine Verschuur e outros, ''Mozambique: Dix and de solitude'', Paris: L'Harmattan, 1986</ref> O regime provocou a hostilidade dos estados vizinhos segregacionistas existentes na altura, [[África do Sul]] e [[Rodésia]], que apoiaram elementos brancos recolonizadores e [[guerrilha]]s internas. Esta situação viria a transformar-se numa [[guerra de desestabilização de Moçambique|guerra civil de 16 anos]]. O fim desse conflito armado foi marcado pela assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em Roma, Itália, em 1992. No entanto, em 2013, Moçambique presenciou o retorno do conflito armado<ref name="História recente de Moçambique 2" /> entre a FRELIMO e a RENAMO, afetando a população principalmente das regiões centro e norte do país. Apesar das inúmeras negociações, um novo acordo de paz ainda não foi concluído.


[[Samora Machel]] foi o primeiro [[presidente]] de Moçambique independente e ocupou este cargo até à sua morte em 1986. O seu sucessor, [[Joaquim Chissano]], negociou o fim da guerra civil e introduziu um sistema multipartidário que integrou o principal movimento rebelde, a Resistência Nacional Moçambicana ([[RENAMO]]). Neste novo sistema, a Frelimo permaneceu no poder até os dias actuais, tendo ganho as eleições parlamentares realizadas em 1994, 1999, 2004 e 2009, mesmo com acusações de fraudes. O [[Movimento Democrático de Moçambique]] (MDM), uma dissidência da RENAMO, constituiu-se em bancada parlamentar em Abril de 2010. O MDM atualmente tem dezassete deputados na Assembleia da República, desde as últimas eleições gerais realizadas em 2014. O regime prevalecendo em Moçambique desde inícios dos anos 1990 evidenciou sempre défices democráticos, que o sucessor de Joaquim Chissano, [[Armando Guebuza]], tentou colmatar nos anos 2000.<ref>Vítor Alexandre Lourenço, ''Estado, Autoridades Tradicionais e "Transição Democrática" em Moçambique'', ''Cadernos de Estudos Africanos'' (Lisboa), 16/17, 2008/2009, pp.115-137.</ref>
[[Samora Machel]] foi o primeiro [[presidente]] de Moçambique independente e ocupou este cargo até à sua morte em 1986. O seu sucessor, [[Joaquim Chissano]], negociou o fim da guerra civil e introduziu um sistema multipartidário que integrou o principal movimento rebelde, a Resistência Nacional Moçambicana ([[RENAMO]]). Neste novo sistema, a Frelimo permaneceu no poder até os dias actuais, tendo ganho as eleições parlamentares realizadas em 1994, 1999, 2004 e 2009, mesmo com acusações de fraudes. O [[Movimento Democrático de Moçambique]] (MDM), uma dissidência da RENAMO, constituiu-se em bancada parlamentar em Abril de 2010. O MDM atualmente tem dezassete deputados na Assembleia da República, desde as últimas eleições gerais realizadas em 2014. O regime prevalecendo em Moçambique desde inícios dos anos 1990 evidenciou sempre défices democráticos, que o sucessor de Joaquim Chissano, [[Armando Guebuza]], tentou colmatar nos anos 2000.<ref>Vítor Alexandre Lourenço, ''Estado, Autoridades Tradicionais e "Transição Democrática" em Moçambique'', ''Cadernos de Estudos Africanos'' (Lisboa), 16/17, 2008/2009, pp.115-137.</ref>

=== Direitos humanos ===
O conceito de direitos humanos em Moçambique é uma questão permanente para o país. Durante mais de quatro séculos, Moçambique foi governado pelos portugueses. Após a independência de Moçambique de Portugal, seguiram-se 17 anos de guerra civil, entre a RENAMO e a FRELIMO, até 1992, quando a paz foi por fim alcançada. <ref>{{Harvnb|Cabrita|2000}}</ref> [[Armando Guebuza]] foi então eleito presidente em 2004 e reeleito em 2009, apesar das críticas de que lhe faltava honestidade, transparência e imparcialidade. <ref>{{Citar web|ultimo=Nhachote|primeiro=Luis|url=https://mg.co.za/article/2012-01-06-mozambiques-mr-guebusiness/|titulo=Mozambique’s ‘Mr Guebusiness’|data=2012-01-06|website=The Mail & Guardian|lingua=en-ZA}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.eods.eu/library/FR%20MOZAMBIQUE%202004_en.pdf|titulo=Presidential and Parliamentary Elections 1-2 December 2004 - European Union Election Observation Mission Final Report|ano=2004|wayb=20160414064103|urlmorta=sim}}</ref> Isso desencadeou uma série de incidentes de direitos humanos, incluindo assassinatos ilegais, prisões arbitrárias, condições prisionais desumanas e julgamentos injustos. Também houve muitas questões relacionadas com as liberdades de expressão e mídia, liberdade na Internet, liberdade de reunião pacífica e discriminação e abuso de mulheres, crianças e pessoas com deficiência. Muitas destas questões continuam em curso.<ref>{{Citar web|url=https://www.amnestyusa.org/countries/mozambique/|titulo=Mozambique|ano=2021|acessodata=2023-04-25|website=Amnesty International USA|lingua=en-US}}</ref>

Em 2018, uma reportagem publicada no jornal português Público alegava que as terras mais férteis de Moçambique, especialmente no corredor de Nacala, estão a deixar de ser exploradas pelos moçambicanos e milhares de camponeses ficam sem terra, e lançados na pobreza, a troco de falsas promessas de multinacionais do sector agrário. Portugal, com a Portucel Moçambique à cabeça, é o país da Europa que mais área explora nesta zona.<ref>{{Citar web|ultimo=Rodrigues|primeiro=Sofia da Palma (e outros)|url=https://www.publico.pt/2018/08/19/mundo/noticia/terra-de-todos-terra-de-alguns-1840612|titulo=Moçambique: terra de todos, terra de alguns|acessodata=2023-04-25|website=PÚBLICO}}</ref>


=== Relações internacionais ===
=== Relações internacionais ===
{{Anexo|Missões diplomáticas de Moçambique}}
{{Anexo|Missões diplomáticas de Moçambique}}

[[Imagem:Moscow, 20 Gilyarovsky street, embassy of Mozambique.JPG|thumb|Embaixada de Moçambique em [[Moscovo|Moscou]], na [[Rússia]]]]
[[Imagem:Moscow, 20 Gilyarovsky street, embassy of Mozambique.JPG|thumb|Embaixada de Moçambique em [[Moscovo|Moscou]], na [[Rússia]]]]


Apesar de alianças que datam da luta de independência continuem a ser relevantes, a política externa de Moçambique tornou-se cada vez mais pragmática ao longo do tempo. Os dois pilares da política externa moçambicana são a manutenção de boas relações com seus vizinhos e de manutenção e expansão de laços com os parceiros de desenvolvimento. Durante os anos 1970 e início dos anos 1980, a política externa do país era indissoluvelmente ligada à [[Rodésia]] e [[África do Sul]], bem como pela concorrência das [[superpotência]]s da [[Guerra Fria]], [[Estados Unidos]] e [[União Soviética]]. A decisão de Moçambique de impor sanções na [[Organização das Nações Unidas]] (ONU) contra a Rodésia e negar a esse país o acesso ao mar, fez o governo liderado por [[Ian Smith]] realizar ações ostensivas e secretas contra os moçambicanos. Embora a mudança de governo no [[Zimbábue]], em 1980, tenha removido esta ameaça, o governo da África do Sul continuou a apoiar a [[RENAMO]] em sua guerra com o governo da [[FRELIMO]].<ref>[http://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/7035.htm Mozambique]. State.gov (13 June 2012). Retrieved on 2013-01-29.</ref>
Apesar de alianças que datam da luta de independência continuem a ser relevantes, a política externa de Moçambique tornou-se cada vez mais pragmática ao longo do tempo. Os dois pilares da política externa moçambicana são a manutenção de boas relações com seus vizinhos e de manutenção e expansão de laços com os parceiros de desenvolvimento. Durante os anos 1970 e início dos anos 1980, a política externa do país era indissoluvelmente ligada à [[Rodésia]] e [[África do Sul]], bem como pela concorrência das [[superpotência]]s da [[Guerra Fria]], [[Estados Unidos]] e [[União Soviética]]. A decisão de Moçambique de impor sanções na [[Organização das Nações Unidas]] (ONU) contra a Rodésia e negar a esse país o acesso ao mar, fez o governo liderado por [[Ian Smith]] realizar ações ostensivas e secretas contra os moçambicanos. Embora a mudança de governo no [[Zimbábue]], em 1980, tenha removido esta ameaça, o governo da África do Sul continuou a apoiar a [[RENAMO]] em sua guerra com o governo da [[FRELIMO]].<ref>{{Citar web|url=http://www.state.gov/r/pa/ei/bgn/7035.htm|título=Mozambique|obra=State.gov|data=13-06-2012|acessodata=2013-01-29}}</ref>


O [[Acordo de Nkomati]] de 1984, apesar de falhando em seu objectivo de acabar com o apoio sul-africano à RENAMO, abriu contactos diplomáticos iniciais entre os governos moçambicano e sul-africano. Esse processo ganhou impulso com o fim do regime do ''[[apartheid]]'', que culminou com o estabelecimento de relações diplomáticas plenas com a África do Sul em Outubro de 1993. Embora as relações com os vizinhos Zimbábue, [[Maláui]], [[Zâmbia]] e [[Tanzânia]] continuassem ocasionalmente tensas, os laços de Moçambique com esses países continuam fortes.
O [[Acordo de Nkomati]] de 1984, apesar de falhando em seu objectivo de acabar com o apoio sul-africano à RENAMO, abriu contactos diplomáticos iniciais entre os governos moçambicano e sul-africano. Esse processo ganhou impulso com o fim do regime do ''[[apartheid]]'', que culminou com o estabelecimento de relações diplomáticas plenas com a África do Sul em Outubro de 1993. Embora as relações com os vizinhos Zimbábue, [[Maláui]], [[Zâmbia]] e [[Tanzânia]] continuassem ocasionalmente tensas, os laços de Moçambique com esses países continuam fortes.


[[Imagem:Dilma Rousseff e Armando Guebuza 2011.jpg|thumb|esquerda|A ex-[[presidente do Brasil]], [[Dilma Rousseff]] e o ex-presidente [[Armando Guebuza]] em um encontro em [[Maputo]] em outubro de 2011.|alt=A presidente do Brasil, Dilma Rousseff e o presidente Armando Guebuza em um encontro em Maputo em outubro de 2011]]
[[Imagem:Dilma Rousseff e Armando Guebuza 2011.jpg|thumb|esquerda|A ex-[[presidente do Brasil]], [[Dilma Rousseff]] e o ex-presidente [[Armando Guebuza]] em um encontro em [[Maputo]] em outubro de 2011|alt=A presidente do Brasil, Dilma Rousseff e o presidente Armando Guebuza em um encontro em Maputo em outubro de 2011]]


Nos anos imediatamente após a sua independência, Moçambique beneficiou de uma assistência considerável de alguns [[países ocidentais]], especialmente dos [[Escandinávia|escandinavos]]. A [[União Soviética]] e os [[Império Soviético|seus aliados]], no entanto, tornaram-se os principais defensores económicos, militares e políticos de Moçambique e sua política externa reflectia essa ligação. Isso começou a mudar em 1984, quando Moçambique se tornou membro do [[Banco Mundial]] e do [[Fundo Monetário Internacional]] (FMI). A ajuda ocidental através de países escandinavos como [[Suécia]], [[Noruega]], [[Dinamarca]] e [[Islândia]] rapidamente substituiu o apoio soviético. A [[Finlândia]]<ref>[https://web.archive.org/web/20081223005117/http://www.tpk.fi/netcomm/news/showarticle.asp?intNWSAID=71407&intSubArtID=28199 President Halonen: Development aid should be transparent and efficient]. Gabinete do Presidente da Finlândia. tpk.fi</ref> e os [[Países Baixos]] estão se tornando fontes cada vez mais importantes de assistência para o desenvolvimento moçambicano. A [[Itália]] também mantém boas relações com Moçambique, como resultado de seu papel fundamental durante o [[Acordo Geral de Paz|processo de paz]]. As relações com Portugal, a antiga potência colonial, continuarão a ser importantes por muito tempo porque os investidores portugueses desempenham um papel de destaque na economia moçambicana.<ref>{{citar web |url=http://www.ccpm.pt/ |título=África e Moçambique: os próximos anos |editor=Câmara de Comércio Portugal Moçambique |acessodata=04-11-2013}}</ref>
Nos anos imediatamente após a sua independência, Moçambique beneficiou de uma assistência considerável de alguns [[países ocidentais]], especialmente dos [[Escandinávia|escandinavos]]. A [[União Soviética]] e os [[Império Soviético|seus aliados]], no entanto, tornaram-se os principais defensores económicos, militares e políticos de Moçambique e sua política externa reflectia essa ligação. Isso começou a mudar em 1984, quando Moçambique se tornou membro do [[Banco Mundial]] e do [[Fundo Monetário Internacional]] (FMI). A ajuda ocidental através de países escandinavos como [[Suécia]], [[Noruega]], [[Dinamarca]] e [[Islândia]] rapidamente substituiu o apoio soviético. A [[Finlândia]]<ref>{{Citar web|url=http://www.tpk.fi/netcomm/news/showarticle.asp?intNWSAID=71407&intSubArtID=28199|título=President Halonen: Development aid should be transparent and efficient|publicado=Gabinete do Presidente da Finlândia|obra=tpk.fi|wayb=20081223005117|urlmorta=sim}}</ref> e os [[Países Baixos]] estão se tornando fontes cada vez mais importantes de assistência para o desenvolvimento moçambicano. A [[Itália]] também mantém boas relações com Moçambique, como resultado de seu papel fundamental durante o [[Acordo Geral de Paz|processo de paz]]. As relações com Portugal, a antiga potência colonial, continuarão a ser importantes por muito tempo porque os investidores portugueses desempenham um papel de destaque na economia moçambicana.<ref>{{citar web|url=http://www.ccpm.pt/|título=África e Moçambique: os próximos anos|editor=Câmara de Comércio Portugal Moçambique|acessodata=04-11-2013}}</ref>


Moçambique é membro do [[Movimento Não Alinhado]] e está entre os membros moderados do bloco africano nas [[Nações Unidas]] e em outras grandes [[organizações internacionais]]. O país também pertence à [[União Africana]] (antiga [[Organização da Unidade Africana]]) e à [[Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral]]. Em 1994, o governo tornou-se membro de pleno direito da [[Organização da Conferência Islâmica]], em parte para ampliar sua base de apoio internacional, mas também para agradar à considerável população muçulmana do país. Da mesma forma, no início de 1996, Moçambique aderiu com seus vizinhos [[Anglofonia|anglófonos]] à [[Commonwealth|''Commonwealth'' Britânica]] e, na época, era a única nação que entrou para a organização sem nunca ter feito parte do [[Império Britânico]]. No mesmo ano, Moçambique tornou-se membro fundador e primeiro presidente da [[Comunidade de Países de Língua Portuguesa]] (CPLP) e mantém laços [[Império Português|históricos]], económicos, políticos e culturais estreitos com outros [[Lusofonia|países lusófonos]], como [[Portugal]] ou o [[Relações entre Brasil e Moçambique|Brasil]].<ref>[http://www.itamaraty.gov.br/temas/temas-politicos-e-relacoes-bilaterais/africa/mocambique/pdf Relações entre Brasil e Moçambique] {{Wayback|url=http://www.itamaraty.gov.br/temas/temas-politicos-e-relacoes-bilaterais/africa/mocambique/pdf |date=20121010064227 }}. Itamaraty. Acessado em 4 de novembro de 2013.</ref>
Moçambique é membro do [[Movimento Não Alinhado]] e está entre os membros moderados do bloco africano nas [[Nações Unidas]] e em outras grandes [[organizações internacionais]]. O país também pertence à [[União Africana]] (antiga [[Organização da Unidade Africana]]) e à [[Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral]]. Em 1994, o governo tornou-se membro de pleno direito da [[Organização da Conferência Islâmica]], em parte para ampliar sua base de apoio internacional, mas também para agradar à considerável população muçulmana do país. Da mesma forma, no início de 1996, Moçambique aderiu com seus vizinhos [[Anglofonia|anglófonos]] à [[Commonwealth|''Commonwealth'' Britânica]] e, na época, era a única nação que entrou para a organização sem nunca ter feito parte do [[Império Britânico]]. No mesmo ano, Moçambique tornou-se membro fundador e primeiro presidente da [[Comunidade de Países de Língua Portuguesa]] (CPLP) e mantém laços [[Império Português|históricos]], económicos, políticos e culturais estreitos com outros [[Lusofonia|países lusófonos]], como [[Portugal]] ou o [[Relações entre Brasil e Moçambique|Brasil]].<ref>{{Citar web|url=http://www.itamaraty.gov.br/temas/temas-politicos-e-relacoes-bilaterais/africa/mocambique/pdf|título=Relações entre Brasil e Moçambique|wayb=20121010064227|obra=Itamaraty|acessodata=04-11-2013|urlmorta=sim}}</ref>


== Subdivisões ==
== Subdivisões ==
Linha 251: Linha 273:
# [[Maputo (província)|Maputo]] (capital: [[Matola]]).
# [[Maputo (província)|Maputo]] (capital: [[Matola]]).


As províncias estão divididas em 154 [[Distritos de Moçambique por ordem alfabética|distritos]],<ref>{{Citar web |url=http://www.parlamento.mz/noticias/200-criacao-de-novos-distritos-por-provincia-visa-melhorar-a-administracao-do-pais |titulo=Criação de novos distritos por província visa melhorar a administração do País |data=21 de Março de 2013 |acessodata=25 de Junho de 2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140714182539/http://www.parlamento.mz/noticias/200-criacao-de-novos-distritos-por-provincia-visa-melhorar-a-administracao-do-pais |arquivodata=2014-07-14 |urlmorta=yes }}</ref><ref>Lei 26/2013, de 18 de Dezembro, Artigo 3 (Distritos por província)</ref><ref>{{Citar web |url=http://jornaldomingo.co.mz/index.php/nacional/6657-gaza-tem-novos-distritos |titulo=Gaza tem novos distritos|data=17 de fevereiro de 2016 |acessodata=19 de setembro de 2017 |}}</ref> os distritos subdividem-se em 419 [[posto administrativo|postos administrativos]] e estes em 1052 [[Localidade (Moçambique)|localidade]]s, o nível mais baixo da administração local do Estado.<ref>{{Citar web |url=http://www.portaldogoverno.gov.mz/docs_gov/documento/Agenda2025.ptg.pdf |publicado=portaldogoverno.gov.mz |titulo=Agenda 2025, Visão e Estratégias do País, página 8 |acessodata=2010-09-13 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20110728084500/http://www.portaldogoverno.gov.mz/docs_gov/documento/Agenda2025.ptg.pdf |arquivodata=2011-07-28 |urlmorta=yes }}</ref>
As províncias estão divididas em 154 [[Distritos de Moçambique por ordem alfabética|distritos]],<ref>{{Citar web|url=http://www.parlamento.mz/noticias/200-criacao-de-novos-distritos-por-provincia-visa-melhorar-a-administracao-do-pais|titulo=Criação de novos distritos por província visa melhorar a administração do País|data=21-03-2013|acessodata=25-06-2014|wayb=20140714182539|urlmorta=sim}}</ref><ref>Lei 26/2013, de 18 de Dezembro, Artigo 3 (Distritos por província)</ref><ref>{{Citar web|url=http://jornaldomingo.co.mz/index.php/nacional/6657-gaza-tem-novos-distritos|titulo=Gaza tem novos distritos|data=17-02-2016|acessodata=19-09-2017|wayb=20170211115047|urlmorta=sim}}</ref> os distritos subdividem-se em 419 [[posto administrativo|postos administrativos]] e estes em 1052 [[Localidade (Moçambique)|localidade]]s, o nível mais baixo da administração local do Estado.<ref>{{Citar web|url=http://www.portaldogoverno.gov.mz/docs_gov/documento/Agenda2025.ptg.pdf|publicado=portaldogoverno.gov.mz|titulo=Agenda 2025, Visão e Estratégias do País, página 8|acessodata=2010-09-13|wayb=20110728084500|urlmorta=sim}}</ref>


Em Moçambique foram criados até ao momento, 53 [[Lista de municípios de Moçambique por ordem alfabética|municípios]], 33 criados originalmente em 1997, mais 10 em abril de 2008 e mais 10 em Maio de 2013.<ref>{{Citar web |url=http://www.verdade.co.mz/destaques/democracia/37172-mocambique-tem-dez-novas-autarquias |título=Moçambique tem dez novas autarquias |acessodata=02-01-2016}}</ref>
Em Moçambique foram criados até ao momento, 65 [[Lista de municípios de Moçambique por ordem alfabética|municípios]]: 33 criados originalmente em 1997, mais 10 em abril de 2008, mais 10 em Maio de 2013<ref>{{Citar web|url=https://web.archive.org/web/20140525185735/https://verdade.co.mz/destaques/democracia/37172-mocambique-tem-dez-novas-autarquias |título=Moçambique tem dez novas autarquias |publicado=A Verdade|acessodata=02-01-2016}}</ref> e mais 12 em 2022.<ref>{{Citar web|url=https://web.archive.org/web/20221221202440/https://www.parlamento.mz/?p=5583 |título=AR Aprova Lei Que Cria Novas Autarquias Locais |publicado=Assembleia da República |data=14 de Dezembro de 2022 |acessodata=19 de julho de 2023}}</ref>


== Economia ==
== Economia ==
{{artigo principal|Economia de Moçambique}}
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{{Imagem múltipla
[[imagem:Maputo from the CFM building - Maputo do predio do CFM - 2.jpg|thumb|esquerda|[[Maputo]], capital e maior cidade do país]]
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[[Imagem:Mozambique treemap.png|thumb|esquerda|Gráfico dos principais produtos de [[exportação]] do país {{en}}]]
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A moeda oficial é o [[metical]], que substituiu a moeda antiga a uma taxa de mil para um. O metical antigo foi retirado de circulação pelo [[Banco de Moçambique]] até o final de 2012. O [[dólar estadunidense]], o [[rand]] [[sul-africano]] e, recentemente, o [[euro]] também são moedas amplamente aceitas e utilizadas em transações comerciais no país. O salário mínimo legal é de cerca de 60 dólares por mês. Moçambique é membro da [[Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral]] (SADC - sigla em [[Língua inglesa|inglês]]). O protocolo de [[livre comércio]] da SADC visa tornar a região da [[África Austral]] mais competitiva, ao eliminar tarifas e outras barreiras comerciais. Em 2007, o [[Banco Mundial]] falou sobre o "ritmo de crescimento económico inflado" de Moçambique e um estudo conjunto do governo e de doadores internacionais no mesmo afirmou que "Moçambique é geralmente considerado como uma história de sucesso na ajuda humanitária". Também em 2007, o [[Fundo Monetário Internacional]] (FMI) disse que "Moçambique é uma história de sucesso na [[África subsaariana]]." No entanto, apesar deste aparente sucesso, tanto o Banco Mundial quanto a [[UNICEF]] usaram a palavra "paradoxo" para descrever o aumento da [[desnutrição]] infantil crónica em face ao crescimento do PIB moçambicano. Entre 1994 e 2006, o crescimento médio do PIB foi de aproximadamente 8% ao ano, no entanto, o país continua sendo um dos mais pobres e subdesenvolvidos do mundo. Em uma pesquisa de 2006, três quartos dos moçambicanos afirmaram que nos últimos cinco anos a sua situação económica permaneceu a mesma ou tornou-se pior.<ref>Hanlon, Joseph (19 de setembro de 2007). {{citar web | url=http://www.iese.ac.mz/lib/publication/Hanlon,Joseph_Poverty.pdf | título= Is Poverty Decreasing in Mozambique? | publicado=www.iese.ac.mz }}. [[Open University]], Inglaterra. Acessado em 1 de novembro de 2013. {{en}}</ref>
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}}
A moeda oficial é o [[metical]], que substituiu a moeda antiga a uma taxa de mil para um. O metical antigo foi retirado de circulação pelo [[Banco de Moçambique]] até o final de 2012. O [[dólar estadunidense]], o [[rand]] [[sul-africano]] e, recentemente, o [[euro]] também são moedas amplamente aceitas e utilizadas em transações comerciais no país. O salário mínimo legal é de cerca de 60 dólares por mês. Moçambique é membro da [[Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral]] (SADC sigla em [[Língua inglesa|inglês]]). O protocolo de [[livre comércio]] da SADC visa tornar a região da [[África Austral]] mais competitiva, ao eliminar tarifas e outras barreiras comerciais. Em 2007, o [[Banco Mundial]] falou sobre o "ritmo de crescimento económico inflado" de Moçambique e um estudo conjunto do governo e de doadores internacionais no mesmo afirmou que "Moçambique é geralmente considerado como uma história de sucesso na ajuda humanitária". Também em 2007, o [[Fundo Monetário Internacional]] (FMI) disse que "Moçambique é uma história de sucesso na [[África subsaariana]]." No entanto, apesar deste aparente sucesso, tanto o Banco Mundial quanto a [[UNICEF]] usaram a palavra "paradoxo" para descrever o aumento da [[desnutrição]] infantil crónica em face ao crescimento do PIB moçambicano. Entre 1994 e 2006, o crescimento médio do PIB foi de aproximadamente 8% ao ano, no entanto, o país continua sendo um dos mais pobres e subdesenvolvidos do mundo. Em uma pesquisa de 2006, três quartos dos moçambicanos afirmaram que nos últimos cinco anos a sua situação económica permaneceu a mesma ou tornou-se pior.<ref>{{citar web|autor=Hanlon, Joseph|url=http://www.iese.ac.mz/lib/publication/Hanlon,Joseph_Poverty.pdf|data=19-09-2007|título=Is Poverty Decreasing in Mozambique?|publicado=[[Open University]], Inglaterra|acessodata=01-11-2013|lingua=en}}</ref>


O reassentamento de [[refugiados]] da [[Guerra Civil Moçambicana|guerra civil]] e reformas económicas bem sucedidas levaram a uma alta taxa de crescimento: o país teve uma recuperação económica notável, atingindo uma taxa média anual de crescimento do PIB de 8% entre os anos de 1996 e 2006 e entre 6% e 7% no período entre 2006 e 2011.<ref>{{citar web |url=http://www.iceida.is/english/main-activities/mozambique/ |título=Mozambique |língua=en |publicado=Iceida.is |data=01-06-1999 |acessodata=01-11-2013 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20131104193348/http://www.iceida.is/english/main-activities/mozambique/ |arquivodata=2013-11-04 |urlmorta=yes }}</ref> As devastadoras inundações do início de 2000 desaceleraram o crescimento económico para 2,1%, mas uma recuperação completa foi alcançada em 2001, com um crescimento de 14,8%. Uma rápida expansão no futuro dependia de vários grandes projectos de investimento estrangeiro, o prosseguimento das reformas económicas e a revitalização dos sectores de [[turismo]], [[agricultura]] e transportes. Em 2013, cerca de 80% dos habitantes do país estava empregada no sector agrícola, a maioria dos quais dedicados à agricultura de [[subsistência]] em pequena escala,<ref name = Canada>(29 de janeiro de 2013) {{citar web | url=http://www.acdi-cida.gc.ca/mozambique-e | título= Mozambique | publicado=www.acdi-cida.gc.ca }} Canadian International Development Agency. Acessado em 1 de novembro de 2013.</ref> que ainda sofre com uma infraestrutura, redes comerciais e níveis de investimento inadequados. Apesar disso, em 2012, mais de 90% das terras cultiváveis de Moçambique ainda não tinham sido exploradas.<ref name =WorldF>(2 de novembro de 2012) {{citar web | url=http://www.worldfinance.com/strategy/legal-management/mozambiques-appeal-flourishes | título= Mozambique’s appeal flourishes | publicado=www.worldfinance.com }} World Finance. Acessado em 1 de novembro de 2013.</ref> Em 2013, um artigo da [[BBC]] informou que, desde 2009, [[portugueses]] estão a voltar para Moçambique por causa do crescimento da economia local e pela má situação económica de Portugal, devido a [[Crise da dívida pública da Zona Euro|crise da dívida pública]] da [[Zona Euro]].<ref>Akwagyiram, Alexis (5 de abril de 2013) {{citar web | url=http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-22025864 | título= Portugal's unemployed heading to Mozambique 'paradise' | publicado=www.bbc.co.uk }} BBC News Africa. Acessado em 1 de novembro de 2013.</ref>
O reassentamento de [[refugiados]] da [[Guerra Civil Moçambicana|guerra civil]] e reformas económicas bem sucedidas levaram a uma alta taxa de crescimento: o país teve uma recuperação económica notável, atingindo uma taxa média anual de crescimento do PIB de 8% entre os anos de 1996 e 2006 e entre 6% e 7% no período entre 2006 e 2011.<ref>{{citar web|url=http://www.iceida.is/english/main-activities/mozambique/|título=Mozambique|língua=en|publicado=Iceida.is|data=01-06-1999|acessodata=01-11-2013|wayb=20131104193348|urlmorta=sim}}</ref> As devastadoras inundações do início de 2000 desaceleraram o crescimento económico para 2,1%, mas uma recuperação completa foi alcançada em 2001, com um crescimento de 14,8%. Uma rápida expansão no futuro dependia de vários grandes projectos de investimento estrangeiro, o prosseguimento das reformas económicas e a revitalização dos sectores de [[turismo]], [[agricultura]] e transportes. Em 2013, cerca de 80% dos habitantes do país estava empregada no sector agrícola, a maioria dos quais dedicados à agricultura de [[subsistência]] em pequena escala,<ref name = Canada>{{citar web|url=http://www.acdi-cida.gc.ca/mozambique-e|título=Mozambique|data=29-01-2013|publicado=Canadian International Development Agency|acessodata=01-11-2013}}</ref> que ainda sofre com uma infraestrutura, redes comerciais e níveis de investimento inadequados. Apesar disso, em 2012, mais de 90% das terras cultiváveis de Moçambique ainda não tinham sido exploradas.<ref name=WorldF>{{citar web|url=http://www.worldfinance.com/strategy/legal-management/mozambiques-appeal-flourishes|título=Mozambique’s appeal flourishes|data=02-11-2012|publicado=World Finance|acessodata=01-11-2013|wayb=20130310033254|urlmorta=sim}}</ref> Em 2013, um artigo da [[BBC]] informou que, desde 2009, [[portugueses]] estão a voltar para Moçambique por causa do crescimento da economia local e pela má situação económica de Portugal, devido a [[Crise da dívida pública da Zona Euro|crise da dívida pública]] da [[Zona Euro]].<ref>Akwagyiram, Alexis (5 de abril de 2013) {{citar web|url=http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-22025864|título=Portugal's unemployed heading to Mozambique 'paradise'|publicado=BBC News Africa|acessodata=01-11-2013}}</ref>
[[imagem:Mozambique - traditional sailboat.jpg|thumb|direita|Barco pesqueiro tradicional ao largo da costa moçambicana]]
[[imagem:Mozambique - traditional sailboat.jpg|thumb|direita|Barco pesqueiro tradicional ao largo da costa moçambicana]]


Mais de {{formatnum:1200}} empresas estatais (principalmente pequenas) foram [[Privatização|privatizadas]] no país. Os preparativos para a privatização e/ou liberalização do sector estão em andamento para as restantes empresas estatais, como as dos sectores de telecomunicações, energia, portos e ferrovias. O governo frequentemente selecciona um investidor estrangeiro estratégico quando quer privatizar uma estatal. Além disso, os direitos [[Aduana|aduaneiros]] foram reduzidos e a gestão aduaneira foi simplificada e reformada. O governo introduziu um imposto sobre valor agregado, em 1999, como parte de seus esforços para aumentar as receitas internas. Em 2012, grandes reservas de gás natural foram descobertas em Moçambique, receitas que podem mudar drasticamente a economia do país.<ref>{{citar web |url=http://online.wsj.com/article/BT-CO-20120509-716501.html |arquivourl=https://web.archive.org/web/20120512141113/http://online.wsj.com/article/BT-CO-20120509-716501.html |arquivodata=2012-05-12 |obra=WSJ.com |acessodata=10 de maio de 2012 |data=09-05-2012 |título=UPDATE: Mozambique Talks To Shell On Developing LNG |autor=Flynn, Alexis |urlmorta=no }}</ref>
Mais de {{formatnum:1200}} empresas estatais (principalmente pequenas) foram [[Privatização|privatizadas]] no país. Os preparativos para a privatização e/ou liberalização do sector estão em andamento para as restantes empresas estatais, como as dos sectores de telecomunicações, energia, portos e ferrovias. O governo frequentemente selecciona um investidor estrangeiro estratégico quando quer privatizar uma estatal. Além disso, os direitos [[Aduana|aduaneiros]] foram reduzidos e a gestão aduaneira foi simplificada e reformada. O governo introduziu um imposto sobre valor agregado, em 1999, como parte de seus esforços para aumentar as receitas internas. Em 2012, grandes reservas de gás natural foram descobertas em Moçambique, receitas que podem mudar drasticamente a economia do país.<ref>{{citar web|url=http://online.wsj.com/article/BT-CO-20120509-716501.html|wayb=20120512141113|obra=WSJ|acessodata=10-05-2012|data=09-05-2012|título=UPDATE: Mozambique Talks To Shell On Developing LNG|autor=Flynn, Alexis|urlmorta=sim}}</ref>


No entanto, a [[economia de Moçambique]] tem sido abalada por uma série de escândalos de [[corrupção política]]. Em julho de 2011, o governo propôs novas leis anticorrupção para criminalizar o [[peculato]], o [[tráfico de influência]] e a corrupção, depois de inúmeros casos de desvio de dinheiro público. Esta legislação foi aprovada pelo Conselho de Ministros do país. Moçambique condenou dois ex- ministros por corrupção desde 2011.<ref>{{citar web|url=http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hZuxkSpKgin_BueKk3H5zJZlAGPg?docId=CNG.259d978e5386bee2f4d1714fe4a141a2.6a1 |título=Mozambique proposes new anti-corruption laws |autor =AFP|publicado=Google News|data=27 de julho de 2011}}</ref> Moçambique foi classificado no 123º lugar entre 174 países no [[Índice de Percepção de Corrupção]] de 2012 feito pela [[Transparência Internacional]].<ref>{{citar web |url=http://cpi.transparency.org/cpi2012/results/ |título=[[Índice de Percepção de Corrupção]] |data=2012 |editor=[[Transparência Internacional]] |acessodata=01-11-2013}}</ref> De acordo com um relatório de 2005 feito pela [[Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional]] (USAID - sigla em inglês), "a escala e o âmbito da corrupção em Moçambique constituem um motivo de alerta."<ref>{{citar web |url=http://maputo.usembassy.gov/uploads/images/q3naBGGSYz8BsCXguSD5Pw/Final_Report-Mozambique__Corruption_Assessment-without_internal_rec.pdf |título=CORRUPTION ASSESSMENT: MOZAMBIQU |publicado=USAID |data=16 de dezembro de 2005 |acessodata=2013-11-01 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20160303174654/http://maputo.usembassy.gov/uploads/images/q3naBGGSYz8BsCXguSD5Pw/Final_Report-Mozambique__Corruption_Assessment-without_internal_rec.pdf |arquivodata=2016-03-03 |urlmorta=yes }}</ref>
No entanto, a [[economia de Moçambique]] tem sido abalada por uma série de escândalos de [[corrupção política]]. Em julho de 2011, o governo propôs novas leis anticorrupção para criminalizar o [[peculato]], o [[tráfico de influência]] e a corrupção, depois de inúmeros casos de desvio de dinheiro público. Esta legislação foi aprovada pelo Conselho de Ministros do país. Moçambique condenou dois ex-ministros por corrupção desde 2011.<ref>{{citar web|url=http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hZuxkSpKgin_BueKk3H5zJZlAGPg?docId=CNG.259d978e5386bee2f4d1714fe4a141a2.6a1|título=Mozambique proposes new anti-corruption laws|autor=AFP|publicado=Google News|data=27-07-2011|wayb=20120525083716|urlmorta=sim}}</ref> Moçambique foi classificado no 123º lugar entre 174 países no [[Índice de Percepção de Corrupção]] de 2012 feito pela [[Transparência Internacional]].<ref>{{citar web|url=http://cpi.transparency.org/cpi2012/results/|título=[[Índice de Percepção de Corrupção]]|ano=2012|editor=[[Transparência Internacional]]|acessodata=01-11-2013|wayb=20121206210727|urlmorta=sim}}</ref> De acordo com um relatório de 2005 feito pela [[Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional]] (USAID sigla em inglês), "a escala e o âmbito da corrupção em Moçambique constituem um motivo de alerta."<ref>{{citar web|url=http://maputo.usembassy.gov/uploads/images/q3naBGGSYz8BsCXguSD5Pw/Final_Report-Mozambique__Corruption_Assessment-without_internal_rec.pdf|título=CORRUPTION ASSESSMENT: MOZAMBIQU|publicado=USAID|data=16-12-2005|acessodata=2013-11-01|wayb=20160303174654|urlmorta=sim}}</ref>


== Infraestrutura ==
== Infraestrutura ==
=== Saúde ===
=== Saúde ===
[[Imagem:Number of patients on Anti Retroviral Treatment in Mozambique 2003-2011.jpg|thumb|esquerda|Gráfico do aumento do número de moçambicanos portadores do [[HIV]] e que estão a fazer o tratamento [[antirretroviral]] (2003-2014)]]
[[Imagem:Number of patients on Anti Retroviral Treatment in Mozambique 2003-2011.jpg|thumb|esquerda|Gráfico do aumento do número de moçambicanos portadores do [[HIV]] e que estão a fazer o tratamento [[antirretroviral]] (2003–2014)]]
A [[taxa de fecundidade]] moçambicana é de cerca de 5,5 nascimentos por mulher. O gasto público em saúde foi de 2,7% do PIB em 2004, enquanto que as despesas privadas em saúde somaram 1,3% no mesmo ano. Os gastos com assistência médica ''per capita'' era de 42 dólares ([[Paridade_do_poder_de_compra|PPC]]) em 2004. No início do {{séc|XXI}}, havia três médicos por 100 mil habitantes de Moçambique e a [[mortalidade infantil]] era de 100 por mil nascimentos em 2005.<ref name="hdrstats.undp.org">{{citar web |url=http://hdrstats.undp.org/en/countries/data_sheets/cty_ds_MOZ.html |título=Human Development Report 2009 – Mozambique |publicado=Hdrstats.undp.org |acessodata=02-05-2010 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20100130152549/http://hdrstats.undp.org/en/countries/data_sheets/cty_ds_MOZ.html |arquivodata=2010-01-30 |urlmorta=yes }}</ref>
A [[taxa de fecundidade]] moçambicana é de cerca de 5,5 nascimentos por mulher. O gasto público em saúde foi de 2,7% do PIB em 2004, enquanto que as despesas privadas em saúde somaram 1,3% no mesmo ano. Os gastos com assistência médica ''per capita'' era de 42 dólares ([[Paridade do poder de compra|PPC]]) em 2004. No início do {{séc|XXI}}, havia três médicos por 100 mil habitantes de Moçambique e a [[mortalidade infantil]] era de 100 por mil nascimentos em 2005.<ref name="hdrstats.undp.org">{{citar web|url=http://hdrstats.undp.org/en/countries/data_sheets/cty_ds_MOZ.html|título=Human Development Report 2009 – Mozambique|publicado=Hdrstats.undp.org|acessodata=02-05-2010|wayb=20100130152549|urlmorta=sim}}</ref>


Após a sua [[Guerra de Independência de Moçambique|independência de Portugal]] em 1975, o governo de Moçambique estabeleceu um sistema de assistência médica primária, que foi citado pela [[Organização Mundial da Saúde]] (OMS) como um modelo para outros [[países em desenvolvimento]].<ref>Walt, G., & Melamed, A. (1983). Toward a people's health service. London: Zed Books ISBN 0862321298.</ref> Mais de 90% da população havia sido vacinada. Durante o período do início dos anos 1980, cerca de 11% do orçamento do governo era voltado para gastos com saúde.<ref>{{citar periódico|autor =Gloyd, S. |ano=1996|título=Confrontation, co-operation or co-optation: NGOS and the Ghanaian state during structural adjustment|periódico= Review of African Political Economy|volume= 68|páginas= 149–168|jstor=4006246}}</ref> No entanto, a [[guerra civil moçambicana]] levou o sistema de saúde primária a um grande retrocesso. Entre os alvos dos ataques da [[RENAMO]] às infraestruturas do governo entre 1980 e 1992 estavam instalações médicas e educacionais.<ref name="Pfeiffer. J. 2003">{{citar periódico|pmid=12560007|ano=2003|último1 =Pfeiffer|primeiro1 =J|título=International NGOs and primary health care in Mozambique: The need for a new model of collaboration|volume=56|número=4|páginas=725–38|periódico=Social science & medicine (1982)}}</ref>
Após a sua [[Guerra de Independência de Moçambique|independência de Portugal]] em 1975, o governo de Moçambique estabeleceu um sistema de assistência médica primária, que foi citado pela [[Organização Mundial da Saúde]] (OMS) como um modelo para outros [[países em desenvolvimento]].<ref>Walt, G., & Melamed, A. (1983). Toward a people's health service. London: Zed Books ISBN 0862321298.</ref> Mais de 90% da população havia sido vacinada. Durante o período do início dos anos 1980, cerca de 11% do orçamento do governo era voltado para gastos com saúde.<ref>{{citar periódico|autor=Gloyd, S.|ano=1996|título=Confrontation, co-operation or co-optation: NGOS and the Ghanaian state during structural adjustment|periódico=Review of African Political Economy|volume=68|páginas=149–168|jstor=4006246}}</ref> No entanto, a [[guerra civil moçambicana]] levou o sistema de saúde primária a um grande retrocesso. Entre os alvos dos ataques da [[RENAMO]] às infraestruturas do governo entre 1980 e 1992 estavam instalações médicas e educacionais.<ref name="Pfeiffer. J. 2003">{{citar periódico|pmid=12560007|ano=2003|último=Pfeiffer|primeiro=J.|título=International NGOs and primary health care in Mozambique: The need for a new model of collaboration|volume=56|número=4|páginas=725–38|periódico=Social science & medicine (1982)}}</ref>


Em Junho de 2011, o [[Fundo de População das Nações Unidas]] divulgou um relatório sobre o estado da [[obstetrícia]] no mundo. O documento contém dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países do mundo. A taxa de mortalidade materna por 100 mil habitantes em Moçambique era de 550 em 2010, comparado com 598,8 em 2008 e com 385 registrado em 1990. A taxa de mortalidade em menores de 5 anos por {{formatnum:1000}} nascimentos é de 147. O objetivo deste relatório é destacar maneiras para que os [[Objectivos de Desenvolvimento do Milénio]] da [[ONU]] possam ser alcançados, especialmente os objectivos 4 (reduzir a mortalidade infantil) e 5 (diminuir a taxa de morte materna). Em Moçambique, o número de [[parteira]]s por 1 000 nascidos vivos é de 3 e o risco de morte para mulheres grávidas é de 1 em 37.<ref name="SOWMY">{{citar web|url=http://www.unfpa.org/sowmy/report/home.html|título=The State of the World's Midwifery|publicado=[[Fundo de População das Nações Unidas]]|data=Agosto de 2011|acessodata=03-11-2013}}</ref>
Em Junho de 2011, o [[Fundo de População das Nações Unidas]] divulgou um relatório sobre o estado da [[obstetrícia]] no mundo. O documento contém dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países do mundo. A taxa de mortalidade materna por 100 mil habitantes em Moçambique era de 550 em 2010, comparado com 598,8 em 2008 e com 385 registrado em 1990. A taxa de mortalidade em menores de 5 anos por {{formatnum:1000}} nascimentos é de 147. O objetivo deste relatório é destacar maneiras para que os [[Objectivos de Desenvolvimento do Milénio]] da [[ONU]] possam ser alcançados, especialmente os objectivos 4 (reduzir a mortalidade infantil) e 5 (diminuir a taxa de morte materna). Em Moçambique, o número de [[parteira]]s por 1 000 nascidos vivos é de 3 e o risco de morte para mulheres grávidas é de 1 em 37.<ref name="SOWMY">{{citar web|url=http://www.unfpa.org/sowmy/report/home.html|título=The State of the World's Midwifery|publicado=[[Fundo de População das Nações Unidas]]|data=08-2011|acessodata=03-11-2013}}</ref>
[[Imagem:Luabo hospital (4754619071).jpg|thumb|Hospital local da cidade de Luabo, no distrito de [[Chinde (distrito)|Chinde]]]]
[[Imagem:Luabo hospital (4754619071).jpg|thumb|Hospital local da cidade de Luabo, no distrito de [[Chinde (distrito)|Chinde]]]]


A taxa oficial de prevalência da [[epidemia]] de [[HIV]] na população moçambicana em 2011 foi de 11,5% na faixa etária entre 15 e 49 anos (uma referência comum para as estatísticas de HIV). Este é um valor mais baixo do que o observado em vários dos países vizinhos da [[África Austral]]. Para as partes do sul do país (províncias de [[Maputo (província)|Maputo]] e [[Gaza (província)|Gaza]]), os números oficiais são mais do que o dobro da média nacional. Em 2011, as autoridades de saúde estimaram que cerca de 1,7 milhões de moçambicanos eram portadores do vírus HIV, dos quais 600 mil estavam sob tratamento [[antirretroviral]]. Em dezembro de 2011, 240 mil pessoas estavam recebendo esse tratamento, e 416 mil pessoas em março 2014. De acordo com o relatório da [[UNAIDS]] de 2011, a epidemia de HIV/[[SIDA]] em Moçambique parece estar a estabilizar.<ref>[http://www.unaids.org/en/media/unaids/contentassets/documents/unaidspublication/2011/JC2216_WorldAIDSday_report_2011_en.pdf UNAIDS World AIDS Day Report 2011]. UNAIDS.org. Acessado em 3 de novembro de 2013.</ref>
A taxa oficial de prevalência da [[epidemia]] de [[HIV]] na população moçambicana em 2011 foi de 11,5% na faixa etária entre 15 e 49 anos (uma referência comum para as estatísticas de HIV). Este é um valor mais baixo do que o observado em vários dos países vizinhos da [[África Austral]]. Para as partes do sul do país (províncias de [[Maputo (província)|Maputo]] e [[Gaza (província)|Gaza]]), os números oficiais são mais do que o dobro da média nacional. Em 2011, as autoridades de saúde estimaram que cerca de 1,7 milhões de moçambicanos eram portadores do vírus HIV, dos quais 600 mil estavam sob tratamento [[antirretroviral]]. Em dezembro de 2011, 240 mil pessoas estavam recebendo esse tratamento, e 416 mil pessoas em março 2014. De acordo com o relatório da [[UNAIDS]] de 2011, a epidemia de HIV/[[SIDA]] em Moçambique parece estar a estabilizar.<ref>[http://www.unaids.org/en/media/unaids/contentassets/documents/unaidspublication/2011/JC2216_WorldAIDSday_report_2011_en.pdf UNAIDS World AIDS Day Report 2011]. UNAIDS.org. Acessado em 3 de novembro de 2013.</ref>


Através de [[ONG]]s de muitos países em desenvolvimento, Moçambique é apoiado pelo resto do mundo. Devido as dificuldades de gestão da ajuda externa e da desigualdade da comunidade local, as ONGs fragmentam o sistema de assistência médica primária do país.<ref>{{citar web|último =Pfeiffer|primeiro =James|título=International NGOs and primary health care in Mozambique: the need for a new model of collaboration|url=http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277953602000680|acessodata=03-11-2013}}</ref> O pesquisador de saúde James Pfeiffer argumenta que, além de instalar uma nova estratégia de gestão da ajuda, um novo paradigma de cooperação deve ser constituído, a fim de facilitar o intercâmbio entre os trabalhadores humanitários e os trabalhadores de saúde locais no mundo em desenvolvimento. O novo paradigma vai ajudar a promover um impacto positivo duradouro sobre as instituições de saúde locais e fortalecer o relacionamento profissional entre os trabalhadores da saúde.<ref name="Pfeiffer. J. 2003"/>
Através de [[ONG]]s de muitos países em desenvolvimento, Moçambique é apoiado pelo resto do mundo. Devido as dificuldades de gestão da ajuda externa e da desigualdade da comunidade local, as ONGs fragmentam o sistema de assistência médica primária do país.<ref>{{citar web|último=Pfeiffer|primeiro=James|título=International NGOs and primary health care in Mozambique: the need for a new model of collaboration|url=http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277953602000680|acessodata=03-11-2013}}</ref> O pesquisador de saúde James Pfeiffer argumenta que, além de instalar uma nova estratégia de gestão da ajuda, um novo paradigma de cooperação deve ser constituído, a fim de facilitar o intercâmbio entre os trabalhadores humanitários e os trabalhadores de saúde locais no mundo em desenvolvimento. O novo paradigma vai ajudar a promover um impacto positivo duradouro sobre as instituições de saúde locais e fortalecer o relacionamento profissional entre os trabalhadores da saúde.<ref name="Pfeiffer. J. 2003"/>


=== Segurança alimentar ===
=== Segurança alimentar ===
Estima-se que 64% da população de Moçambique sofre de [[insegurança alimentar]]. Este problema prevalece principalmente na região sul do país, onde cerca de 75% da população sofre desse mal. Moçambique está entre os 16 países com “mais alto risco de apresentar níveis crescentes de fome aguda”, diante de um cenário global, onde novos recordes nos níveis de fome no país apenas aumentam.<ref>International Human Development Indicators. (pt: Indicadores Internacionais de Desenvolvimento Humano.)</ref><ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www.worldbank.org/en/country/mozambique |titulo=Mozambique at a glance. |acessodata=25/02/2011 |publicado=Banco Mundial}}</ref><ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www.fao.org/countryprofiles/index/en/?lang=fr&iso3=MOZ&subj=1&paia= |titulo=Country Profiles: Mozambique |data= |acessodata= |publicado=Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).}}</ref><ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://news.un.org/pt/story/2020/11/1731992#:~:text=Nova%20onda%20de%20deslocamento%20interno,uma%20crise%20humanit%C3%A1ria%20em%20Mo%C3%A7ambique.&text=Mo%C3%A7ambique%20est%C3%A1%20entre%2016%20pa%C3%ADses,n%C3%ADveis%20de%20inseguran%C3%A7a%20alimentar%20aguda. |titulo=Moçambique entre países que requerem urgência para enfrentar bolsões de fome |data= |acessodata=28/12/2020 |publicado=}}</ref>
Estima-se que 64% da população de Moçambique sofre de [[insegurança alimentar]]. Este problema prevalece principalmente na região sul do país, onde cerca de 75% da população sofre desse mal. Moçambique está entre os 16 países com “mais alto risco de apresentar níveis crescentes de fome aguda”, diante de um cenário global, onde novos recordes nos níveis de fome no país apenas aumentam.<ref>International Human Development Indicators. (pt: Indicadores Internacionais de Desenvolvimento Humano.)</ref><ref>{{citar web|url=https://www.worldbank.org/en/country/mozambique|titulo=Mozambique at a glance|acessodata=25/02/2011|publicado=Banco Mundial}}</ref><ref>{{citar web|url=https://www.fao.org/countryprofiles/index/en/?lang=fr&iso3=MOZ&subj=1&paia= |titulo=Country Profiles: Mozambique|publicado=Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).}}</ref><ref>{{citar web|url=https://news.un.org/pt/story/2020/11/1731992|titulo=Moçambique entre países que requerem urgência para enfrentar bolsões de fome|data=06-11-2020|acessodata=28/12/2020|publicado=ONU News}}</ref>


A saúde em Moçambique, é fortemente afetada pela [[insegurança alimentar]] do país. De acordo com o [[Relatório de Desenvolvimento Humano]] de 2009 do [[Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]], cerca de 55% da população de Moçambique vive na pobreza, quase metade é analfabeta, 40% é subnutrida, apenas 47% têm acesso a água potável e existe uma [[Esperança de vida|expectativa de vida ao nascer]] de apenas 59 anos. Moçambique classificou-se em [[Lista de países por Índice de Desenvolvimento Humano|180º lugar entre 188 países]] no [[Índice de Desenvolvimento Humano]] (IDH). Muito disso é resultado da [[insegurança alimentar]] no país.<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://datatopics.worldbank.org/world-development-indicators/ |titulo=World Development Indicators. (pt: Indicadores de Desenvolvimento Mundial) |data= |acessodata=28/12/2020 |publicado=}}</ref><ref>{{citar web |ultimo=PNUD |primeiro= |url=https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0/rankings/idh-global.html |titulo=Ranking IDH Global 2014 |data= |acessodata= |publicado=}}</ref><ref>Garrett, James L.; Ruel, Marie T. (1999-11-01). "Are Determinants of Rural and Urban Food Security and Nutritional Status Different? Some Insights from Mozambique". ''World Development''. '''27''' (11): 1955–1975. CiteSeerX 10.1.1.30.8143. doi:10.1016/S0305-750X(99)00091-1.</ref>
A saúde em Moçambique, é fortemente afetada pela [[insegurança alimentar]] do país. De acordo com o [[Relatório de Desenvolvimento Humano]] de 2009 do [[Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento]], cerca de 55% da população de Moçambique vive na pobreza, quase metade é analfabeta, 40% é subnutrida, apenas 47% têm acesso a água potável e existe uma [[Esperança de vida|expectativa de vida ao nascer]] de apenas 59 anos. Moçambique classificou-se em [[Lista de países por Índice de Desenvolvimento Humano|180º lugar entre 188 países]] no [[Índice de Desenvolvimento Humano]] (IDH). Muito disso é resultado da [[insegurança alimentar]] no país.<ref>{{citar web|url=https://datatopics.worldbank.org/world-development-indicators/|titulo=World Development Indicators. (pt: Indicadores de Desenvolvimento Mundial)|acessodata=28/12/2020}}</ref><ref>{{citar web|autor=PNUD|url=https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0/rankings/idh-global.html|titulo=Ranking IDH Global 2014}}</ref><ref>Garrett, James L.; Ruel, Marie T. (1999-11-01). "Are Determinants of Rural and Urban Food Security and Nutritional Status Different? Some Insights from Mozambique". ''World Development''. '''27''' (11): 1955–1975. CiteSeerX 10.1.1.30.8143. doi:10.1016/S0305-750X(99)00091-1.</ref>


O país tem uma das taxas de prevalência de [[Síndrome da imunodeficiência adquirida|AIDS]] mais altas do mundo. A prevalência do vírus em Moçambique é mais um ponto de vulnerabilidade para as famílias de baixa renda da zona rural do país; o mesmo agrava níveis de pobreza e malnutrição extremos. Esses fatores colocam em risco a produção agrícola do país. Cerca de 15% de mulheres grávidas entre os 15 e 49 anos de idade estão infetadas pelo vírus. A epidemia tem um carácter heterogêneo em termos geográficos e socioeconômicos. A principal via de transmissão continua a ser sexual em cerca de 90% dos casos em adultos.<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www.dw.com/pt-002/hiv-sida-em-mo%C3%A7ambique/t-17422644#:~:text=Em%20Cabo%20Delgado%2C%20no%20norte,em%20toda%20a%20regi%C3%A3o%20norte.17422644#:~:text=Em%20Cabo%20Delgado%2C%20no%20norte,em%20toda%20a%20regi%C3%A3o%20norte. |titulo=HIV-SIDA em Moçambique |data=11/12/2020 |acessodata=28/12/2020 |publicado=Deutsch Welle (DW)}}</ref>
O país tem uma das taxas de prevalência de [[Síndrome da imunodeficiência adquirida|AIDS]] mais altas do mundo. A prevalência do vírus em Moçambique é mais um ponto de vulnerabilidade para as famílias de baixa renda da zona rural do país; o mesmo agrava níveis de pobreza e malnutrição extremos. Esses fatores colocam em risco a produção agrícola do país. Cerca de 15% de mulheres grávidas entre os 15 e 49 anos de idade estão infetadas pelo vírus. A epidemia tem um carácter heterogêneo em termos geográficos e socioeconômicos. A principal via de transmissão continua a ser sexual em cerca de 90% dos casos em adultos.<ref>{{citar web|url=https://www.dw.com/pt-002/hiv-sida-em-mo%C3%A7ambique/t-17422644|titulo=HIV-SIDA em Moçambique|data=11/12/2020|acessodata=28/12/2020|publicado=Deutsch Welle (DW)|wayb=20170101084533}}</ref>


A agricultura familiar no país, constitui a atividade econômica de grande parte da população, podendo alcançar mais de 75% dos cidadãos. Sendo assim com mais de metade da sua população dependente da agricultura para viver, a segurança alimentar de Moçambique pode ser extremamente volátil e descontrolada. 90% das terras são compostas por fazendas de 10 hectares ou menos e a produção agrícola em grande escala é praticamente inexistente. O país sofre de múltiplas [[Praga biológica|pragas]]. A mais devastadora de longe para a agricultura é o [[Gafanhoto Vermelho|gafanhoto vermelho]], que é endêmico na bacia do [[rio Púnguè]].<ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://www.dn.pt/lusa/pragas-destruiram-mais-de-um-terco-de-culturas-agricolas-em-mocambique-nos-ultimos-11-meses-9183576.html |titulo=Pragas destruíram mais de um terço de culturas agrícolas em Moçambique nos últimos 11 meses |data= |acessodata=28/12/2020 |publicado=}}</ref><ref>{{citar periódico |titulo=Agricultura familiar em Moçambique: ideologias e políticas |acessodata=28/12/2020 |jornal=Agricultura familiar em Moçambique: ideologias e políticas |publicado= |ultimo=Mosca |primeiro=João |pagina=2 |url=https://revista.fct.unesp.br/index.php/nera/article/viewFile/5296/4057}}</ref>
A agricultura familiar no país, constitui a atividade econômica de grande parte da população, podendo alcançar mais de 75% dos cidadãos. Sendo assim com mais de metade da sua população dependente da agricultura para viver, a segurança alimentar de Moçambique pode ser extremamente volátil e descontrolada. 90% das terras são compostas por fazendas de 10 hectares ou menos e a produção agrícola em grande escala é praticamente inexistente. O país sofre de múltiplas [[Praga biológica|pragas]]. A mais devastadora de longe para a agricultura é o [[Gafanhoto Vermelho|gafanhoto vermelho]], que é endêmico na bacia do [[rio Púnguè]].<ref>{{citar web|url=https://www.dn.pt/lusa/pragas-destruiram-mais-de-um-terco-de-culturas-agricolas-em-mocambique-nos-ultimos-11-meses-9183576.html|titulo=Pragas destruíram mais de um terço de culturas agrícolas em Moçambique nos últimos 11 meses|data=13-03-2018|acessodata=28/12/2020 |publicado=DN}}</ref><ref>{{citar periódico|titulo=Agricultura familiar em Moçambique: ideologias e políticas|acessodata=28/12/2020|jornal=Agricultura familiar em Moçambique: ideologias e políticas|ultimo=Mosca|primeiro=João|pagina=2|url=https://revista.fct.unesp.br/index.php/nera/article/viewFile/5296/4057}}</ref>


A geografia de Moçambique é particularmente vulnerável a [[Desastre natural|desastres naturais]], como [[seca]]s e [[Inundação|enchentes]], com um total de 15 nos últimos 25 anos. Esses eventos prejudicaram muito o setor rural e a economia geral do país. As inundações de 2000, por exemplo, afetaram cerca de 2 milhões de pessoas, enquanto as secas de 1994 e 1996 afetaram 1,5 milhão nas partes sul e centro do país. Embora o país e o restante do [[África|continente africano]] estejam longe de ser os maiores emissores de gases de [[efeito estufa]], são os que mais têm sofrido e estão entre os mais vulneráveis aos impactos das [[Mudança do clima|mudanças climáticas globais]]. Além disso, poderão ser os mais afetados pela degradação da terra que tem acontecido em diferentes partes do mundo. Os pobres são particularmente vulneráveis aos riscos induzidos pelo clima simplesmente em virtude de sua pobreza. Os praticantes da [[agricultura familiar]] têm poucos bens para vender e o seu consumo já é baixo, por isso, em tempos de escassez, não têm muito para os proteger da [[insegurança alimentar]]. Moçambique tem um sistema relativamente bem desenvolvido de planos de preparação para desastres a nível distrital. Projetos financiados por doadores e pelo Sistema Nacional de Alerta Rápido ajudam o governo a lidar com os problemas no país.<ref>The World Bank. Mozambique Agricultural Development Strategy Stimulating Smallholder Agricultural Growth.</ref><ref>{{citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://exame.com/ciencia/mocambique-busca-ajuda-da-ciencia-na-prevencao-de-desastres-naturais/ |titulo=Moçambique busca ajuda da ciência na prevenção de desastres naturais |data= |acessodata=28/12/2020 |publicado=Exame}}</ref>
A geografia de Moçambique é particularmente vulnerável a [[Desastre natural|desastres naturais]], como [[seca]]s e [[Inundação|enchentes]], com um total de 15 nos últimos 25 anos. Esses eventos prejudicaram muito o setor rural e a economia geral do país. As inundações de 2000, por exemplo, afetaram cerca de 2 milhões de pessoas, enquanto as secas de 1994 e 1996 afetaram 1,5 milhão nas partes sul e centro do país. Embora o país e o restante do [[África|continente africano]] estejam longe de ser os maiores emissores de gases de [[efeito estufa]], são os que mais têm sofrido e estão entre os mais vulneráveis aos impactos das [[Mudança do clima|mudanças climáticas globais]]. Além disso, poderão ser os mais afetados pela degradação da terra que tem acontecido em diferentes partes do mundo. Os pobres são particularmente vulneráveis aos riscos induzidos pelo clima simplesmente em virtude de sua pobreza. Os praticantes da [[agricultura familiar]] têm poucos bens para vender e o seu consumo já é baixo, por isso, em tempos de escassez, não têm muito para os proteger da [[insegurança alimentar]]. Moçambique tem um sistema relativamente bem desenvolvido de planos de preparação para desastres a nível distrital. Projetos financiados por doadores e pelo Sistema Nacional de Alerta Rápido ajudam o governo a lidar com os problemas no país.<ref>The World Bank. Mozambique Agricultural Development Strategy Stimulating Smallholder Agricultural Growth.</ref><ref>{{citar web|url=https://exame.com/ciencia/mocambique-busca-ajuda-da-ciencia-na-prevencao-de-desastres-naturais/|titulo=Moçambique busca ajuda da ciência na prevenção de desastres naturais|data=10-05-2019|acessodata=28/12/2020|publicado=Exame}}</ref>


=== Educação ===
=== Educação ===
[[Imagem:Mozambique school.jpg|thumb|Estudantes em frente a uma escola em [[Nampula]]]]
[[Imagem:Mozambique school.jpg|thumb|Estudantes em frente a uma escola em [[Nampula]]]]


Desde a independência do domínio português em 1975, a construção e a formação de professores escolares não acompanhou o aumento da população. Especialmente após a [[Guerra Civil de Moçambique]] (1977-1992), com matrículas no pós-guerra atingindo máximos históricos devido à estabilidade e o crescimento da população jovem, a qualidade da educação ainda é precária. Todos os moçambicanos são obrigados por lei a frequentar a escola de [[Ensino primário|nível primário]], no entanto, um grande número de crianças moçambicanas não vão à escola primária, porque têm de trabalhar para subsistência de suas famílias.<ref name="Educação">[https://web.archive.org/web/20070627011343/http://www.dfid.gov.uk/casestudies/files/africa/mozambique-primary-schools.asp Key facts], Department for International Development (DFID), parte do Governo do Reino Unido (24 de maio de 2007). Acessado em 3 de novembro de 2013.</ref>
Desde a independência do domínio português em 1975, a construção e a formação de professores escolares não acompanhou o aumento da população. Especialmente após a [[Guerra Civil de Moçambique]] (1977–1992), com matrículas no pós-guerra atingindo máximos históricos devido à estabilidade e o crescimento da população jovem, a qualidade da educação ainda é precária. Todos os moçambicanos são obrigados por lei a frequentar a escola de [[Ensino primário|nível primário]], no entanto, um grande número de crianças moçambicanas não vão à escola primária, porque têm de trabalhar para subsistência de suas famílias.<ref name="Educação">{{Citar web|url=http://www.dfid.gov.uk/casestudies/files/africa/mozambique-primary-schools.asp|título=Key facts|publicado=Department for International Development (DFID), parte do Governo do Reino Unido|data=24-05-2007|acessodata=03-11-2013|wayb=20070627011343|urlmorta=sim}}</ref>


Em 2007, um milhão de crianças ainda não iam à escola, a maioria delas de famílias rurais pobres, e quase a metade de todos os professores em Moçambique ainda estavam desqualificados. A escolarização de meninas aumentou de três milhões em 2002 para 4,1 milhões em 2006, enquanto a taxa de conclusão aumentou de 31 mil para 90 mil.<ref name="Educação"/>
Em 2007, um milhão de crianças ainda não iam à escola, a maioria delas de famílias rurais pobres, e quase a metade de todos os professores em Moçambique ainda estavam desqualificados. A escolarização de meninas aumentou de três milhões em 2002 para 4,1 milhões em 2006, enquanto a taxa de conclusão aumentou de 31 mil para 90 mil.<ref name="Educação"/>
Linha 302: Linha 331:
=== Transportes ===
=== Transportes ===
{{VT|Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique}}
{{VT|Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique}}
{{Imagem múltipla
[[Ficheiro:Maputo–Katembe_bridge_from_the_norther_shore;_July_2018.jpg|thumb|[[Ponte Maputo–Katembe]], a maior [[ponte suspensa]] de África]]
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[[imagem:Steam locomotive Inhambane.jpg|thumb|[[Locomotiva a vapor]] em [[Inhambane]], 2009]]
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[[imagem:LAM Boeing 737-200Adv C9-BAK JNB 2005-12-2.png|thumb|Avião das [[Linhas Aéreas de Moçambique]]]]
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Existem mais de {{fmtn|30000}} quilómetros de estradas, mas grande parte da rede não é pavimentada. Como nos seus vizinhos da [[Commonwealth]], o [[sentido de circulação de tráfego]] em Moçambique é pela esquerda com os condutores do lado direito dos automóveis, sendo portanto um dos únicos dois países lusófonos a possuir esta característica (o outro é [[Timor-Leste]]). Existe um aeroporto internacional em Maputo, 21 outros aeroportos pavimentados e mais de 100 pistas de aterragem com pistas não pavimentadas.<ref name="CIA" />
| image1 = Maputo–Katembe bridge from the norther shore; July 2018.jpg
| image2 = Steam locomotive Inhambane.jpg
| image3 = LAM Boeing 737-200Adv C9-BAK JNB 2005-12-2.png
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}}

Existem mais de {{fmtn|30000}} km de estradas, mas grande parte da rede não é pavimentada. Como nos seus vizinhos da [[Commonwealth]], o [[sentido de circulação de tráfego]] em Moçambique é pela esquerda com os condutores do lado direito dos automóveis, sendo portanto um dos únicos dois países lusófonos a possuir esta característica (o outro é [[Timor-Leste]]). Existe um aeroporto internacional em Maputo, 21 outros aeroportos pavimentados e mais de 100 pistas de aterragem com pistas não pavimentadas.<ref name="CIA" />


Na costa do [[Oceano Índico]] existem vários grandes portos marítimos, incluindo [[Nacala]], [[Beira (Moçambique)|Beira]] e [[Maputo]]. Existem {{fmtn|3750}} quilómetros de vias navegáveis ​​interiores, assim como ligações ferroviárias que servem as principais cidades e ligam o país ao [[Maláui]], ao [[Zimbabué]] e à [[África do Sul]]. O sistema ferroviário moçambicano foi desenvolvido ao longo de mais de um século a partir de três portos diferentes no Oceano Índico que serviram como terminais para linhas separadas para o interior. As estradas de ferro foram os principais alvos durante a [[Guerra Civil Moçambicana]], foram sabotadas pela [[RENAMO]] e estão a ser reabilitadas. Uma autoridade paraestatal, a [[Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique]], supervisiona o sistema ferroviário e os seus portos conectados, mas a gestão tem sido largamente terceirizada. Cada linha tem seu próprio corredor de desenvolvimento.<ref name="CIA" />
Na costa do [[Oceano Índico]] existem vários grandes portos marítimos, incluindo [[Nacala]], [[Beira (Moçambique)|Beira]] e [[Maputo]]. Existem {{fmtn|3750}} km de vias navegáveis interiores, assim como ligações ferroviárias que servem as principais cidades e ligam o país ao [[Maláui]], ao [[Zimbabué]] e à [[África do Sul]]. O sistema ferroviário moçambicano foi desenvolvido ao longo de mais de um século a partir de três portos diferentes no Oceano Índico que serviram como terminais para linhas separadas para o interior. As estradas de ferro foram os principais alvos durante a [[Guerra Civil Moçambicana]], foram sabotadas pela [[RENAMO]] e estão a ser reabilitadas. Uma autoridade paraestatal, a [[Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique]], supervisiona o sistema ferroviário e os seus portos conectados, mas a gestão tem sido largamente terceirizada. Cada linha tem seu próprio corredor de desenvolvimento.<ref name="CIA" />


Em 2005, havia {{fmtn|3123}} quilómetros de via férrea, consistindo de {{fmtn|2983}} quilómetros de bitola de [[Bitola japonesa|1.067 mm]] (3 pés e 6 polegadas), compatível com sistemas ferroviários vizinhos e uma linha de 140 quilómetros de bitola de 762&nbsp;mm (2 pés e 6 polegadas), a Ferrovia de Gaza.<ref name="CIA">{{citar web|url=https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/mz.html#Econ|título=The World Factbook — Central Intelligence Agency|website=www.cia.gov}}</ref> A rota central da Corporação Ferroviária da Beira liga o porto da Beira aos países sem litoral do Maláui, [[Zâmbia]] e Zimbabué. A norte deste, o porto de Nacala também está ligado por via férrea ao Maláui e, ao sul, Maputo está ligado ao Zimbabué e à África do Sul. Essas redes interconectam-se apenas através de países vizinhos. Uma nova rota para o transporte de carvão entre [[Tete (cidade)|Tete]] e Beira estava planeada para entrar em serviço em 2010<ref>{{citar web|url=http://allafrica.com/stories/200807010992.html|título=Mozambique: Australian Company Plans New Coal Mine in Tete By 2010|publicado=Allafrica.com|acessodata=24 de dezembro de 2014}}</ref> e, em agosto de 2010, Moçambique e [[Botswana|Botsuana]] assinaram um memorando de entendimento para desenvolver uma estrada de ferro de {{fmtn|1100}} quilómetros através do Zimbabué, para transportar carvão de [[Serule]] até um porto de águas profundas na vila de Techobanine, em Moçambique.<ref>{{citar web|url=http://www.railwaygazette.com/nc/news/single-view/view/pointers-september-2010.html
Em 2005, havia {{fmtn|3123}} km de via férrea, consistindo de {{fmtn|2983}} km de bitola de [[Bitola japonesa|1 067 mm]] (3 pés e 6 polegadas), compatível com sistemas ferroviários vizinhos e uma linha de 140 km de bitola de 762&nbsp;mm (2 pés e 6 polegadas), a Ferrovia de Gaza.<ref name="CIA">{{citar web|url=https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/mz.html#Econ|título=The World Factbook — Central Intelligence Agency|website=CIA|wayb=20131021003727|urlmorta=sim}}</ref> A rota central da Corporação Ferroviária da Beira liga o porto da Beira aos países sem litoral do Maláui, [[Zâmbia]] e Zimbabué. A norte deste, o porto de Nacala também está ligado por via férrea ao Maláui e, ao sul, Maputo está ligado ao Zimbabué e à África do Sul. Essas redes interconectam-se apenas através de países vizinhos. Uma nova rota para o transporte de carvão entre [[Tete (cidade)|Tete]] e Beira estava planeada para entrar em serviço em 2010<ref>{{citar web|url=http://allafrica.com/stories/200807010992.html|título=Mozambique: Australian Company Plans New Coal Mine in Tete By 2010|publicado=Allafrica.com|acessodata=24-12-2014}}</ref> e, em agosto de 2010, Moçambique e [[Botswana|Botsuana]] assinaram um memorando de entendimento para desenvolver uma estrada de ferro de {{fmtn|1100}} km através do Zimbabué, para transportar carvão de [[Serule]] até um porto de águas profundas na vila de Techobanine, em Moçambique.<ref>{{citar web|url=http://www.railwaygazette.com/nc/news/single-view/view/pointers-september-2010.html|acessodata=2010-09-10|título=Railway Gazette: Pointers September 2010}}</ref>
|acessodata=2010-09-10|título=Railway Gazette: Pointers September 2010}}</ref>


== Cultura ==
== Cultura ==


Moçambique é reconhecido pelos seus [[arte|artistas]] plásticos: [[escultura|escultores]] (principalmente da etnia [[Makonde]]) e [[pintura|pintores]] (inclusive em tecido, técnica [[batik]]). Artistas como [[Malangatana]], [[Gemuce]], [[Naguib]], Ismael Abdula, Samat e [[Idasse]] destacam-se na área de pintura. A [[música]] vocal moçambicana também impressiona os visitantes. A [[timbila chope]] foi considerada [[Património Mundial]].
Moçambique é reconhecido pelos seus [[arte|artistas]] plásticos: [[escultura|escultores]] (principalmente da etnia [[Makonde]]) e [[pintura|pintores]] (inclusive em tecido, técnica [[batik]]). Artistas como [[Malangatana]], Gemuce, [[Naguib]], Ismael Abdula, Samat e [[Idasse]] destacam-se na área de pintura. A [[música]] vocal moçambicana também impressiona os visitantes. A [[timbila chope]] foi considerada [[Património Mundial]].


=== Artes ===
=== Artes ===
{{Mais informações|Música de Moçambique}}
{{Artigo principal|Música de Moçambique}}
[[Imagem:Mozambique - mask.jpg|thumb|upright|esquerda|Moçambicana a utilizar uma tradicional máscara da etnia [[Macuas|macua]]]]
[[Imagem:Mozambique - mask.jpg|thumb|upright|esquerda|Moçambicana a utilizar uma tradicional máscara da etnia [[Macuas|macua]]]]
A música de Moçambique pode servir a muitos propósitos, que vão desde a expressão religiosa até cerimônias tradicionais. Os instrumentos musicais são geralmente feitos à mão e incluem tambores feitos de madeira e pele de animal, como a lupembe, um instrumento de sopro feito de chifres de animais ou madeira, e a [[marimba]], que é uma espécie de [[xilofone]] nativo. A marimba é um instrumento popular entre os [[chopes]] da costa centro-sul moçambicana, que são famosos por sua habilidade musical e de dança. A música de Moçambique é semelhante ao ''[[reggae]]'' e ao [[Calipso (gênero musical)|calipso]] [[caribe]]nho. Outros tipos de música são populares em Moçambique, como a [[marrabenta]] e outros tipos de música [[Lusofonia|lusófona]], como o [[fado]], o [[samba]], a [[bossa nova]] e o [[maxixe]].<ref name="Lonely Planet"/>
A música de Moçambique pode servir a muitos propósitos, que vão desde a expressão religiosa até cerimônias tradicionais. Os instrumentos musicais são geralmente feitos à mão e incluem tambores feitos de madeira e pele de animal, como a lupembe, um instrumento de sopro feito de chifres de animais ou madeira, e a [[marimba]], que é uma espécie de [[xilofone]] nativo. A marimba é um instrumento popular entre os [[chopes]] da costa centro-sul moçambicana, que são famosos por sua habilidade musical e de dança. A música de Moçambique é semelhante ao ''[[reggae]]'' e ao [[Calipso (gênero musical)|calipso]] [[caribe]]nho. Outros tipos de música são populares em Moçambique, como a [[marrabenta]] e outros tipos de música [[Lusofonia|lusófona]], como o [[fado]], o [[samba]], a [[bossa nova]] e o [[maxixe]].<ref name="Lonely Planet"/>


Os [[macondes]] são famosos por suas máscaras e esculturas elaboradas de madeira, que são geralmente usadas ​​em danças tradicionais. Existem dois tipos diferentes de esculturas em madeira: as ''shetani'' (espíritos malignos), que são em sua maioria esculpidas em [[ébano]], e as ''ujamaa'', que são esculturas em forma de [[totem]] que ilustram rostos realistas de pessoas e de várias figuras. Essas esculturas são geralmente referidas como "árvores genealógicas", porque contam histórias de muitas gerações.<ref name="Lonely Planet"/>
Os [[macondes]] são famosos por suas máscaras e esculturas elaboradas de madeira, que são geralmente usadas em danças tradicionais. Existem dois tipos diferentes de esculturas em madeira: as ''shetani'' (espíritos malignos), que são em sua maioria esculpidas em [[ébano]], e as ''ujamaa'', que são esculturas em forma de [[totem]] que ilustram rostos realistas de pessoas e de várias figuras. Essas esculturas são geralmente referidas como "árvores genealógicas", porque contam histórias de muitas gerações.<ref name="Lonely Planet"/>


Durante os últimos anos do período colonial, a arte moçambicana refletiu a opressão pelo poder colonial e tornou-se símbolo da resistência. Após a independência em 1975, a arte moderna passou para uma nova fase. Os dois artistas moçambicanos contemporâneos mais conhecidos e mais influentes são o pintor [[Malangatana Ngwenya]] e o escultor [[Alberto Chissano]]. Uma boa parte da arte pós- independência, durante os anos 1980 e 1990, reflete a luta política, a guerra civil, o sofrimento, a fome e a luta.<ref name="Lonely Planet"/>
Durante os últimos anos do período colonial, a arte moçambicana refletiu a opressão pelo poder colonial e tornou-se símbolo da resistência. Após a independência em 1975, a arte moderna passou para uma nova fase. Os dois artistas moçambicanos contemporâneos mais conhecidos e mais influentes são o pintor [[Malangatana Ngwenya]] e o escultor [[Alberto Chissano]]. Uma boa parte da arte pós- independência, durante os anos 1980 e 1990, reflete a luta política, a guerra civil, o sofrimento, a fome e a luta.<ref name="Lonely Planet"/>


Danças tradicionais são geralmente complexas e altamente desenvolvidas em todo o país. Há muitos tipos diferentes de danças tribais, que geralmente são ritualísticas por natureza. Os chopes, por exemplo, atuam em batalhas vestidos com peles de animais. Os homens [[macuas]] vestem roupas e máscaras coloridas, dançando sobre palafitas ao redor da aldeia por horas. Grupos de mulheres na parte norte do país realizam uma dança tradicional chamado ''tufo'', para comemorar feriados [[Islamismo|islâmicos]].<ref name="Lonely Planet">{{citar livro
Danças tradicionais são geralmente complexas e altamente desenvolvidas em todo o país. Há muitos tipos diferentes de danças tribais, que geralmente são ritualísticas por natureza. Os chopes, por exemplo, atuam em batalhas vestidos com peles de animais. Os homens [[macuas]] vestem roupas e máscaras coloridas, dançando sobre palafitas ao redor da aldeia por horas. Grupos de mulheres na parte norte do país realizam uma dança tradicional chamado ''tufo'', para comemorar feriados [[Islamismo|islâmicos]].<ref name="Lonely Planet">{{citar livro|último=Fitzpatrick|primeiro=Mary|título=Mozambique|publicado=[[Lonely Planet]]|local=Londres|ano=2007|página=33|url=http://books.google.co.uk/books?id=DVvRHCBtS9sC|isbn=1-74059-188-7}}
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[[Imagem:Mia_Couto_cropped.jpg|thumb|upright|Escritor [[Mia Couto]]]]
[[Imagem:Mia_Couto_cropped.jpg|thumb|upright|Escritor [[Mia Couto]]]]


A literatura moçambicana obteve um maior desenvolvimento no período colonial, lidando com temas nacionalistas. Os escritores mais importantes dessa fase foram [[Rui de Noronha]] e [[Noémia de Sousa]]. [[José Craveirinha]] iniciou-se na literatura na década de 1940, abordando temas da realidade social dos moçambicanos em seus poemas, e provocou a rebelião. É considerado o mais importante poeta moçambicano. José Craveirinha recebeu o Prémio Camões em 1991.<ref name="PE">{{citar web | url = http://www.pluraleditores.co.mz/PLE04_ing.asp?area=3 | titulo = Writers: José Craveirinha | publicado = Plural Editores | lingua = inglês | acessodata = 21 de novembro de 2009 | arquivourl = https://web.archive.org/web/20141227004652/http://www.pluraleditores.co.mz/PLE04_ing.asp?area=3 | arquivodata = 2014-12-27 | urlmorta = yes }}</ref>
A literatura moçambicana obteve um maior desenvolvimento no período colonial, lidando com temas nacionalistas. Os escritores mais importantes dessa fase foram [[Rui de Noronha]] e [[Noémia de Sousa]]. [[José Craveirinha]] iniciou-se na literatura na década de 1940, abordando temas da realidade social dos moçambicanos em seus poemas, e provocou a rebelião. É considerado o mais importante poeta moçambicano. José Craveirinha recebeu o Prémio Camões em 1991.<ref name="PE">{{citar web|url=http://www.pluraleditores.co.mz/PLE04_ing.asp?area=3|titulo=Writers: José Craveirinha|publicado=Plural Editores|lingua=en|acessodata=21-11-2009|wayb=20141227004652|urlmorta=sim}}</ref>


[[Mia Couto]], que também ganhou o Prêmio Camões, em 2013, é um dos principais escritores da era contemporânea em Moçambique. Nascido em [[Beira (Moçambique)|Beira]], recebeu o [[Prêmio Literário Internacional Neustadt]] em 2014, tendo sido um dos dois únicos escritores de [[língua portuguesa]] a receber tal honraria.<ref>{{citar web|url=http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/mia-couto-distinguido-com-premio-internacional-de-literatura-neustadt-1611149|título=Mia Couto distinguido com prémio internacional de literatura Neustadt|publicado=Público.pt|acessodata=8-8-2017}}</ref>
[[Mia Couto]], que também ganhou o Prêmio Camões, em 2013, é um dos principais escritores da era contemporânea em Moçambique. Nascido em [[Beira (Moçambique)|Beira]], recebeu o [[Prêmio Literário Internacional Neustadt]] em 2014, tendo sido um dos dois únicos escritores de [[língua portuguesa]] a receber tal honraria.<ref>{{citar web|url=http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/mia-couto-distinguido-com-premio-internacional-de-literatura-neustadt-1611149|título=Mia Couto distinguido com prémio internacional de literatura Neustadt|publicado=Público.pt|acessodata=8-8-2017}}</ref>


Tem-se que uma parte significativa da produção literária moçambicana se deve aos poetas da chamada "literatura europeia". Estes poetas são aqueles que, sendo etnicamente [[caucasianos]], centram toda, ou quase toda a temática de suas obras nos problemas cotidianos de Moçambique, exercendo expressiva influência na identidade nacional do país. Alberto de Lacerda, Reinaldo Ferreira, Glória Sant'Anna, António Quadros, Sebastião Alba e Luis Carlos Patraquim são alguns dos escritores pertencentes a este grupo literário.<ref name="Literatura em Moçambique">{{citar web|url = http://lusofonia.x10.mx/Mocambique.htm | titulo = A poesia moçambicana contemporânea |publicado = plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo (Lusofonia) |acessodata=05-12-2018}}</ref>
Tem-se que uma parte significativa da produção literária moçambicana se deve aos poetas da chamada "literatura europeia". Estes poetas são aqueles que, sendo etnicamente [[caucasianos]], centram toda, ou quase toda a temática de suas obras nos problemas cotidianos de Moçambique, exercendo expressiva influência na identidade nacional do país. Alberto de Lacerda, Reinaldo Ferreira, Glória Sant'Anna, António Quadros, Sebastião Alba e Luis Carlos Patraquim são alguns dos escritores pertencentes a este grupo literário.<ref name="Literatura em Moçambique">{{citar web|url=http://lusofonia.x10.mx/Mocambique.htm|titulo=A poesia moçambicana contemporânea|publicado=plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo (Lusofonia)|acessodata=05-12-2018|wayb=20160312142243|urlmorta=sim}}</ref>


=== Culinária ===
=== Culinária ===
{{Vertambém|Gastronomia de Portugal|Culinária da África|Culinária do Brasil}}
{{Vertambém|Gastronomia de Portugal|Culinária da África|Culinária do Brasil}}
Depois de quase 500 anos de colonização, os [[portugueses]] impactaram significativamente a cozinha moçambicana. Culturas como a [[mandioca]] (raiz amido de origem [[brasil]]eira), [[castanha de caju]] (também de origem brasileira, embora Moçambique já tenha sido o maior produtor deste produto) e o pãozinho, que são [[Pão francês|pães franceses]] trazidos pelos portugueses. O uso de [[especiaria]]s e [[tempero]]s, como [[cebola]], [[Loureiro|louro]], [[alho]], [[coentro]], [[páprica]], [[pimenta]], [[pimentão]] vermelho e vinho foram introduzidos também pelos portugueses, assim como [[cana-de-açúcar|cana de açúcar]], [[milho]], [[milheto]], [[arroz]], [[sorgo]] (um tipo de grama) e [[batata]]s. [[Prego (culinária)|Prego]] (rolo de carne), [[rissole]], espetada ([[kebab]]), [[pudim]] e o popular Inteiro com piripiri (frango inteiro com molho da planta piri piri), são todos os pratos portugueses comumente consumidos pela população atual de Moçambique.<ref name="Culinária">{{citar web |url=http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/307-colonizacao-e-independencia-em-mocambique-habitos-alimentares-em-mudanca |título=Colonização e independência em Moçambique: hábitos alimentares em mudança |data=14 de setembro de 2009 |autor=Tomás Adriano Sitoe |editor=Slow Food Brasil |acessodata=03-11-2013}}</ref>
Depois de quase 500 anos de colonização, os [[portugueses]] impactaram significativamente a cozinha moçambicana. Culturas como a [[mandioca]] (raiz amido de origem [[brasil]]eira), [[castanha de caju]] (também de origem brasileira, embora Moçambique já tenha sido o maior produtor deste produto) e o pãozinho, que são [[Pão francês|pães franceses]] trazidos pelos portugueses. O uso de [[especiaria]]s e [[tempero]]s, como [[cebola]], [[Loureiro|louro]], [[alho]], [[coentro]], [[páprica]], [[pimenta]], [[pimentão]] vermelho e vinho foram introduzidos também pelos portugueses, assim como [[cana-de-açúcar|cana de açúcar]], [[milho]], [[milheto]], [[arroz]], [[sorgo]] (um tipo de grama) e [[batata]]s. [[Prego (culinária)|Prego]] (rolo de carne), [[rissole]], espetada ([[kebab]]), [[pudim]] e o popular Inteiro com piripiri (frango inteiro com molho da planta piri piri), são todos os pratos portugueses comumente consumidos pela população atual de Moçambique.<ref name="Culinária">{{citar web|url=http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/307-colonizacao-e-independencia-em-mocambique-habitos-alimentares-em-mudanca|título=Colonização e independência em Moçambique: hábitos alimentares em mudança|data=14-09-2009|autor=Tomás Adriano Sitoe|editor=Slow Food Brasil|acessodata=03-11-2013|wayb=20131104135706|urlmorta=sim}}</ref>


=== Comunicações ===
=== Comunicações ===
[[imagem:Radio Moçambique (4106248049).jpg|thumb|esquerda|Sede da [[Rádio Moçambique]]]]
[[imagem:Radio Moçambique (4106248049).jpg|thumb|esquerda|Sede da [[Rádio Moçambique]]]]
A mídia moçambicana é fortemente influenciada pelo governo.<ref name="salgado">{{citar livro|último =Salgado|primeiro =Susana|título=The Internet and Democracy Building in Lusophone African Countries|publicado=Ashgate|url=https://books.google.com/books?id=WC3jBAAAQBAJ&pg=PA79|página=79|ano=2014}}</ref> Os jornais têm taxas de circulação relativamente baixas, devido aos altos preços e às baixas taxas de [[alfabetização]].<ref name="salgado"/> Entre os jornais mais divulgados estão os diários controlados pelo Estado, como o ''Noticias'' e o ''Diário de Moçambique'', e o semanário ''Domingo''.<ref name="eisa">{{citar livro|autor =Matsimbe, Zefanias |ano=2009 |capítulo=Ch. 9: Mozambique|editor=Denis Kadima and Susan Booysen |título=Compendium of Elections in Southern Africa 1989–2009: 20 Years of Multiparty Democracy|publicado=EISA, Johannesburg|páginas= 319–321|url=http://www.content.eisa.org.za/old-page/mozambique-mass-media |arquivourl=https://web.archive.org/web/20140228040157/http://www.content.eisa.org.za/old-page/mozambique-mass-media |urlmorta= sim|arquivodata=2014-02-28 }}</ref> A sua circulação está principalmente confinada a [[Maputo]].<ref>{{citar livro|último1 =Mário|primeiro1 =Tomás Vieira|último2 =UNESCO|título=Assessment of Media Development in Mozambique: Based on UNESCO's Media Development Indicators|url=https://books.google.com/books?id=sAd5d8P_GfkC|publicado=UNESCO|ano=2011|página=123}}</ref> A maior parte do financiamento e da receita de publicidade é dada a jornais pró-governo.<ref name="salgado"/> No entanto, o número de jornais privados com opiniões críticas aumentou significativamente nos últimos anos.<ref name="eisa"/>
A mídia moçambicana é fortemente influenciada pelo governo.<ref name="salgado">{{citar livro|último=Salgado|primeiro=Susana|título=The Internet and Democracy Building in Lusophone African Countries|publicado=Ashgate|local=Farnham|url=https://books.google.com/books?id=WC3jBAAAQBAJ&pg=PA79|página=79|ano=2014}}</ref> Os jornais têm taxas de circulação relativamente baixas, devido aos altos preços e às baixas taxas de [[alfabetização]].<ref name="salgado"/> Entre os jornais mais divulgados estão os diários controlados pelo Estado, como o ''Noticias'' e o ''Diário de Moçambique'', e o semanário ''Domingo''.<ref name="eisa">{{citar livro|autor=Matsimbe, Zefanias|ano=2009|capítulo=Ch. 9: Mozambique|editor=Denis Kadima and Susan Booysen|título=Compendium of Elections in Southern Africa 1989–2009: 20 Years of Multiparty Democracy|publicado=EISA|local=Johanesburgo|páginas=319–321|url=http://www.content.eisa.org.za/old-page/mozambique-mass-media|wayb=20140228040157|urlmorta=sim}}</ref> A sua circulação está principalmente confinada a [[Maputo]].<ref>{{citar livro|último=Mário|primeiro=Tomás Vieira|último2=UNESCO|título=Assessment of Media Development in Mozambique: Based on UNESCO's Media Development Indicators|url=https://books.google.com/books?id=sAd5d8P_GfkC|publicado=UNESCO|local=Paris|ano=2011|página=123}}</ref> A maior parte do financiamento e da receita de publicidade é dada a jornais pró-governo.<ref name="salgado"/> No entanto, o número de jornais privados com opiniões críticas aumentou significativamente nos últimos anos.<ref name="eisa"/>


Os programas de [[Rádio (telecomunicações)|rádio]] são a forma mais influente de mídia no país devido à sua facilidade de acesso.<ref name="salgado"/> As estações de rádio estatais servem um número de ouvintes superior ao das rádios privadas. A [[Rádio Moçambique]] é a emissora com o maior número de ouvintes<ref name="salgado"/> e que foi criada pouco depois da independência de Moçambique.<ref>{{citar livro|último =Berg|primeiro =Jerome S.|título=Broadcasting on the Short Waves, 1945 to Today|url=https://books.google.com/books?id=Ux9fZj6izuEC&pg=PA221|publicado=McFarland|página=221|isbn=978-0786469024}}</ref>
Os programas de [[Rádio (telecomunicações)|rádio]] são a forma mais influente de mídia no país devido à sua facilidade de acesso.<ref name="salgado"/> As estações de rádio estatais servem um número de ouvintes superior ao das rádios privadas. A [[Rádio Moçambique]] é a emissora com o maior número de ouvintes<ref name="salgado"/> e que foi criada pouco depois da independência de Moçambique.<ref>{{citar livro|último=Berg|primeiro=Jerome S.|título=Broadcasting on the Short Waves, 1945 to Today|url=https://books.google.com/books?id=Ux9fZj6izuEC&pg=PA221|publicado=McFarland|local=Jefferson|página=221|isbn=978-0786469024}}</ref>


As estações de TV vistas pelos moçambicanos são, entre outras, a [[Televisão de Moçambique|TVM]], a [[Soico Televisão|STV]] e a [[TV Miramar (Moçambique)|TV Miramar]]. Através de cabo e satélite, os telespectadores podem acessar dezenas de outros canais africanos, asiáticos, brasileiros e europeus.{{carece de fontes|data=fevereiro de 2019}}
As estações de TV vistas pelos moçambicanos são, entre outras, a [[Televisão de Moçambique|TVM]], a [[Soico Televisão|STV]] e a [[TV Miramar (Moçambique)|TV Miramar]]. Através de cabo e satélite, os telespectadores podem acessar dezenas de outros canais africanos, asiáticos, brasileiros e europeus.{{carece de fontes|data=fevereiro de 2019}}


=== Desportos ===
=== Desportos ===
O jogador português [[Eusébio]] (nascido em Moçambique antes da independência) foi avançado da selecção Portuguesa no [[Campeonato do Mundo de 1966]], levando [[Selecção portuguesa de futebol|Portugal]] às semifinais. A atleta [[Maria de Lurdes Mutola]] ganhou duas medalhas olímpicas nos 800 metros, uma [[medalha de bronze]] nas [[Jogos Olímpicos de Verão de 1996|Olimpíadas de 1996]], em [[Atlanta]] e uma [[medalha de ouro]], nas [[Jogos Olímpicos de Verão de 2000|Olimpíadas de 2000]], na [[Austrália]]. Os desportos mais populares de Moçambique são [[basquetebol]], [[futebol]] e [[atletismo]]. A jogadora de [[basquetebol]] [[Clarisse Machanguana]] jogou na [[WNBA]]. A [[Selecção Moçambicana de Futebol|selecção moçambicana de futebol]] disputou quatro vezes a [[copa das nações africanas]], mas nunca disputou uma taça do mundo.
O jogador português [[Eusébio]] (nascido em Moçambique antes da independência) foi avançado da selecção Portuguesa no [[Campeonato do Mundo de 1966]], levando [[Selecção portuguesa de futebol|Portugal]] às semifinais. A atleta [[Maria de Lurdes Mutola]] ganhou duas medalhas olímpicas nos 800 metros, uma [[medalha de bronze]] nas [[Jogos Olímpicos de Verão de 1996|Olimpíadas de 1996]], em [[Atlanta]] e uma [[medalha de ouro]], nas [[Jogos Olímpicos de Verão de 2000|Olimpíadas de 2000]], na [[Austrália]]. Os desportos mais populares de Moçambique são [[basquetebol]], [[futebol]] e [[atletismo]]. A jogadora de [[basquetebol]] [[Clarisse Machanguana]] jogou na [[WNBA]]. A [[Selecção Moçambicana de Futebol|selecção moçambicana de futebol]] disputou quatro vezes a [[Copa das Nações Africanas]], mas nunca disputou uma taça do mundo.


=== Feriados ===
=== Feriados ===
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* [[Constituição da República de Moçambique]]
* [[Constituição da República de Moçambique]]


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* Merle Bowen, ''The State against the Peasantry: Rural struggles in colonial and postcolonial Mozambique'', Charlottesville & Londres, University Press of Virginia, 2000
* Merle Bowen, ''The State against the Peasantry: Rural struggles in colonial and postcolonial Mozambique'', Charlottesville & Londres, University Press of Virginia, 2000
* {{Citar livro|último=Briggs|primeiro=Philip|último2=Edmunds|primeiro2=Danny|ano=2007|título=Mozambique|editora=Bradt Travel Guides|local=Chalfont St. Peter|ISBN=978-1-84162-177-7|ref=harv}}
* {{Citar livro|último=Brown|primeiro=Christopher L.|último2=Morgan|primeiro2=Philip D.|último3=Lehrman|primeiro3=Gilder|título=Arming slaves: from classical times to the modern age|ano=2006|editora=Yale University Press|local=Londres|ISBN=9780300134858|ref=harv}}
* {{Citar livro|último=Cabrita|nome=João M.|título=Mozambique: the tortuous road to democracy|ano=2000|editora=Palgrave Macmillan|local=Londres|ref=harv}}
* {{citar web|último=Clarence-Smith|primeiro=W. G.|título=The Third Portuguese Empire, 1825–1975: A Study in Economic Imperialism|ano=1985|editora=Manchester University Press|local=Oxford Road|ISBN=9780719017193|ref=harv}}
* {{citar livro|último=Fage|primeiro=John Donnelly|último2=Roberts|primeiro2=A. D.|último3=Oliver|primeiro3=Roland Anthony|título=The Cambridge history of Africa|editora=Cambridge University Press|volume=7|ISBN=978-0-521-22505-2|local=Cambridge|ano=1986|ref=harv}}
* José Fialho Feliciano, ''Antropologia económica dos Thonga do sul de Moçambique'', Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique, 1998
* José Fialho Feliciano, ''Antropologia económica dos Thonga do sul de Moçambique'', Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique, 1998
* Christian Geffray, ''A causa das armas'', Porto: Afrontamento, 1991 (guerra civil em Moçambique)
* Christian Geffray, ''A causa das armas'', Porto: Afrontamento, 1991 (guerra civil em Moçambique)
* {{Citar livro|último=Martin|nome=David|último2=Phyllis|nome2=Johnson|título=The Struggle for Zimbabwe|local=Londres|editora=Faber and Faber|ano=1981|ISBN=978-0-571-11066-7|ref=harv}}
* João Mosca, ''Economia de Moçambique, {{séc|XX}}'', Lisboa: Instituto Piaget, 2005
* João Mosca, ''Economia de Moçambique, {{séc|XX}}'', Lisboa: Instituto Piaget, 2005
* Malyn Newitt, ''História de Moçambique'', Lisboa: Ed. Europa-América, 1997
* Malyn Newitt, ''História de Moçambique'', Lisboa: Ed. Europa-América, 1997
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* Paul Southern, ''Portugal: The Scramble for Africa''. Bromley, Galago Books, 2010
* Paul Southern, ''Portugal: The Scramble for Africa''. Bromley, Galago Books, 2010
* Vitor Lourenço, ''Moçambique: memórias sociais de ontem, dilemas políticos de hoje'', Lisboa: CEA/Gerpress, 2009.
* Vitor Lourenço, ''Moçambique: memórias sociais de ontem, dilemas políticos de hoje'', Lisboa: CEA/Gerpress, 2009.
* David Martin; Johnson Phyllis, ''The Struggle for Zimbabwe''. London, Faber and Faber, Julho de 1981. ISBN 978-0-571-11066-7
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== Ligações externas ==
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Revisão das 16h02min de 21 de junho de 2024

 Nota: Este artigo é sobre o país. Para a ilha, veja Ilha de Moçambique. Para a dança, veja Moçambique (dança).
República de Moçambique
Moçambique
Bandeira de Moçambique
Bandeira de Moçambique
Emblema Nacional de Moçambique
Emblema Nacional de Moçambique
Bandeira Emblema
Hino nacional: Pátria Amada
Gentílico: moçambicano(a)

Localização de Moçambique
Localização de Moçambique

Capital Maputo
Cidade mais populosa Maputo
Língua oficial Português[1][nota 1]
Governo República unitária semipresidencialista sob um sistema de partido dominante
• Presidente Filipe Nyusi
• Primeiro-ministro Adriano Maleiane
Independência de Portugal
• Data 25 de junho de 1975
Área
  • Total 801 590 km² (35.º)
 Fronteira Tanzânia, Zâmbia, Maláui, Essuatíni, Zimbábue e África do Sul.
População
 • Censo 2017 27 909 798[2] hab. 
 • Densidade 34,8 hab./km²
PIB (base PPC) Estimativa de 2017
 • Total US$ 36,734 mil milhões *[3]
 • Per capita US$ 1 243[3]
PIB (nominal) Estimativa de 2017
 • Total US$ 12,681 mil milhões *[3]
 • Per capita US$ 429[3]
IDH (2021) 0,446 (185.º) – baixo[4]
Gini (2014) 54[5]
Moeda Metical (MZN)
Fuso horário (UTC+2)
Cód. ISO MOZ
Cód. Internet .mz
Cód. telef. +258
Website governamental www.portaldogoverno.gov.mz

Moçambique, oficialmente designado como República de Moçambique, é um país localizado no sudeste do continente Africano, banhado pelo oceano Índico a leste e que faz fronteira com a Tanzânia ao norte; Maláui e Zâmbia a noroeste; Zimbábue a oeste e Essuatíni e África do Sul a sudoeste. A capital e maior cidade do país é Maputo, anteriormente chamada de Lourenço Marques, durante o domínio português.

Entre o primeiro e o século V, povos bantus migraram de regiões do norte e oeste para essa região. Portos comerciais suaílis e, mais tarde, árabes, existiram no litoral moçambicano até a chegada dos europeus. A área foi reconhecida por Vasco da Gama em 1498 e em 1505 foi anexada pelo Império Português. Depois de mais de quatro séculos de domínio português, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, transformando-se na República Popular de Moçambique pouco tempo depois. Após apenas dois anos de independência, o país mergulhou em uma guerra civil intensa e prolongada que durou de 1977 a 1992. Em 1994, o país realizou as suas primeiras eleições multipartidárias e manteve-se como uma república presidencial relativamente estável desde então.

Moçambique é dotado de ricos e extensos recursos naturais. A economia do país é baseada principalmente na agricultura, mas o sector industrial, principalmente na fabricação de alimentos, bebidas, produtos químicos, alumínio e petróleo, está crescendo. O sector de turismo do país também está em crescimento. A África do Sul é o principal parceiro comercial de Moçambique e a principal fonte de investimento directo estrangeiro. Portugal, Brasil, Espanha e Bélgica também estão entre os mais importantes parceiros económicos do país. Desde 2001, a taxa média de crescimento económico anual do produto interno bruto (PIB) moçambicano tem sido uma das mais altas do mundo. No entanto, as taxas de PIB per capita, índice de desenvolvimento humano (IDH), desigualdade de renda e expectativa de vida de Moçambique ainda estão entre as piores do planeta,[4] enquanto a Organização das Nações Unidas (ONU) considera Moçambique um dos países menos desenvolvidos do mundo.[6]

A única língua oficial de Moçambique é o português, que é falado principalmente como segunda língua por cerca de metade da população. Entre as línguas nativas mais comuns estão o macua, o tsonga, ndau, chuabo e o sena. A população de cerca de 30 milhões de pessoas é composta predominantemente por povos bantus. A religião com o maior número de adeptos em Moçambique é o cristianismo (a denominação católica é a que reúne maior número de adeptos), mas há uma presença significativa de seguidores do islamismo. O país é membro da União Africana, da Commonwealth Britânica, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da União Latina, da Organização da Conferência Islâmica, da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e da Organização Internacional da Francofonia.

Etimologia

O nome Moçambique, primeiramente utilizado para a ilha de Moçambique, primeira capital da colónia, teria derivado do nome de um comerciante árabe que ali viveu, Musa Al Bik, Mossa Al Bique ou Ben Mussa Mbiki.[7]

História

Ver artigo principal: História de Moçambique

Primeiros povos

Ver artigo principal: Império de Gaza
Gungunhana, o último imperador de Gaza

Os primeiros povos que habitaram o território do atual Moçambique eram bosquímanos caçadores e recolectores.[8] Entre o primeiro e o século V, ondas migratórias de povos de línguas bantas vieram de regiões do oeste e do norte de África através do vale do rio Zambeze e depois, gradualmente, seguiram para o planalto e áreas costeiras do país. Esses povos estabeleceram comunidades ou sociedades agrícolas baseadas na criação de gado.[9]

Eles trouxeram com eles a tecnologia para extração e produção de utensílios de ferro, um metal que eles usaram para fazer armas para conquistar povos vizinhos. As cidades moçambicanas durante a Idade Média (século V ao XVI) não eram muito robustas e pouco restou delas, como o porto de Sofala.[9]

O comércio costeiro de Moçambique primeiramente foi dominado por árabes e persas, que tinham estabelecido assentamentos até o sul da Ilha de Moçambique. Assentamentos comerciais suaílis, árabes e persas existiram ao longo da costa do país durante vários séculos. Vários portos comerciais suaílis pontilhavam a costa do país antes da chegada dos árabes, que comercializavam com Madagáscar e com o Extremo Oriente.[9]

Domínio português

Ver artigo principal: África Oriental Portuguesa
Estátua de Vasco da Gama na praça em frente ao antigo Palácio dos Capitães-Generais, na Ilha de Moçambique, uma pequena ilha de coral na entrada da Baía de Mossuril, na costa de Nampula
Traficantes de escravos árabes e seus cativos ao longo do rio Rovuma
Oficina de Tipografia da Escola de Artes e Ofícios, 1930

Desde cerca de 1500, os postos e fortalezas comerciais portuguesas acabaram com a hegemonia comercial e militar árabe na região, tornando-se portas regulares da nova rota marítima europeia para o oriente. A viagem de Vasco da Gama em torno do Cabo da Boa Esperança em 1498 marcou a entrada portuguesa no comércio, política e cultura da região. Os portugueses conquistaram o controle da Ilha de Moçambique e da cidade portuária de Sofala no início do século XVI e, por volta da década de 1530, pequenos grupos de comerciantes e garimpeiros portugueses que procuravam ouro penetraram nas regiões do interior do país, onde montaram as guarnições e feitorias de Sena e Tete, no rio Zambeze, e tentaram obter o controle exclusivo sobre o comércio de ouro.[10] Os portugueses tentaram legitimar e consolidar a sua posição comercial através da criação dos Prazos da Coroa (um tipo de sesmaria), que eram ligados à administração de Portugal. Apesar dos prazos terem sido originalmente desenvolvidos para serem controlados por portugueses, por conta da miscigenação com os habitantes locais eles acabaram por se tornar centros luso-africanos defendidos por grandes exércitos de escravos africanos conhecidos como cundas. Historicamente, houve escravatura em Moçambique. Seres humanos eram comprados e vendidos por chefes tribais locais e por comerciantes árabes, portugueses e franceses. Muitos dos escravos moçambicanos eram fornecidos por chefes tribais que invadiam tribos guerreiras vizinhas e vendiam seus cativos para os prazeiros.[10]

Embora a influência portuguesa tenha se expandido de forma gradual, o seu poder era limitado e exercido por colonos individuais a quem era concedida uma extensa autonomia. Os portugueses foram capazes de arrancar grande parte do comércio litorâneo dos árabes entre os anos de 1500 e 1700, mas, com a tomada do Forte Jesus de Mombaça (no atual Quénia) pelos árabes em 1698, o pêndulo começou a oscilar na outra direção.[11][12] Como resultado, o investimento português diminuiu enquanto Lisboa dedicou-se ao comércio mais lucrativo com a Índia e o Extremo Oriente e ao processo de colonização do Brasil. Durante essas guerras, tribos árabes do atual Omã recuperaram alguma parte do comércio da África Oriental a norte de Moçambique. Muitos prazos haviam diminuído em meados do século XIX, mas vários deles sobreviveram. Durante o século XIX outras potências europeias, particularmente os britânicos (Companhia Britânica da África do Sul) e os franceses (Madagáscar), tornaram-se cada vez mais envolvidas no comércio e na política da região em torno dos territórios da África Oriental Portuguesa.[12]

No início do século XX, os portugueses mudaram a administração de grande parte de Moçambique para grandes empresas privadas — como a Companhia de Moçambique, a Companhia da Zambézia e a Companhia do Niassa — controladas e financiadas principalmente por britânicos, que estabeleceram linhas ferroviárias para os países vizinhos. Embora a escravidão tenha sido abolida legalmente em Moçambique, no final do século XIX as companhias promulgaram uma política de trabalho barato — muitas vezes forçado — para africanos em minas e plantações em colónias britânicas próximas e na África do Sul. A Companhia da Zambézia, a empresa mais rentável, assumiu uma série de participações em prazeiros menores e estabeleceu postos militares para proteger as suas propriedades. As companhias construíram estradas e portos para levar os seus produtos ao mercado, incluindo uma ferrovia que liga até hoje o Zimbábue ao porto moçambicano de Beira.[13][14]

Devido ao desempenho insatisfatório e a uma mudança, sob o regime corporativista do Estado Novo de António de Oliveira Salazar, no sentido de um maior controle de Portugal sobre a economia do Império Português, as concessões para as companhias não foram renovadas quando terminaram. Foi o que aconteceu em 1942 com a Companhia de Moçambique, que, contudo, continuou a operar nos sectores agrícola e comercial como uma corporação, e o que já tinha acontecido em 1929 com o término da concessão da Companhia do Niassa. Em 1951, as colónias ultramarinas portuguesas em África foram rebatizadas para províncias ultramarinas de Portugal.[13][14]

Movimento de independência

Soldados portugueses durante a Guerra Colonial Portuguesa

Com ideologias comunistas e anticoloniais espalhando-se por toda a África, muitos movimentos políticos clandestinos foram estabelecidos em favor da independência de Moçambique. Estes movimentos afirmavam que as políticas e planos de desenvolvimento elaborados pelas autoridades do governo eram voltadas apenas para o benefício da população portuguesa que vivia em Moçambique, sendo que pouca atenção era dada à integração das tribos moçambicanas e ao desenvolvimento das comunidades nativas.[15] De acordo com as declarações oficiais da guerrilha, isso afetava a maioria da população indígena, que sofria tanto com a discriminação patrocinada pelo Estado quanto pela enorme pressão social. Muitos sentiam que tinham recebido muito pouca oportunidade ou recursos para melhorar as suas competências e melhorar a sua situação económica e social a um grau comparável à dos europeus moçambicanos. Estatisticamente, os brancos portugueses de Moçambique eram de facto muito mais ricos e qualificados do que a maioria negra nativa. Como resposta ao movimento guerrilheiro, o governo português iniciou mudanças graduais, com novas políticas sócio-económicas e igualitárias para todos os cidadãos a partir da década de 1960 e, principalmente, da década de 1970.[16]

A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) sob comando de Eduardo Mondlane deu início a uma campanha de guerrilha, contra o governo português, em setembro de 1964. Juntamente com os outros dois conflitos já iniciados em outras colónias portuguesas de África Ocidental Portuguesa (Angola) e da Guiné Portuguesa, este entrave político tornou-se parte da chamada Guerra Colonial Portuguesa (1961–1974). Sob a ótica militar, o exército português manteve o controle dos centros populacionais, enquanto as forças de guerrilha procuraram espalhar a sua influência em áreas rurais, especialmente aquelas localizadas ao norte e oeste do país.[16][17]

Após dez anos de guerra e com o retorno de Portugal à democracia através de um golpe militar de esquerda em Lisboa, que substituiu o regime do Estado Novo em Portugal por uma junta militar (a Revolução dos Cravos, de abril de 1974), e na sequência dos Acordos de Lusaka, a FRELIMO assumiu o controle do território moçambicano. Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de junho de 1975. Após a independência, a maioria dos 250 mil portugueses que viviam em Moçambique deixaram o país, alguns expulsos pelo governo, outros fugindo com medo.[18]

Guerra civil

Ver artigo principal: Guerra Civil Moçambicana
Homem vítima de uma mina terrestre[19]
A situação geopolítica em 1975, nações amigas da FRELIMO são mostradas em laranja
Imagem da Estação do Caminho de Ferro da cidade de Maputo em 1988

Uma das primeiras ações do novo governo, sob a presidência de Samora Machel, foi estabelecer um Estado unipartidário baseado em princípios marxistas. Cuba e União Soviética foram as primeiras nações a estender os laços diplomáticos ao novo país, ajudando-o também com forças militares, como forma de manter a independência e reprimir a oposição.[16][20] Logo após a independência, o país foi assolado por uma guerra civil longa e violenta entre forças oposicionistas da anticomunista Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o regime marxista da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Este conflito, combinado com as disputas diplomáticas e envolvimento do governo com movimentos guerrilheiros em países vizinhos,[21] como a Rodésia (em que o governo moçambicano apoiou o grupo guerrilheiro organizado pelo Exército Africano para a Libertação Nacional do Zimbábue (ZANLA)[21] e a África do Sul do regime de apartheid (na qual o governo moçambicano proveu ajuda ao grupo capitaneado por Nelson Mandela[22]) além do excesso de planeamento central e implementação de políticas socialistas ineficazes[23] que resultaram nas severas dificuldades econômicas que caracterizaram as primeiras décadas de independência de Moçambique, resultado das práticas adotadas pelo então regime vigente no país.[16]

Este período também foi marcado pelo êxodo de cidadãos portugueses,[24] do colapso da infraestrutura nacional, da falta de investimentos em ativos produtivos e da nacionalização, pelo governo, de indústrias de propriedade privada, além de várias crises de fome generalizadas. Durante a maior parte da guerra civil, o governo central comandado pela FRELIMO foi incapaz de exercer controle efetivo fora das áreas urbanas do país, muitas das quais eram controladas a partir da capital, Maputo. Estima-se que a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) tenha exercido controle em áreas que incluíam até 50% das partes rurais de várias províncias, e os serviços de assistência médica de qualquer tipo foram interrompidos por anos. O problema se agravou quando o governo cortou gastos em assistência médica.[25] A guerra civil foi marcada por diversas violações dos direitos humanos cometidas por ambos os lados do conflito, cenário que se tornou ainda pior quando a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) começou a usar táticas terroristas e a atacar civis indiscriminadamente.[26][27] O governo central executou dezenas de milhares de pessoas ao tentar estender seu controle por todo o país e mandou muitas pessoas para campos de reeducação, onde milhares foram mortos.[26]

Durante a guerra, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) propôs um acordo de paz baseado na secessão dos territórios do norte e oeste do país, que passariam a ser a república independente da Rombésia. A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) recusou-se a negociar e reivindicou a soberania sobre todo o território do país. Estima-se que um milhão de moçambicanos tenham morrido durante a guerra civil no país, com cerca de outros 1,7 milhão buscando refúgio em países vizinhos e vários outros milhões tendo que se deslocar internamente por conta do conflito.[28] O regime da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) também deu abrigo e apoiou movimentos rebeldes africanos, como o Congresso Nacional Africano (da África do Sul) e a União Nacional Africana do Zimbábue. Enquanto isso, os governos da Rodésia e da África do Sul (na época sob o regime do apartheid) apoiavam as forças da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).[28]

Em 19 de outubro de 1986, Samora Machel voltava de uma reunião internacional na Zâmbia em um Tupolev Tu-134, quando o avião presidencial caiu nos Montes Libombos, perto da localidade sul-africana de Mbuzini. Dez pessoas sobreviveram, mas o presidente Machel e trinta e três outros tripulantes morreram, incluindo ministros e funcionários do governo moçambicano. A delegação soviética das Nações Unidas divulgou um relatório alegando que a sua visita tinha sido prejudicada pelos sul-africanos. Os representantes da União Soviética avançaram com a teoria de que o avião tinha sido desviado intencionalmente por um sinal VOR, usando uma tecnologia fornecida por agentes de inteligência militar do governo sul-africano.[29]

Período multipartidário

Um helicóptero dos Estados Unidos sobrevoando o rio Limpopo inundado durante a enchente de 2000

O sucessor de Machel, Joaquim Chissano, implementou mudanças radicais no país através de reformas, como a mudança da ideologia marxista para a capitalista, e começou negociações de paz com a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A nova constituição moçambicana, promulgada em 1990, previa um sistema político multipartidário, uma economia baseada no livre mercado e eleições livres. A guerra civil findou meados de outubro de 1992, com o Acordo Geral de Paz,[30] que foi mediado primeiramente pelo Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e depois assumido pela Comunidade de Santo Egídio. Sob a supervisão das forças de manutenção da paz das Nações Unidas, a paz voltou a ser operada em Moçambique.[31]

Até 1993, cerca de 1,5 milhão de refugiados moçambicanos tinham procurado asilo em países vizinhos como Maláui, Zimbábue, Essuatíni, Zâmbia, Tanzânia e África do Sul como resultado da guerra civil e da seca que havia retornado, fenómeno que foi parte da maior repatriação testemunhada na África subsaariana.[32] No entanto, em anos recentes, Moçambique experimentou a volta do conflito armado em 2013, principalmente nas regiões centro e norte do país.[33] Em 5 de setembro de 2014, o ex-presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, assinaram o Acordo de Cessação das Hostilidades, o qual colocou fim às atividades militares hostis e permitiu com que ambos partidos concentrassem-se nas eleições gerais realizadas em outubro de 2014. Porém, logo após as eleições gerais, uma nova crise política emergiu e o país está novamente à beira de um conflito armado. A RENAMO não reconhece o resultado das eleições gerais e demanda o controle de seis províncias — Nampula, Niassa, Tete, Zambézia, Sofala e Manica — locais onde o partido alega ter ganho a maioria dos votos.[34]

Geografia

Imagem de satélite de Moçambique
Ver artigo principal: Geografia de Moçambique

Com 801 537 km quadrados de área territorial, Moçambique é o 34º maior país do mundo em área territorial, sendo comparável em tamanho à Turquia. Moçambique está localizado na costa sudeste da África.[35] O Rifte Africano Oriental estende-se até ao sul de Moçambique. O ponto mais alto de Moçambique é o Monte Binga, localizado na fronteira do país com Zimbábue, que se eleva a 2 436 metros acima do nível do mar.

Moçambique está situado na costa oriental da África Austral, limitado a norte pela Tanzânia, a noroeste pela Zâmbia e Maláui, a oeste pela Essuatíni e pelo Zimbábue, a sul e oeste pela África do Sul e a leste pelo Canal de Moçambique, uma porção do oceano Índico. O país limita-se, ainda, através de suas águas territoriais, com Madagáscar e as Comores, no Canal de Moçambique.[36]

A norte do rio Zambeze o território é dominado por um grande planalto, com uma pequena planície costeira bordejada de recifes de coral e, no interior, limita com maciços montanhosos pertencentes ao sistema do Grande Vale do Rifte. A sul é caracterizado por uma larga planície costeira de aluvião, coberta por savanas e cortada pelos vales de vários rios, entre os quais destacando-se o rio Limpopo.[36]

A maioria da área terrestre de Moçambique, 70%, é da savana de Miombo, predominantemente decídua. Árvores e arbustos do mesmo género crescem em outros lugares da África, mas em Moçambique os arbustos decíduos são mais altos e mais densos do que em outros lugares. A zona costeira atinge 2 700 km de extensão e é uma das maiores da África.[37] Sabe-se que pelo menos 5 600 espécies diferentes de plantas ocorrem em Moçambique. Existem 250 espécies nativas, das quais 45 só nas montanhas Chimanimani. Outra área famosa pela sua flora é o pantanal que se estende da Área de Conservação de Santa Lúcia, no lado sul-africano, até à cidade de Xai-Xai[38]

O Parque Nacional da Gorongosa, localizado na província de Sofala, possui uma área de 3 770 km quadrados, no extremo sul do grande vale do Rifte da Africa Oriental. A exuberância paisagística e a particularidade da fauna bravia deste Parque tornam-no um dos principais atrativos turísticos. No parque, há a presença de elefantes, a na foz do Zambeze onde predomina o búfalo, além de reservas parciais como a de Gilé e a do Niassa respectivamente a nordeste de Quelimane e nas margens do rio Rovuma. Também no parque da reserva natural de Bazaruto se podem avistar aves exóticas, recifes de corais e espécies marinhas protegidas como dugongos, golfinhos e tartarugas marinhas.[39]

Clima

Moçambique pela classificação climática de Köppen-Geiger

O clima do país é húmido e tropical, influenciado pelo regime de monções do Índico e pela corrente quente do Canal de Moçambique, com estações secas de Maio a Setembro. A pluviosidade anual é alta, especialmente no norte do país. A pluviosidade é mais forte, por um lado, nas terras altas na fronteira com o Zimbábue e o Maláui, e por outro lado, na costa entre Maputo e Beira, a qual está exposta às chuvas acompanhadas de vento durante todo o ano.[40]

As temperaturas médias em Maputo variam entre os 13–24 °C em Julho a 22–31 °C em Fevereiro.[41] A estação das chuvas ocorre entre Outubro e Abril. A precipitação média nas montanhas ultrapassa os 2 mil mm. A humidade relativa é elevada situando-se entre 70 a 80%, embora os valores diários cheguem a oscilar entre 10 e 90%. As temperaturas médias variam entre 20 °C no Sul e 26 °C no norte, sendo os valores mais elevados durante a época das chuvas.[41]

Seca, desertificação e chuvas causadas por ciclones tropicais estão causando problemas ambientais. As inundações causadas por um furacão em 2000 foram os piores em 50 anos. Centenas de milhares de famílias tiveram que deixar as suas casas.[42] No entanto, a preparação da população para desastres melhorou e os danos causados pelas inundações na primavera de 2007 foram significativamente menores. Na primavera de 2008, grandes evacuações foram realizadas em áreas de inundação.[43]

Demografia

Ver artigo principal: Demografia de Moçambique

De acordo com os resultados do Censo de 2017, Moçambique tem 27 909 798 habitantes, um aumento de 7 330 533 ou 35,6% em relação aos 20 579 265 registados no Censo de 2007.[2] As províncias da Zambézia e Nampula são as mais populosas do país e concentram cerca de 39% da população moçambicana.

Composição étnica

Crianças moçambicanas da etnia macua

Os macuas são o grupo dominante na parte norte do país, os sena e shonas (principalmente ndaus) são proeminentes no vale do Zambeze e os tsongas são predominantes no sul de Moçambique. Outros grupos incluem os macondes, WaYaos, suaílis, tongas, chopes e ngunis (incluindo zulus). Povos bantos compreendem 97,8% da população, enquanto o restante, incluindo africanos brancos (em grande parte de ascendência portuguesa), euro-africanos (mestiços de povos bantos e portugueses) e indianos.[44] Cerca de 45 mil pessoas de ascendência indiana residem em Moçambique.[45]

Durante o governo colonial português, uma grande minoria de pessoas de ascendência portuguesa vivia permanentemente em quase todas as regiões do país[46] e moçambicanos com sangue português, no momento da independência do país, eram cerca de 360 mil pessoas. Muitos deles deixaram a região após a independência moçambicana em 1975. Há várias estimativas para o tamanho da comunidade chinesa em Moçambique, sete mil a doze mil pessoas.[47][48]

Urbanização

Idiomas

Mapa étnico de Moçambique

O português é a língua oficial e a mais falada do país, usada por pouco mais da metade da população (50,4%). Cerca de 39,7%, principalmente a população africana nativa, usam o português como segunda língua e 12,78% falam-no como primeira língua. A maioria dos moçambicanos que vivem nas áreas urbanas usam o português como principal idioma.[49][50]

As línguas bantas de Moçambique, que são as mais faladas no país, variam muito em seus grupos e, em alguns casos, são bastante mal analisadas e documentadas.[51] Além de ser uma língua franca no norte do país, o suaíli é falado em uma pequena área do litoral próxima à fronteira com a Tanzânia; mais ao sul, na Ilha de Moçambique, o mwani, considerado como um dialeto do suaíli, é falado. No interior da área de suaíli, o maconde é o idioma mais falado, separado da área onde ciyao é usado por uma pequena faixa de território de falantes da língua macua. O maconde e o ciyao pertencem a grupos linguísticos diferentes,[52] sendo o ciyao muito próximo da língua mwera da área do planalto Rondo, na Tanzânia.[53] Alguns falantes do nianja são encontrados na costa do lago Maláui, bem como do outro lado do lago na fronteira com o Maláui.[54][55]

Há falantes de emakhuwa, com uma pequena área de língua eKoti no litoral. Em uma área abrangendo o baixo Zambeze, falantes da língua sena, que pertence ao mesmo grupo da língua nianja, são encontrados, com áreas que falam a CiNyungwe rio acima. Uma grande área de língua chona se estende entre a fronteira do Zimbábue e do mar. Anteriormente essa língua era considerada uma variante do ndau,[56] mas agora usa a ortografia chona padrão que surgiu no Zimbábue. Há também grupos falantes da língua tsonga, enquanto o tsua ocorre no litoral e no interior. Esta área de linguagem se estende até a vizinha África do Sul. Ainda relacionados a estes idiomas, mas diferentes, estão os falantes do chope ao norte da foz do Limpopo e os falantes da língua ronga na região imediatamente ao redor da cidade de Maputo. As línguas deste grupo são, a julgar pelos vocabulários curtos,[51] muito vagamente semelhante ao zulu, mas obviamente não são do mesmo grupo linguístico. Há pequenas comunidades falantes do suázi e zulu em áreas de Moçambique imediatamente ao lado da fronteira com a Essuatíni e com KwaZulu-Natal, na África do Sul.

Árabes, chineses e indianos falam principalmente português e, alguns, hindi. Indianos provenientes da Índia Portuguesa falam qualquer um dos crioulos portugueses da sua origem, além do português como segunda língua.

Religiões

Religião em Moçambique (2007)
Religião Porcentagem
Cristianismo
  
56,1%
Sem religião
  
18,7%
Islamismo
  
17,9%
Animismo
  
1,2%

Por força de sua Constituição, Moçambique é um estado laico, sendo expressamente proibido no texto constitucional quaisquer discriminações ou acepções baseadas na religião, garantindo-se, também, a liberdade religiosa a todos os cidadãos. A legislação moçambicana exige que todas as organizações religiosas sejam registradas junto ao Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, embora não sejam aplicadas sanções aos grupos religiosos pela ausência deste registro. Locais de culto também são protegidos por força legal e, de igual modo, também é assegurada a objeção ao serviço militar por razões religiosas.[57]

O censo de 2017 revelou que os cristãos formam 56,1% da população (maioria Católica, com cerca de 27,2%) e os muçulmanos compunham 18,9% da população de Moçambique, enquanto 4,8% das pessoas afirmaram praticar outras crenças religiosas, principalmente o animismo. Cerca de 13,9% dos moçambicanos não tinham crenças religiosas e outros 2,5% não especificaram pertencer a algum grupo religioso.[58] Há uma aderência significativa de parte da população à crenças religiosas tribais sincréticas, sendo este um segmento não incluído nas estimativas oficiais governamentais.

A Igreja Católica Romana estabeleceu doze dioceses no país (Beira, Chimoio, Gurué, Inhambane, Lichinga, Maputo, Nacala, Nampula, Pemba, Quelimane, Tete e Xai-Xai; arquidioceses são Beira, Maputo e Nampula). Estatísticas para o número de católicos variam entre 5,8% da população na diocese de Chimoio, para 32,50% na diocese de Quelimane.[59]

Entre as principais igrejas protestantes no país estão a Congregação Cristã em Moçambique, a Igreja União Baptista de Moçambique, a Assembleia de Deus e os Batistas do Sétimo Dia, este último com cerca de 6.442 membros.[60] Também estão presentes no país os Adventistas do Sétimo Dia, a Igreja Anglicana da África Austral, a Igreja do Evangelho Completo de Deus, a Igreja Metodista Unida, a Igreja Presbiteriana de Moçambique, a Igreja de Cristo e a Assembleia Evangélica de Deus. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja Mórmon) estabeleceu uma presença crescente no país e foi legalmente reconhecida em 1996, tendo começado a enviar missionários para a nação em 1999. Em fevereiro de 2021 este grupo religioso tinha cerca de 15 030 membros.[61]

A Fé Bahá'í tem estado presente em Moçambique desde o início da década de 1950, mas não se identificava abertamente nesse período devido à forte influência da Igreja Católica no governo, que não a reconheceu oficialmente como uma religião mundial. Com a independência, em 1975, o país viu a entrada de novos pioneiros. No total, havia cerca de três mil bahá'ís declarados em Moçambique em 2010.[62]

Os muçulmanos estão particularmente presentes no norte do país. Eles são organizados em várias irmandades (do ramo Qadiriya ou Shadhuliyyah). Duas organizações nacionais também existem, o Conselho Islâmico de Moçambique (reformistas) e do Congresso Islâmico de Moçambique (pró-sufismo). Há também importantes associações indo-paquistanesas, assim como algumas comunidades xiitas e ismaelitas.[57]

Governo e política

Ver artigo principal: Política de Moçambique
Filipe Nyusi (pronuncia-se /Nhússi/) é o actual presidente do país
Assembleia da República de Moçambique, o órgão legislativo do país

Moçambique é uma república presidencialista, cujo governo é nomeado pelo Presidente da República. O parlamento de 250 membros, denominado Assembleia da República, tem como uma de suas funções, verificar as ações do governo. As eleições legislativas e presidenciais são realizadas a cada cinco anos.

A FRELIMO foi o movimento que lutou pela libertação desde o início da década de 1960. Após a independência, passou a controlar exclusivamente o poder, aliada aos países do então "bloco socialista", e introduzindo um sistema político de partido único, semelhante ao praticado naqueles países.[63] O regime provocou a hostilidade dos estados vizinhos segregacionistas existentes na altura, África do Sul e Rodésia, que apoiaram elementos brancos recolonizadores e guerrilhas internas. Esta situação viria a transformar-se numa guerra civil de 16 anos. O fim desse conflito armado foi marcado pela assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), em Roma, Itália, em 1992. No entanto, em 2013, Moçambique presenciou o retorno do conflito armado[33] entre a FRELIMO e a RENAMO, afetando a população principalmente das regiões centro e norte do país. Apesar das inúmeras negociações, um novo acordo de paz ainda não foi concluído.

Samora Machel foi o primeiro presidente de Moçambique independente e ocupou este cargo até à sua morte em 1986. O seu sucessor, Joaquim Chissano, negociou o fim da guerra civil e introduziu um sistema multipartidário que integrou o principal movimento rebelde, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). Neste novo sistema, a Frelimo permaneceu no poder até os dias actuais, tendo ganho as eleições parlamentares realizadas em 1994, 1999, 2004 e 2009, mesmo com acusações de fraudes. O Movimento Democrático de Moçambique (MDM), uma dissidência da RENAMO, constituiu-se em bancada parlamentar em Abril de 2010. O MDM atualmente tem dezassete deputados na Assembleia da República, desde as últimas eleições gerais realizadas em 2014. O regime prevalecendo em Moçambique desde inícios dos anos 1990 evidenciou sempre défices democráticos, que o sucessor de Joaquim Chissano, Armando Guebuza, tentou colmatar nos anos 2000.[64]

Direitos humanos

O conceito de direitos humanos em Moçambique é uma questão permanente para o país. Durante mais de quatro séculos, Moçambique foi governado pelos portugueses. Após a independência de Moçambique de Portugal, seguiram-se 17 anos de guerra civil, entre a RENAMO e a FRELIMO, até 1992, quando a paz foi por fim alcançada. [65] Armando Guebuza foi então eleito presidente em 2004 e reeleito em 2009, apesar das críticas de que lhe faltava honestidade, transparência e imparcialidade. [66][67] Isso desencadeou uma série de incidentes de direitos humanos, incluindo assassinatos ilegais, prisões arbitrárias, condições prisionais desumanas e julgamentos injustos. Também houve muitas questões relacionadas com as liberdades de expressão e mídia, liberdade na Internet, liberdade de reunião pacífica e discriminação e abuso de mulheres, crianças e pessoas com deficiência. Muitas destas questões continuam em curso.[68]

Em 2018, uma reportagem publicada no jornal português Público alegava que as terras mais férteis de Moçambique, especialmente no corredor de Nacala, estão a deixar de ser exploradas pelos moçambicanos e milhares de camponeses ficam sem terra, e lançados na pobreza, a troco de falsas promessas de multinacionais do sector agrário. Portugal, com a Portucel Moçambique à cabeça, é o país da Europa que mais área explora nesta zona.[69]

Relações internacionais

Embaixada de Moçambique em Moscou, na Rússia

Apesar de alianças que datam da luta de independência continuem a ser relevantes, a política externa de Moçambique tornou-se cada vez mais pragmática ao longo do tempo. Os dois pilares da política externa moçambicana são a manutenção de boas relações com seus vizinhos e de manutenção e expansão de laços com os parceiros de desenvolvimento. Durante os anos 1970 e início dos anos 1980, a política externa do país era indissoluvelmente ligada à Rodésia e África do Sul, bem como pela concorrência das superpotências da Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética. A decisão de Moçambique de impor sanções na Organização das Nações Unidas (ONU) contra a Rodésia e negar a esse país o acesso ao mar, fez o governo liderado por Ian Smith realizar ações ostensivas e secretas contra os moçambicanos. Embora a mudança de governo no Zimbábue, em 1980, tenha removido esta ameaça, o governo da África do Sul continuou a apoiar a RENAMO em sua guerra com o governo da FRELIMO.[70]

O Acordo de Nkomati de 1984, apesar de falhando em seu objectivo de acabar com o apoio sul-africano à RENAMO, abriu contactos diplomáticos iniciais entre os governos moçambicano e sul-africano. Esse processo ganhou impulso com o fim do regime do apartheid, que culminou com o estabelecimento de relações diplomáticas plenas com a África do Sul em Outubro de 1993. Embora as relações com os vizinhos Zimbábue, Maláui, Zâmbia e Tanzânia continuassem ocasionalmente tensas, os laços de Moçambique com esses países continuam fortes.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff e o presidente Armando Guebuza em um encontro em Maputo em outubro de 2011
A ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff e o ex-presidente Armando Guebuza em um encontro em Maputo em outubro de 2011

Nos anos imediatamente após a sua independência, Moçambique beneficiou de uma assistência considerável de alguns países ocidentais, especialmente dos escandinavos. A União Soviética e os seus aliados, no entanto, tornaram-se os principais defensores económicos, militares e políticos de Moçambique e sua política externa reflectia essa ligação. Isso começou a mudar em 1984, quando Moçambique se tornou membro do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). A ajuda ocidental através de países escandinavos como Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia rapidamente substituiu o apoio soviético. A Finlândia[71] e os Países Baixos estão se tornando fontes cada vez mais importantes de assistência para o desenvolvimento moçambicano. A Itália também mantém boas relações com Moçambique, como resultado de seu papel fundamental durante o processo de paz. As relações com Portugal, a antiga potência colonial, continuarão a ser importantes por muito tempo porque os investidores portugueses desempenham um papel de destaque na economia moçambicana.[72]

Moçambique é membro do Movimento Não Alinhado e está entre os membros moderados do bloco africano nas Nações Unidas e em outras grandes organizações internacionais. O país também pertence à União Africana (antiga Organização da Unidade Africana) e à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral. Em 1994, o governo tornou-se membro de pleno direito da Organização da Conferência Islâmica, em parte para ampliar sua base de apoio internacional, mas também para agradar à considerável população muçulmana do país. Da mesma forma, no início de 1996, Moçambique aderiu com seus vizinhos anglófonos à Commonwealth Britânica e, na época, era a única nação que entrou para a organização sem nunca ter feito parte do Império Britânico. No mesmo ano, Moçambique tornou-se membro fundador e primeiro presidente da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e mantém laços históricos, económicos, políticos e culturais estreitos com outros países lusófonos, como Portugal ou o Brasil.[73]

Subdivisões

Ver artigo principal: Subdivisões de Moçambique
Províncias de Moçambique, Norte a Sul, por número com índice

Moçambique está dividido em 11 províncias:

  1. Niassa (capital: Lichinga);
  2. Cabo Delgado (capital: Pemba);
  3. Nampula (capital: Nampula);
  4. Tete (capital: Tete);
  5. Zambézia (capital: Quelimane);
  6. Manica (capital: Chimoio);
  7. Sofala (capital: Beira);
  8. Gaza (capital: Xai-Xai);
  9. Inhambane (capital: Inhambane);
  10. Cidade de Maputo (capital: Maputo);
  11. Maputo (capital: Matola).

As províncias estão divididas em 154 distritos,[74][75][76] os distritos subdividem-se em 419 postos administrativos e estes em 1052 localidades, o nível mais baixo da administração local do Estado.[77]

Em Moçambique foram criados até ao momento, 65 municípios: 33 criados originalmente em 1997, mais 10 em abril de 2008, mais 10 em Maio de 2013[78] e mais 12 em 2022.[79]

Economia

Ver artigo principal: Economia de Moçambique
Maputo, capital e maior cidade do país
Gráfico dos principais produtos de exportação do país em 2019 (em inglês)

A moeda oficial é o metical, que substituiu a moeda antiga a uma taxa de mil para um. O metical antigo foi retirado de circulação pelo Banco de Moçambique até o final de 2012. O dólar estadunidense, o rand sul-africano e, recentemente, o euro também são moedas amplamente aceitas e utilizadas em transações comerciais no país. O salário mínimo legal é de cerca de 60 dólares por mês. Moçambique é membro da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC — sigla em inglês). O protocolo de livre comércio da SADC visa tornar a região da África Austral mais competitiva, ao eliminar tarifas e outras barreiras comerciais. Em 2007, o Banco Mundial falou sobre o "ritmo de crescimento económico inflado" de Moçambique e um estudo conjunto do governo e de doadores internacionais no mesmo afirmou que "Moçambique é geralmente considerado como uma história de sucesso na ajuda humanitária". Também em 2007, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que "Moçambique é uma história de sucesso na África subsaariana." No entanto, apesar deste aparente sucesso, tanto o Banco Mundial quanto a UNICEF usaram a palavra "paradoxo" para descrever o aumento da desnutrição infantil crónica em face ao crescimento do PIB moçambicano. Entre 1994 e 2006, o crescimento médio do PIB foi de aproximadamente 8% ao ano, no entanto, o país continua sendo um dos mais pobres e subdesenvolvidos do mundo. Em uma pesquisa de 2006, três quartos dos moçambicanos afirmaram que nos últimos cinco anos a sua situação económica permaneceu a mesma ou tornou-se pior.[80]

O reassentamento de refugiados da guerra civil e reformas económicas bem sucedidas levaram a uma alta taxa de crescimento: o país teve uma recuperação económica notável, atingindo uma taxa média anual de crescimento do PIB de 8% entre os anos de 1996 e 2006 e entre 6% e 7% no período entre 2006 e 2011.[81] As devastadoras inundações do início de 2000 desaceleraram o crescimento económico para 2,1%, mas uma recuperação completa foi alcançada em 2001, com um crescimento de 14,8%. Uma rápida expansão no futuro dependia de vários grandes projectos de investimento estrangeiro, o prosseguimento das reformas económicas e a revitalização dos sectores de turismo, agricultura e transportes. Em 2013, cerca de 80% dos habitantes do país estava empregada no sector agrícola, a maioria dos quais dedicados à agricultura de subsistência em pequena escala,[82] que ainda sofre com uma infraestrutura, redes comerciais e níveis de investimento inadequados. Apesar disso, em 2012, mais de 90% das terras cultiváveis de Moçambique ainda não tinham sido exploradas.[83] Em 2013, um artigo da BBC informou que, desde 2009, portugueses estão a voltar para Moçambique por causa do crescimento da economia local e pela má situação económica de Portugal, devido a crise da dívida pública da Zona Euro.[84]

Barco pesqueiro tradicional ao largo da costa moçambicana

Mais de 1 200 empresas estatais (principalmente pequenas) foram privatizadas no país. Os preparativos para a privatização e/ou liberalização do sector estão em andamento para as restantes empresas estatais, como as dos sectores de telecomunicações, energia, portos e ferrovias. O governo frequentemente selecciona um investidor estrangeiro estratégico quando quer privatizar uma estatal. Além disso, os direitos aduaneiros foram reduzidos e a gestão aduaneira foi simplificada e reformada. O governo introduziu um imposto sobre valor agregado, em 1999, como parte de seus esforços para aumentar as receitas internas. Em 2012, grandes reservas de gás natural foram descobertas em Moçambique, receitas que podem mudar drasticamente a economia do país.[85]

No entanto, a economia de Moçambique tem sido abalada por uma série de escândalos de corrupção política. Em julho de 2011, o governo propôs novas leis anticorrupção para criminalizar o peculato, o tráfico de influência e a corrupção, depois de inúmeros casos de desvio de dinheiro público. Esta legislação foi aprovada pelo Conselho de Ministros do país. Moçambique condenou dois ex-ministros por corrupção desde 2011.[86] Moçambique foi classificado no 123º lugar entre 174 países no Índice de Percepção de Corrupção de 2012 feito pela Transparência Internacional.[87] De acordo com um relatório de 2005 feito pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID — sigla em inglês), "a escala e o âmbito da corrupção em Moçambique constituem um motivo de alerta."[88]

Infraestrutura

Saúde

Gráfico do aumento do número de moçambicanos portadores do HIV e que estão a fazer o tratamento antirretroviral (2003–2014)

A taxa de fecundidade moçambicana é de cerca de 5,5 nascimentos por mulher. O gasto público em saúde foi de 2,7% do PIB em 2004, enquanto que as despesas privadas em saúde somaram 1,3% no mesmo ano. Os gastos com assistência médica per capita era de 42 dólares (PPC) em 2004. No início do século XXI, havia três médicos por 100 mil habitantes de Moçambique e a mortalidade infantil era de 100 por mil nascimentos em 2005.[89]

Após a sua independência de Portugal em 1975, o governo de Moçambique estabeleceu um sistema de assistência médica primária, que foi citado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um modelo para outros países em desenvolvimento.[90] Mais de 90% da população havia sido vacinada. Durante o período do início dos anos 1980, cerca de 11% do orçamento do governo era voltado para gastos com saúde.[91] No entanto, a guerra civil moçambicana levou o sistema de saúde primária a um grande retrocesso. Entre os alvos dos ataques da RENAMO às infraestruturas do governo entre 1980 e 1992 estavam instalações médicas e educacionais.[25]

Em Junho de 2011, o Fundo de População das Nações Unidas divulgou um relatório sobre o estado da obstetrícia no mundo. O documento contém dados sobre a força de trabalho e as políticas relacionadas com a mortalidade neonatal e materna em 58 países do mundo. A taxa de mortalidade materna por 100 mil habitantes em Moçambique era de 550 em 2010, comparado com 598,8 em 2008 e com 385 registrado em 1990. A taxa de mortalidade em menores de 5 anos por 1 000 nascimentos é de 147. O objetivo deste relatório é destacar maneiras para que os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio da ONU possam ser alcançados, especialmente os objectivos 4 (reduzir a mortalidade infantil) e 5 (diminuir a taxa de morte materna). Em Moçambique, o número de parteiras por 1 000 nascidos vivos é de 3 e o risco de morte para mulheres grávidas é de 1 em 37.[92]

Hospital local da cidade de Luabo, no distrito de Chinde

A taxa oficial de prevalência da epidemia de HIV na população moçambicana em 2011 foi de 11,5% na faixa etária entre 15 e 49 anos (uma referência comum para as estatísticas de HIV). Este é um valor mais baixo do que o observado em vários dos países vizinhos da África Austral. Para as partes do sul do país (províncias de Maputo e Gaza), os números oficiais são mais do que o dobro da média nacional. Em 2011, as autoridades de saúde estimaram que cerca de 1,7 milhões de moçambicanos eram portadores do vírus HIV, dos quais 600 mil estavam sob tratamento antirretroviral. Em dezembro de 2011, 240 mil pessoas estavam recebendo esse tratamento, e 416 mil pessoas em março 2014. De acordo com o relatório da UNAIDS de 2011, a epidemia de HIV/SIDA em Moçambique parece estar a estabilizar.[93]

Através de ONGs de muitos países em desenvolvimento, Moçambique é apoiado pelo resto do mundo. Devido as dificuldades de gestão da ajuda externa e da desigualdade da comunidade local, as ONGs fragmentam o sistema de assistência médica primária do país.[94] O pesquisador de saúde James Pfeiffer argumenta que, além de instalar uma nova estratégia de gestão da ajuda, um novo paradigma de cooperação deve ser constituído, a fim de facilitar o intercâmbio entre os trabalhadores humanitários e os trabalhadores de saúde locais no mundo em desenvolvimento. O novo paradigma vai ajudar a promover um impacto positivo duradouro sobre as instituições de saúde locais e fortalecer o relacionamento profissional entre os trabalhadores da saúde.[25]

Segurança alimentar

Estima-se que 64% da população de Moçambique sofre de insegurança alimentar. Este problema prevalece principalmente na região sul do país, onde cerca de 75% da população sofre desse mal. Moçambique está entre os 16 países com “mais alto risco de apresentar níveis crescentes de fome aguda”, diante de um cenário global, onde novos recordes nos níveis de fome no país apenas aumentam.[95][96][97][98]

A saúde em Moçambique, é fortemente afetada pela insegurança alimentar do país. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, cerca de 55% da população de Moçambique vive na pobreza, quase metade é analfabeta, 40% é subnutrida, apenas 47% têm acesso a água potável e existe uma expectativa de vida ao nascer de apenas 59 anos. Moçambique classificou-se em 180º lugar entre 188 países no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Muito disso é resultado da insegurança alimentar no país.[99][100][101]

O país tem uma das taxas de prevalência de AIDS mais altas do mundo. A prevalência do vírus em Moçambique é mais um ponto de vulnerabilidade para as famílias de baixa renda da zona rural do país; o mesmo agrava níveis de pobreza e malnutrição extremos. Esses fatores colocam em risco a produção agrícola do país. Cerca de 15% de mulheres grávidas entre os 15 e 49 anos de idade estão infetadas pelo vírus. A epidemia tem um carácter heterogêneo em termos geográficos e socioeconômicos. A principal via de transmissão continua a ser sexual em cerca de 90% dos casos em adultos.[102]

A agricultura familiar no país, constitui a atividade econômica de grande parte da população, podendo alcançar mais de 75% dos cidadãos. Sendo assim com mais de metade da sua população dependente da agricultura para viver, a segurança alimentar de Moçambique pode ser extremamente volátil e descontrolada. 90% das terras são compostas por fazendas de 10 hectares ou menos e a produção agrícola em grande escala é praticamente inexistente. O país sofre de múltiplas pragas. A mais devastadora de longe para a agricultura é o gafanhoto vermelho, que é endêmico na bacia do rio Púnguè.[103][104]

A geografia de Moçambique é particularmente vulnerável a desastres naturais, como secas e enchentes, com um total de 15 nos últimos 25 anos. Esses eventos prejudicaram muito o setor rural e a economia geral do país. As inundações de 2000, por exemplo, afetaram cerca de 2 milhões de pessoas, enquanto as secas de 1994 e 1996 afetaram 1,5 milhão nas partes sul e centro do país. Embora o país e o restante do continente africano estejam longe de ser os maiores emissores de gases de efeito estufa, são os que mais têm sofrido e estão entre os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas globais. Além disso, poderão ser os mais afetados pela degradação da terra que tem acontecido em diferentes partes do mundo. Os pobres são particularmente vulneráveis aos riscos induzidos pelo clima simplesmente em virtude de sua pobreza. Os praticantes da agricultura familiar têm poucos bens para vender e o seu consumo já é baixo, por isso, em tempos de escassez, não têm muito para os proteger da insegurança alimentar. Moçambique tem um sistema relativamente bem desenvolvido de planos de preparação para desastres a nível distrital. Projetos financiados por doadores e pelo Sistema Nacional de Alerta Rápido ajudam o governo a lidar com os problemas no país.[105][106]

Educação

Estudantes em frente a uma escola em Nampula

Desde a independência do domínio português em 1975, a construção e a formação de professores escolares não acompanhou o aumento da população. Especialmente após a Guerra Civil de Moçambique (1977–1992), com matrículas no pós-guerra atingindo máximos históricos devido à estabilidade e o crescimento da população jovem, a qualidade da educação ainda é precária. Todos os moçambicanos são obrigados por lei a frequentar a escola de nível primário, no entanto, um grande número de crianças moçambicanas não vão à escola primária, porque têm de trabalhar para subsistência de suas famílias.[107]

Em 2007, um milhão de crianças ainda não iam à escola, a maioria delas de famílias rurais pobres, e quase a metade de todos os professores em Moçambique ainda estavam desqualificados. A escolarização de meninas aumentou de três milhões em 2002 para 4,1 milhões em 2006, enquanto a taxa de conclusão aumentou de 31 mil para 90 mil.[107]

Transportes

Existem mais de 30 000 km de estradas, mas grande parte da rede não é pavimentada. Como nos seus vizinhos da Commonwealth, o sentido de circulação de tráfego em Moçambique é pela esquerda com os condutores do lado direito dos automóveis, sendo portanto um dos únicos dois países lusófonos a possuir esta característica (o outro é Timor-Leste). Existe um aeroporto internacional em Maputo, 21 outros aeroportos pavimentados e mais de 100 pistas de aterragem com pistas não pavimentadas.[44]

Na costa do Oceano Índico existem vários grandes portos marítimos, incluindo Nacala, Beira e Maputo. Existem 3 750 km de vias navegáveis interiores, assim como ligações ferroviárias que servem as principais cidades e ligam o país ao Maláui, ao Zimbabué e à África do Sul. O sistema ferroviário moçambicano foi desenvolvido ao longo de mais de um século a partir de três portos diferentes no Oceano Índico que serviram como terminais para linhas separadas para o interior. As estradas de ferro foram os principais alvos durante a Guerra Civil Moçambicana, foram sabotadas pela RENAMO e estão a ser reabilitadas. Uma autoridade paraestatal, a Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, supervisiona o sistema ferroviário e os seus portos conectados, mas a gestão tem sido largamente terceirizada. Cada linha tem seu próprio corredor de desenvolvimento.[44]

Em 2005, havia 3 123 km de via férrea, consistindo de 2 983 km de bitola de 1 067 mm (3 pés e 6 polegadas), compatível com sistemas ferroviários vizinhos e uma linha de 140 km de bitola de 762 mm (2 pés e 6 polegadas), a Ferrovia de Gaza.[44] A rota central da Corporação Ferroviária da Beira liga o porto da Beira aos países sem litoral do Maláui, Zâmbia e Zimbabué. A norte deste, o porto de Nacala também está ligado por via férrea ao Maláui e, ao sul, Maputo está ligado ao Zimbabué e à África do Sul. Essas redes interconectam-se apenas através de países vizinhos. Uma nova rota para o transporte de carvão entre Tete e Beira estava planeada para entrar em serviço em 2010[108] e, em agosto de 2010, Moçambique e Botsuana assinaram um memorando de entendimento para desenvolver uma estrada de ferro de 1 100 km através do Zimbabué, para transportar carvão de Serule até um porto de águas profundas na vila de Techobanine, em Moçambique.[109]

Cultura

Moçambique é reconhecido pelos seus artistas plásticos: escultores (principalmente da etnia Makonde) e pintores (inclusive em tecido, técnica batik). Artistas como Malangatana, Gemuce, Naguib, Ismael Abdula, Samat e Idasse destacam-se na área de pintura. A música vocal moçambicana também impressiona os visitantes. A timbila chope foi considerada Património Mundial.

Artes

Ver artigo principal: Música de Moçambique
Moçambicana a utilizar uma tradicional máscara da etnia macua

A música de Moçambique pode servir a muitos propósitos, que vão desde a expressão religiosa até cerimônias tradicionais. Os instrumentos musicais são geralmente feitos à mão e incluem tambores feitos de madeira e pele de animal, como a lupembe, um instrumento de sopro feito de chifres de animais ou madeira, e a marimba, que é uma espécie de xilofone nativo. A marimba é um instrumento popular entre os chopes da costa centro-sul moçambicana, que são famosos por sua habilidade musical e de dança. A música de Moçambique é semelhante ao reggae e ao calipso caribenho. Outros tipos de música são populares em Moçambique, como a marrabenta e outros tipos de música lusófona, como o fado, o samba, a bossa nova e o maxixe.[110]

Os macondes são famosos por suas máscaras e esculturas elaboradas de madeira, que são geralmente usadas em danças tradicionais. Existem dois tipos diferentes de esculturas em madeira: as shetani (espíritos malignos), que são em sua maioria esculpidas em ébano, e as ujamaa, que são esculturas em forma de totem que ilustram rostos realistas de pessoas e de várias figuras. Essas esculturas são geralmente referidas como "árvores genealógicas", porque contam histórias de muitas gerações.[110]

Durante os últimos anos do período colonial, a arte moçambicana refletiu a opressão pelo poder colonial e tornou-se símbolo da resistência. Após a independência em 1975, a arte moderna passou para uma nova fase. Os dois artistas moçambicanos contemporâneos mais conhecidos e mais influentes são o pintor Malangatana Ngwenya e o escultor Alberto Chissano. Uma boa parte da arte pós- independência, durante os anos 1980 e 1990, reflete a luta política, a guerra civil, o sofrimento, a fome e a luta.[110]

Danças tradicionais são geralmente complexas e altamente desenvolvidas em todo o país. Há muitos tipos diferentes de danças tribais, que geralmente são ritualísticas por natureza. Os chopes, por exemplo, atuam em batalhas vestidos com peles de animais. Os homens macuas vestem roupas e máscaras coloridas, dançando sobre palafitas ao redor da aldeia por horas. Grupos de mulheres na parte norte do país realizam uma dança tradicional chamado tufo, para comemorar feriados islâmicos.[110]

Literatura

Escritor Mia Couto

A literatura moçambicana obteve um maior desenvolvimento no período colonial, lidando com temas nacionalistas. Os escritores mais importantes dessa fase foram Rui de Noronha e Noémia de Sousa. José Craveirinha iniciou-se na literatura na década de 1940, abordando temas da realidade social dos moçambicanos em seus poemas, e provocou a rebelião. É considerado o mais importante poeta moçambicano. José Craveirinha recebeu o Prémio Camões em 1991.[111]

Mia Couto, que também ganhou o Prêmio Camões, em 2013, é um dos principais escritores da era contemporânea em Moçambique. Nascido em Beira, recebeu o Prêmio Literário Internacional Neustadt em 2014, tendo sido um dos dois únicos escritores de língua portuguesa a receber tal honraria.[112]

Tem-se que uma parte significativa da produção literária moçambicana se deve aos poetas da chamada "literatura europeia". Estes poetas são aqueles que, sendo etnicamente caucasianos, centram toda, ou quase toda a temática de suas obras nos problemas cotidianos de Moçambique, exercendo expressiva influência na identidade nacional do país. Alberto de Lacerda, Reinaldo Ferreira, Glória Sant'Anna, António Quadros, Sebastião Alba e Luis Carlos Patraquim são alguns dos escritores pertencentes a este grupo literário.[113]

Culinária

Depois de quase 500 anos de colonização, os portugueses impactaram significativamente a cozinha moçambicana. Culturas como a mandioca (raiz amido de origem brasileira), castanha de caju (também de origem brasileira, embora Moçambique já tenha sido o maior produtor deste produto) e o pãozinho, que são pães franceses trazidos pelos portugueses. O uso de especiarias e temperos, como cebola, louro, alho, coentro, páprica, pimenta, pimentão vermelho e vinho foram introduzidos também pelos portugueses, assim como cana de açúcar, milho, milheto, arroz, sorgo (um tipo de grama) e batatas. Prego (rolo de carne), rissole, espetada (kebab), pudim e o popular Inteiro com piripiri (frango inteiro com molho da planta piri piri), são todos os pratos portugueses comumente consumidos pela população atual de Moçambique.[114]

Comunicações

Sede da Rádio Moçambique

A mídia moçambicana é fortemente influenciada pelo governo.[115] Os jornais têm taxas de circulação relativamente baixas, devido aos altos preços e às baixas taxas de alfabetização.[115] Entre os jornais mais divulgados estão os diários controlados pelo Estado, como o Noticias e o Diário de Moçambique, e o semanário Domingo.[116] A sua circulação está principalmente confinada a Maputo.[117] A maior parte do financiamento e da receita de publicidade é dada a jornais pró-governo.[115] No entanto, o número de jornais privados com opiniões críticas aumentou significativamente nos últimos anos.[116]

Os programas de rádio são a forma mais influente de mídia no país devido à sua facilidade de acesso.[115] As estações de rádio estatais servem um número de ouvintes superior ao das rádios privadas. A Rádio Moçambique é a emissora com o maior número de ouvintes[115] e que foi criada pouco depois da independência de Moçambique.[118]

As estações de TV vistas pelos moçambicanos são, entre outras, a TVM, a STV e a TV Miramar. Através de cabo e satélite, os telespectadores podem acessar dezenas de outros canais africanos, asiáticos, brasileiros e europeus.[carece de fontes?]

Desportos

O jogador português Eusébio (nascido em Moçambique antes da independência) foi avançado da selecção Portuguesa no Campeonato do Mundo de 1966, levando Portugal às semifinais. A atleta Maria de Lurdes Mutola ganhou duas medalhas olímpicas nos 800 metros, uma medalha de bronze nas Olimpíadas de 1996, em Atlanta e uma medalha de ouro, nas Olimpíadas de 2000, na Austrália. Os desportos mais populares de Moçambique são basquetebol, futebol e atletismo. A jogadora de basquetebol Clarisse Machanguana jogou na WNBA. A selecção moçambicana de futebol disputou quatro vezes a Copa das Nações Africanas, mas nunca disputou uma taça do mundo.

Feriados

Data Nome em português Notas
1 de janeiro Dia da Fraternidade universal Ano novo
3 de fevereiro Dia dos heróis moçambicanos Em homenagem a Eduardo Mondlane
7 de abril Dia da Mulher Moçambicana Em homenagem a Josina Machel
1 de maio Dia Internacional dos Trabalhadores Dia do trabalho
25 de junho Dia da Independência Nacional Proclamação da independência em 1975 (de Portugal)
7 de setembro Dia da Vitória Em homenagem à assinatura dos Acordos de Lusaka
25 de setembro Dia das Forças Armadas de Libertação Nacional Em homenagem ao início da luta armada de libertação nacional
4 de outubro Dia da Paz e Reconciliação Em homenagem ao Acordo Geral de Paz
25 de dezembro Dia da Família Natal

Ver também

Notas

  1. Outras línguas nacionais não oficiais, mas protegidas constitucionalmente são, incluindo mas não se limitando a: macua, tsonga, ajaua, sena, xona, chuabo, nianja, ronga, maconde, nhúngue, chope, guitonga, suaíli

Referências

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