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Como escolher um champô menos poluente

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Champô Sólido
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Quer um champô mais ecológico? Optar por um champô sólido pode ser o caminho mais acertado, mas não basta. Faça escolhas sustentáveis e saiba como evitar os ingredientes mais poluentes do produto que usa para lavar o cabelo.

Preste atenção à embalagem e ao rótulo do champô

Comecemos pela embalagem, para saber onde deve agarrar quando for às compras. Apesar de tanto o plástico como o cartão serem recicláveis, deve dar preferência a embalagens que tenham um tamanho adequado face ao produto que contêm. Deve evitar embalagens demasiado grandes e que possam ser constituídas por mais do que um tipo de material. Neste sentido, as embalagens dos champôs sólidos apresentam menor impacto ambiental, pois são mais pequenas e leves que as do champô líquido.

Caso opte por champôs líquidos, dê preferência a produtos com maior quantidade, pois estes serão mais equilibrados no que diz respeito à relação entre o peso da embalagem e do produto que a mesma contém. Com esta opção, estará a utilizar menos material de embalagem. Se o champô se apresentar em garrafa, poderá ser possível, por exemplo, inverter a embalagem para evitar desperdício quando o produto se aproximar do final ou adicionar água para aproveitar tudo. Se houver recargas para o seu champô, é ouro sobre azul. Desta forma, irá reduzir a sua pegada ecológica. Evite bisnagas e garrafas com dispensador porque estes levam a maior desperdício e não permitem usar o produto até ao fim.

Agora passemos aos ingredientes. A melhor forma de distinguir os champôs com um impacto ambiental menor é prestar atenção ao rótulo e escolher os ingredientes menos nocivos. Aqui, três problemas se colocam: regra geral, a lista dos ingredientes é longa, está de acordo com a nomenclatura internacional dos ingredientes cosméticos (INCI), sendo as designações por vezes difíceis de entender, e os carateres usados são por vezes tão pequenos, que poderá será necessário munir-se de uma lupa para os conseguir decifrar.

Ingredientes poluentes: quais evitar e alternativas

Um aspeto muito importante que diferencia os champôs de muitos dos restantes produtos de higiene e cosmética que usamos no dia-a-dia é o facto de estes serem usados no duche e serem arrastados pela água. Isto leva a que o impacto ambiental do uso dos champôs seja superior ao de um creme de rosto, por exemplo. A solução passa por optar por um mal menor: escolha champôs que contenham o mínimo possível de substâncias nocivas para o ambiente.

Abaixo, apresentamos os principais poluentes presentes na listagem dos ingredientes da maioria dos champôs e algumas substâncias que podem constituir uma alternativa mais sustentável.

Conservantes e antioxidantes

Apesar de serem utilizados em quantidades inferiores aos tensioativos (os ingredientes com ação detergente que abordamos no ponto seguinte), os conservantes e os antioxidantes são as substâncias que, nos champôs, têm o maior impacto ambiental, pois o efeito antibacteriano requerido para manter a estabilidade microbiológica do champô interfere com as bactérias “boas” do meio ambiente. Os resíduos destas substâncias resultantes da lavagem tornam a água tóxica para algas, peixes e outros organismos e mantêm-se no meio aquático, uma vez que são muito pouco biodegradáveis.

Deste grupo, são de evitar o butylated hydroxytoluene (ou BHT), o methylchloroisothiazolinone e o methyltiazolinone (MIT), a DMDM hydantoin e a dyazolidynil urea (ou DIAZ urea).

Os parabenos, apesar de poluírem menos do que os conservantes apresentados anteriormente, também têm um grau de degradabilidade baixo e, logo, também contaminam o meio aquático de uma forma considerável.

Para substituir estes ingredientes, os que garantem o melhor compromisso entre uma boa qualidade de um champô e um menor impacto ecológico são os compostos de benzoato (benzoate) e sorbato (sorbate).

Tensioativos

Setenta a 90 por cento dos champôs líquidos são constituídos por água. Os restantes 10 a 30 por cento são, essencialmente, tensioativos. No caso dos champôs sólidos, a percentagem de tensioactivos é, por norma, superior.

Servem para remover a sujidade e fazer espuma. O seu impacto negativo revela-se porque muitos deles são persistentes no meio ambiente e dificilmente biodegradáveis. Acresce que enquanto a legislação europeia determina que os tensioativos presentes nos detergentes devem ser pelo menos 90 por cento biodegradáveis ao fim de 28 dias, nada é referido em relação aos produtos de higiene pessoal.

O sodium lauryl sulphate (laurilsulfato de sódio) é o tensioativo mais famoso, mas a verdade é que não é muito nocivo para o meio aquático, especialmente se o seu efeito for mitigado pelo uso de betaine (betaína), o que o torna menos agressivo. Os tensioativos mais nocivos e para que deve estar alerta são os que têm as expressões “pareth”, “laureth” ou “trideceth” na sua denominação, porque se trata de constituintes com um grau de biodegradabilidade difícil.

Os tensioativos que poluem menos são produzidos a partir de substâncias naturais (apesar de terem de ser quimicamente transformados para poderem servir o seu propósito). Este é o caso de ingredientes cujo nome contenha as expressões “cocoate” (do inglês coconut, coco), “olivate” (olive, ou azeitona) ou “palmate” (palm, ou palma).

Alergenos (fragrâncias e óleos essenciais)

As fragrâncias, tanto as de origem sintética como os chamados “óleos essenciais”, além de serem uma fonte potencial de alergenos, também têm um impacto negativo para o ambiente.

Alguns alergenos estão classificados como nocivos para o meio aquático (como o limonene, o geraniol, e o butylphenyl methylpropional). Outros não têm uma classificação específica, mas podem prejudicar seriamente o desenvolvimento de algas, peixes e outros organismos do meio aquático, por serem muito pouco biodegradáveis e gerarem acumulação de substâncias nocivas (bioacumulação): é o caso do citronellol e do linalool, entre outros.

No fundo, qualquer produto que tenha perfume na sua constituição tem impacto ambiental, mas é muito difícil evitar totalmente o uso de fragrâncias, pois elas são essenciais para dissimular o mau odor de alguns ingredientes, sobretudo alguns surfactantes e solventes. A alternativa passa por os fabricantes optarem por substâncias menos alergénicas e com uma constituição menos nociva.

Corantes

São usados para dar uma cor mais “natural” ao produto ou aproximá-la à de algum ingrediente "especial" indicado no rótulo.

Regra geral, mesmo se se trata de substâncias pouco biodegradáveis, os corantes não são os mais nocivos para o ambiente quando comparados com os tensioativos ou os conservantes. Contudo, enquanto os restantes ingredientes são essenciais para a formulação de um champô, o uso de corantes é absolutamente desnecessário e deveria ser evitado para se reduzir a pegada ambiental.

Componentes com MEA, DEA, TEA e EDTA

Entre os ingredientes emulsionantes usados no fabrico de champôs encontram-se os derivados de MEA, DEA e TEA. Baseiam-se em diferentes tipos de etanolaminas (EA), que podem apresentar propriedades cancerígenas, mutagénicas e tóxicas. EDTA é uma substância que pode ser facilmente substituída por ácido cítrico (citric acid), este que tem um impacto ambiental praticamente nulo.

Todas estas substâncias disponibilizam metais pesados no meio ambiente, tornando os champôs mais tóxicos para os organismos aquáticos.

Derivados do petróleo

PEG, PPG, polyquaternium, copolymer e propylene glicol são ingredientes com baixo grau de biodegradabilidade e que, por serem derivados de petróleo, não advêm de fontes renováveis. São usados pelos produtores para dar viscosidade e consistência ao champô.

Apesar de haver alternativas à sua utilização, trata-se de substâncias com um custo reduzido, o que as torna menos apetecíveis de serem substituídas pelos fabricantes.

Ingredientes hidrolisados (palma, seda, leite, soja, etc.)

Todos os ingredientes hidrolisados, como a palma (palm), a seda (silk), o leite (milk), entre outros, mesmo provenientes de fontes naturais, são alvo de tratamento químico.

Servem, por exemplo, para evitar o efeito de anti-estático no cabelo depois do uso dos champôs. Alguns são de origem animal e podem ter um grande impacto na sua reprodução.

O impacto ambiental do recurso a estes ingredientes não está relacionado com o uso do champô em si, mas com as substâncias usadas no seu fabrico.

Filtros ultravioletas

Segundo muitos estudos, os filtros ultravioletas (UV) presentes nos produtos de cosmética acumulam-se nos mares e têm efeitos potencialmente tóxicos em organismos marinhos, porque perturbam o crescimento do fitoplâncton, além de conterem muitos ingredientes nocivos que podem levar ao desenvolvimento excessivo de matéria orgânica no meio aquático (a chamada “eutrofização”).

Enquanto nos protetores solares o impacto ambiental é contrabalançado pelos benefícios que advêm da proteção contra os raios UV, no caso dos champôs estes ingredientes são sobretudo adicionados para manter a cor do champô ou evitar a sua degradação, se a embalagem for transparente.

Champô sólido tem impacto ambiental inferior ao líquido

Seja em caixas de cartão ou embrulhados em papel, há cada vez mais opções de champôs sólidos. Semelhantes aos champôs líquidos, têm, regra geral, os mesmos ingredientes, mas um menor teor de água. Além disso, não contêm conservantes, poluindo menos a água.

A sua produção é relativamente simples, com redução do consumo de energia e de tempo. Além disso, por terem embalagens mais leves e pequenas do que as frequentemente utilizadas nos champôs líquidos, apresentam um impacto ambiental inferior. O peso e o volume, por outro lado, desempenham um papel fundamental na eficiência do transporte de mercadorias. Como são mais leves e pequenos, os champôs sólidos requerem menos espaço que os tradicionais durante o transporte.

O maior impacto ambiental é causado pela própria lavagem dos cabelos, com o consumo e aquecimento da água. Se usar menos água na lavagem do cabelo, terá um menor impacto no ambiente.

Rótulo Ecológico: que garantia dá a EU Ecolabel?

Atribuído pela União Europeia a produtos cosméticos usados para lavagem e tratamento do corpo e cabelo, como é o caso dos champôs, o Rótulo Ecológico Europeu, ou EU Ecolabel, distingue não só produtos que se comprove que tenham um reduzido impacto no consumo de recursos, como também um baixo uso de substâncias nocivas para o ambiente. No que diz respeito aos champôs, a sua atribuição depende de muito mais do que a avaliação dos ingredientes: tem em conta a sustentabilidade da produção (como acontece com o uso do óleo de palma), os materiais utilizados, o rácio entre a embalagem e o produto, entre outros aspetos.

Infelizmente, os critérios para a atribuição desta distinção são de tal forma restritivos que poucos são os champôs que ostentam a EU Ecolabel. Logo, é difícil o consumidor encontrar estes produtos.

Reduzir o impacto ambiental dos champôs em sete passos

Como não há como fugir a algum impacto ambiental dos champôs no meio ambiente, eis alguns conselhos para fazer uma escolha mais sustentável.

5 razões para preferir um champô sólido

Várias embalagens de champôs sólidos
  1. Prefira champôs sólidos, uma vez que estes utilizam menos recursos e duram mais do que uma garrafa de 250 mililitros de champô líquido. De entre as versões sólidas, as nossas escolhas verdes são as que apresentam menor impacto ambiental.

  2. Caso prefira champôs líquidos, opte por embalagens maiores e sem dispensador, de forma a reduzir a quantidade de materiais utilizados e, por isso, de recursos naturais.

  3. Antes de comprar, dedique algum tempo a ler o rótulo. Evite os ingredientes mais nocivos para o ambiente.

  4. Molhe bem o cabelo antes de juntar o champô, pois permite reduzir a quantidade de produto utilizado.

  5. No caso dos champôs líquidos, em vez de aplicar o produto diretamente no cabelo, ponha uma noz de champô na palma da mão. Assim, controlará mais facilmente a quantidade usada por lavagem.

  6. Quando lhe parecer que o champô líquido está a acabar, retire a tampa, adicione um pouco de água, feche, agite ligeiramente e inverta a embalagem. Irá fazer render o champô para um número superior de lavagens.

  7. Separe sempre a embalagem vazia e coloque-a no ecoponto amarelo, no caso da embalagem de plástico, ou no ecoponto azul, no caso da embalagem de cartão.

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