Primeiro-ministro húngaro aterra em Moscovo e vai encontrar-se com Putin
O Governo húngaro adiantou que Viktor Orbán vai reunir com o líder russo “no âmbito da sua missão de paz”. Von der Leyen avisa que “o apaziguamento não vai parar Putin”
O Governo húngaro adiantou que Viktor Orbán vai reunir com o líder russo “no âmbito da sua missão de paz”. Von der Leyen avisa que “o apaziguamento não vai parar Putin”
Jornalista
O primeiro-ministro da Hungria viajou esta sexta-feira para Moscovo, para se encontrar com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Num comunicado divulgado pela agência estatal de notícias, o Governo húngaro explicou que Viktor Orbán “chegou a Moscovo no âmbito da sua missão de paz”. “O primeiro-ministro ministro vai encontrar-se com o Presidente Vladimir Putin”, confirma.
A viagem de Orbán surge menos de 24 horas depois de Charles Michel. presidente do Conselho Europeu, ter avisado que o líder autoritário húngaro “não tem mandato para dialogar com a Rússia em nome da União Europeia”, mesmo que a Hungria detenha a presidência rotativa do Conselho da UE.
A presidente da Comissão Europeia também já reagiu à visita e mostrou a mesma indignação com a rebeldia da Hungria em conversar com Putin – numa altura em que a UE continua a apoiar firmemente a Ucrânia.
“O apaziguamento não vai parar Putin. Apenas união e determinação podem levar a uma paz justa, compreensiva e duradoura na Ucrânia”, afirmou Ursula von der Leyen, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter).
E o alto representante da União Europeia para Assuntos Externos reiterou que o encontro entre os líderes húngaro e russo “ocorre, exclusivamente, no quadro de relações bilaterais” entre os dois países.
“A Hungria é agora o Estado-membro da UE com a presidência rotativa do Conselho até 31 de dezembro de 2024. Isso não implica qualquer representação externa da União, que é da responsabilidade do presidente do Conselho Europeu ao nível governamental e de chefes de Estado, e o alto representante ao nível ministerial", disse Josep Borrell, em comunicado, acrescentando que Orbán “não representa a UE em qualquer forma”.
E Borrell aproveitou para recordar que Putin “foi acusado pelo Tribunal Penal Internacional pelo seu papel na deportação forçada de crianças da Ucrânia para a Rússia".
As divergências diplomáticas entre a Hungria e a União Europeia, especialmente no que diz respeito à forma como lidar com a invasão russa na Ucrânia, não são recentes. Viktor Orbán é há muito criticado por vários países e organizações não-governamentais por acomodar os interesses do Kremlin no seio da União Europeia.
O primeiro-ministro húngaro é até agora, aliás, o único líder do bloco europeu a visitar Putin desde fevereiro de 2022.
Ao mesmo tempo, Orbán também tem prometido que continua a defender a soberania ucraniana e, na terça-feira, viajou até Kiev para se encontrar com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Durante a viagem, o líder da Hungria reiterou a necessidade de um cessar-fogo na Ucrânia e novas conversações de paz.
Mas manteve-se, como sempre, relutante em contribuir para o esforço europeu de fornecer mais armas às forças ucranianas e foi também contra a abertura de negociações de adesão da Ucrânia à UE (a que acabou por aceder).
Na terça-feira, em Budapeste, o porta-voz do Governo húngaro, Zoltán Kovács, disse aos correspondentes europeus e ao Expresso que Orbán “está empenhado na paz”, mas defende que "continuar a dar armas só garante a continuidade de uma banho de sangue sem sentido".
Outros líderes europeus juntaram-se aos representantes da UE em condenar a viagem de Orbán a Moscovo, com várias mensagens nas redes sociais. O Governo da Suécia usou o X (antigo Twitter) para acusar o primeiro-ministro húngaro de ser “irresponsável e desleal ao usar a presidência da Hungria do Conselho para visitar Moscovo e Putin”.
“Envia o sinal errado para o mundo e é um insulto à luta do povo ucraniano pela sua liberdade. Orbán está sozinho nisto”, afirmou a contra oficial do primeiro-ministro Ulf Kristersson.
Petr Fiala, primeiro-ministro da Chéquia, reiterou que Viktor Orbán “não representa os interesses da UE” e do seu país. “Nem tem qualquer mandato para negociar por nós. A posição checa é clara: Putin é o agresso, nós estamos com a Ucrânia”, vincou Fiala.
E Kaja Kallas, atual primeira-ministra da Estónia - e futura chefe da diplomacia europeia, após ter sido nomeada pelo Conselho Europeu -, repetindo o afastamento dos chefes europeus da posição de Orbán, condenou-o por “aproveitar a presidência europeia” da Hungria “para fomentar confusão”.
[Notícia atualizada às 12h38]
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