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GERADO EM: 21/07/2024 - 04:30

55 anos após a chegada à Lua: A nova corrida espacial entre EUA e China.

A chegada do homem à Lua completa 55 anos, marcando o início de uma nova corrida espacial entre EUA e China, visando transformar a Lua em trampolim para Marte. Projetos como a Artemis dos EUA e a Estação Internacional de Pesquisa Lunar da China buscam explorar recursos, facilitar viagens e estabelecer bases permanentes no satélite. A disputa envolve interesses militares, econômicos e estratégicos, com implicações de longo prazo na exploração espacial e na geopolítica.

A informação chegou via rádio à sala de comando. A nave Eagle (águia, em inglês) havia pousado com sucesso na Lua, comunicou o astronauta americano Neil Armstrong, pouco antes de deixar sua pegada no satélite. O desembarque histórico completou 55 anos ontem, mas parece questão de tempo até que um novo seja realizado. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, foi dada a largada para uma nova corrida espacial que não vislumbra apenas caminhar na Lua, mas também transformar o satélite em um trampolim para Marte.

Se, na primeira corrida espacial, o impulso principal foi a disputa entre EUA e a então União Soviética, agora é o avanço chinês na área — com seu potencial uso militar — que serve de principal estímulo, com o reforço de empresas privadas do lado americano. Tanto os Estados Unidos quanto a China planejam construir uma base permanente na Lua. O projeto é imprescindível em longo prazo principalmente para quem deseja explorar além do satélite. Segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), são esperadas mais de cem missões robóticas e tripuladas internacionais na Lua até 2030.

— No fundo, no fundo, nada mudou — disse Renato Las Casas, professor aposentado do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). — O homem está cada vez mais convencido de que quem dominar o espaço vai dominar o planeta.

Planos de voo

A Nasa iniciou em 2017 o Programa Artemis, que estipulou pelo menos cinco lançamentos à Lua (ao menos quatro com custo estimado individual de ao menos US$ 4,2 bilhões), dois deles a princípio tripulados: o Artemis II, que orbitará o satélite e está programado para setembro de 2025; e o Artemis III, que pretende dar fim ao jejum de cinco décadas em 2026 (a última viagem à Lua ocorreu em 1972 no âmbito do Programa Apollo). A Artemis I ocorreu com sucesso no fim de 2022, em um teste da cápsula Orion antes das próximas missões.

O programa americano está inserido na arquitetura “Moon to Mars” (Da Lua a Marte, em tradução literal), que, entre outros objetivos, pretende “criar sistemas necessários para humanos viajarem para a Lua e para Marte, viverem e trabalharem lá e retornarem em segurança para a Terra”. Para a Artemis IV, o governo americano pretende lançar o Gateway, uma pequena estação espacial que funcionará na órbita lunar como um posto avançado para desenvolver pesquisas científicas, planejar missões na superfície lunar e traçar as primeiras missões ao planeta vermelho.

Sob o guarda-chuva da Artemis, a Nasa também lançou uma iniciativa que congrega 14 empresas. Além de baratear essas missões, o objetivo é estimular uma espécie de “economia lunar”, com o fornecedores participando de licitações para viabilizar cargas úteis para o governo americano, lançamentos da Terra e pousos na superfície lunar.

— O que aconteceu foi que o modelo americano [da Guerra Fria] se esgotou, então eles partiram para um novo modelo com parcerias fortes com empresas privadas — afirmou Las Casas, acrescentando: — Temos agora algo que se repetiu com as grandes navegações. Era um grande empreendimento que precisava de um governo forte para bancar. Hoje em dia são centenas, milhares de empresas que correm os oceanos todos. Lembrando que essas empresas privadas contam muito fortemente com o capital governamental.

A China, por sua vez, anunciou que pretende enviar sua primeira missão tripulada à Lua até o fim da década. Enquanto se prepara para isso, Pequim desenvolve a Estação Internacional de Pesquisa Lunar (ILRS, na sigla em inglês), que terá como objetivo facilitar o transporte cislunar (aquele entre a Terra e a Lua), a exploração lunar, além da condução de pesquisas. Batizada de “Reconhecimento”, a primeira etapa do projeto começou em 2021 e está programada para seguir até o ano que vem. Na sequência, será a fase de “Construção”, que deverá seguir até 2035, com o último estágio prevendo o estabelecimento de uma base permanente na Lua. A última etapa é a “Utilização”.

— Se a gente fala da China, a gente fala do planejamento a cem anos. Se a gente fala dos países ocidentais, onde os interesses são a cada quatro, cinco ou seis anos, a gente fala para as próximas eleições. Então o planejamento é completamente diferente, assim como os orçamentos, as métricas, as metas — explica Sébastien Rondineau, professor da Universidade de Brasília (UnB).

Por que uma base lunar?

Só para chegar à Lua, é preciso romper a atmosfera e fazer um movimento contrário à gravidade, algo difícil e extremamente custoso. Uma base permanente na Lua poderia facilitar o lançamento a Marte, já que o satélite não tem atmosfera e tem uma gravidade cerca de dez vezes menor que a da Terra, além de servir como uma “escala”, reduzindo os riscos de uma viagem direta ao planeta vermelho.

Mas um dos motivos mais importantes é a possibilidade de extrair e utilizar, na própria Lua, recursos para produção de combustível, oxigênio e alimentos, o que permitiria uma exploração espacial mais duradoura, menos complicada e arriscada. Ou, eventualmente, até empregar esses recursos na Terra. E, nesse caso, “quem chega primeiro é o dono”, diz Rondineau.

— A gente está falando da colonização da Lua também. E, se acharem recursos muito valiosos, com certeza vai ser ainda pior [a disputa] — disse.

Tendo como norte a exploração e construção de uma base permanente, uma análise de 2020 do Center for Strategic International Studies, centro de estudos em Washington, apontou que o equador lunar seria importante pela presença de Hélio-3. Útil para fusões nucleares eficientes sem resíduos nocivos, a substância poderia “resolver a demanda energética da Humanidade por cerca de 10 mil anos ao menos”, segundo o geoquímico chinês Ouyang Ziyuan, citado no artigo “De olho no preço: as implicações estratégicas do espaço cislunar e da Lua”.

Já os polos seriam importantes pelo gelo, cuja presença na região foi confirmada pela Nasa a partir de dados coletados por uma sonda indiana em 2018. Uma base fixada nessa região também teria acesso mais fácil a uma eventual estação espacial na órbita lunar, demandando pouco combustível.

Em 2020, a agência espacial americana detectou moléculas de água na cratera Clavius, uma das mais visíveis da Terra, confirmando pela primeira vez a presença do líquido na superfície lunar que é iluminada por raios solares. A quantidade é pouca, e ainda são necessárias mais pesquisas para saber, por exemplo, como extraí-la. Mesmo assim, a descoberta levanta questões sobre como a água se formou ali e como é preservada em um ambiente sem atmosfera e árido — segundo a Nasa, cem vezes mais seco do que o Deserto do Saara. Seu mapeamento também serve como uma bússola para os pesquisadores de onde ir para responder a essas perguntas.

Potencial conflito

Além da exploração de seus recursos de água e Hélio-3, e também dos Elementos de Terras Raras (REE, na sigla em inglês) — importantes para aplicações de segurança nacional e alta tecnologia —, sair na frente também poderia garantir domínio sobre o espaço cislunar. Afinal, antes ter acesso aos recursos, é preciso garantir que o caminho esteja livre. E, em um potencial conflito, “tentar impedir o acesso de seus adversários à Lua”, aponta a análise do centro de estudos americano.

— Se você tem tecnologia para chegar, terá mais voz na definição das leis de exploração e comerciais desses locais — destacou Hélio J. Rocha-Pinto, presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) e professor da UFRJ. — Quem não chega é que vai estar para trás.

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