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Dialeto caipira

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Dialeto caipira
Falado(a) em:  São Paulo
 Minas Gerais
 Mato Grosso do Sul
 Goiás
 Paraná
Total de falantes: sem números exatos
Posição: Não se encontra entre os 100 primeiros
Família: Indo-europeia
 Língua portuguesa
  Português brasileiro
   Dialeto caipira
Estatuto oficial
Língua oficial de: sem reconhecimento oficial
Regulado por: sem regulamentação oficial
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---

O caipira é um dialeto da língua portuguesa falado em localidades de influência caipira na Paulistânia, sobretudo no interior do estado de São Paulo, no leste sul de Mato Grosso do Sul, no Triângulo[1] e sul de Minas Gerais,[2] no sul de Goiás,[3] no extremo norte, no centro e no oeste do Paraná, como em outras regiões do interior do estado.[4][5][6] Sua delimitação e caracterização datam de 1920, com a obra de Amadeu Amaral, O Dialeto Caipira.[7]

O dialeto caipira foi possivelmente influenciado pelo tupi antigo, bem como por um de seus desenvolvimentos históricos, a língua geral paulista. Sendo a língua habitual dos bandeirantes que ocuparam as regiões onde hoje se ouve tal variante dialetal, a língua tupi antiga não apresentava alguns sons usuais do português, como os representados pelas letras l e r (de "rato", por exemplo) e pelo dígrafo lh. Com efeito, o dialeto caipira se caracteriza pela substituição, em fim de sílaba, do fonema lateral [l] pelo fonema /r/, flap ("almoço" vira armoço, "coronel", coroner), pela substituição do fonema [ʎ] por um i semivocálico, como em "abelha" e "trabalho", que se leem abeia e trabaio, e pela queda da consoante /r/ dos verbos no infinitivo (andá, corrê, dormi). Nos três casos ocorreu a adaptação da fonética portuguesa à tupi. Outro ponto em comum entre a língua tupi e o dialeto caipira é a ausência de diferenciação entre singular e plural: kunhã, em tupi antigo, pode significar tanto "mulher" quanto "mulheres", e o dialeto caipira usa tanto "a casa" quanto "as casa".[8]

Português arcaico

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O vocabulário da língua caipira é, naturalmente, bastante restrito. Ele é formado, em parte, de elementos oriundos do português usado pelo primitivo colonizador, muitos dos quais se arcaizaram com a criação de novos acordos ortográficos; de termos provenientes das línguas indígenas; de vocábulos importados de outras línguas, por via indireta e de vocábulos formados na própria cultura caipira. Em verdade, estes não se limitam ao léxico, todo o dialeto está impregnado deles, desde a fonética até a sintaxe. O dialeto representa um estado atrasado do português, e que sobre esse fundo se vieram sucessivamente entretecendo os produtos de uma evolução divergente, o seu acurado exame pode auxiliar a explicação de certos fatos ainda mal elucidados da fonologia, da morfologia e da sintaxe histórica da língua. Por exemplo: a pronunciação clara do sons das letras “e” e “o” átonos finais comprova o fato de que o ensurdecimento de vogais só começou em época relativamente próxima, pois de outro modo não se compreenderia porque o caipira pronuncia lado, verdade, quando no português, falado em Portugal, África e Ásia ou na maioria das regiões do Brasil (exceto no Sul) comumente se pronuncia ladu, verdad- ou verdadi.

Releva notar que o povo caipira desconhece a pronúncia do "si", inventada por gramáticos e popularizada entre a gente culta, no Brasil, por via literária. Em relação a este pronome pessoal, o caipira diz sempre, e bem claramente, "se", literalmente como é escrito, sem fazer uso da iotização, que neste caso é comum em todo o Brasil.[9]

São em grande número, relativamente à extensão do vocabulário dialetal, as formas esquecidas ou desusadas na língua. Lendo-se certos documentos vernáculos dos fins do século XV e de princípios e meados do século XVI, é impossível não dar-se conta que há muita semelhança da respectiva linguagem arcaica portuguesa com a dos caipiras e com a linguagem tradicional dos paulistas, que não é senão o mesmo dialeto um pouco mais polido.

Na carta de Pero Vaz de Caminha abundam formas vocabulares e modismos envelhecidos na língua, mas ainda bem vivos no falar caipira: inorância, -parecer (aparecer) mêa (adj. meia), u’a (uma), trosquia, imos (vamos), despois, reinar (brincar), preposito, luitar, desposto, alevantar.[10]

Características

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Desde a obra de Amaral, a fonética caipira é marcada por cinco principais traços distintivos:[11]

  1. O "R" caipira: O fonema /r/, em fim de sílaba ou em posição intervocálica, assume as características formas aproximante alveolar [ɹ], retroflexo [ɻ].[12][13][14]
  2. A rotacização do "L": a permutação, em fim de sílaba, da aproximante lateral [l] pelo fonema /r/ (mil > mir, enxoval > enxovar, claro > craro, etc.). Esse traço não é exclusivo do dialeto caipira, mas se faz presente de forma gradual ao longo de todo o país, sendo menos comum na linguagem culta. Trata-se de um fenômeno que já vinha ocorrendo na passagem do latim para o português (ex: clavu > cravo).[15]
  3. A iotização do "LH": [ʎ] (<Falhou> [faˈjo]; <Mulher> [muˈjɛ]; <Alho> [ˈaju]; <Velho> [vɛˈju]; <Olhei> [oˈjej], etc.). Da mesma forma que a rotacização do L, esse traço existe ao longo do país todo, sendo mais uma marca social do que regional.[16]
  4. A apócope da consoante /r/ na terminação dos verbos no infinitivo[17] (<Brincar> [bɾĩˈka]; <Olhar> [oˈja]; <Comer> [koˈme]; <Chorar>: [ʃoˈɾa]; etc.).
  5. A transformação de proparoxítonas em paroxítonas: A apócope ou síncope em palavras proparoxítonas e a aférese em muitas palavras.

Morfossintáticas

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Algumas características morfossintáticas difundidas por todo o falar brasileiro são, popularmente, vistas como características do dialeto caipira, como:

  • a concordância de número marcada apenas no artigo[18] (<as mulheres> [az muˈjɛ], <os homens> [u ˈzomi], <as coisas> [as ˈkojzɐ], <os primos> [us ˈpɾimu] etc.)
  • a nasalização do /d/ na terminação do gerúndio (nas outras terminações em ←ndo> não sofrem esse fenômeno):[19] (<Falando> [faˈlɐ̃nu]; <Quando> [ˈkwɐ̃du]; <Dormindo> [duɹˈmĩnu]; <Lindo> [ˈlĩdu]; <Correndo> [koˈhẽnu]; <Segundo> [siˈɡũdu]; <Pondo> [ˈpõnu]; <Mundo> [ˈmũdu])

O verbo ter usa-se impessoalmente em vez de haver, quando o complemento não encerra noção de tempo: Tinha munta gente na eigrejaTem home que num gosta de caçadaNaquêle barranco tem pedra de fogo. Quando o complemento é tempo, ano, semana, emprega-se às vezes haver, porém, mais geralmente, fazer: Já fáiz mai de ano que eu num vos vejoEstive na sua casa fáiz quinze dia. Haver é limitado a certas e raras construções: Há que tempo!Há quanto tempo foi isso?Num hai quem num saiba. Nessas construções, o verbo como que se anquilosou, perdendo sua vitalidade. Restringimo-nos, entretanto, neste como em outros pontos, a indicar apenas o fato, sem o precisar completamente, por falta de suficientes elementos de observação. Vem a propósito referir que a forma hai, contração e ditongação de há aí (por "há i", que se encontra em muitos documentos antigos da língua portuguesa) só é empregada, que saibamos, nestas condições: — quando precede ao verbo o advérbio não, como no exemplo dado acima; - quando o verbo termina a proposição: É tudo quanto haiVô vê se inda hai (Vou ver se ainda há).[20]

Mapa dos falares do estado de Minas Gerais. No norte, o falar geraizeiro. No centro e leste, o falar mineiro. No sul e oeste, o falar caipira.

O dialeto caipira pode ser dividido em cinco subdialetos:

Referências

  1. DA SILVA, Hélen Cristina (2012). O /R/ CAIPIRA NO TRIÂNGULO MINEIRO: UM ESTUDO DIALETOLÓGICO E DE ATITUDES LINGUÍSTICAS (PDF). [S.l.: s.n.] 
  2. a b Amaral, Amadeu (1976). O dialeto caipira. São Paulo: Hucitec 
  3. Ribeiro, José H (1999). Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: 34. ISBN 85-7326-157-9 
  4. Amaral, Amadeu (1976). O dialeto caipira. São Paulo: Hucitec 
  5. Pontes, Ismael (1992). «A vocalização do /r/ pós-vocálico oriundo de /l/ no dialeto caipira». Consultado em 24 de abril de 2022 
  6. Cristino, Tathiane; Busse, Sanimar (19 de dezembro de 2019). «O FALAR CAIPIRA NÃO É UM PROBREMA – UM ESTUDO DO ROTACISMO E DO RETROFLEXO NO FALAR CASCAVELENSE». Revista Primeira Escrita (6): 36. ISSN 2359-0335. Consultado em 24 de abril de 2022 
  7. Bagno (2011), p. 245.
  8. NAVARRO, Eduardo de Almeida (2017). «A influência do tupi antigo e das línguas gerais coloniais na formação do português falado no Brasil». Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (101): 53 e 54. Consultado em 27 de março de 2022. Cópia arquivada em 19 de março de 2022 
  9. AMARAL, Amadeu. O Dialeto Caipira (PDF). [S.l.: s.n.] 
  10. AMARAL, Amadeu. «O dialeto caipira» (PDF) 
  11. Castro (2006), p. 20.
  12. Ferraz, Irineu da Silva (2005). «Características Fonético-Acústicas do /r/ Retroflexo do Português Brasileiro: Dados de Informantes de Pato Branco (PR).» (PDF). Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Paraná (UFPR)  Pág. 19-21
  13. Leite, Cândida Mara Britto (2010). «O /r/ em posição de coda silábica na capital do interior paulista: uma abordagem sociolinguística». Sínteses  Pág. 111 (pág. 2 do PDF em anexo)
  14. Castro (2006), pp. 81 a 85.
  15. Castro (2006), pp. 85 a 89.
  16. Castro (2006), pp. 94 a 96.
  17. Bagno (2011), p. 328.
  18. Bagno (2011), p. 705.
  19. Ferreira, Jesuelem Salvani; Tenani, Luciani (2009). «A redução do gerúndio à luz da fonologia Lexical» (PDF). Estudos Linguísticos. 38 (1): 63-64  (pag. 5 e 6 do pdf em anexo).
  20. Amaral, Amadeu. «O dialeto caipira» (PDF) 
  21. a b c d Amaral, Amadeu (1976). O dialeto caipira. São Paulo: Hucitec 
  22. Rodrigues, Ada Natal (1987). O dialeto caipira na região de Piracicaba. São Paulo: Atica 
  23. Machado-Soares, Eliane Pereira (2010–2012). «Aspectos fonéticos, fonológicos e sociolinguísticos das palatais lateral e nasal» (PDF). Revista de Letras  Pág. 111

Ligações externas

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