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I Ching

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I Ching
I Ching
Parte do I Ching gravada em pedra, no Museu Beilin, em Xian, em Shaanxi, na China.
Idioma Língua chinesa
País China
Gênero Adivinhação, Cosmologia

O I Ching ou Yi Jing (chinês tradicional: 易經, pinyin: Yìjīng, Mandarin pronunciation: [î tɕíŋ] (escutar)), geralmente traduzido como Livro das Mutações ou Clássico das Mutações, é um texto clássico chinês composto de várias camadas sobrepostas ao longo do tempo é considerado um dos mais antigos e importantes livros de filosofia chinesa[1] que chegaram até nossos dias. Originalmente um manual de adivinhação durante a Dinastia Zhou Ocidental (1000–750 AEC), foi transformado, ao longo do período dos Estados Combatentes e o início do período imperial (500–200 AEC), num texto cosmológico com uma série de comentários filosóficos conhecida como as "Dez Asas",[2] (十翼 shí yì). Depois de se tornar parte dos cinco clássicos no século II AEC, o I Ching foi objeto de comentários de estudiosos e a base para a prática de adivinhação por séculos no Oriente, tendo também um papel influente no entendimento do pensamento oriental pelo Ocidente.

O "I Ching" pode ser compreendido e estudado tanto como um oráculo quanto como um livro de sabedoria. Na própria China, é alvo de estudo diferenciado realizado por religiosos, eruditos e praticantes da filosofia de vida taoista. O "I Ching", é simultaneamente um dos sistemas divinatórios e de significação mais complexos e elaborados que alguma vez existiram. A complexidade semiótica do sistema é em tudo superior à de sistemas como as runas nórdicas ou o tarot.

Tal como os demais sistemas divinatórios, o "I Ching" pode ser utilizado como ferramenta para definir conteúdos de qualquer estrutura semiótica, seja à luz da psicanálise da alquimia psíquica, por exemplo, quanto a análise literária, a composição musical, o cinema e toda uma gama de outras práticas trans-disciplinares.

I Ching
Chinês Tradicional: 易經
Chinês Simplificado: 易经
Hanyu Pinyin: Yì Jīng;
Wade-Giles: I4Ching1
Alt. romanização I Jing, Yi Ching, Yi King
Cantonês Jyutping: jik6 ging1

Filosofia e cosmologia no I Ching

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As oito figuras (trigramas) que formam o I Ching estão na base da cultura que se desenvolveu na China durante milênios. Para os chineses, a ordem do mundo depende de se dar o nome correto às coisasː portanto, o significado de "I" sempre foi objeto de discussão.

Alguns veem o ideograma I como semelhante ao desenho de um camaleão, representando o movimento (como o lagarto) e a mutação (como o mimetismo do camaleão, que muda de cor conforme a cor do ambiente em que está). Outros afirmam que o ideograma é formado pelo do Sol em cima e o da Lua embaixo, a mutação sendo simbolizada pelo movimento incessante destes astros no céu.

Para o pensamento chinês, não há o que mude, há apenas o mudar. A mutação seria o caráter mesmo do mundo. Mas a mutação é, em si mesma, invariável, ela sempre existe. Portanto, "I" significa mutação e não mutação. Subjaz, à complexidade do universo, uma 'simplicidade' que consiste nos princípios que estão por trás de todos os ciclos. Ao fluir com as circunstâncias, se evita o atrito e, portanto, a resistência: esse é o caminho do homem sábio.

Sequência de hexagramas do Rei Wen

Tanto o taoismo como o confucionismo, duas das principais correntes filosóficas chinesas, beberam da fonte do I.

Tudo que ocorre no céu e na terra tem sua imagem nos oito trigramas, que estão continuamente se transformando um no outro. Têm várias camadas de significados, e representam processos da natureza.

O I Ching surgiu antes da dinastia Chou (1150-249 a.C.) e era um conjunto de oito Kua, figuras formadas por três ou seis linhas sobrepostas. James Legge, na tradução para o inglês (1882), chamou de trigrama o conjunto de três linhas e hexagrama o de seis, para distingui-los entre si.

A origem dos 64 hexagramas é atribuída a Fu Hsi, o criador mítico chinês, e, até a dinastia Chou, eles formavam o I. Os oito trigramas recebem o nome de Pa Kua (Wide-giles) ou Ba Gua (pynin)ː a sua origem é pré-literária.

O tempo obscureceu a compreensão das linhas e, no começo da dinastia Chou, surgiram dois anexos: o Julgamento, atribuído pela tradição ao rei Wên, e as Linhas, atribuídas a seu filho, o duque de Chou, ambos fundadores desta dinastia.

Mais tarde, mesmo o significado destes textos começou a ficar obscuro e, no século VI a.C., foram acrescentadas as Dez Asas, que a tradição atribui a Confúcio, embora seja claro que a maioria delas pode não ser de sua autoria. O nome "I Ching" é dado ao conjunto dos Kua e todos os textos posteriores [3].

O I Ching escapou da grande queima de livros feita pelo tirano Ch'in Shih Huang Ti, no tempo em que era considerado um livro de magia e adivinhação, o que levou a escola de magos das dinastias Ch'in e Han a interpretá-lo segundo outras visões. A doutrina do Yin Yang foi sobreposta ao texto. O sábio Wang Pi veio a resgatá-lo como livro de sabedoria.

Houve várias traduções do "I Ching" para línguas ocidentais, algumas claramente desrespeitosas, tratando a cultura chinesa como primitiva. A tradução de Legge fez parte da série Sacred books of the East (Livros sagrados do Oriente), e foi traduzida também para o português.

Richard Wilhelm traduziu o I Ching para o alemão ao longo dos anos em que viveu na China, inclusive durante a invasão japonesa, quando a cidade em que estava foi cercada. Teve o apoio de um velho e sábio mestre, Lao Nai Suan, que morreu ao ser concluída a tradução. A edição alemã é do ano de 1923 e há uma edição em português, publicada em 1984 [3]. Wilhelm traduziu também outro clássico chinês, o Tao Te Ching.

O uso oracular do I Ching

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A ênfase no aspecto oracular do I Ching variou com o tempo. No século VI a.C., era visto mais como livro de filosofia, ao passo que, na dinastia Han, quando a magia teve grande papel, era visto como oráculo.

Como todo oráculo, exige a aproximação correta: a meditação prévia, o ritual e a formulação precisa da pergunta. Acredita-se que o oráculo nunca falha, quem falha é o consulente: se a pergunta não foi clara e precisa, isto indica que a pessoa não tem clareza sobre o que deseja saber. O ritual tem a função psicológica de focar a atenção da pessoa na consulta.

A consulta oracular é feita com 50 varetas (originalmente de mil-folhas, uma planta sagrada), das quais uma é separada e as outras 49 manuseadas, seguindo seis vezes a mesma operação matemática, para a obtenção da resposta. Dessa manipulação, resulta uma linha firme (yang) ou uma linha maleável (yin), que podem ser fixas ou móveis. As linhas firmes são resultado da obtenção dos números 7 ou 9, e as maleáveis vêm dos números 6 ou 8. Destes, 6 e 9 correspondem a linhas móveis que, por estarem prestes a mudar, têm importância na interpretação [3]. Por ser um livro sagrado, o I Ching e as varetas usadas na consulta eram guardadas em uma caixa de madeira virgem, embrulhados em seda também virgem.

Mais modernamente a consulta ao I Ching é realizada também em métodos mais simples, como moedas, dados e até mesmo baralhos. As probabilidades de obtenção dos hexagramas e suas mutações pode variar de acordo com o método utilizado [4].

Durante a dinastia Han, que durou de 206 a.C. até 220 d.C., a consulta começou a ser feita de forma alternativa, mais simples, com o uso de três moedas. Este é o método mais utilizado hoje no Japão e nos países ocidentais.

Um outro estilo oracular [carece de fontes?]

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Há um estilo oracular que é de dentro para fora (as 3 ligações Yinː Pé - Tronco - Mão) e de fora para dentro (as 3 Ligações Yangː Mão - Cabeça - Pé). De baixo para cima, assim como se constrói casas, prédios, circunferências que começam no 0º, são apenas objetos tocáveis feitos pelo ser humano.

Em que se considera os 6 Níveis Energéticos da Medicina Tradicional Chinesa para ordenar as 6 Linhas dos 64 Hexagramas:

Ordem Linear Elemento Cor 5 Shen Mão Ligação Cor Elemento 5 Shen Ba Gua
3 Fogo Vermelho Shen Yang / Yang Ovelha Xiao Chang Tai Yang Macaco Pang Guang Água Azul Zhi Yang Gen PG abre Yang Qiao Mai
5 Fogo Preto Shen Yin / Yang Gato San Jiao Shao Yang Rato Dan Madeira Verde Hun Yang Kan Dan abre Dai Mai
1 Metal Branco Po Yang Coelho Da Chang Yang Ming Dragão Wei 69 Dourado Negro Yi Yang Zhen Relâmpago Trovão
2 Metal Branco Po Yin Tigre Fei Tai Yin Serpente Pi 69 Dourado Negro Yi Yin Dui Pulmão 2 Lados Superiores
6 Fogo Preto Shen Yin / Yin Cachorro Xin Bao Jue Yin Mamute Gan Madeira Verde Hun Yin Li 2 Lados Mediais Coração Fígado
4 Fogo Vermelho Shen Yang / Yin Cavalo Xin Shao Yin Fênix Shen Água Azul Zhi Yin Xun Rims 2 Lados Inferiores
Dan Tian Linha Caminho 12 Si Xiang Zodíaco Zang Fu
Zhong Abre Central Tronco - Mão / 3 Mão Yin Sair Fogo Verão Leão Fei Pulmão - Cavalo Xin Coração - Cachorro Xin Bao
Shang Superior - Esquerda Mão Mão - Cabeça / 3 Mão Yang Entrar Metal Outono Coelho Da Chang - Ovelha Xiao Chang - Gato San Jiao
Xia Inferior - Direita Pé Cabeça - Pé / 3 Pé Yang Descer Água Inverno Dragão Wei - Macaco Pang Guang - Rato Dan
Zhong Fecha Central Pé - Tronco / 3 Pé Yin Subir Madeira Primavera Serpente Pi - Fênix Shen - Mamute Gan

Hipótese mitológica para a criação do I Ching

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Há cerca de seis ou sete mil anos, havia um mito universal de que todos os seres eram provenientes do útero de uma Mãe Cósmica;[5] tal mito da criação universal teve lugar durante uma fase informe do mundo, aonde nada podia ainda ser identificado. Inicialmente cultuada na Índia, como Kali, a Mãe Informe, recebeu, depois, os nomes de Tiamat (Babilônia), Nu Kua (China), Temut (Egito), Têmis (Grécia pré-helênica) e Tehom (Síria e Canaã) - este último foi o termo usado mais tarde pelos escritores bíblicos para Abismo.

As mais antigas noções de criação se originavam da ideia básica do nascimento, que consistia na única origem possível das coisas e esta condição prévia do caos primordial foi extraída diretamente da teoria arcaica de que o útero cheio de sangue era capaz de criar magicamente a prole. Acreditava-se que, a partir do sangue divino do útero e através de um movimento, dança ou ritmo cardíaco que agitasse este sangue, surgissem os "frutos", a própria maternidade. Essa é uma das razões pelas quais as danças das mulheres primitivas eram repletas em movimentos pélvicos e abdominais. Muitas tradições referiram o princípio do coração materno, que detém todo o poder da criação.

Este coração materno, "uma energia capaz de coagular o caos espumoso" [6] organizou, separou e definou os elementos que compõem e produzem o cosmos; a esta energia organizadora os gregos deram o nome de Diakosmos, a Determinação da Deusa. Os egípcios, nos hieróglifos, chamaram este coração de ab e os hebreus foram os primeiros a chamar de pai (ainda que masculinizassem, a ideia fundamental de família e continuidade da vida não era patriarcal).

O coração e o sangue definem um elo imanente a todos os seres que dele nasceram e uma ideia de coração oculto do universo que pulsa e mantém o ritmo de ciclos das estações, dos nascimentos, mortes, destinos. Este é o significado que está no Livro dos Mortos ou das mutações. No mesmo sentido, o livro chinês é denominado Livro das Mutações.

O nome chinês dado à Mãe Primordial e informe é Nu Kua, nome referido também entre os egípcios, gregos, mesopotâmicos e hindu. As referências a ela remontam a 2500 a.C. e a imagem permanece venerada nas regiões setentrionais. Kuan Yin ou A Mulher é uma deusa dos casamentos e das mulheres em geral. O corpo original do I Ching chama-se "kua" (oito Trigramas) e os sessenta e quatro hexagramas são denominados por kua, derivado linguístico de Mãe Primordial ou Nu Kua.

Código Numérico (x2) [carece de fontes?]

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1 Tai Ji

2 Liang Yi (Yin Yang)

4 Si Xiang (Estações)

8 Trigramas (Ba Gua)

64 (8 x 8) Hexagramas

4096 (64 x 64) Mutações Possíveis

16777216 (4096 x 4096) caminhos para se obter um hexagrama e a sua transformação em um outro [7]

Referências

  1. Tamosauskas, Thiago (2019). Filosofia Chinesa: Pensadores chineses de todos os tempos. [S.l.: s.n.] p. 32 
  2. Kern (2010), p. 17.
  3. a b c Wilhelm, Richard (1984). I Ching. O livro das mutações. São Paulo: Pensamento 
  4. Hacker, Edward A. (1993). The I Ching Handbook: A Practical Guide to Personal and Logical Perspectives from the Ancient Chinese Book of Changes (em inglês). [S.l.]: Paradigm Publications 
  5. O I Ching da Deusa,
  6. B. Walker, O I Ching da Deusa, p. 11
  7. The Book of Changes (Zhouyi): A Bronze Age Document (em inglês). [S.l.]: Psychology Press. 2002 
  • I Ching, tradução do chinês para o alemão por Richard Wilhelm, 1923. Edição brasileira, 1982, traduzida do alemão por Alayde Mutzenbecher e Gustavo Corrêa Pinto; traz o prefácio de C.G.Jung à tradução inglesa. .
  • O I Ching da Deusa. Barbara Walker. Editora Cultrix.

Ligações externas

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