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Sistemas fotovoltaicos para autoconsumo: o que deve saber antes de investir

Em casa

Especialistas

painéis fotovoltaícos num telhado
iStock

Não invista em sistemas fotovoltaicos sem antes perceber o seu perfil de consumo e dimensionar a produção de eletricidade. Pode estar a deitar dinheiro à rua, em vez de poupar.

Diminuir a pegada ambiental e, ao mesmo tempo, aumentar a independência da rede elétrica, poupando a carteira ao final do mês são os objetivos da maioria dos consumidores que decidem investir num sistema fotovoltaico de autoconsumo.

Mas escolher a solução certa para um caso específico nem sempre é tarefa fácil. Conhecemos muitos casos em que os conjuntos fotovoltaicos estão completamente desajustados e nunca serão rentáveis.

Para garantir o menor investimento e a maior rentabilidade, deve conhecer o seu perfil de consumo e adequar o sistema em conformidade. É importante que o processo decorra de forma correta e eficaz, pelo que recomendamos o contacto com empresas especializadas na instalação (lista completa no site da DGEG). Exigir sempre uma solução chave na mão é muito importante.

Nos últimos anos, o preço destes sistemas de autoconsumo tem descido de forma significativa. Ainda assim, o custo continua a ser o maior entrave à compra.

O que fazer antes de investir num sistema fotovoltaico

Se já decidiu tirar partido do sol e investir num sistema fotovoltaico para autoconsumo, existem alguns aspetos essenciais a ter em conta. Mesmo nos casos que estão mais otimizados para o seu perfil de consumo, a rede elétrica deve ser mantida como backup. Isto implica que irá ter sempre uma fatura de eletricidade mensal, embora mais reduzida. Tem também de garantir que a energia produzida diariamente é quase toda utilizada em casa. Evita, assim, injetar eletricidade na rede de forma gratuita.

Cada caso é um caso, e o dimensionamento de um sistema fotovoltaico deve ser feito tendo em conta todos os parâmetros possíveis, nomeadamente o fim a que se destina. Se o objetivo for diminuir substancialmente a pegada ambiental e obter a maior independência possível da rede, a solução pode passar por investir num conjunto de painéis e inversor com armazenamento (baterias ou bombas de calor para aquecimento de águas sanitárias, por exemplo), de modo a guardar o excesso de produção para mais tarde utilizar (isto, se existir consumo noutro período que o justifique). Mas, se procurar apenas uma redução ligeira do impacto ambiental, se existirem limitações financeiras ou se o consumo for essencialmente diurno, deve apenas considerar uma solução de autoconsumo puro (sem armazenamento).

Simulámos o cenário de uma família de duas pessoas com uma moradia de um piso e quatro assoalhadas, na zona do Porto, renovada em 2005 e com um nível baixo de isolamento térmico. O casal encontra-se em teletrabalho, e todos os equipamentos que possuem são elétricos, já com alguns anos. Por estarem em casa todo o dia, têm dois picos de consumo, à hora do almoço e à noite.

A nossa simulação com soluções fotovoltaicas com e sem bateria demonstra que não é por comprar a opção mais cara e com maior capacidade de produção que vai aumentar as poupanças, ambientais ou financeiras. O sistema para autoconsumo pode produzir muito durante as horas de sol, mas, se ninguém consumir, está a desperdiçar.

Resultados da simulação com sistemas fotovoltaicos com e sem bateria

Foram simulados 12 conjuntos de sistemas fotovoltaicos para um cenário (família de duas pessoas com uma moradia de um piso e quatro assoalhadas, na zona do Porto, renovada em 2005 e com um nível baixo de isolamento térmico; casal encontra-se em teletrabalho, e todos os equipamentos que possuem são elétricos, já com alguns anos; têm dois picos de consumo, à hora do almoço e à noite), com e sem baterias, em combinações de dois a 12 painéis com diferentes inversores e baterias. Em nenhum foi considerada a venda de excedente à rede.

Para uma opção de autoconsumo puro, a nossa recomendação recai sobre o segundo sistema de menor dimensão, com quatro painéis, dois microinversores e 1200 watts. Apesar de ter um desperdício um pouco maior, quando comparado com a opção menos potente (28% da eletricidade anual injetada na rede, sem remuneração) e um prazo de retorno do investimento cerca de dois meses superior, acaba por permitir poupanças anuais mais vantajosas. A economia de eletricidade é superior e, acima de tudo, há um incremento de 57% na poupança de emissões de dióxido de carbono.

Soluções fotovoltaicas sem bateria

Recomendamos a opção com 4 painéis e 2 microinversores.

2 painéis 1 inversor 600 W

4 painéis 2 inversores 1200 W

8 painéis 4 inversores 2400 W

12 painéis 6 inversores 3600 W

Produção anual (kWh)

965

1930

3861

5790

Consumo no local (kWh)

892

1398

1824

1980

Desperdício (injeção na rede)

8%

28%

53%

66%

Consumo fornecido pela rede (kWh)

3952 (674 €)

3447 (588 €)

3020 (515 €)

2870 (490 €)

Preço do sistema

968 €

1560 €

3006 €

4156 €

Poupança

152 €

239 €

311 €

378 €

Poupança de dióxido de carbono (ano)

173 kg

271 kg

354 kg

384 kg

Retorno do investimento (meses)

76

79

116

148

Como parte do consumo desta família ocorre de noite, é normal que, caso decida investir em sistemas com mais produção, existam desperdícios significativos de energia (injeção não-remunerada na rede), o que pode ser verificado pelas elevadas percentagens de injeção na rede que o sistema de 8 e 12 painéis apresenta.

De modo a atenuar esse desperdício, também avaliámos a possibilidade de optar por uma solução com baterias. Seguindo a máxima do “menos é mais”, verificámos que cerca de 56% do consumo diário de eletricidade ocorria à noite. Se esta percentagem fosse inferior, a opção com armazenamento poderia já não se justificar.

Esta solução permite carregar as baterias durante o dia – podendo aproveitar todo o excesso de produção elétrica – e, mais tarde, usá-la (até à potência máxima de saída do inversor). Com isto, o potencial de redução de emissões de dióxido de carbono é muito superior, assim como as poupanças anuais associadas à fatura da eletricidade. A nossa recomendação, por exemplo, pode gerar uma poupança anual de 550 euros e uma redução anual de emissões de dióxido de carbono de cerca de 625 quilos.

Soluções fotovoltaicas com bateria

Neste caso, recomendamos a opção com 8 painéis e baterias com uma capacidade de 7,2 kWh.

8 painéis inversor 2000 W

8 painéis inversor 2000 W

10 painéis inversores 3000 W

12 painéis inversores 3000 W

Capacidade das baterias (kWh)

7,2

9,6

14,4

14,4

Produção anual (kWh)

3668

3630

4422

5380

Consumo no local (kWh)

3221

3467

3927

4180

Desperdício (injeção na rede)

12%

4%

11%

22%

Consumo fornecido pela rede (kWh)

1624 (277 €)

1377 (234 €)

918 (157 €)

670 (114 €)

Preço do sistema

5795 €

6902 €

10 271 €

10 581 €

Poupança

550 €

591 €

670 €

713 €

Poupança de dióxido de carbono (ano)

625 kg

673 kg

762 kg

811 kg

Retorno do investimento (meses)

127

140

184

178

Qual é, então, o problema? O mesmo dos sistemas de autoconsumo puro, mas inflacionado: o preço do equipamento e da instalação. O investimento inicial é muito significativo, e o mesmo se aplica ao prazo de retorno do investimento. No caso da nossa recomendação, o preço indicativo do sistema é de 5795 euros, e o retorno do investimento acontecerá após os dez anos.

Devo recorrer às entidades instaladoras?

O nosso conselho é questionar e verificar o que lhe propõem antes de gastar qualquer cêntimo. A visita ao nosso simulador para comparar sistemas fotovoltaicos pode ajudar. Para tal, basta indicar a região onde vai instalar o sistema fotovoltaico, se tem orçamentos e qual o número de painéis. E alerta máximo: recorra sempre às entidades instaladoras que têm à disposição todas as ferramentas para dimensionar e validar qualquer sistema. Pode, assim, tirar proveito do sol com base numa escolha informada.

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