Ser ou não ser

João Casaca: “Não vale a pena estar com paninhos quentes, não se consegue erradicar a vespa asiática”

As abelhas são responsáveis por 70% da polinização dos alimentos. Se desparecerem, colocam em risco a vida na Terra. O Secretário Geral da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal diz que os apicultores são os seus guardiões e adianta que 2024 será um ano de recuperação da produção de mel nacional. Oiça a conversa com João Casaca no Podcast Ser ou Não Ser

Matilde Fieschi

Em 2023 Portugal perdeu 80% da produção de mel e o número de colmeias baixou de quase 800 mil para 640 mil, mas 2024 parece trazer boas notícias. “Ao contrário dos últimos dois anos, tivemos uma primavera amena e chuvosa, o que permitiu a floração e não houve nenhum acidente climático. Por isso, a perspetiva de produção para este ano é de recuperação”, vaticina João Casaca, Secretário Geral da Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP).

Quanto ao tema da extinção das abelhas e ao facto de se isso suceder se perderem 70% dos alimentos polinizados por elas, João Casaca chama a atenção para o facto de estas estarem protegidas pelos apicultores, ao contrário de outros insetos.

Destaca a importância da nova Lei do Restauro da Natureza para a apicultura, afirmando que esta pode ajudar na sustentabilidade dos insetos e do planeta. Contudo, o Secretário Geral da FNAP diz que deveria haver mais esclarecimento sobre o papel dos insetos para o planeta, isto porque parece haver uma espécie de “fobia” quando o ser humano se esbarra com estes animais.

Matilde Fieschi

Portugal tem 11.200 apicultores, distribuídos por cinco regiões: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve e ilhas. No entanto, a maioria são apicultores não profissionais e cerca de 10% têm mais de metade das colmeias do país, mais concentrados no Algarve. Produzem mel e outros derivados, como o pólen e a geleia real, além disso, prestam serviços aos agricultores levando as colmeias para os campos para ajudar na polinização das culturas.

Um dos maiores problemas que os apicultores enfrentam são os ninhos de vespa asiática. “Não vale a pena estar com paninhos quentes, esta espécie invasora não se consegue erradicar. Todas as tentativas, falharam, mundialmente. Portugal percebeu isso e está a gerir os efeitos negativos da espécie”, explica, dizendo que esta “praga” representa uma perda invernal de 20% a 30% — de acordo com a região do país — do número de abelhas, quando antes da vespa asiática se cifrava nos 10% a 15%. Além disso, tem um custo acrescido para o apicultor que tem de colocar armadilhas, aumentando os custos variáveis em cerca de 60% por colmeia.

Segundo dados do Parlamento Europeu, há cerca de 600 mil apicultores na Europa e 17 milhões de colmeias. A China é o maior produtor mundial e a Europa o maior importador de mel do mundo. Importa 200 mil toneladas da China, Ucrânia, Argentina e México e exporta 20 mil toneladas para a Suíça, Arábia Saudita, Japão, Estados Unidos e Canadá, mas segundo João Casaca 40% do mel importado é fraudulento.

“Em 2022, a União Europeia apresentou resultados de um plano coordenado do mel. Pediu a vários países para colherem amostras no mercado e 40% do mel importado era xarope de açúcar, milho, arroz...”. Além disso, o preço médio a que é vendido é muito baixo, cerca de 1,5 euros. “Se um apicultor em Portugal não receber pelo menos entre 4 a 4,5 euros pelo mel está a perder dinheiro”, contabiliza.

Portugal é, contudo, um exemplo a nível europeu, uma vez que foi pioneiro a etiquetar a origem do mel. “Agora vai ser prática na Europa”, porque a indústria escrevia no rótulo “mistura de mel de várias origens sem mencionar o país”. João Casaca espera que a partir de 2026 não exista mel à venda na União Europeia que não diga especificamente e de forma clara de que país é originário. “Se essa informação estiver bem presente no rótulo, é uma vantagem comparativa para os produtores portugueses.”

Ser Ou Não Ser
Mário Henriques

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