Poupanças em queda e incentivos nivelados por baixo
Filipa Rendo, jornalista e coordenadora editorial, escreve o editorial da edição de julho da Proteste Investe

Poupanças em queda e incentivos nivelados por baixo

Mais de oito pontos percentuais separam a taxa de poupança em Portugal (5,9%) da da zona euro (14,1%). O que demonstra que, depois do pico atingido durante a pandemia, a poupança dos portugueses cai para o terceiro valor mais baixo das últimas duas décadas, com o rendimento disponível bruto ajustado per capita das famílias a diminuir 0,1%, entre janeiro e março. Uma realidade que contrasta com a da zona euro, segundo dados da União Europeia.

Estes números reavivam a habitual dificuldade de os portugueses se precaverem para o futuro e de disporem de margem financeira para lidar com imprevistos. Isto quando muito se debateu o fim da série E e a nova emissão de Certificados de Aforro com condições menos atrativas. 

A juntar à fraca capacidade de amealhar dos lusos, são fracos os incentivos à poupança por via da oferta de produtos sem risco.

A juntar à fraca capacidade de amealhar dos lusos, são fracos os incentivos à poupança por via da oferta de produtos sem risco. Mesmo com as taxas médias dos depósitos a prazo a registarem pequenas subidas, Portugal é o quarto pior país da zona euro neste critério. Atualmente, os cerca de 50 depósitos com rentabilidade igual ou superior à dos Certificados de Aforro em venda devem-no muito mais à descida da taxa destes últimos, de 3,5% para 2,5% brutos, do que propriamente à melhoria da remuneração dos primeiros. Um nivelamento por baixo que permitiu alavancar artificialmente os depósitos.

Atualmente, os cerca de 50 depósitos com rentabilidade igual ou superior à dos Certificados de Aforro em venda devem-no muito mais à descida da taxa destes últimos do que propriamente à melhoria da remuneração dos primeiros. Um nivelamento por baixo que permitiu alavancar artificialmente os depósitos.

Por outro lado, o relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental veio rebater um dos argumentos usados para reduzir a taxa dos Certificados ao confirmar que o custo da dívida pública em Obrigações do Tesouro é superior ao dos produtos de aforro. Obrigações do Tesouro essas detidas maioritariamente por investidores não-residentes e isentos de IRS, ao contrário do que acontece com os Certificados, direcionados para as famílias e cuja remuneração é taxada pelo próprio Estado a 28 por cento...

Se a determinar a maior rentabilidade dos produtos está a premissa de menor liquidez, então os Certificados do Tesouro Poupança Valor deveriam render mais do que os de Aforro – o que não acontece!

Dado que a taxa dos Certificados foi ainda diminuída por não poder concorrer com a das Obrigações do Tesouro, devido à sua maior liquidez, então exige-se do Estado mais coerência. Se a determinar a maior rentabilidade dos produtos está a premissa de menor liquidez, então os Certificados do Tesouro Poupança Valor deveriam render mais do que os de Aforro – o que não acontece! E deveriam ainda ser lançadas novas Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável que, por serem indexadas à Euribor (perto dos 4%), passariam a oferecer um rendimento muito superior ao dos Certificados do Tesouro. Não pode o Estado usar dois pesos e duas medidas!

Deveriam ser lançadas novas Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável que, por serem indexadas à Euribor passariam a oferecer um rendimento muito superior ao dos Certificados do Tesouro.

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