Um ano devastador para os nervos... e para  as poupanças
Filipa Rendo, jornalista e coordenadora na DECO PROTeste, escreve o editorial da edição de dezembro da PROTESTE INVESTE sobre poupanças

Um ano devastador para os nervos... e para as poupanças

Inflação e crédito à habitação foram, em 2023, o mote para a angústia de milhares de famílias... o custo de vida e a escalada das prestações da casa obrigaram, em muitos casos, a penosos exercícios de aritmética, vistos e revistos a cada mês decorrido. Recorrer às poupanças foi, para quem pôde, a tábua de salvação para garantir o cumprimento das obrigações.

Recorrer às poupanças foi, para quem pôde, a tábua de salvação para garantir o cumprimento das obrigações.

Certificados de Aforro, depósitos a prazo e PPR terão, muito provavelmente, encabeçado a lista dos produtos resgatados. Por um lado, porque os portugueses, pelo seu perfil conservador, privilegiam sobretudo aplicações sem risco; por outro, porque a exceção aberta pelo Governo em 2023 – agora prolongada para 2024 com o dobro do montante – permitiu o levantamento, sem penalização, dos valores acumulados em PPR para o pagamento do crédito à habitação. Uma folga financeira bem-vinda, sem dúvida, mas cujo reverso da medalha é a hipoteca da almofada para a reforma.

Certificados de Aforro, depósitos a prazo e PPR terão, muito provavelmente, encabeçado a lista dos produtos resgatados.

Do ponto de vista da poupança, 2023 foi um ano triste e desinteressante, mesmo para quem não sentiu este aperto financeiro e conseguiu até juntar algum dinheiro. Depósitos a prazo com remunerações baixíssimas na maioria dos bancos – só recentemente se assistiu a uma recuperação, com as taxas brutas médias a aproximarem-se dos 3% –, a juntar à descida, em junho, das taxas dos Certificados de Aforro de 3,5% para 2,5%...

Não é de estranhar que Portugal, historicamente com uma taxa de poupança baixa, esteja atualmente bem abaixo da média da zona euro (com 5,7% sobre o rendimento disponível contra 14,8 por cento). Os mealheiros de curto e de longo prazo das famílias, nomeadamente o fundo de emergência e o complemento para a reforma, sofreram rombos significativos. E manter um PPR é quase um luxo quando deveria ser encarado como uma preocupação com o futuro.

Os mealheiros de curto e de longo prazo das famílias, nomeadamente o fundo de emergência e o complemento para a reforma, sofreram rombos significativos.

Crê-se que 2024 possa trazer algum alívio tanto a nível da inflação como das taxas de juro associadas ao crédito. Confirmando-se este cenário, e uma vez estabilizadas as finanças das famílias, é crucial voltar a planear a poupança e criar estímulos à sua constituição. Sem ela, não há tapete debaixo dos pés perante um novo momento de crise, nem perspetivas de uma reforma tranquila.

Crê-se que 2024 possa trazer algum alívio tanto a nível da inflação como das taxas de juro associadas ao crédito.

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