Análise
António Ribeiro

António
Ribeiro


Especialista em produtos de poupança.
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

Produtos com taxa de juro crescente: deve investir?

Há 11 meses - 31 de julho de 2023
António Ribeiro

António
Ribeiro


Especialista em produtos de poupança.
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

Os produtos de taxa crescente, como alguns depósitos a prazo, estão a despertar, mas nenhum bate os Certificados de Aforro. 
produtos taxa crescente

Os seguros de capitalização com rendimento definido parecem ter desaparecido.

A escalada das taxas de juro parece não ter, ainda, fim à vista. O Banco Central Europeu está, ao contrário dos Estados Unidos – que fizeram uma paragem estratégica no aumento das taxas –, decidido a reduzir a inflação para 2 por cento.

É, sobretudo, uma boa notícia para os aforradores, e significa terreno fértil para o lançamento de outras opções de poupança. 

Embora timidamente, vão surgindo produtos com taxa de juro crescente. Os depósitos a prazo são os mais comuns, mas também há planos mutualistas. 

Os produtos disponíveis não são, porém, em grande número, e os que existem têm prazos relativamente curtos.

Seguros de capitalização com taxa crescente sem oferta

No passado, eram frequentes os seguros de capitalização de taxa crescente, mas as seguradoras estão mais cautelosas a lançar produtos de capital garantido. Com efeito, a PROTESTE INVESTE não encontrou qualquer seguro de capitalização com taxa crescente. Neste setor, são agora mais frequentes os seguros de capitalização que apenas divulgam a taxa do primeiro ano. Quanto aos seguintes… logo se vê, o rendimento é uma incógnita. 

Para o aforrador é um tiro no escuro, não sabe bem o que está a subscrever, já que desconhece quanto poderá obter de rendimento no futuro. Não surpreende, dado que os produtos sob a forma de seguro são os menos transparentes. A única certeza é que garantem o capital.

A Lusitania Vida tem dois seguros disponíveis no mercado: o Lusitania Investimento 2023 e o Lusitania Rendimento Variável 2023. Ambos têm a duração de cinco anos e um dia, sendo a taxa de juro no primeiro ano de 2,2 por cento. Posteriormente, é definida no início de cada ano. 

Já na Real Vida, o Real Vida Super Rendimento – Série 9 garante uma taxa de 0,50%, em 2023, e uma taxa mínima de 0,25% nas anuidades seguintes. 

Vale a pena apostar nestes produtos? Por serem muito incertos em matéria de rendimento, a PROTESTE INVESTE não os recomenda. 

Vamos a soluções mais concretas, com rendimento crescente a cada ano. 

Depósitos de taxa crescente rendem, no máximo, 1,8% 

Após consultarmos os preçários de 23 bancos, encontrámos nove depósitos de taxa crescente para o médio prazo ou seja, dois ou três anos. A banca parece ainda muito cautelosa no que diz respeito às taxas no longo prazo: os depósitos de cinco ou mais anos são escassos.

O nome escolhido para os produtos por algumas instituições dá lugar a casos caricatos. Por exemplo, o Crédito Agrícola tem o Depósito Super Crescente, a dois anos, que paga juros semestrais e rende 1,1% líquidos ao ano. De super nada tem.

Já o Depósito Super Crescente Mais paga juros semestrais durante três anos, mas a designação “Mais” é apenas ilusória, pois este depósito rende… zero por cento. Portanto, não se percebe a que se refere o “Mais”. Será o prazo? 

Em termos de rentabilidade, o DP Crescente 24 Meses, do EuroBic, lidera. Paga juros semestrais e crescentes, garantindo uma taxa anual efetiva líquida de 1,8 por cento. Assim, durante o primeiro ano, paga 1,25% no primeiro semestre e 1,5% no segundo. 

  Depósitos de taxa crescente a médio prazo (2 anos ou mais)

Conta Banco Montante mínimo Prazo máximo Juros Taxa anual nominal bruta (TANB) TAEL (%)
1.º ano 2.º ano 3.º ano
DP Crescente   24 Meses EuroBIC 2 500 € 2 anos semestrais 1,25% e 1,5% 2,75% e 4,5% - 1,8%
Poupança   Cresce 3 Anos Montepio 100 € 3 anos anuais 1,15% 2,15% 3,15% 1,5%
Poupança Super Montepio 2 500 € 3 anos semestrais 1,5% e 1,75% 2% e 2,15% 2,25% e 3,25% 1,5%
Depósito 3   Anos Millennium bcp 25 000 € 3 anos anuais 1% 2% 3% 1,4%
Depósito a   Prazo Crescente 3 Anos BBVA BBVA 20 000 € 3 anos semestrais 1% e 1% 1,75% e 1,75% 2% e 3% 1,3%
CA Aforro   Crescente Crédito Agrícola 10 000 € 3 anos anuais 1,15% 1,35% 2,75% 1,3%
DP Crescente   24 Meses Novobanco 50 000 € 2 anos semestrais 0,5% e 1% 1,5% e 3% - 1,1%
Depósito Super   Crescente Crédito Agrícola 500 € 2 anos semestrais 1,05% e 1,25% 1,7% e 2% - 1,1%
Depósito Super   Crescente Mais Crédito Agrícola 750 € 3 anos semestrais 0% e 0% 0% e 0% 0% e 0% 0%
Taxas recolhidas nos preçários à data de 3 de julho.

Dois planos mutualistas do Montepio até 1,8% 

O Montepio tem sido bastante regular no lançamento de planos mutualistas, produtos muito semelhantes aos seguros de capitalização, sobretudo em matéria de fiscalidade. Há vários anos que, todos os meses, lança uma nova de série. 

À data da nossa análise (3 de julho), o Banco Montepio tinha em comercialização a sétima série do Poupança Mutualista Prazo 5.1. 2023-28, um plano exclusivo para clientes associados do Montepio Geral – Associação Mutualista. Pode ser subscrito, sem comissões de subscrição, até 27 de julho e requer uma entrega única entre 150 euros e 500 mil euros.

Como o plano tem um prazo máximo de cinco anos e um dia, se mantiver até ao final, será tributado a 22,4 por cento. Contudo, se resgatar antes, a taxa de IRS sobre o rendimento é de 28%, tal como nos restantes produtos de poupança. 

A taxa de juro é crescente, varia entre 2,15% e 2,45% brutos. Se mantiver até o fim, e considerarmos a taxa de imposto reduzida, poderá obter um rendimento anual líquido de 1,7 por cento. 

A outra opção é a sétima série do plano Poupança +Net 2023-29. Tem um prazo de seis anos e está em subscrição, também até 27 de julho, desta vez, na Associação Mutualista Montepio. Prevê a atribuição de um rendimento complementar, que acresce no final do prazo. Todavia, incide apenas sobre o capital acumulado das subscrições que se mantiverem ativas até essa data. 

Relativamente à liquidez, estes produtos têm alguns inconvenientes, comparativamente aos depósitos a prazo, pois ambos os produtos têm penalizações no rendimento, se resgatar antecipadamente, sobretudo se o resgate ocorrer nos primeiros anos. 

Com efeito, apenas os reembolsos a partir do quarto ano não são penalizados. Antes desse prazo, a única exceção é o resgate por motivos de saúde. Para obter a taxa prometida, tem ainda de manter o vínculo associativo até à data de vencimento da série. Todavia, como a supervisão destes planos está ainda em período de transição e é, claramente, insuficiente, não os recomendamos. 

Certificados do Tesouro Poupança (de pequeno) Valor 

Outro produto de taxa crescente, e que nem sequer é novo, são os Certificados do Tesouro Poupança Valor (CTPV), que se subscrevem nos Correios a partir de 1000 euros. 
Apesar da subida das taxas de juro diretoras e da Euribor, este produto mantém inalteradas as taxas, também crescentes, mas ainda assim, baixas. 

Estes títulos da dívida pagam juros anuais, na conta bancária: 0,7% brutos no primeiro e segundo ano, 0,8% no terceiro, 0,9% no quarto, 1% no quinto, 1,3% no sexto e 1,6% no sétimo ano. 

Em termos médios, o rendimento anual líquido mínimo é de 0,7%, ou seja, bastante mais baixo do que as outras alternativas já citadas. Por essa razão, este produto do Estado tem sido alvo das nossas críticas. Portugal é dos países da União Europeia com a mais baixa de poupança.

Em vez de reduzirem a taxa dos Certificados de Aforro, como fizeram, recentemente, as entidades competentes (IGCP e Ministério das Finanças) deveriam apresentar mais alternativas aos particulares, para incentivar o aforro. 

Além das taxas-base definidas para cada ano, os CTPV têm um prémio de remuneração a partir do terceiro ano. Isto é, ao valor da taxa de juro fixada, acresce um prémio correspondente a 20% do crescimento médio real do PIB. Está, no entanto, limitado a um máximo de 1,5% em cada ano. 

Como as previsões do crescimento do PIB não são muito animadoras para os próximos anos, não esperamos um rendimento anual líquido superior a 0,9 por cento. Claramente, o menos interessante no grupo de produtos elencados nesta análise. 

Certificados de Aforro imbatíveis 

Em resumo, nem os depósitos a prazo de taxa crescente, nem os planos mutualistas conseguem superar os Certificados de Aforro, cuja taxa-base é, atualmente, de 2,5% bruta.

Tudo indica que se deverá manter durante mais alguns meses ou mesmo anos, já que não se espera uma descida na taxa Euribor a curto prazo. Como beneficiam, ainda, de um prémio de permanência – 0,25% do 2.º ao 5.º ano; 0,5% do 6.º ao 9.º ano; 1% no 10.º e 11.º; 1,5% no 12.º e 13.º ano; e 1,75% nos últimos dois –, são mais interessantes a médio e longo prazo. 

Por exemplo, se a taxa-base atual se mantiver durante muito tempo, e considerando o prémio de permanência, renderá anualmente 2% líquidos a cinco anos, e 2,4% se se mantiver pelo prazo máximo (15 anos).

Portanto, se o que pretende é uma aplicação de capital garantido, rendimento crescente e sem custos, para ir poupando a médio e longo prazo, os Certificados de Aforro são a aplicação mais interessante.

Se o objetivo da sua poupança tiver prazos bem definidos, encontra, no mercado, depósitos com remuneração superior à taxa-base dos Certificados de Aforro. 

 

O conteúdo deste artigo pode ser reproduzido para fins não-comerciais com o consentimento expresso da DECO PROTESTE, com indicação da fonte e ligação para esta página. Ver Termos e Condições.

Partilhe este artigo