Análise
Jorge Duarte

Jorge
Duarte


Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

Comprar casa para arrendar em Lisboa: onde é mais rentável?

Há 4 meses - 23 de fevereiro de 2024
Jorge Duarte

Jorge
Duarte


Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

A subida dos juros em 2023 abrandou a valorização dos imóveis, mas os dados de mercado revelam que o setor imobiliário na capital permanece dinâmico.
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A procura de imóveis tem subido nos últimos anos e é claramente superior à oferta.

No ano passado, os preços por metro quadrado (m2 ) dos T2, no concelho de Lisboa, subiram 5,7 por cento. Em 2022, segundo os dados recolhidos na plataforma Casafari, haviam crescido dois dígitos (10,3 por cento). É um sinal de que o mercado imobiliário está a abrandar. Nesta tipologia, quase todas as freguesias valorizaram em 2023, com exceção de Benfica (-6,1%) e Alcântara (-6,6 por cento). Na Estrela, Arroios, Carnide, Santa Clara, Santo António e Lumiar, os ganhos ficaram acima de 10 por cento.

Um ritmo bem elevado, sem dúvida, mas, recorde-se que, em 2022, os "vencedores" apresentaram valorizações acima de 20 por cento. Embora os aumentos das rendas tenham continuado a ser significativos em 2023, nota-se, também, um abrandamento no mercado de arrendamento. Em Santo António e Santa Maria Maior praticam-se as rendas mais altas para os T2 (27 euros por m2 ). No polo oposto, está Santa Clara, com o valor mais baixo (14 euros por m2 ).

Em termos médios, arrendar um T2 em Lisboa implica pagar uma renda de 1769 euros. Estas tendências são mantidas se alargarmos amostra à média total das tipologias de T1 a T4. A renda média por m2 ronda os 20,4 euros. Em resumo, e considerando agora todas as tipologias, as rendas médias dos novos contratos aumentaram a um ritmo superior aos preços das casas. No concelho de Lisboa, a progressão foi de 16,9%, contra 5,7% do valor dos imóveis. Ora, quando as rendas sobem mais rápido do que os preços das casas, melhoram as perspetivas de rentabilidade, para quem pretende investir para arrendar.

Como avaliar um imóvel? 

Para calcular a rentabilidade, a DECO PROteste Investe utiliza um modelo de avaliação que compara os preços de venda dos imóveis com os valores de arrendamento praticados no mercado. Neste cálculo, não é tida em conta a potencial valorização do imóvel, pois não é um dado garantido, apesar do bom comportamento do mercado imobiliário dos últimos anos. À partida, considera-se um bom investimento quando a renda proporciona uma rentabilidade atrativa, face ao preço de compra que pagou, em comparação com o ganho que poderia obter com outra aplicação financeira.

Um exemplo: atualmente, um investimento em Obrigações do Tesouro a 10 anos rende cerca de 3 por cento. Nos dias que correm, é também relativamente fácil obter uma taxa de 3% brutos num depósito a prazo. Estas duas aplicações são de muito baixo risco. O mesmo não acontece com um investimento imobiliário, cujos rendimentos podem ser incertos. É preciso exigir um prémio de risco. Não só tem de dispor de tempo para gerir o dia-a-dia do seu imóvel, incluindo inquilinos quando arrenda, como tem de suportar certas despesas, como condomínio, IMI, etc. Se precisar de liquidez imediata, não bastam uns cliques na app do seu banco.

O processo de venda de um imóvel é mais demorado, sendo o valor sujeito às condições de mercado no momento da transação. Portanto, quando pondera investir para arrendar, tem de considerar todos estes fatores, e o rendimento bruto (antes de impostos e custos) não deve ser inferior a 5,5 por cento. 

Onde estão as oportunidades? 

Apesar de as rendas continuarem a subir de forma mais rápida do que os valores dos imóveis ao longo de 2023, as oportunidades de compra no concelho de Lisboa são raríssimas: encontra T4 na Penha de França e Benfica, e T3 apenas em Marvila. Quanto aos T1, somente em Arroios e no Beato. Esqueça os T2, não identificámos qualquer oportunidade.

Em conclusão, os valores praticados estão demasiado elevados para poderem ser rentabilizados com as rendas. Contudo, se alargar a pesquisa para os concelhos limítrofes de Lisboa, o modelo da DECO PROteste Investe identifica bastantes mais freguesias atrativas do ponto de vista do investimento.

No quadro abaixo, encontra algumas oportunidades de T2, mas pode consultar todos os dados e avaliações na ferramenta "Comprar Casa". O potencial de um investimento imobiliário exige ainda que analise outros elementos essenciais: localização relativamente a escolas; número e tipo de serviços na área (supermercado, centro de saúde, etc.); e acessibilidades (transportes e vias de circulação). Isto é, cada casa é uma casa. As avaliações e os conselhos resultantes do nosso modelo devem constituir apenas um complemento a essa análise casuística.

   Os T2 mais rentáveis na área de Lisboa

Concelho Freguesia Preço médio de venda em euros Renda média em euros Rentabilidade (1) Rentabilidade líquida de IRS (2)
Sintra Queluz e Belas 167,104 1,025 6.6% 5.0%
Sintra Sintra - St.Maria e S.Miguel,S.Martinho,Penaferrim 301,563 1,841 6.6% 4.9%
Seixal Amora 149,386 889 6.4% 4.8%
Sintra Algueirão, Mem Martins 164,862 980 6.4% 4.8%
Sintra Cacém e São Marcos 159,334 935 6.3% 4.8%
Barreiro Alto do Seixalinho, Santo André e Verderena 136,823 784 6.2% 4.6%
Odivelas Póvoa de Santo Adrião e Olival Basto 184,860 1,051 6.1% 4.6%
Seixal Corroios 179,985 1,015 6.1% 4.6%
Sintra Massamá e Monte Abraão 175,621 980 6.0% 4.5%
Amadora Falagueira - Venda Nova 179,280 998 6.0% 4.5%
Odivelas Ramada e Caneças 230,366 1,250 5.9% 4.4%
Cascais Alcabideche 318,657 1,728 5.9% 4.4%
Seixal Seixal, Arrentela e Aldeia de Paio Pires 162,238 878 5.8% 4.4%
Almada Caparica e Trafaria 184,815 998 5.8% 4.4%
Sintra Rio de Mouro 170,597 920 5.8% 4.4%
Amadora Encosta do Sol 200,057 1,074 5.8% 4.4%
(1) ) Rentabilidade gerada pelas rendas assumindo taxa de ocupação de 90% (2) Inclui uma taxa tributação de 25% sobre as rendas.

Perspetivas para o mercado 

Em 2023, o disparo da inflação e dos juros atingiu muitas famílias, mas a receada queda dos preços das casas não se concretizou. Este ano, é esperada uma redução gradual das taxas, o que afasta o espectro de uma quebra do mercado imobiliário. Porém, não regressarão aos valores baixos, ou mesmo negativos, de outrora. Da mesma forma, não são expectáveis valorizações das casas como as registadas em 2022.

 

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