Análise
António Ribeiro

António
Ribeiro


Especialista em produtos de poupança.
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

Certificados de Aforro ou Tesouro: Qual o melhor para investir?

Há 5 meses - 24 de janeiro de 2024
António Ribeiro

António
Ribeiro


Especialista em produtos de poupança.
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

Num contexto em que a subida das taxas parece ter acabado, qual é o melhor investimento a fazer, no que respeita aos produtos de capital garantido?
vaso com ponto de interrogacao

A seis e doze meses já encontra taxas até 4,25% brutas nos depósitos, quase o dobro do rendimento dos Certificados de Aforro.

A inflação parece estar controlada e, por isso, já não são expectáveis mais subidas nas taxas de juro. Assim, resta aguardar pelo começo da descida das taxas, ou seja, a descida do preço do dinheiro por parte do Banco Central Europeu (BCE).

Ao longo dos últimos dois anos, o BCE foi aumentando a taxa de juro de referência da zona euro até atingir os atuais 4,5%. A presidente, Christine Lagarde, tem mantido a taxa inalterada nas últimas reuniões e adiantou que uma possível descida só acontecerá no verão deste ano.

No começo deste ano, como que por antecipação, as taxas Euribor, que servem de indexante às prestações de quem tem créditos hipotecários, já começaram a descer, pois já se esperava um corte na taxa de referência mais cedo, pela primavera. Uma coisa parece certa: o ciclo de subida das taxas parece ter terminado e as famílias aguardam com expetativa a descida das taxas, como alívio nas prestações do crédito imobiliário. Já nas poupanças, o cenário é precisamente o inverso, pois quem mais beneficiou com a subida das taxas de referência foram os Certificados de Aforro e os depósitos a prazo. Os Certificados do Tesouro estão praticamente moribundos…

Nova série dos Certificados de Aforro sem brilho. E o futuro é ainda menos animador…

Com a subida das taxas Euribor, iniciada em meados de 2022, os Certificados de Aforro foram os que mais beneficiaram, e de forma imediata, pois a taxa base é calculada mensalmente com base na Euribor a 3 meses. Essa taxa base é calculada a cada final do mês, para vigorar durante o mês seguinte. O cálculo correspondia à soma da média dos valores da Euribor a três meses, observados nos dez dias úteis anteriores, acrescida de 1 por cento. Da aplicação desta fórmula não podia resultar uma taxa superior a 3,5%, nem inferior a 0 por cento. Assim, a taxa base da Série E dos Certificados de Aforro passou, em cerca de um ano, de 0,6% líquida em julho de 2022, para 2,5% (ou seja, 3,5% bruta), que era o seu limite máximo. A partir desse valor, mesmo que a Euribor continuasse a subir, a taxa base bruta mantinha-se em 3,5%, uma taxa altamente competitiva e que superava todos os depósitos a prazo.

Contudo, no início de junho de 2023, o Estado decidiu mudar as regras dos Certificados de Aforro: suspendeu a série E e lançou a série F, com um prazo mais longo (15 anos), com prémios de permanência mais baixos nos primeiros 9 anos e a própria fórmula de cálculo da taxa base também foi alterada, tendo o rendimento máximo descido para 2,5% bruto. Continua a variar em função da Euribor a 3 meses, mas sem um spread adicional, como acontecia na série anterior.

Como a Euribor a 3 meses continua ainda com valores elevados, a taxa base da nova série mantém o valor máximo de 2,5% bruta desde junho de 2023, data do lançamento. O que mudou foi o mercado dos depósitos a prazo que, desde essa data, tem evoluído com propostas cada vez mais rentáveis. Por exemplo, atualmente há cerca de uma centena de depósitos a prazo com taxa igual ou superior ao rendimento dos Certificados de Aforro. Precisamente por isso, ao longo do segundo semestre de 2023, as subscrições de Certificados de Aforro têm diminuído e os resgates já conseguem superar as novas subscrições. Ou seja, o brilho que existiu durante cerca de um ano com a série E dos Certificados de Aforro, até maio de 2023, desvaneceu-se com o surgimento da Série F.

De acordo com as nossas análises comparativas, para quem pretenda uma aplicação de curto, médio e mesmo longo prazo (5 anos), e com capital garantido, é nos depósitos a prazo que encontra as melhores taxas. A seis e doze meses já encontra taxas até 4,25% brutas, quase o dobro do rendimento dos Certificados de Aforro. Pode conhecer todas as taxas de depósitos bancários no nosso comparador de depósitos e contas poupança.

Como pode ver no cenário 1 da tabela em baixo, supondo que subscreve agora Certificados de Aforro, à taxa base de janeiro (2,5% bruta), e que essa taxa se mantém durante os próximos 7 anos, considerando os prémios de permanência, obtém um rendimento líquido anual de 2,1%. Fizemos esta análise para o prazo de 7 anos, que é o prazo dos Certificados do Tesouro. Além disso, 15 anos, o prazo máximo dos CA, é demasiado longo e muito pode acontecer num período tão dilatado. E, como vamos comparar com depósitos, atualmente a oferta bancária não vai muito além dos 5 anos.

Num cenário menos otimista, de queda das taxas de juro, em que a taxa Euribor desce 0,05% em cada trimestre, ou seja, 0,2% a cada ano durante o prazo dos 7 anos, obtém um rendimento anual líquido de 1,6%. Ou seja, os próximos anos, num contexto de descida das taxas, os Certificados de Aforro deverão ainda ficar bem menos interessantes. Tal como referimos em junho de 2023, o fim da série E dos Certificados e a criação da série F foi uma ajuda aos bancos e uma clara destruição de uma ferramenta de poupança para os particulares.

Certificados do Tesouro cada vez menos interessantes

Foi em 2021 que se iniciou a comercialização da série mais recente: os Certificados do Tesouro Poupança Valor (CTPV), bem menos interessantes do que a série antecessora (Certificados do Tesouro Poupança Crescente). E, desde o seu lançamento, que os CTPV mantêm as taxas. Ou seja, não existiu um acompanhamento da remuneração de acordo com o mercado, pelo que foram gradualmente perdendo interesse.

Os CTPV pagam juros anuais a taxa crescente durante 7 anos, que variam entre 0,7% e 1,6% brutos. Além disso, a partir do terceiro ano, pagam ainda um prémio que depende da taxa de crescimento do PIB. Mas, como as previsões não são muito otimistas para esta variável, as nossas simulações de rendimento apontam um rendimento anual líquido que pode variar entre 0,7% a 0,9%, como pode ver na tabela. Ou seja, muito aquém do rendimento dos Certificados de Aforro e até dos melhores depósitos a prazo.

Por isso, seria desejável que o IGCP revisse o cálculo do rendimento deste produto e atualizasse as taxas anuais deste produto. Com a subida das taxas de juro nos depósitos a prazo e os Certificados de Aforro a render 2,5% brutos, os Certificados do Tesouro estão a ver aumentar os resgates e não há novas aplicações neste produto. Será esse o objetivo do Estado? Deixar morrer os Certificados do Tesouro?   

  Quanto podem render os Certificados de Aforro e do Tesouro?

Resgate ao fim de… Certificados de Aforro (Série F) - Rendimento anual líquido em % (TAEL) Certificados do Tesouro Poupança Valor - Rendimento anual líquido em % (TAEL)
Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4
1 ano 2,0 2,0 0,5 0,5
2 anos 2,0 1,9 0,5 0,5
3 anos 2,0 1,8 0,5 0,6
4 anos 2,0 1,8 0,6 0,7
5 anos 2,0 1,7 0,6 0,8
6 anos 2,0 1,6 0,7 0,8
7 anos 2,1 1,6 0,7 0,9
Cenário 1: Supondo que a taxa base de janeiro de 2024 não se altera durante 7 anos. Cenário 2: Supondo que a Euribor a 3 meses desce 0,05% a cada trimestre (0,2% ao ano) nos próximos 7 anos. Cenário 3: Supondo que não há prémio em função do PIB. Cenário 4: Supondo que o PIB cresce de acordo com as previsões do Banco de Portugal (2% em 2026) e essa taxa se mantém nos anos seguintes.

Certificados de Aforro e do Tesouro: principais diferenças

Tanto os Certificados de Aforro como os Certificados do Tesouro têm a garantia do Estado. O que distingue estas aplicações é a forma de cálculo do rendimento e, atualmente, as perspetivas de rendimento.

Na Série F dos Certificados de Aforro, atualmente em subscrição, a taxa é calculada mensalmente com base nos valores da Euribor a 3 meses, segundo a fórmula E3, em que E3 é a média dos valores da Euribor a três meses observados nos dez dias úteis anteriores. Não pode resultar uma taxa base superior a 2,5%, nem inferior a 0 por cento. O prazo máximo é de 15 anos e o mínimo exigido é de 100 euros na subscrição e 10 euros nos reforços. Cada subscrição vence juros, que são capitalizados com periodicidade trimestral. Os Certificados podem ser resgatados em qualquer altura depois dos primeiros três meses.

Quanto aos Certificados do Tesouro Poupança Valor, a taxa é crescente e está definida no momento de subscrição (entre 0,7 e 1,6% bruta). Subscrevem-se também nos CTT, nos Espaços Cidadão ou no site da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, tal como os Certificados de Aforro, mas o mínimo é mais elevado: 1000 euros. Se pretender reforços, terá sempre de fazer novas subscrições. Os juros são pagos anualmente na conta bancária definida no momento da subscrição e não é permitida a mobilização antes do primeiro pagamento de juros. A partir do terceiro ano, pode somar-se um prémio em função do crescimento do PIB.

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