Análise
António Ribeiro

António
Ribeiro


Especialista em produtos de poupança.
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

Certificados do Tesouro Poupança Valor: tudo o que precisa de saber

Há 2 anos - 30 de março de 2022
António Ribeiro

António
Ribeiro


Especialista em produtos de poupança.
Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

Os novos Certificados do Tesouro Poupança Valor substituem a série atualmente em subscrição. Porém, o Estado encolheu as taxas e o prémio. Deve subscrever?
certificados tesouro

Apesar de não poder subscrever as emissões anteriores dos Certificados do Tesouro, deve mantê-las pois rendem mais do que a atual.

O Estado acaba de lançar os Certificados do Tesouro Poupança Valor e suspendeu a subscrição dos anteriores Certificados do Tesouro Poupança Crescimento. Mantém-se o prazo de 7 anos e o pagamento de juros anuais a taxa crescente, mas o rendimento é mais baixo. Também encolheu o prémio em função do PIB. Ainda assim, pode subscrever. Até porque as alternativas de capital garantido são escassas.

O que fazer aos certificados antigos?

No passado dia 13 de setembro foram lançados os novos Certificados do Tesouro Poupança Valor. Podem ser subscritos a partir de 1000 euros, nos canais habituais: AforroNet, CTT e Espaços Cidadão, tal como os anteriores Certificados do Tesouro Poupança Crescimento, que deixam agora de admitir novas subscrições. 

Se subscreveu qualquer uma das emissões anteriores, deve manter, até porque o rendimento dessas emissões é superior aos recém-chegados Certificados do Tesouro Poupança Valor. 

Apesar de as subscrições dos anteriores Certificados do Tesouro (como os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento) terem sido encerradas, os títulos que foram subscritos não desaparecem com os novos certificados: quem já os tem, deve manter!

Apenas acabarão quando atingirem a maturidade, isto é, sete anos após a data de subscrição, isto no caso de não serem resgatados antecipadamente. Mas deve pensar duas vezes se quiser resgatar, tendo em contas as alternativas de poupança existentes no mercado. Aliás, se tiver várias emissões de Certificados do Tesouro e tiver mesmo de resgatar é sempre preferível resgatar as mais recentes porque rendem menos.

Desde a primeira emissão dos Certificados do Tesouro, que atingiam taxas de 7%, passando pelos Certificados do Tesouro Poupança Mais e depois os Certificados do Tesouro Poupança Crescimento, o rendimento tem vindo sempre a descer. 

Novos certificados rendem menos

À semelhança da série anterior, o prazo dos Certificados do Tesouro Poupança Valor é de 7 anos, pagando juros anuais a taxa crescente. Contudo, as taxas são mais baixas: os Certificados do Tesouro Poupança Valor pagam 0,7% nos dois primeiros anos, subindo para 0,8%, 0,9% e 1% nos anos seguintes, e no sexto e sétimo ano oferecem uma remuneração de 1,3% e 1,6% bruta.

Assim, é preciso manter até ao final para assegurar as taxas maiores. Em termos de taxa média, os novos certificados pagam 1% se mantiver os títulos até ao fim. Caso faça o resgate do investimento antes, o rendimento será sempre mais baixo. Em termos de taxa líquida média, corresponde a 0,7%. 

Os anteriores Certificados do Tesouro Poupança Crescimento apresentavam uma remuneração média de 1,35% bruta nos sete anos de maturidade, o que correspondia a 1% líquida. Mas esta é a taxa mínima, pois há ainda uma bonificação em função do PIB, tal como na série anterior, mas também aí houve mudanças.

Rendimento dos Certificados do Tesouro Poupança Valor (TANL %)

certificados tesouro poupanca valor
TANL: Taxa Anual Nominal Líquida

Prémio em função do PIB encolhe também

Em relação ao prémio, nos anteriores certificados (Certificados do Tesouro Poupança Crescimento) a bonificação era de 40% do crescimento do PIB a partir do segundo ano, estando limitado a um máximo de 1,2%.

Nos novos Certificados do Tesouro Poupança Valor o prémio aparece apenas a partir do terceiro ano e corresponde a 20% do crescimento médio real do PIB. O prémio apenas tem lugar em caso de crescimento médio real do PIB positivo e fica limitado a um máximo de 1,5% em cada ano.

Melhores do que outros produtos de poupança?

Criados há cerca de uma década, os Certificados do Tesouro tornaram-se progressivamente um produto de dívida pública mais popular, ultrapassando o montante aplicado nos Certificados de Aforro, produto bem mais antigo, com mais de meio século de existência.

O contexto de baixas taxas de juro do mercado, com depósitos a render praticamente nada, e escassez de alternativas de poupança para os mais conservadores, contribuíram para esse progressivo crescimento.

Sem dúvida que os depósitos ocupam o lugar de eleição dos aforradores portugueses, mas o rendimento está em níveis históricos mínimos, com taxas nulas em vários bancos, sendo a média de um depósito standard a 12 meses apenas de 0,06%, ou seja, praticamente nada.

Já os tradicionais Certificados de Aforro, que também são um produto de aforro do Estado, apresentam uma remuneração base de apenas 0,45% bruta, em setembro, sendo a taxa líquida de 0,32%. 

A taxa base dos Certificados de Aforro depende da Euribor a três meses e sobre ela acresce ainda um prémio de fidelidade de 0,5% a partir do segundo ano e 1% bruto a partir do sexto ano, o que torna esta aplicação mais interessante também a médio e longo prazo.

Outra alternativa são alguns seguros de capitalização com capital garantido e um rendimento conhecido à partida, como os dois seguros da Lusitania Vida, que rendem 0,9% líquidos ao ano, a três e cinco anos (Lusitania Rendimento 2021 e Lusitania Investimento 2021, respetivamente). 

No quadro comparamos a rentabilidade de todos estes produtos em três prazos: três, cinco e sete anos. Nestas simulações de rendimento consideramos apenas o rendimento base garantido dos  Certificados do Tesouro Poupança Valor (ignoramos o prémio em função do PIB) e supomos também que a taxa base dos Certificados de Aforro atual se mantém.

Claro que são hipóteses que servem apenas para comparar o rendimento mínimo garantido. Contudo, por exemplo, se o PIB crescer de acordo com as previsões do Banco de Portugal (2,4% em 2023) e supusermos que essa taxa de crescimento da economia se mantém nos anos seguintes, os Certificados do Tesouro Poupança Valor podem render cerca de 1% líquidos ao ano no prazo de 7 anos. 

Rendimento a médio e longo prazo de produtos de poupança (TAEL %)

Produtos 3 anos  5 anos  7 anos 
 Certificados do Tesouro Poupança Valor  0,5  0,6  0,7
 Certificados de Aforro (série E)  0,6  0,6  0,7
 Seguros de capitalização Lusitania Vida  0,9  0,9  -

TAEL: Taxa Anual Efetiva Líquida

Ainda assim, se tem a certeza de que os prazos que pretende são fixos (três e cinco anos), os dois seguros de capitalização da Lusitania Vida são duas boas opções; no entanto são ambos de entregas únicas. Se o que pretende é um produto para fazer entregas posteriores ou reforços e durante prazos mais alargados, os Certificados do Tesouro e os Certificados de Aforro são as melhores opções.

 

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