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Jorge Duarte

Jorge
Duarte


Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

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Colaboração

Taxas de juro nulas: dinheiro “barato”

Há 3 anos - 16 de dezembro de 2020
Jorge Duarte

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Analista financeiro independente registado na CMVM.
Licenciado em Economia pelo ISEG.
Membro da Ordem dos Economistas.

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Colaboração

Muitos portugueses não o sentem mas, para minimizar os efeitos da crise, o dinheiro nunca esteve tão “barato” graças aos bancos centrais.

Hoje, as taxas de juro diretoras são inferiores a 0,5% em mais de 40 países, sendo nula em metade e até negativa em alguns casos. Este fenómeno resulta de um longo processo. Após os máximos atingidos na década de 1980 para quebrar a espiral inflacionista, as taxas entraram numa tendência descendente nas últimas décadas.

Drasticamente reduzidas durante cada recessão, só foram parcialmente aumentadas com a recuperação subsequente. Em 9,75%, em 1989, a principal taxa de juro da Reserva Federal norte-americana atingia 6,5% em 2000, antes do rebentamento da bolha da Internet, 5,25% em 2007, antes da crise do subprime e 2,5% no ano passado. Com uma taxa de partida baixa, a política monetária para lidar com a crise da pandemia rapidamente avançou para taxas zero.

Guerra cambial

A rápida difusão da política de taxas zero deve-se também à guerra cambial. O Banco do Japão, o primeiro a aplicar uma taxa de juro zero, já em 1999, nunca escondeu o desejo de enfraquecer o iene. Já o Banco Nacional Suíço adotou uma taxa zero em 2011. Seguindo estes passos, a maioria dos bancos centrais dos países desenvolvidos têm tentado enfraquecer as respetivas divisas, cortando a taxa de juro-diretora. É uma corrida ao mínimo denominador comum.

Perante as taxas zero oferecidas nos mercados desenvolvidos, os bancos centrais emergentes têm igualmente conseguido reduzir drasticamente os juros, mas mantendo ao mesmo tempo um diferencial de taxas suficiente para atrair os investidores. A taxa diretora está em mínimos históricos no Brasil, África do Sul e Indonésia.

Inflação desaparecida

A principal consequência do dinheiro barato é a explosão da dívida global: 277 biliões de dólares ou seja, 365% do PIB mundial (320% em 2019). Perante esta montanha de dívida, a evolução das políticas monetárias é crucial. O facto é que, enquanto as pressões inflacionistas forem contidas, os juros manter-se-ão no seu nível baixo e a dívida será gerível.

E dado que a recessão global deprimiu a procura, uma derrapagem dos preços não está na ordem do dia. A esperada recuperação de 2021 também não irá alterar essa premissa. Em suma, os bancos centrais dos países desenvolvidos não tencionam alterar as políticas atuais. Nos emergentes, poderá ser diferente se os preços dos alimentos despertarem pressões inflacionistas.

Conselhos

Com a intervenção dos bancos centrais, as cotações das obrigações continuarão a encontrar suporte.

  • As obrigações em euros, dólares norte-americano (USD) e ienes (JPY) continuarão a oferecer rendimentos escassos, mas são úteis para reduzir o risco da carteira
  • Graças à apreciação esperada das respetivas moedas, as obrigações em coroas suecas (SEK) e norueguesas (NOK) também prometem um retorno mais atrativo
  • O rendimento ligeiramente mais elevado da dívida de empresas (corporate) em dólares permite-nos incluí-las na carteira agressiva
  • As obrigações high yield em euros e dólares são mais arriscadas, mas permitem dar um potencial de rendimento mais elevado, sem se optar pelas ações
  • No entanto, continuamos a não recomendar dívida emergente. Em regra, as taxas oferecidas não são suficientemente elevadas para compensar o risco cambial e um eventual aumento das taxas de juro penalizará o valor destas obrigações.
 

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