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Cyberbullying: combate tem de envolver famílias

A solução para o combate ao cyberbullying passa por melhor comunicação nas famílias e na sociedade civil, conclui o debate promovido pela Google e pela DECO PROTESTE.

07 outubro 2022
Deco Proteste e Google

António Azevedo/4See

A segurança tecnológica online é fundamental, mas não chega. É necessário envolver as famílias, a escola e a comunidade para combater o cyberbullying. Sensibilizar as crianças e os jovens para os perigos da internet deve começar tão cedo quanto possível. Esta foi uma das conclusões do painel sobre o “Impacto do Digital no Crescimento e na Perceção dos Jovens em Portugal”, organizado em parceria pela DECO PROTESTE e pela Google, a 30 de setembro.

Na sala da Fundação Marquês de Pombal, em Linda-a-Velha, rapidamente se chegou à conclusão de que é preciso identificar e quantificar o problema para poder encontrar soluções de facto para mitigar o efeito do cyberbullying nas crianças e nos jovens. O trabalho concertado entre as várias iniciativas que têm o seu valor só por si seria também de louvar.

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Nelson Pires, presidente da Fundação Marquês de Pombal, deu as boas-vindas ao painel (foto: Jungle Corner).
Helena Martins, responsável de políticas públicas da Google, disse que a formação é fundamental não apenas em termos de utilização das ferramentas, mas também de comportamento. “A educação é essencial, porque nós, como utilizadores, precisamos de saber como navegar online.” A pandemia abriu portas a uma transição eletrónica acelerada, que fez com que as pessoas tivessem de aprender rapidamente, mas o caminho é longo e faz-se aos poucos. A responsável da Google explicou que é necessário saber como “construir passwords seguras” e ressalvou que os jovens e os seniores são os grupos mais vulneráveis.

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Helena Martins, da Google, destacou o papel da educação dos utilizadores (foto: António Azevedo/4See).

Digital vai dominar mercado de trabalho

O ministro da Educação, João Costa, reforçou que “é fácil pensar que tudo se resolve com equipamentos e internet”, mas é preciso ir mais longe. É necessário capacitar os professores e assegurar uma intencionalidade pedagógica. “Formar cidadãos" inclui competências digitais, pois “quem não dominar o digital vai ter dificuldades no mercado de trabalho”. O ministro assinalou também que “a escola nunca foi tão importante enquanto fonte de credibilidade científica”, pois ajuda a formar o pensamento crítico dos alunos através do recurso aos professores enquanto pessoas que os ajudam a distinguir factos de opiniões, fontes seguras de fontes dúbias ou falsas.

 
O ministro da Educação, João Costa, disse que a escola nunca foi tão importante enquanto fonte de credibilidade científica (foto: Jungle Corner).

Rita Pinho Rodrigues, responsável de relações institucionais da DECO PROTESTE, aproveitou a ocasião para divulgar o programa NET Viva e Segura, que resulta de uma parceria com a Google com o objetivo de “dar toda a informação para navegar em segurança”, procurando fazer chegar a mensagem aos jovens através de diversos meios, incluindo “influencers que os cativam” e fazem as salas encherem-se.

O vereador da Câmara Municipal de Oeiras Pedro Patacho recordou que a tecnologia está cá e que faz parte da nossa vida. “Temos de aprender a viver com este modo de comunicação.” A educação, disse, “é a estrutura social para preparar os mais novos para ocuparem o seu papel na vida adulta, na sociedade” e a “velocidade da transformação não tem sido acompanhada por instituições seculares como a escola”. É, por isso, “preciso parar para pensar nesta sociedade global”, no modelo escolar mais adequando e na atualização da formação dos professores. Desafia ainda as escolas a abrirem-se às famílias, acolhendo a mudança. “Que projeto público precisamos neste novo contexto? Esta é a chave para o nosso desenvolvimento” concluiu.

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"Temos de aprender a viver com este modo de comunicação", defendeu o vereador da Educação, Desporto, Juventude, Bibliotecas e Ciência e Inovação da Câmara Municipal de Oeiras, Pedro Patacho (foto: Jungle Corner).
A “pandemia deu-nos uma bofetada que nos acordou: é necessário o investimento na área digital e na formação”, disse Jorge Ascensão, consultor da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP). Para o representante dos pais, proteger os jovens do cyberbullying e ensiná-los a utilizar a internet em segurança depende não só da formação dos alunos, mas também da capacitação das famílias para “não perderem ainda mais a intencionalidade pedagógica”.

Sem diagnóstico não há problema

Tito de Morais, responsável da iniciativa Agarrados à Net, frisou a dificuldade de mobilização dos pais para irem às escolas”, o que dificulta o envolvimento e a capacitação das famílias. Além disso, lamentou que Portugal ainda não tenha um retrato nacional do problema do cyberbullying. Tito de Morais salientou que “enquanto não houver um diagnóstico, não há problema”, opinião corroborada pelo responsável da CONFAP.

Mas o problema de fundo não é o digital. É mais profundo do que isso, está relacionado com a comunicação no seio das famílias. Os adolescentes querem a sua independência, mas precisam de sentir que os pais estão lá, disse Tito de Morais. Entre outros “passos para a parentalidade digital”, o responsável apontou que os pais devem conversar com os filhos sobre o tema, não com o intuito de controlar, mas como manifestação de interesse. Encetada a conversa, é possível fazer atividades com os filhos. Por exemplo, pedir aos mais novos para ensinarem os pais ou encarregados de educação a trabalhar com alguma rede social ou a jogar um jogo online em conjunto.

Além disto, é “preciso envolver os pais e as famílias”, referiu também Margarida Santos, responsável do Projeto PROMEHS na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, que tem como objetivo promover a saúde mental nas escolas. Margarida Santos recomenda aos pais, aquando da chegada da criança ou do adolescente a casa, perguntar como é que se sente, como correu o dia e não apenas “o que é que fizeste hoje”. O Projeto PROMEHS inclui currículos para promover a saúde mental vocacionados para alunos, professores e decisores políticos. Ressalvou ainda a importância de chegar a zonas mais rurais, pois os educadores têm pouco acesso a informação.

Também os auxiliares de educação e a comunidade devem estar envolvidos. Afinal “o bullying acontece nos intervalos” e não durante as aulas, explicou Jorge Ascensão. É preciso criar uma “escola amiga das crianças”, apostando na formação dos auxiliares para detetar os indícios de bullying. Recorde-se que o cyberbullying não é mais que bullying realizado através de um meio de comunicação que é a internet e as suas aplicações.

Trabalho em conjunto deve envolver todos os intervenientes

A moderadora do debate, Maria João Vieira Pinto, sem desvalorizar a importância das iniciativas presentes no painel e do Governo, aproveitou a ocasião para perguntar se “trabalham em conjunto” para sensibilizar os jovens, as famílias, os professores e as comunidades. Seguiu-se um silêncio, que Rita Pinho Rodrigues quebrou, assinalando que a sociedade civil se deve juntar para trabalhar em conjunto e com o Governo. Também a responsável da Google, que considera fundamental a passagem sólida de valores aos jovens em casa para que não os vão encontrar na internet, concordou que é fundamental as entidades juntarem-se e perceberem como chegar aos jovens. Todos os outros oradores reconheceram os trabalhos desenvolvidos pelos restantes, reforçando a importância do trabalho conjunto. As iniciativas “não podem ser apenas de sensibilização, mas têm de ter continuidade”, disse Tito de Morais.

Os jovens estão a encontrar os valores no digital

Após o intervalo, o responsável da CONFAP recordou o impacto ao nível emocional que o confinamento iniciado a 16 de março de 2020 teve e está a ter sobre as crianças e os jovens. Um momento que obrigou as famílias a estarem no mesmo espaço, sem, no entanto, comunicarem dentro de casa. O digital teve um papel preponderante, enquanto facilitador, mas também enquanto janela para o exterior, em que os jovens, em lugar de conviverem pessoalmente com os amigos, se refugiaram na internet.

Cristiane Miranda, do projeto Agarrados à Net, explicou que as crianças e os jovens estão a ser educados pelo digital. “Muitos aprendem os valores, que podem não ser os da família, no digital”, mas “os valores têm de continuar a ser passados pela família.” Esta declaração foi corroborada por Margarida Santos, que sublinhou a importância das competências socioemocionais das crianças e dos adolescentes.

As famílias precisam de conversar com as crianças e os adolescentes. “A comunicação é chave”, disse Tito de Morais. Afinal, “o ser humano precisa de comunicação e de relações humanas”, continuou Jorge Ascensão. É fundamental tranquilizar as crianças e garantir que, em caso de dúvida, quando pesquisa no digital “na escola haverá alguém para o ajudar”. E para isso não é preciso qualquer tecnologia.

Em suma, Jorge Ascensão defende o desenvolvimento de “um ambiente de diálogo, transparência e comunicação” e de prevenção, de preferência "logo a partir do pré-escolar e do primeiro ciclo”. Margarida Santos acrescentou mesmo que “quando mais cedo, mais eficiente”.

Cristiane Miranda colocou então a questão retórica: se as crianças não conversam em família e não pedem ajuda aos pais, afinal com quem falam?

Solução não passa pelo digital

Por mais antivírus e firewalls que se ponham num PC, nada impede os mal-intencionados de chegarem a sua casa. “A tecnologia, por si, não serve para nada”, frisou Tito de Morais: É necessária uma solução redundante que inclua questões regulamentares, de envolvimento parental, das escolas e, por fim, da tecnologia.

Margarida Santos, voltou a salientar a importância da prevenção desde cedo. E Jorge Ascensão defendeu a participação e o envolvimento da sociedade civil.
Comunicar dentro de casa, envolver alunos, escola, professores, auxiliares, pais e educadores e a comunidade são formas de combater os efeitos do cyberbullying.

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