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Cancro da pele: prevenção pode salvar vidas

Os cancros cutâneos não melanoma correspondem a um terço de todos os tumores malignos diagnosticados mundialmente. Apesar disso, a mortalidade tende a ser baixa. Já o melanoma tem menor incidência, mas é bastante mais agressivo. Em ambos os casos, a prevenção pode salvar vidas.

29 maio 2023
Grande plano de mulher a observar um sinal na pele

iStock

Os dias longos estão aí, e o cancro da pele não deve ser subestimado. Na prevenção é que está o ganho e, como o principal fator de risco é a exposição aos raios ultravioleta, gestos simples podem fazer a diferença. É também importante estar atento aos sinais, como mostra o caso de Cristina Gonçalves. Tinha 37 anos e estava grávida de sete meses, quando reparou numa bolha de sangue no braço esquerdo. O obstetra recomendou-lhe uma ida ao dermatologista, mas, como em março de 2020 estávamos todos ocupados com a covid-19, acabou por adiar o assunto. Poucas semanas depois de ser mãe, contudo, percebeu que a tal bolha estava mais espalmada: tinha-se dividido em duas e ostentava uma espécie de crosta. Soaram, então, todos os alarmes, e lá conseguiu uma consulta por videochamada. Numa semana apenas, retirou o sinal e fez a biopsia. O diagnóstico foi um murro no estômago: melanoma em estádio II. Nesta fase, o tumor é maior, mas ainda está circunscrito, ou seja, não há invasão dos tecidos linfáticos ou dos órgãos distantes. Com mais de dois milímetros de espessura, tem a forma de úlcera.

“Depois de muitos exames e de muitos medos, fui operada em junho de 2020”, explica Cristina. A cirurgia correu bem: confirmou-se que o cancro não se tinha espalhado para os gânglios linfáticos. Apesar de ter procurado reagir “muito friamente” durante todo o processo, passados três anos, Cristina assume que foram inúmeras as preocupações. “O cancro da pele é muito subestimado. Pensa-se que é algo localizado e que se resolve, mas o melanoma é agressivo, e só depois de ter a doença é que me apercebi da sua gravidade.”

Prevenção do cancro da pele está ao seu alcance

A pele tem nos raios ultravioleta o seu maior inimigo. Astro vital para a vida no planeta, o Sol é a principal fonte deste tipo de radiação. Por isso, ao ar livre, aplique protetor solar a cada duas horas ou após nadar ou mergulhar: veja os resultados do teste da DECO PROTESTE. Não se preocupe com a eventual carência de vitamina D. Está comprovado que quem usa protetor solar regularmente não sofre uma redução significativa na produção desta vitamina.

Os solários são outra fonte de radiação ultravioleta, que provoca envelhecimento da pele e está associada a risco acrescido de cancro cutâneo. Com base na evidência científica, em 2009, a Agência Internacional para a Investigação do Cancro, associada à Organização Mundial da Saúde, classificou a radiação ultravioleta emitida pelas cabines enquanto carcinógeno humano, ou seja, como fator potenciador de cancro. Portanto, a incorporação de algumas medidas nas rotinas diárias, para evitar os raios ultravioleta, pode reduzir em muito a probabilidade de cancro cutâneo.

Com pele e olhos claros, sem historial familiar de melanoma e com uma profissão que não envolve exposição solar, Cristina Gonçalves lembra-se de ter cometido excessos na adolescência. “Mas, durante a idade adulta, tive sempre cuidado: em situações ao ar livre, usava protetor solar com fator 50”, assegura. Desde a cirurgia, redobrou os cuidados consigo e com a sua família. “Praia só nas horas de menor risco”, garante. Ninguém sai de casa sem protetor solar e, quando possível, usa-se chapéu e roupa que cubra o corpo.

O caso de Cristina Gonçalves mostra ainda que, como a pele tem memória da exposição solar, há que prevenir desde os primeiros meses de vida. Indivíduos que sofreram cinco ou mais queimaduras solares graves na infância ou na adolescência têm cerca do dobro da probabilidade de desenvolverem melanoma. Cristina tem disso consciência: “O meu filho, de 12 anos, tem pele morena, mas já foi ao dermatologista como ato preventivo”, salienta. A irmã, de três anos, tem a tez clara. Em ambos, “o protetor solar é renovado de hora a hora”.

Para Cristina, as sequelas da cirurgia são um mal menor: “Às vezes, fico sem força no braço e não tenho sensibilidade na cicatriz”, revela. Mas é com boa disposição que dá o seu testemunho, para sensibilizar os leitores: “É importante ter cuidado, porque muitos destes cancros podem ser evitados.”

Casos de cancro cutâneo estão a crescer

Crescimento anormal das células da pele, assim se define o cancro cutâneo. Existem diferentes tipos de tumores que afetam o maior órgão do nosso corpo. O mais conhecido, e também mais temido, é o melanoma, que se desenvolve nos melanócitos, ou seja, nas células que produzem a melanina, a proteína responsável por dar cor à pele e às suas pilosidades. O melanoma pode surgir em qualquer sítio do corpo, mas tem preferência pelas costas, pelas pernas, pelos braços e pelo rosto, ou seja, locais com exposição solar. Pode também surgir em zonas mais resguardadas, como as plantas dos pés ou as palmas das mãos. Os dois últimos cenários são mais habituais em indivíduos de pele escura.

Os restantes tumores são designados por cancros cutâneos não melanoma, mais comuns em peles claras, e raros em tonalidades que tendem para o escuro. Dentro deste grupo, os mais frequentes são o carcinoma espinocelular, que surge no topo da epiderme, e o carcinoma basocelular, que atinge as células mais profundas. Com uma incidência crescente entre idosos caucasianos do género masculino, os cancros cutâneos não melanoma surgem em zonas do corpo tipicamente expostas ao sol, como o couro cabeludo, o pescoço, o dorso das mãos, os lábios e as orelhas.

Quanto à incidência e à mortalidade, os dois tipos de tumores evidenciam comportamento inverso. O cancro cutâneo não melanoma tem alta incidência e baixa mortalidade. Já o melanoma não atinge tantas pessoas, mas é muito mais agressivo, podendo rapidamente afetar outros órgãos.

O Registo Oncológico Nacional assinalou, para o ano de 2019, uma incidência bruta de 11,6 casos de melanoma por cem mil habitantes. Quanto aos restantes tumores da pele, foi de 32,2 por cem mil habitantes no mesmo ano. Estes dados não incluem os carcinomas basocelulares.

Se é verdade que a sensibilização e o diagnóstico precoce têm evoluído positivamente nas últimas décadas, também é certo que os novos casos de todos os tipos de cancro da pele têm vindo a aumentar. Só os cancros cutâneos não melanoma, que se estima serem 18 a 20 vezes mais frequentes do que o melanoma, correspondem a um terço de todos os tumores malignos diagnosticados por ano ao nível mundial.

E é possível que haja casos não contabilizados, uma vez que os dados, tanto nacionais quanto internacionais, são escassos e limitados, provavelmente devido à ausência de reporte e de registo sistemáticos, mas também porque a cirurgia resolve a grande maioria destes cancros. Ou seja, não é preciso recorrer a tratamentos prolongados, dispendiosos e socialmente impactantes. Também por essa razão, é difícil estabelecer a taxa de mortalidade associada aos cancros cutâneos não melanoma.

Novos tratamentos melhoram a esperança de vida

O tratamento depende de vários fatores, incluindo o tipo, o tamanho e o estádio do tumor, a condição geral de saúde e as preferências do doente. No caso de tumores localizados, sejam melanoma ou não, a remoção cirúrgica da lesão e dos tecidos circundantes é o primeiro e, por vezes, único tratamento. Os doentes passam ainda a ser acompanhados em consultas de rotina, onde são criteriosamente avaliados, tal como acontece com Cristina Gonçalves. “Tenho consultas regulares de acompanhamento e vigio o meu corpo com mais frequência”, refere. O autoexame é, de facto, uma das armas da prevenção.

O tratamento de alguns cancros cutâneos não melanoma pode ser complementado com radioterapia, cremes à base de antineoplásicos (medicamentos antitumorais) ou terapia fotodinâmica, técnica que conjuga uma fonte de luz, um composto químico fotossensibilizador, aplicado sobre a lesão, e ainda oxigénio.

Por sua vez, os melanomas, além da cirurgia, podem requerer uma combinação de radioterapia e quimioterapia. Todavia, novos medicamentos, como a imunoterapia e a terapêutica alvo, têm melhorado a esperança de vida de indivíduos com este tipo de cancro em fases avançadas. Como funcionam? A imunoterapia ajuda o sistema imunológico a identificar e a eliminar as células tumorais. A terapêutica alvo, por seu turno, inibe a mutação do gene BRAF, que é responsável por as células tumorais crescerem e se dividirem rapidamente, e que está presente em metade dos doentes com melanoma.

Apesar das evoluções terapêuticas, o cancro cutâneo continua a ter grande impacto pessoal e social. As medidas de prevenção, incluindo o resguardo face aos raios ultravioleta e o autoexame regular, podem salvar vidas. Use e abuse de gestos simples e, perante um sinal suspeito, procure o médico.

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