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Auscultadores Adidas RPT-02 Sol: carregamento solar lento e som apenas aceitável

A Adidas lançou uns auscultadores com célula fotovoltaica para atividades ao ar livre. Embora a tecnologia seja promissora, o carregamento solar é demasiado lento e o som não se destacou nos testes laboratoriais. A DECO PROTESTE tem melhores opções para desporto no seu comparador.

05 maio 2023
Auscultadores Adidas em cima da relva

Direitos reservados

Praticar desporto ao ritmo da banda sonora que nos faz bater o coração é a proposta de vários auscultadores bluetooth. A Adidas quis elevar a fasquia, ao incorporar nos RPT-02 Sol uma célula fotovoltaica de desenho inovador, que diz carregar o equipamento com recurso aos raios solares, mas também em interiores, com luz artificial.

Estas células não são nossas desconhecidas. Desde os ecrãs das pequenas calculadoras solares aos grandes painéis instalados no telhado das habitações, são muitas as aplicações que podem ter. Mas os novos auscultadores integram-nas de forma não visível, em materiais finos e flexíveis, onde antes não seria possível, graças a uma tecnologia desenvolvida pelos suecos da Exeger, denominada “powerfoyle”. Diga-se, em abono da verdade, que os auscultadores da Adidas não são os primeiros do mundo a integrar células fotovoltaicas: em 2021 e 2022, o fabricante Urbanista, também sueco, lançou uns auscultadores circum-aurais (modelo Los Angeles) e uns true wireless (Phoenix) com esta tecnologia. Mas os dois equipamentos passaram despercebidos em Portugal.

Agora, a DECO PROTESTE levou a laboratório os Adidas RPT-02 Sol, e chegou à conclusão de que, embora o conceito seja muito interessante, o carregamento solar não é suficientemente rápido para compensar na maioria dos cenários. Mais: como os auscultadores têm de valer pelo todo, também foram examinados, entre outros critérios, a qualidade do som e o conforto de utilização, que não entusiasmaram o painel de utilizadores. Por tais razões, a organização de consumidores não aconselha a compra destes auscultadores supra-aurais (assentam sobre as orelhas), com preço desde 140 euros. Se gosta de ouvir música enquanto pratica desporto, há propostas bem mais interessantes, em qualidade e em preço, no comparador de auscultadores da DECO PROTESTE.

Pode usar estes auscultadores até para fazer atividade enquanto apoia uma causa. A Academia do Johnson, que promove a inclusão de crianças e jovens em situação de risco e de vulnerabilidade social, pode beneficiar do seu contributo. Basta aderir à plataforma FitMap, cumprir 20 horas de atividade por mês e juntar o seu esforço ao de outros participantes. Em troca, a DECO PROTESTE contribui com cinco mil euros para apoiar a Academia do Johnson.

Participe no desafio

Carregamento só é eficaz com luz natural intensa

Não basta a um fabricante anunciar uma característica excecional: tem de provar uma vantagem. Por isso, a DECO PROTESTE levou os Adidas RPT-02 Sol a laboratório, com um par de questões em mente. Qual a velocidade de carregamento nos cenários de iluminação mais usuais? E até que ponto é eficaz e prático?

No teste, replicou quatro cenários de luminosidade: 500 lux, que é a intensidade típica num escritório, com luz artificial; 2000 lux, que correspondem a um ambiente interior, junto a uma janela, num dia encoberto; 10 000 lux, que podem ser obtidos no exterior, num dia de verão, mas com alguma sombra; e 30 000 lux, que traduzem uma situação de incidência direta de luz solar.

Não espanta, claro, que o fabricante indique como cenário mais adequado o exterior, com luz solar abundante. No entanto, avisa que é preciso cuidado com o calor excessivo (a partir de 45ºC), se os auscultadores ficarem a carregar num local com luz solar direta. Assim sendo, não será boa ideia deixar os auscultadores num carro ou junto a uma janela, onde, embora a intensidade da luz possa chegar a valores muito elevados, também o aquecimento é excessivo, podendo causar danos no equipamento. Ou seja, o carregamento com incidência de luz solar acontece sobretudo num uso no exterior.

A DECO PROTESTE começou por fazer o teste de carregamento com uma iluminação de 10 000 lux. Na app do fabricante, surgia a indicação de uma corrente de carga de 4 miliamperes (mA), um valor extremamente reduzido. Mais de dez horas depois (612 minutos, para ser mais exato), a bateria passou de 6% para 13%... Para obter um termo de comparação, foi feita uma carga por cabo USB. O carregador entregou uma corrente típica de 411 mA, cem vezes superior à alcançada pela célula fotovoltaica embutida. Aqui, os técnicos da DECO PROTESTE conseguiram um aumento de 8% de carga, passados oito minutos…

O que diz este primeiro cenário? Segundo a app do fabricante, o consumo dos auscultadores ronda os 10 a 11 mA a reproduzir uma música. Ora, trata-se de um valor muito mais elevado do que a capacidade de carga fornecida pela célula fotovoltaica, mesmo com um bom nível de iluminação (10 000 lux). Por outras palavras, o impacto do carregamento com 10 000 lux é muito reduzido.

A DECO PROTESTE resolveu, então, subir a parada, e expôs os auscultadores a luz solar direta, através de uma janela, obtendo um valor de 30 000 lux. Primeira constatação: bastaram poucos minutos para se notar algum aquecimento nos auscultadores. Segunda: mesmo com este nível de iluminação, a velocidade de carga manteve-se desesperadamente lenta. Ainda assim, uma boa notícia: embora a célula fotovoltaica seja pouco eficaz numa lógica de carregamento da bateria, com este nível de iluminação e no exterior, permitiu estender a autonomia de forma muito significativa. Perante luz solar intensa, praticamente não há perda de carga em funcionamento. A corrente de carga rondou os 9,5 mA, um valor muito idêntico ao do consumo dos auscultadores em funcionamento.

Para completar os ensaios, a DECO PROTESTE analisou os níveis de iluminação mais conservadores. Com 500 lux, após cinco horas de medições, não houve acréscimo de carga detetável. Já com 2000 lux, foi obtido um discreto aumento de 2%, passadas cerca de sete horas.

Célula fotovoltaica não substitui carregamento por USB

Depois de verificar em que cenários o carregamento era viável, a DECO PROTESTE fez os cálculos ao tempo gasto na tarefa pelos Adidas RPT-02 Sol, que precisam de 50 minutos para consumirem 1% da energia acumulada na bateria. Ora, para carregar esse valor de 1%, há que esperar praticamente os mesmos 50 minutos com 30 000 lux, 1h27m com 10 000 lux e 3h30m com 2000 lux. Com 500 lux, a carga nem se mexe, como se viu. Já com cabo USB, só é preciso um minuto e dez segundos.

Quer isto dizer que a célula fotovoltaica deve ser vista sobretudo como uma forma de aumentar a autonomia, quando os auscultadores são usados no exterior e com um bom nível de iluminação. Num dia de sol, pode mesmo sair para uma corrida com uma carga de 80% e terminar o exercício com os mesmos 80%, uma hora depois.

Embora o conceito seja interessante, na prática, revela-se pouco eficaz. Ao contrário do que a Adidas sugere no seu site, não espere deixar de usar o cabo USB para carregar os auscultadores. Também muito diferente do que é anunciado, a carga em interiores, com luz artificial, é totalmente ineficaz. Resumindo, há por aqui alguns truques de marketing para motivar os consumidores...

Adidas RPT-02 Sol não entusiasmam no som

A DECO PROTESTE analisou o desempenho global destes auscultadores supra-aurais sem redução ativa de ruído, cuja headband é o local onde está integrada a célula fotovoltaica. Com 256 gramas de peso, recorrem ao protocolo Bluetooth 5.2, possuem microfone e controlo de chamadas telefónicas, e permitem ativar o assistente de voz no telemóvel. Podem também ser carregados com cabo USB-C.

Ao nível da qualidade sonora, um aspeto central em auscultadores, não descolaram de um patamar aceitável. O painel de utilizadores detetou um nível exagerado de tons baixos (graves) e uma sonoridade nem sempre precisa. Ainda assim, o laboratório identificou uma boa capacidade de isolamento sonoro, que é passivo, pois os RPT-02 Sol não têm a funcionalidade de redução ativa. Foram também considerados baixos os níveis de libertação de ruído e os ruídos parasitas produzidos pelo cabo e pelos auscultadores.

Independentemente da forma como a bateria é carregada, a DECO PROTESTE mediu uma excelente autonomia: cerca de 66 horas a reproduzir música. Pode durar ainda mais se for usada no exterior, com boa iluminação, por via do carregamento solar.

Mas a organização de consumidores lamenta que, apesar de estes auscultadores serem concebidos a partir de materiais duráveis e resistentes, o conforto seja apenas mediano. Para utilizadores com óculos, é mesmo desaconselhável. Os membros do painel referiram uma pressão elevada nas hastes dos óculos, o que compromete o conforto em definitivo. Estranho é que o uso durante a prática desportiva seja também menos cómodo do que o expectável: o problema não reside na fixação às orelhas, que é eficaz, mas, novamente, na pressão exercida sobre a cabeça.

Concluindo, existem auscultadores para desporto com melhor desempenho e um preço mais amigável. A inovação, referente ao carregamento solar, não é propriamente eficaz. Logo, a DECO PROTESTE não pode recomendar a compra dos Adidas RPT-02 Sol.

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