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Routers Wi-Fi 6 não levam sinal a toda a casa em boas condições

A DECO PROteste pôs à prova os routers com a recente tecnologia sem fios Wi-Fi 6 dos três principais operadores. O dispositivo da MEO revelou o melhor desempenho wi-fi. Mas nenhum router conseguiu levar o sinal, em condições ótimas, a todos os recantos de uma casa com muitas divisões.

29 abril 2024
Router com sinal de wi-fi

iStock

Velocidade e estabilidade são as duas grandes promessas dos fornecedores de telecomunicações, quando o assunto é internet fixa. Daqui decorre uma expectativa do consumidor, até porque os operadores promovem serviços adicionais, que incluem extensores de rede: atingir aquele par de objetivos em todos os recantos da casa, independentemente da sua configuração e dos materiais com que possa vestir-se. Sabemos que o postal ilustrado raramente coincide com uma realidade testada por cenários cada vez mais comuns, como teletrabalho, ensino à distância ou uso intensivo de serviços de streaming de vídeo.

Mas nada como o rigor das medições para comprovar perceções. Assim, a DECO PROteste testou o desempenho wi-fi dos routers fornecidos no âmbito dos serviços de televisão, internet fixa e telefone fixo, ou também telemóvel (3P e 4P). Desta vez, deu preferência a routers mais recentes, com a tecnologia Wi-Fi 6.

O confronto deu-se entre MEO, NOS e Vodafone. Uma vivenda isolada, sem aparelhos eletrónicos nem redes wi-fi vizinhas, capazes de provocar interferências, foi o laboratório escolhido – um cenário grande e "difícil", para diferenciar o desempenho wi-fi dos routers.

Nos pontos de medição mais favoráveis, tipicamente nas proximidades do dispositivo, os operadores cumprem, ou mais do que cumprem, os desígnios de velocidade e estabilidade. Os problemas surgem nos pontos mais afastados, sobretudo quando as divisões ostentam superfícies de azulejos. Mas há truques para melhorar o sinal, e a DECO PROteste também os revela. Veja também os resultados completos do teste.

Router com a tecnologia mais recente, melhor rede wi-fi

Paredes, revestimentos refletivos, como azulejos, espelhos e superfícies metálicas, de um lado, e certos equipamentos eletrónicos e redes wi-fi próximas, de outro – múltiplos agentes podem interferir no desempenho wi-fi da rede.

A sua influência é tão intensa que, ao ar livre, sem obstáculos, uma rede wi-fi tem capacidade para alcançar dispositivos a mais de uma centena de metros. Já no interior de uma habitação, pode não chegar em boas condições a uma distância de cinco metros. Trata-se de um problema conhecido. Muitos consumidores queixam-se de que, junto ao router, medem uma velocidade tão elevada quanto a contratada, enquanto, noutros pontos da casa, obtêm menos de um décimo ou nem sequer conseguem aceder à internet.

O router tem um papel central na qualidade da rede. E, como seria de esperar, quanto mais recente for a tecnologia wi-fi que utiliza, maiores serão a velocidade, a cobertura e a capacidade de se ligar a mais dispositivos em simultâneo e sem perder desempenho. A norma Wi-Fi 5 (802.11ac) é ainda a mais utilizada pelos routers que estão instalados. É também a que tem mais presença entre os vários dispositivos que se conectam à net.

A seguir, vieram as normas Wi-Fi 6 (802.11ax) e Wi-Fi 6E, muito semelhantes: a segunda, além de funcionar nas frequências de 2,4 e 5 GHz, utiliza os 6 GHz. Os routers mais recentes que são instalados com a maioria dos serviços de telecomunicações são Wi-Fi 6, ou seja, trabalham apenas com as duas primeiras frequências. Entretanto, no início de 2024, mais uma norma alcançou a certificação: a Wi-Fi 7 (802.11be). Por enquanto, são poucos os equipamentos que a usam, restrita que está a alguns telemóveis e computadores de topo de gama.

Mas não é por usarem a mesma norma que dois dispositivos têm idêntico desempenho, e a prova está nos routers testados. O equipamento da MEO, não sendo perfeito, revelou o melhor desempenho.

Duas bandas de frequência para melhor desempenho

Os routers Wi-Fi 6 são de banda dupla: recorrem às frequências de 2,4 GHz e 5 GHz. Na prática, são duas redes wi-fi que funcionam em simultâneo. A maioria dos routers vêm configurados no modo concorrente, que combina as duas bandas.

O router liga automaticamente os dispositivos a uma ou a outra frequência, para obterem o melhor desempenho possível da rede. Os dispositivos que se conectam ao router assumem, pois, que se trata de uma única rede, com um único nome.

No router da MEO, esta configuração não pode ser alterada para o modo de frequências separadas, ou seja, quando são visíveis duas redes wi-fi em simultâneo, também nas bandas de 2,4 GHz e 5 GHz, e que se apresentam com nomes distintos. Já os aparelhos da NOS e da Vodafone admitem ambas as configurações.

Quando usar as duas bandas de frequência dos routers

A frequência de 2,4 GHz, também presente nos dispositivos de uma só banda, foi durante muito tempo a única. Costuma estar muito congestionada, tendo em conta o grande número de redes e dispositivos que a ela recorrem: no geral, sofrem mais interferências, que tornam a ligação mais lenta e instável.

A banda dos 5 GHz, além de estar bastante menos congestionada, tem mais, e mais espaçados, canais de transmissão, que não se sobrepõem. O resultado é uma desejável redução de interferências e, por consequência, uma transmissão de melhor qualidade. Há outra vantagem: a possibilidade de usar vários canais ao mesmo tempo, o que permite maior largura de banda, ou seja, maior capacidade para transmitir dados. A velocidade fica a ganhar, e muito.

Não há, contudo, apenas vantagens. A frequência de 5 GHz evidencia uma limitação importante face à de 2,4 GHz. As leis da física ditam que, tendo um comprimento de onda muito inferior, o alcance e a capacidade de transpor obstáculos sejam igualmente bastante mais reduzidos.

Fazendo uma analogia simples, a frequência de 2,4 GHz é como uma estrada congestionada de duas faixas, que leva a um local distante, enquanto a de 5 GHz é uma autoestrada com menos trânsito, mas mais curta.

A rede de 5 GHz será a opção, se a distância entre o router e o dispositivo conectado for reduzida e não existirem grandes obstáculos pelo caminho. Será o caso se os dois equipamentos estiverem na mesma divisão. A escolha recairá na rede de 2,4 GHz, se o aparelho a ligar ao router estiver mais distante e houver muitos obstáculos de permeio.

Como foi feito o estudo da DECO PROteste

A planta da vivenda mostra a configuração das divisões, os locais onde foram feitas medições e os resultados referentes às velocidades de download e upload. Nota prévia: a DECO PROteste contratou o serviço da NOS com velocidades diferentes das oferecidas pela MEO e pela Vodafone, pois o plano equiparável não incluía o NOS Giga Router Wi-Fi 6.

Para o teste, os routers foram configurados em modo concorrente. O equipamento da MEO, já o sabemos, só permite a configuração neste modo. Mesmo assim, a DECO PROteste mediu ainda as velocidades no modo separado (2,4 GHz e 5 GHz), para os routers da Vodafone e da NOS, e os resultados seguem os obtidos em modo concorrente.

O cenário de teste foi exigente: uma vivenda grande e com muitas divisões, com o propósito de evidenciar as diferenças de desempenho entre os routers. Não se esperava que o sinal wi-fi chegasse a todos os locais de medição em ótimas condições e com velocidades próximas das máximas, sobretudo às divisões mais afastadas.

A DECO PROteste calculou ainda a média das velocidades obtidas em cada local e a velocidade contratada no âmbito de cada serviço. O objetivo? Encontrar, a partir daqui, o rácio entre a média dos valores medidos e a velocidade contratada. Apesar de as velocidades fornecidas pelos serviços serem algo superiores às contratadas, as percentagens obtidas são indicativas do desempenho e da cobertura dos routers. Quanto maiores são, maior é também a proximidade entre as velocidades nos vários pontos de medição e os valores recolhidos junto dos routers.

Router da MEO ganha o confronto

E o que nos dizem os resultados? O router da MEO teve o desempenho mais destacado, conseguindo, em cinco dos nove pontos, valores próximos das velocidades máximas. O router da Vodafone ficou em segundo lugar, com quatro pontos nas velocidades máximas, e o dispositivo da NOS fechou o pódio, com três resultados de topo. No embate em modo separado, entre os routers da NOS e da Vodafone, ficou igualmente patente a superioridade do segundo.

No confronto entre a média das medições e a velocidade contratada, os resultados não destoam do quadro geral observado. No download, que é a transferência de dados para os dispositivos conectados, o router da MEO cumpriu apenas 69% da velocidade contratada. O da Vodafone caiu para 61% e o da NOS para sensivelmente metade. O panorama melhorou bastante no upload, ou seja, no envio de dados a partir dos dispositivos conectados. A MEO atingiu os 100%, enquanto a Vodafone chegou aos 85% e a NOS bateu na marca dos 81 por cento.

Conclusão óbvia e, de certo modo, já esperada? Os routers não conseguem levar o sinal a todos os recantos da casa em condições ótimas. Há truques para compensar as falhas, que passam, entre outros, por remover obstáculos e recorrer a tomadas de rede ou a extensores. O router, sozinho, não faz a primavera. Ainda que tenha asas Wi-Fi 6.

 

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