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Aditivos alimentares: quando a cor é mau sinal

Quanto mais coloridos e transformados forem os alimentos, maiores serão as probabilidades de conterem aditivos alimentares. Optar por produtos simples e prepará-los em casa, e saber identificar essas substâncias no rótulo ajuda a reduzir uma ingestão excessiva.

25 março 2024
3 macarons cor de rosa em cima de uma mesa

iStock

Aperitivos, charcutaria, condimentos, delícias do mar, gelados, molhos, produtos de confeitaria, de pastelaria e padaria, refeições preparadas, refrigerantes, sobremesas, sopas desidratadas e até bebidas alcoólicas... Os alimentos ricos em aditivos alimentares enchem as prateleiras do supermercado. Quanto mais colorido, transformado ou elaborado for um alimento, maiores serão as probabilidades de que contenha muitos aditivos.

O ideal é optar por alimentos simples com poucos ou nenhuns aditivos alimentares e prepará-los em casa. Isto justifica-se ainda mais quando se destinam a indivíduos sensíveis, como crianças, grávidas, idosos ou pessoas com alergias, asma, urticária crónica, pólipos nasais e intolerância ao ácido acetilsalicílico. Em suma: evite alimentos com muitos “E” (ou os respetivos nomes) na lista de ingredientes.

Não se deixe enganar pela publicidade. A frase “sem corantes nem conservantes” não significa que o produto não inclua outros aditivos. Alguns corantes naturais são tão nocivos quanto certos corantes sintéticos. Em caso de dúvida, use a calculadora da DECO PROteste, que lhe indica quais os aditivos alimentares seguros e quais os suspeitos.

Ver se aditivo é seguro

Que aditivos alimentares são úteis, aceitáveis ou dispensáveis?

Existem mais de 300 aditivos alimentares autorizados na União Europeia. A lei contempla uma lista com todas essas substâncias, especificando em que géneros alimentícios podem ser usados e fixando doses-limite. Alguns aditivos alimentares visam conferir uma cor mais atrativa (corantes), melhorar as características ou a consistência do alimento (agentes de textura), substituir nutrientes para reduzir o valor calórico (edulcorantes em vez de açúcar) ou melhorar e reforçar o sabor (intensificadores de sabor). Outros são utilizados para aumentar o tempo de conservação (antioxidantes ou conservantes).

Alguns aditivos alimentares são úteis, como alguns conservantes. Outros ainda são aceitáveis se usados com moderação, desde que não exista alternativa viável para atingir o mesmo fim. Mas muitos aditivos alimentares autorizados são inaceitáveis, por serem dispensáveis e quase sempre enganosos. Os corantes e os intensificadores de sabor têm apenas funções estéticas e gustativas. Mascaram, muitas vezes, matérias-primas de má qualidade, induzindo em erro. Outro exemplo: o uso de fosfatos nos produtos de carne ou peixe. Aumentam a retenção de água, logo, o volume, podendo dilatar a margem de lucro da indústria. O consumidor paga mais por menos produto.

Da lista de aditivos alimentares mais comuns, destacam-se os mencionados em seguida.

  • Agentes de endurecimento: usados para tornar ou manter firmes ou estaladiços os frutos e hortícolas.
  • Antiaglomerantes: adicionados aos alimentos com o objetivo de reduzirem a tendência das partículas isoladas aderirem entre si.
  • Antioxidantes: protegem os alimentos contra a deterioração pela oxidação.
  • Conservantes: são adicionados para aumentar o tempo de conservação dos alimentos.
  • Corantes: visam conferir uma cor mais atrativa.
  • Edulcorantes: visam conferir um sabor doce aos alimentos. São utilizados em edulcorantes de mesa.
  • Emulsionantes: possibilitam a homogeneização de componentes que não se ligam entre si.
  • Intensificadores de sabor: tal como o nome indica, são usados com o propósito de intensificar o sabor e/ou o cheiro de um produto alimentar.

48 aditivos podem causar alergias

Os aditivos alimentares que provocam mais vezes reações alérgicas ou intolerâncias são os corantes de síntese, os conservantes, os antioxidantes, os intensificadores de sabor e os agentes de textura.

Em pessoas sensíveis, podem surgir queixas digestivas, como dores abdominais, diarreia, náuseas e vómitos após a ingestão. Outras reações possíveis: enxaqueca, urticária, eczema, edema de Quincke, rinite ou até asma.

Se associar certos alimentos a reações deste tipo, procure identificar que aditivos alimentares contêm. Pode não ser necessário excluir da dieta todos os alimentos com o aditivo em causa, mas sim limitar o consumo abaixo do limiar tolerável e evitar os produtos com maiores teores dessa substância.

98 aditivos pouco recomendados ou a evitar 

Estudos sobre quase um terço dos aditivos alimentares são controversos ou apresentam limitações. Embora os produtos alimentares com efeitos cancerígenos não sejam permitidos, determinados aditivos foram autorizados sem se ter chegado a um consenso quanto ao potencial perigo.

A dose diária admissível (DDA) estabelecida para estas substâncias é, por isso, muito reduzida, enquanto a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) aguarda por mais investigações.

Eis as principais limitações dos testes toxicológicos com aditivos alimentares.

  • Os estudos são realizados em animais de laboratório e determinam a dose mais elevada para a qual não foi observado nenhum efeito adverso. Segue-se a extrapolação para os humanos.
  • Por um lado, os animais não reagem sempre como nós às substâncias. Além disso, é difícil observar determinados efeitos, como dores de cabeça ou estados depressivos.
  • Mesmo que a investigação se prolongue até ao fim da vida do animal, não permite simular a ingestão da substância ao longo da vida dos humanos.
  • Além disso, os estudos são feitos com uma substância de cada vez e, com frequência, apenas consideram os efeitos ao nível dos principais órgãos. Ora, a nossa ementa é composta por vários alimentos, podendo cada um conter um ou mais aditivos. Verificou-se, por exemplo, que a ingestão de alguns corantes com benzoatos podia provocar hiperatividade em crianças.
  • Outra limitação dos estudos: não avaliam eventuais reações entre aditivos e componentes dos alimentos. Por exemplo, suspeita-se de que os benzoatos em produtos com sumo de fruta ou ácido ascórbico (vitamina C) possam favorecer a formação de benzeno, uma substância cancerígena.
  • As doses diárias admissíveis estabelecidas (DDA) não têm em conta as sensibilidades individuais ou algumas alergias. Além disso, baseiam-se num consumo médio do aditivo para uma alimentação variada, excluindo as pessoas que consomem habitualmente o mesmo.
  • Os estudos deveriam dar mais importância ao efeito dos aditivos sobre compostos tóxicos presentes nos alimentos. De facto, alguns aditivos potenciam o efeito cancerígeno de outras substâncias.

Por não existir risco zero, a lista de aditivos alimentares e as doses-limite são regularmente revistas.

Todos os aditivos no rótulo

Os aditivos são considerados ingredientes dos produtos alimentares, devendo, por isso, constar dos rótulos. Na lista de ingredientes, além da classe a que pertencem (corante ou conservante, por exemplo), deve constar o nome (como curcumina ou ácido sórbico) ou o código atribuído pela União Europeia, composto pela letra E (de Europa) seguida de três ou quatro algarismos (E 100 ou E 200) e, por vezes, algumas letras minúsculas. Mas, se alguns alimentos estão dispensados de indicarem a lista de ingredientes, desconhece-se que aditivos alimentares foram eventualmente adicionados. Uma tolerância inaceitável da lei.

Existem advertências obrigatórias para certos aditivos. Se o alimento contiver mais de 10% de polióis adicionados (um tipo de edulcorante), deve indicar que “o seu consumo excessivo pode ter efeitos laxativos”. Um alimento com um ou mais edulcorantes deve indicá-lo (“contém edulcorantes”), tal como se incluir açúcares adicionados e um ou mais edulcorantes. Quando contém aspartame ou sal de aspartame e acessulfame, é obrigatório referir que contém uma fonte de fenilalanina.

A utilização de sulfitos ou dióxido de enxofre também deve vir indicada sempre que a concentração destes conservantes seja superior a 10 miligramas por litro ou quilo. Por fim, um alimento com corantes E 102, E 104, E 110, E 122, E 124 ou E 129 deve alertar que “pode causar efeitos negativos na atividade e atenção das crianças”.

Como ter uma alimentação mais saudável?

Apesar dos potenciais riscos de alguns aditivos alimentares, há que relativizar a questão. Estima-se que estas substâncias possam ser responsáveis por menos de 1% dos tumores malignos. Mais do que os aditivos, são os agentes patogénicos, como os microrganismos e as toxinas que surgem naturalmente nos alimentos ou que são introduzidos devido a uma má manipulação, e os maus hábitos alimentares, que podem ter consequências nefastas.

Procure seguir uma alimentação variada e equilibrada, tal como preconiza a roda dos alimentos, privilegie os produtos simples e habitue o paladar ao sabor genuíno dos alimentos. Consegue-se, assim, reduzir uma boa dose de aditivos alimentares no prato e garantir uma alimentação saudável.

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