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Inflação, reduflação e estagflação: o que significa?

O que significam estes conceitos e que impacto têm no dia-a-dia do consumidor? Saiba o que está em causa quando ouve ou lê as palavras inflação, reduflação e estagflação.

28 outubro 2022
Homem de costas com fato de executivo traça uma linha azul de gráfico num quadro onde já existem outras linhas e símbolos

iStock

Todos os dias são divulgadas notícias com termos económicos cujo significado nem sempre é conhecido pelos consumidores, ou, pelo menos, não é completamente claro. Desde o início de 2022, há termos, sobretudo relacionados com a formação dos preços dos produtos e dos serviços, que estão na ordem do dia.

Explicamos o que significam três grandes conceitos nesta área: inflação, reduflação e estagflação. Se o primeiro poderá ser mais comum, os outros dois talvez façam levantar o sobrolho aos mais leigos. Esclareça eventuais dúvidas e entenda se está consciente do que estes conceitos significam e de que forma o afetam no quotidiano.

Inflação: aumento contínuo e generalizado dos preços

Os preços dos bens e serviços vão sofrendo oscilações: uns aumentam, outros diminuem. No entanto, quando a subida é generalizada e constante, estamos perante inflação.

Todos somos atingidos pela inflação, já que não conseguimos comprar o mesmo com o mesmo dinheiro. No entanto, as famílias com menores rendimentos acabam por ser mais afetadas, porque o seu orçamento já é totalmente canalizado para bens essenciais, pelo que têm uma reduzida margem de manobra.

Normalmente, a inflação é medida utilizando o índice de preços no consumidor, para o cálculo do qual é utilizado um cabaz de compras composto pelos bens e serviços adquiridos pelas famílias, incluindo, entre outros, alimentação, lazer, vestuário, habitação e transportes. A preocupação atual em torno da inflação prende-se com os valores que tem atingido desde o início do ano.

Em setembro, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação atingiu os 9,3%, mas, se olharmos apenas para os produtos energéticos, estes tiveram uma variação de 22 por cento. O segundo aumento mais significativo ocorreu nos produtos alimentares não transformados: 16,9%, o que representa a maior variação deste índice desde julho de 1990. Segundo a análise a um cabaz essencial de 63 produtos que temos vindo a fazer desde 1 de março de 2022, o preço da pescada fresca é o que mais tem subido (67 por cento), mas outros 54 produtos viram também o seu preço aumentar.

Esta situação deriva de vários motivos. A rápida reabertura da economia após os confinamentos motivados pela pandemia teve um grande contributo inicial: os consumidores estavam dispostos a gastar e a comprar mais, mas existiram perturbações nas cadeias de abastecimento, e o mercado não teve capacidade de resposta. Havendo muito mais procura do que oferta, a tendência é para que os preços subam.

Temos também a transição energética na Europa, que pretende diminuir o consumo de combustíveis fósseis através do aumento dos seus preços. Se juntarmos a guerra na Ucrânia (grande exportador de cereais), que eclodiu no início do ano, chegamos à receita perfeita para a inflação elevada a que temos assistido. Muitas das sanções económicas impostas à Rússia passam pelo embargo de importação de produtos petrolíferos, o que tem feito o preço dos combustíveis disparar, com reflexo no custo de todos os produtos.

A somar temos a desvalorização do euro face ao dólar, o que faz com que as importações europeias de produtos comercializados na moeda americana, como o petróleo, fiquem mais caras.

O Banco Central Europeu (BCE) é a instituição que tem por objetivo controlar a inflação nos países da zona euro. A política do BCE pode ser expansionista, quando pretende apoiar as economias, como sucedeu nos últimos anos, em que foi comprando dívida pública e imprimindo dinheiro, ou restritiva, quando o objetivo é, por exemplo, controlar a inflação.

Uma das principais metas do BCE é que a inflação se mantenha nos 2 por cento. Por isso, já reagiu à subida da inflação, subindo também por três vezes consecutivas (e não deverá ficar por aqui) as taxas de juro diretoras, ou seja, as taxas às quais os bancos comerciais se financiam junto do banco central. Este acréscimo tem, obviamente, reflexo nas taxas que os consumidores pagam nos seus empréstimos e, em última instância, nas prestações ao banco. O aumento da taxa de juro diretora visa diminuir a procura por empréstimos e o aumento da poupança, contribuindo para diminuir a inflação.

O conceito inverso à inflação, menos comum e que não se prevê que aconteça em breve, é a deflação: a descida generalizada e constante dos preços.

Reduflação: redução do tamanho dos produtos mantendo ou aumentando o preço

Parece-lhe que a embalagem de cereais de pequeno-almoço rende menos doses do que anteriormente? Provavelmente, não anda a comer mais: a quantidade de produto na embalagem é que sofreu uma redução.

Esta prática traduz-se numa inflação dissimulada. O consumidor paga mais pelo produto, porque leva menos quantidade por igual valor (ou maior, se o preço aumentar), mas pode nem se aperceber disso. Vejamos um exemplo: se comprava uma garrafa de sumo de um litro por um euro e o produtor decidir cortar o tamanho da embalagem para 900 mililitros (supostamente para não aumentar o preço), na verdade, o litro desse sumo passou a custar 1,11 euros.

Pode aperceber-se de casos de reduflação em embalagens de cereais de pequeno-almoço, papas infantis, fraldas para bebé, produtos de higiene, chocolates, queijos, etc., mas também no tamanho do pão e até nas doses servidas nos restaurantes ou lojas de pronto-a-comer.

Estagflação: combinação de inflação elevada, estagnação do crescimento económico e aumento do desemprego

O aumento do custo de vida que se está a sentir pode levar à estagnação do crescimento económico e ao aumento do desemprego. Um país está em recessão quando existe um recuo da sua atividade económica, isto é, quando se verifica uma queda do produto interno bruto em dois trimestres consecutivos. O produto interno bruto, conhecido pela sigla PIB, corresponde à riqueza de um país, ou seja, aos bens e serviços que são produzidos durante um ano.

Se, para já, os analistas afastam o cenário de uma recessão, esta é uma possibilidade cada vez mais real. Segundo previsões da Comissão Europeia, em 2022, a economia nacional deverá crescer 6,5%, sendo Portugal o Estado-membro com maior crescimento do PIB. No entanto, em 2023, a economia portuguesa começará a contrair, e o PIB apenas deverá crescer 1,9 por cento. O aumento da inflação, a guerra na Ucrânia sem fim à vista e a subida das taxas de juro poderão conduzir a uma deterioração da economia mundial.

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