Dossiês

Medicamentos para crianças: como usar

20 março 2023
Medicamentos para crianças

É preciso especial cuidado na dose, ao administrar medicamentos aos mais novos, não só por causa do baixo peso das crianças, mas principalmente devido à imaturidade dos seus órgãos. Conheça os truques para facilitar a toma de medicamentos.

O organismo das crianças está em desenvolvimento e a sua resposta aos medicamentos não é igual à dos adultos. A toma de medicamentos na primeira infância (até aos dois anos) requer ainda mais precauções, com especial destaque para as primeiras semanas de vida (recém-nascidos).

Os medicamentos devem ser administrados apenas se indicados por um médico, mesmo que já tenham sido usados antes com sintomas semelhantes, sobretudo no caso de bebés até aos dois anos. 

No entanto, existem situações em que o médico dá a indicação prévia de utilização de determinados medicamentos, por exemplo, para o controlo da febre (antipiréticos) e dor (analgésicos), como o paracetamol e o ibuprofeno. Ainda assim, o uso destes medicamentos deve respeitar as doses indicadas e o regime de administração (posologia). Para saber qual é a dose certa de analgésicos a dar aos mais novos, consulte a calculadora da DECO PROTESTE.

Antes de dar medicação a uma criança, deve verificar o peso do menor para adaptar a dose. Não se esqueça de que, durante uma doença, o peso pode diminuir bastante, especialmente se houver vómitos ou perda de apetite.

Qualquer medicamento tem efeitos secundários. Por isso mesmo, até os mais usados em pediatria devem ser administrados com cautela. O paracetamol, por exemplo, se não for usado nas doses e na posologia adequadas à idade, pode causar toxicidade hepática.

As embalagens de medicamentos em gotas ou xarope devem incluir conta-gotas, colheres ou tampas doseadoras que permitam medir a dose exata. Na falta de um doseador, o melhor é medir com uma seringa a quantidade de medicamento recomendada pelo médico.

Voltar ao topo

Recomendações aos pais

Para que os medicamentos cumpram a sua função sem problemas, os pais devem estar atentos durante a consulta médica, na farmácia e, sobretudo, em casa.

Na consulta

  • Se existir algum medicamento que anteriormente tenha causado alguma reação adversa medicamentosa (RAM), faça o registo do episódio no boletim de saúde da criança e mostre ao médico. Outras reações, como a criança não querer tomar devido ao mau sabor, também podem ser partilhadas com o médico assistente. Só assim este poderá tentar encontrar alternativas terapêuticas ou outras marcas de medicamentos com a mesma substância ativa.
  • Apresente ao médico uma lista dos medicamentos que já tem em casa. Se algum deles for indicado para a situação, evita comprar outro.
  • Assegure-se de que entende bem as indicações: duração do tratamento, dose, horário das tomas antes ou depois das refeições, entre outras. Se estas informações não lhe forem dadas por escrito, escreva-as na presença do médico.

Na farmácia

  • Peça ao farmacêutico uma embalagem com o tamanho mais adequado ao tratamento e, se possível, com tampa de segurança.
  • Escreva a forma de tomar os medicamentos na embalagem.
  • Nos medicamentos líquidos, convém que a embalagem inclua um doseador. Caso contrário, compre um ou use uma seringa.
  • Se o médico tiver prescrito o medicamento em miligramas, e se tratar de uma solução oral, peça ao farmacêutico que lhe indique quantos mililitros são por toma. Assim, evitará erros na administração.
  • Não hesite em pedir informações sobre o medicamento e o folheto informativo.
  • Alguns medicamentos devem ser reconstituídos, ou seja, tem de se adicionar água para fazer uma solução ou suspensão. É, sobretudo, o caso de formas farmacêuticas orais líquidas, que vêm em pó e que, como tal, têm de ser reconstituídas previamente. Um erro na reconstituição conduzirá a erro na dose administrada. Peça para reconstituírem na farmácia. Estes profissionais têm experiência, saberão fazê-lo de forma rápida e adequada a cada fármaco.

Em casa

  • Administre o medicamento seguindo as instruções do médico.
  • Se tiver de dar medicamentos à criança durante a noite, acenda a luz. Às escuras, é mais fácil enganar-se, por exemplo, na dose ou no próprio fármaco.
  • Mantenha os medicamentos fora do alcance das crianças e ensine-lhes que são produtos perigosos se não forem bem usados. Só os adultos poderão dar-lhos. Nunca os deixe na mesa de cabeceira, mesmo que seja apenas durante a noite, na bancada da cozinha ou numa caixa acessível. É também muito importante ter este cuidado, por exemplo, na casa de familiares, quando as crianças lá estiverem.
  • Não acumule medicamentos em casa. Procure ter apenas os necessários para o tratamento de doenças crónicas (se existir alguma) ou os destinados a primeiros socorros, como os medicamentos contra a dor e a febre.
  • Respeite a data de validade indicada na embalagem. Nalguns casos, a rotulagem também indica a duração e a forma de conservação dos medicamentos depois de abertos.
  • Os medicamentos que necessitam de refrigeração devem ser colocados no frigorífico, numa zona inacessível às crianças. É importante não os colocar na porta, pois há variação de temperatura, nem colocar em contacto com a parte de trás do frigorífico (por vezes, forma gelo).
  • Entregue os medicamentos que já não utiliza ou que estejam fora de prazo na farmácia.
  • Tenha o número do Centro de Informação Antivenenos (CIAV) sempre à mão: 808 250 250. Em caso de acidente, como uma intoxicação, ligue de imediato. Esta linha está disponível 24 horas por dia. Também pode dirigir-se ao serviço de urgências do hospital, levando consigo o medicamento responsável. Verifique se o folheto informativo indica as medidas a tomar enquanto espera por ajuda médica.
  • Se tiver dúvidas sobre medicamentos, contacte a linha SNS 24 pelo 808 24 24 24, disponível todos os dias, durante 24 horas.
  • Guarde todos os fármacos num armário trancado e longe de produtos tóxicos, como diluentes ou tintas.
  • Mantenha as embalagens originais e o folheto informativo. Não transfira o conteúdo para outros recipientes.
Voltar ao topo

Truques para facilitar a toma

Para cada idade, doença e fase de desenvolvimento, há formulações que facilitam o tratamento. Xaropes, soluções e suspensões orais e medicamentos efervescentes são boas opções para crianças até aos 8 anos, pois são fáceis de engolir e podem evitar alguns acidentes. Misturar medicamentos com comida pode ajudar.

Os medicamentos mastigáveis podem ser alternativa a partir dos dois anos, mas é preciso garantir que as crianças não os engolem inteiros.

Medicamentos como supositórios e clisteres atuam mais rapidamente e podem ser úteis para doentes inconscientes, para quem sofre de náuseas, vómitos, tem dificuldade em engolir ou não consegue tomar fórmulas orais devido ao sabor.

Os comprimidos e as cápsulas não têm sabor, mas são difíceis de engolir. Quanto mais pequenos forem, melhor. Geralmente, a partir dos 10 anos as crianças já conseguem engolir comprimidos e cápsulas sem problema. No entanto, algumas crianças já conseguem fazê-lo a partir da idade escolar (aproximadamente 6/7 anos).  

Da toma do medicamento ao efeito

São várias as vias para a administração de fármacos. As mais comuns são a via oral, retal e cutânea. Um medicamento administrado por qualquer via extravascular (que não seja injetável) terá de ultrapassar barreiras químicas, mecânicas e biológicas para ser absorvido e fazer o seu efeito. Deste modo, alterações nas superfícies de absorção, relacionadas com o desenvolvimento, podem influenciar a biodisponibilidade de um fármaco. 

Uma vez absorvido o medicamento, o sangue encarrega-se de distribuí-lo pelos tecidos onde desenvolve a sua ação. Depois, o organismo tem de eliminá-lo. O fígado e os rins são órgãos essenciais na transformação e eliminação destas substâncias. Devido à imaturidade destes órgãos nas crianças, os princípios ativos permanecem durante mais tempo no organismo, mas a metabolização e a excreção podem ser maiores do que nos adultos. Nalguns casos, a ação do medicamento e as reações adversas são mais prolongadas. Noutros casos, o efeito é retardado. Devido a estas particularidades, pode ser necessário diminuir a dose ou aumentar o intervalo entre duas tomas. 

Estas diferenças de absorção, distribuição, metabolização e excreção ocorrem não só entre a população pediátrica e a população adulta, mas mesmo entre diferentes faixas etárias na pediatria. Por isso, fazer extrapolações de dose e de uso entre crianças diferentes (por exemplo, entre irmãos) ou entre crianças e adultos é perigoso e pode traduzir-se em reações adversas graves, como intoxicações.

Medicamentos na pele também têm os seus riscos

Os medicamentos de aplicação cutânea destinam-se quase sempre a problemas localizados na pele, mas uma pequena parte passa para o sangue. A absorção de cremes e pomadas através da pele é maior nas crianças do que nos adultos porque, entre outros fatores, as crianças têm uma maior superfície corporal em relação ao seu peso. Nos bebés, esta característica assume maior importância na zona das nádegas. A fralda atua como barreira oclusiva, aumentando a absorção, sobretudo quando a pele está irritada. Há que ser especialmente prudente com os cremes que contenham corticosteroides, devido aos efeitos secundários que podem desencadear quando entram na circulação sanguínea (perturbações ósseas e problemas musculares, entre outros).

Voltar ao topo

Medicamentos mais habituais

As crianças sofrem frequentemente de infeções com fortes subidas da temperatura. Os medicamentos contra a febre (antipiréticos) e os antibióticos são os mais utilizados, mas estes últimos nem sempre são necessários.

Analgésicos e antipiréticos

Os medicamentos contra a dor (analgésicos) e a febre (antipiréticos) são dos mais usados em pediatria. Neste grupo, destaca-se o paracetamol, um medicamento com poucos e raros efeitos secundários, desde que tomado nas doses recomendadas. O ibuprofeno é também cada vez mais comum, mas não deve ser dado com o estômago vazio.

O ácido acetilsalicílico (por exemplo, Aspirina) não é recomendável. Existem alternativas mais seguras. O consumo deste tipo de medicamento durante a varicela ou uma gripe pode levar ao desenvolvimento da síndrome de Reye, um problema pouco frequente, mas muito grave. Esta síndrome, em geral, está associada a infeções virais, como gripes, constipações e varicela e afeta todos os órgãos, em especial o cérebro e o fígado, que podem deixar de desempenhar as suas funções e, no limite, levar à morte.

Antibióticos

São eficazes na luta contra as bactérias, mas, quando não são usados corretamente, podem levar ao aparecimento de bactérias resistentes, dificultando o tratamento de infeções graves. É fundamental nunca utilizar antibióticos por iniciativa própria e respeitar o intervalo entre cada dose, para manter um nível adequado do medicamento no sangue. O tratamento prescrito deve ser feito até ao fim, mesmo que já não existam sintomas.

O aparecimento de febre não implica, necessariamente, a toma de um antibiótico. Cerca de 90% das doenças infantis que provocam febre (tosse, diarreia, etc.) são causadas por vírus contra os quais os antibióticos nada podem fazer.

Antiasmáticos

A asma é a doença crónica mais frequente na infância. Para tratá-la, é comum utilizar broncodilatadores, através de inaladores pressurizados, nebulizadores ou inaladores de pó seco. Os primeiros são mais fáceis de administrar por meio de uma câmara expansora. Este equipamento, à venda nas farmácias e outras lojas de produtos de saúde, facilita o uso dos aerossóis, reduz a absorção de medicamento pelo sangue e diminui os efeitos secundários localizados dos corticosteroides (anti-inflamatórios potentes, comummente designados por derivados da cortisona) inalados.

Antitússicos expetorantes e mucolíticos

As infeções das vias respiratórias superiores, acompanhadas de expetoração e tosse, são comuns nas crianças. Nestes casos, há uma tendência para abusar de medicamentos como os mucolíticos e expetorantes, cuja eficácia terapêutica é baixa. Como alternativa, pode recorrer a outras medidas, como beber muita água, manter o ambiente húmido e limpar o nariz com soro fisiológico.

Em caso de tosse seca (sem expetoração), a criança pode tomar um antitússico, mas deverá sempre ser receitado pelo médico.

Voltar ao topo

Se gostou deste conteúdo, apoie a nossa missão

Somos a maior organização de consumidores portuguesa, na defesa dos seus direitos desde 1991. Acreditamos que Saber é Poder. 

A nossa independência só é possível através da sustentabilidade económica da atividade que desenvolvemos. Para mantermos esta estrutura a funcionar e levarmos até si um serviço de qualidade, precisamos do seu apoio. 

Conheça a nossa oferta e faça parte da comunidade de Simpatizantes. Basta registar-se gratuitamente no site. Se preferir, pode subscrever a qualquer momento.
 

 

JUNTE-SE A NÓS