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Carro elétrico só compensa se carregar em casa

Taxas, tarifas especiais e dois aumentos no último ano fizeram curto-circuito no preço da eletricidade e revoltaram os utilizadores de automóveis elétricos. O Governo foi rápido a encontrar uma solução, mas os problemas de fundo persistem.

28 janeiro 2022 Arquivado
Abastecimento de carro elétrico num posto de carregamento

iStock

No final de 2021, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) divulgou as novas tarifas da Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica (EGME), a Mobi.e, a aplicar em 2022 e o alarme tocou para os utilizadores de automóveis elétricos. Foi decidido subir a taxa aplicada aos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e aos operadores de pontos de carregamento (OPC) em 79%: a tarifa passou de 0,1657 para 0,2964 cêntimos por carregamento. Decidido contra a corrente e anunciado contra todas as expectativas, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática decidiu “anular” este aumento, compensando-o através de um desconto, nas faturas dos utilizadores de carros elétricos, pago pelo Fundo Ambiental. “Este apoio é decisivo para Portugal atingir os objetivos a que se vinculou. Na atual conjuntura de incerteza da tarifa de energia, importa manter estabilidade nos preços de carregamento na rede, através de um apoio aos utilizadores de veículos elétricos”, explica o Governo no comunicado divulgado no final de 2021. Contudo, no mesmo despacho de 30 de dezembro, o Governo retirou o apoio financeiro nas tarifas de acesso à rede, que vigorou em 2021. Estas baixaram no início do ano passado, o que contribuiu para atenuar a subida do preço da energia. Trata-se de uma transferência administrativa de apoios.

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Aplaudimos esta nova resolução e todas as medidas que incentivem a transição e promovam a estabilidade dos fatores cruciais para comprar carro elétrico, como é o custo de carregamento, mas muito falta fazer. Fazemos pausa no jogo político para atualizar as contas do custo por quilómetro e revelar os números que interessam ao consumidor: quanto custa afinal carregar a bateria e qual a tecnologia automóvel mais económica? Em Portugal, os utilizadores têm de pagar a um comercializador de eletricidade desde julho de 2020. Com base nos valores mais recentes, atualizámos a análise ao custo total de posse e utilização dos automóveis.

Carro elétrico imbatível se carregar em casa com tarifa bi-horária

Se tiver de comprar um automóvel, o elétrico é o melhor negócio. Mas só compensa se carregar em casa. Atualizámos o estudo sobre as despesas com a compra, posse, utilização e venda para duas tecnologias: elétrico versus combustão (gasolina e gasóleo). A análise recorre a estimativas com base em valores definidos de anos de posse e número anual de quilómetros. A fórmula parece complexa, mas é simples: inclui preço de veículos e depreciação do mercado; custos e consumo de combustível/eletricidade; impostos (IVA, ISV, registo, IUC); e custos de seguro e manutenção. Fizemos as contas para viajar 100 quilómetros com um carro do segmento médio (por exemplo, Nissan Leaf, VW ID.3, Hyundai Kauai eletric e Kia e-Niro).

No contexto atual, o carregamento em casa é a solução mais prática e eficiente para os utilizadores de automóveis elétricos. No panorama atual da fixação de tarifas de eletricidade, esta é a melhor opção para todos os consumidores. Com taxas e impostos incluídos, o carregamento na rede pública compromete as vantagens do negócio.

Quanto custa carregar a bateria para 100 quilómetros?

Calculámos quanto custa carregar a bateria com 18 kWh (em média, a energia necessária para fazer 100 quilómetros) num posto de carregamento normal de 22 kW. Pouco menos de metade da fatura pertence a tarifas e impostos e a outra metade representa o consumo de eletricidade.

O preço de um carregamento de 18 kWh a 22 kW

 

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Os valores estimados refletem o montante total cobrado após abastecer a bateria:

  • o montante devido ao comercializador (CEME) pelo tarifário contratado;
  • o custo de utilização do Operador de Posto de Carregamento (OPC). Este valor varia entre postos. Considerámos o valor mais comum;
  • os valores incluem todas as taxas, impostos e tarifas de acesso aplicáveis.

Em 2022, o custo por quilómetro aumenta ligeiramente, quando comparado com o panorama em 2021. Mas torna-se claro que o carro elétrico só compensa do ponto de vista económico se for carregado em casa e com recurso à tarifa bi-horária, sendo esta a melhor solução e o tipo de carregamento preferencial. É imbatível no confronto com os automóveis a combustão (gasóleo ou gasolina). No ciclo combinado entre casa (80%) e rede pública (20%), o custo por quilómetro aumenta apenas 1 cêntimo por quilómetro. Contudo, se apenas pode carregar na rede pública, posto normal ou rápido, já paga mais 3 cêntimos por quilómetro no cenário para 6 anos de posse com 15 mil quilómetros por ano. Para o mesmo número de anos, mas 30 mil quilómetros por ano, o aumento dispara.

Análise do custo total de posse (6 anos e 15 mil km por ano)

 

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Como funciona o pagamento da rede pública

Geridos pela Mobi.e, os postos de carregamento de acesso público são pagos. Para ter acesso à rede pública, precisa de obter um cartão junto de um dos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME). A maioria situa-se em espaços de acesso público, como parques de estacionamento, zonas de estacionamento na via pública, centros comerciais, hotéis, aeroportos ou áreas de serviço.

Após contratar um comercializador, é-lhe enviado um cartão para a morada indicada no registo. O cartão, independentemente do comercializador escolhido, dá acesso a 1559 postos com 3390 pontos de carregamento que compõem a rede pública, sendo os montantes debitados na conta associada no contrato.

Há um ano e meio, fizemos contas a 6 comercializadores. Hoje, existem 27 comercializadores. Cada um pratica o seu tarifário, o qual varia em função do tipo de carregamento (de 3,6 kW a 150 kW). Também existem oscilações se escolher um plano com tarifa bi-horária (em que o carregamento é mais barato nas horas de vazio, entre as 22h e as 8h, e ao domingo). Todos estes elementos compõem apenas parte do valor a pagar no final do carregamento. Na verdade, é ainda necessário adicionar o custo de utilização do Operador de Posto de Carregamento (OPC), que, mais uma vez, difere. Tendo em conta o número de variáveis fizemos os cálculos para ter uma ideia do custo total do carregamento da bateria do carro. Nalguns casos, pode usufruir de descontos ou condições vantajosas, se já for cliente para a energia doméstica ou se contratar um tarifário que inclua a mobilidade para casa.

Cuidado a escolher o posto de carregamento

A utilização dos postos pode incluir uma taxa fixa de ativação do serviço (até 50 cêntimos), ao qual acresce um custo por minuto de utilização ou por kWh carregado: o mais comum é não ser cobrada a taxa de utilização e os postos optarem por cobrar por minuto de utilização. O montante varia entre 2 e 10 cêntimos, conforme a potência do carregador. Alerta: na maioria dos carregadores rápidos, paga por minuto e por kWh e ainda uma taxa fixa de utilização do carregador.

Como pedir o cartão para carregar o carro elétrico?

Na página online da Mobi.e, encontra a lista dos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Eléctrica (CEME). Clique no link da empresa do seu interesse e solicite a adesão ao serviço. Assim que terminar o registo, depois de preenchidos os campos obrigatórios, é enviado um cartão para a morada indicada. Os cartões dão acesso a todos os pontos de carregamento da rede. O valor a pagar por cada carregamento será debitado da conta cujo IBAN indicou aquando do registo.

Consumidores exigem

É preciso acelerar a mobilidade elétrica e muito pode ser feito ao nível do fundo ambiental. A venda de carros elétricos continua a bater recordes todos os meses. O atual incentivo na compra não serve os interesses dos consumidores. Impõe-se repensar o momento de abate do carro a combustão. Com a oferta de carros elétricos a aumentar, urge melhorar a infraestrutura da rede pública. O apoio pode ser concentrado no abate. É a melhor forma de valorizar a vertente ambiental, garantindo que os carros mais poluentes saem de cena.

Por sua vez, a variação entre tarifários e a forma como são apresentados não facilitam a comparação de valores. Em defesa da transparência, o tarifário deve estar em zona bem visível. É também urgente criar ferramentas digitais para a estimativa antecipada do custo de carregamento em cada posto.

Atualmente, cada comercializador indica um rol de condições e tarifários, obrigando a fazer muitos cálculos para descobrir quanto sai do bolso na hora de carregar a bateria. Há ainda os custos cobrados por cada posto de carregamento. A Mobi.e disponibiliza agora um mapa com os valores atualizados em todos os Operadores de Pontos de Carregamento.

O consumidor deveria ter uma melhor noção de todos os preços cobrados nas várias parcelas e como se conjugam para o abastecimento. Na prática, quando for carregar a bateria do carro, o consumidor quase precisa de uma calculadora científica para descobrir, na hora, em quanto ficará a conta. Todos os montantes são cobrados no cartão, mas, só na emissão da fatura, descobrirá efetivamente o custo de recarregar a bateria do carro.

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