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Como prevenir o cancro colorretal

O cancro colorretal é o mais frequente em Portugal e o que apresenta maior taxa de mortalidade, entre os 50 e os 74 anos. Mas é também dos mais suscetíveis de prevenção. Conheça as medidas que salvam vidas.

05 junho 2024
cancro colorretal

iStock

Aos 50 anos, quando respondeu à primeira chamada para realizar o rastreio de cancro colorretal, Maria João Marques estava longe de imaginar que esse gesto lhe salvaria a vida. Não sentia nada que a fizesse suspeitar de uma doença grave. Tinha dores nas costas, como tantas outras pessoas, que a sua médica atribuía a problemas na coluna. Lembra-se de que "estava a emagrecer, mas não via mal nisso, pelo contrário". Pouco tempo depois de entregar uma amostra de fezes para análise, foi chamada ao centro de saúde. O rastreio dera positivo (havia sangue oculto nas fezes), pelo que era preciso fazer uma colonoscopia para investigar a causa.

Teve sorte, conseguiu-a em pouco mais de uma semana, num estabelecimento convencionado com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ao acordar da anestesia, ouviu a notícia que ninguém deseja: tinha "um grande cancro no intestino". O cérebro paralisou, sumiram-se as palavras e surgiu o inevitável "vou morrer". Mas o pensamento foi momentâneo. O especialista que fez o exame começou por lhe dizer para voltar ao médico de família, mas logo arrepiou caminho e enviou-a para o Hospital Garcia de Orta, em Almada, onde foi tratada e continua a ser acompanhada. Entretanto, passaram quase seis anos e Maria João está cá, livre do cancro, para contar a história.

O que causa o cancro colorretal?

Esta paciente, do Barreiro, no distrito de Setúbal, é uma das mais de 10 mil pessoas diagnosticadas anualmente com cancro do cólon e reto, a doença oncológica, globalmente, mais frequente entre os portugueses dos 50 aos 74 anos, e a que mais mata. Contudo, a evolução da taxa de mortalidade transmite alguma esperança: segundo o Relatório de Avaliação e Monitorização dos Rastreios Oncológicos de Base Populacional, publicado em 2023 pela Direção-Geral da Saúde (DGS), em 2011, registaram-se 37 óbitos por 100 mil habitantes, diminuindo para 28 mortes por 100 mil habitantes, uma década depois.

Na análise por género, o cancro colorretal surge em segundo lugar na escala de incidência, a seguir ao da mama, nas mulheres, e ao da próstata, nos homens. A doença é mais frequente neles do que nelas.

As causas da doença ainda não estão completamente identificadas. Os estudos que têm sido realizados – genéticos, experimentais e epidemiológicos – indicam que o cancro colorretal resulta de uma interação complexa entre a propensão hereditária e elementos ambientais. Estão identificados fatores de risco, que, como o nome sugere, aumentam a probabilidade de doença, mas não a predizem. A sua ausência também não significa que se esteja livre do problema.

Sintomas manifestam-se tarde

A maioria dos cancros do cólon e reto desenvolve-se a partir de pequenas saliências benignas que se formam na parede interna do intestino, os pólipos. Estes são relativamente comuns, afetando 30 a 50% dos adultos, mas menos de 10% evoluem para doença grave, segundo as estimativas. O desfecho menos desejado ocorre com maior frequência no caso de pacientes que têm mais de três pólipos; se o tamanho for superior a um centímetro; e se forem encontradas células anormais, mas ainda não cancerosas, nalgum deles.

Regra geral, os sintomas manifestam-se apenas numa fase avançada. Os mais comuns incluem perda de sangue nas fezes, anemia e alteração prolongada dos hábitos intestinais – prisão de ventre, diarreia ou alternância entre as duas. A dor na parte de cima do abdómen, a distensão abdominal e os nódulos à volta do umbigo podem indicar que a doença já terá progredido, com possibilidade de haver metastização, o que significa que o tumor terá atingido outras áreas do organismo, como o fígado, os pulmões e os ossos.

A forma mais eficaz de prevenir a patologia é detetar e eliminar os pólipos antes de se transformarem em cancro. O processo de transição ocorre lentamente, ao longo de 10 a 20 anos, e a probabilidade de doença oncológica aumenta à medida que os pólipos crescem.

Rastreio de cancro entre os 50 e os 74 anos

O risco de desenvolver esta doença aumenta com a idade. Segundo as estatísticas, a grande maioria (mais de 90%) ocorre a partir dos 50 anos, altura que se inicia, em Portugal, o rastreio à população. Contudo, estudos internacionais demonstram que a incidência tem vindo a aumentar em idades mais precoces, em particular entre os 40 e os 49 anos. Por isso, alguns especialistas defendem a antecipação do rastreio para os 45 anos

Em Portugal, o rastreio, feito através da pesquisa de sangue oculto nas fezes, destina-se a homens e mulheres, entre 50 e 74 anos, no caso de não haver risco acrescido de desenvolver cancro colorretal – por exemplo, quem não tem sintomas, nem casos na família ou história pessoal de doenças ou pólipos no intestino. Se o resultado for positivo, segue-se uma colonoscopia para confirmar (ou não) o diagnóstico. Quem tem cancro colorretal, doença inflamatória intestinal ou síndromes hereditárias relacionadas com o mesmo não entra no rastreio. Nestes casos, a vigilância deve ser  feita através de colonoscopia.

Se tiver algum problema que o justifique, o médico deve recomendar a realização de exames mais cedo. Havendo, por exemplo, familiares diretos (pais ou irmãos) com cancro colorretal antes dos 60 anos, a Organização Mundial de Gastroenterologia recomenda iniciar o rastreio aos 40, ou 10 anos antes da idade com que foi detetado no familiar mais novo, consoante o que ocorrer mais cedo.

Exercício físico e alimentação saudável na prevenção

Além dos rastreios, é possível tomar outras medidas para reduzir a possibilidade de vir a sofrer de cancro do cólon e do reto, e que beneficiam a saúde no geral. As recomendações passam pela prática regular de atividade física. Não está estabelecida a quantidade para a prevenção desta patologia em particular, mas as indicações gerais da Organização Mundial da Saúde, para adultos, indicam 150 a 300 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada, por semana, ou 75 a 150 minutos de atividade vigorosa.

Relativamente à alimentação, não é inequívoco que a dieta pobre em gorduras e rica em fibras, fruta e vegetais reduza diretamente o risco deste tipo de cancro, mas é certo que contribui para o bom funcionamento do organismo. Já não fumar, evitar o consumo excessivo de álcool e controlar o peso podem ter um papel importante na prevenção.

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