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Guia de primeiros socorros para tratar feridas

O tratamento a aplicar depende do tipo de ferida. Em qualquer caso, quanto mais rapidamente for tratada a lesão, menor será o risco de infeção e de outras complicações. Saiba quais os cuidados a ter para tratar feridas.

16 agosto 2023
Mãe a aplicar antissético numa ferida do filho

iStock

As lesões na pele que envolvem apenas a sua camada mais superficial – a epiderme – são fáceis de tratar em casa, já que geralmente requerem apenas uma boa higiene e vigilância atenta de possíveis sinais de infeção. Falamos de lesões como as esfoladelas, os arranhões e os pequenos cortes ou feridas ligeiras que, muitas vezes, acontecem com acidentes comuns no nosso dia-a-dia.

Se não for tratada, uma simples ferida pode funcionar como porta de entrada de microrganismos nocivos. Estes podem chegar aos tecidos, multiplicar-se e produzir infeções, caso as defesas do nosso organismo não impeçam a sua ação.

Saiba quais os passos a adotar para tratar feridas em casa, de forma a minimizar o risco de infeção e de outras possíveis complicações.

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1. Fazer a preparação para cuidar da ferida

O que deve fazer

  • Antes de iniciar qualquer curativo, deve começar por lavar e secar bem as mãos e, se possível, colocar luvas descartáveis. Mesmo que as suas mãos não estejam visivelmente sujas, é sempre preciso lavá-las, já que mãos limpas ajudam a prevenir infeções.
  • Comece, também, por imobilizar a região do corpo na qual está localizada a ferida e remova quaisquer objetos ou roupa que a estejam a obstruir.

O que não deve fazer

  • Evite tocar na ferida diretamente com as mãos.
  • Não sopre, tussa ou espirre para cima da ferida.
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2. Parar a hemorragia

Habitualmente, a perda de sangue nas feridas superficiais é pequena e resolve-se espontaneamente. Caso exista sangramento, tente minimizar e parar a hemorragia.

O que deve fazer

  • Eleve a zona da ferida e aplique uma pressão suave durante alguns minutos, utilizando uma compressa esterilizada ou um pano limpo.
  • Verifique se existem objetos/corpos estranhos alojados no interior da ferida.

O que não deve fazer

  • Não faça compressão direta em locais onde haja suspeita de fraturas ou de corpos estranhos encravados, ou junto das articulações.
  • Não tente tratar uma ferida mais grave, extensa ou profunda, com tecidos esmagados ou infetados, que contenha corpos estranhos difíceis de remover ou que não pare de sangrar.

Caso a ferida tenha sido provocada por um objeto pontiagudo ou de difícil remoção (por exemplo, um pedaço de vidro partido), ou caso não consiga parar o sangramento, procure assistência médica imediata para receber os cuidados devidos.

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3. Limpar a ferida

A limpeza da ferida deve sempre envolver a higiene da própria ferida, bem como da região que a rodeia.

O que deve fazer

  • Comece por limpar a pele à volta da ferida com água e sabão.
  • Limpe a zona da ferida, utilizando água corrente ou soro fisiológico para remover a sujidade e os tecidos mortos. Em alternativa, pode utilizar uma compressa esterilizada para facilitar este processo. A higiene deve sempre ser feita do centro para as extremidades da ferida.
  • Seque a ferida e a região circundante com uma compressa através de pequenos toques.

O que não deve fazer

  • Evite a utilização de algodão, uma vez que este liberta pequenas fibras que são difíceis de remover.
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4. Desinfetar a ferida

As feridas ligeiras, por norma, não precisam de cuidados de maior, já que garantir uma limpeza adequada, bem como a criação de um ambiente propício à sua cicatrização, são, regra geral, passos suficientes para proceder ao seu tratamento adequado.

Já no que diz respeito a feridas extensas ou sujas, poderá ser aconselhável a aplicação de um antissético numa fase posterior à sua limpeza. Um antissético é uma substância que se aplica na pele e/ou mucosas que destrói ou inibe o crescimento de microrganismos, prevenindo ou controlando uma infeção. Alguns especialistas defendem que o seu uso ajuda a potenciar a cicatrização da ferida, já que, ao reduzirem a quantidade e a proliferação de microrganismos nocivos, permitem criar condições mais favoráveis à reconstrução dos tecidos. Ainda assim, a necessidade de se utilizar um antissético no tratamento de feridas suscita dúvida e não é consensual entre os profissionais de saúde. 

Existem no mercado diferentes tipos de antisséticos com propriedades e mecanismos de ação diferenciados. É o caso da iodopovidona, disponível sob a forma de solução e espuma cutânea, pomada e compressas impregnadas. Entre as possíveis reações adversas contam-se, por exemplo, erupções cutâneas por hipersensibilidade ao iodo, embora seja raro. Não deve ser usada em caso de alergia ao iodo, gravidez ou aleitamento, e deve evitar-se em feridas extensas, uma vez que a sua aplicação em grandes superfícies cutâneas pode provocar uma excessiva absorção de iodo, ou em doentes com problemas da tiróide ou insuficiência renal.

Outro exemplo é a clorohexidina, disponível em creme ou spray para aplicação cutânea. Pode causar irritação na pele e não deve ser usada nos olhos ou nos ouvidos. 

Tenha, ainda, cuidado com a utilização de água oxigenada: existe pouca evidência disponível sobre a sua capacidade para eliminar microrganismos e impedir o seu crescimento. O seu efeito sobre as feridas aparenta estar mais relacionado com as suas capacidades de efervescência e oxidação, que contribuem para a remoção de tecidos mortos, o aumento do aporte de oxigénio no tecido lesionado e a eliminação de maus odores.

O álcool etílico também não deve ser utilizado. Está contraindicado em feridas abertas, visto que seca e irrita a pele, não é eficaz na presença de matéria orgânica (como sangue ou pus) e pode provocar dor no local dos tecidos lesados.

Critérios a considerar na escolha de um antissético

O antissético “ideal” deve cumprir vários atributos:

  • atividade de largo espetro;
  • baixa capacidade de gerar resistências;
  • ter um início de atividade rápido;
  • não ser irritante nem sensibilizante;
  • não tingir os tecidos;
  • ser efetivo, até mesmo na presença de matéria orgânica.

A decisão de utilizar um antissético, bem como a escolha do antissético “ideal”, deve ser tomada com o auxílio de um profissional de saúde.

O que deve fazer se optar por utilizar um antissético

  • Respeite o tempo de atuação e a concentração indicadas pelo fabricante do antissético, assim como a eficácia perante a matéria orgânica (como sangue e pus).
  • Aplique o antissético com uma compressa, evitando o contacto direto com o frasco.
  • Para diminuir o risco de contaminação, guarde o frasco bem fechado.

O que não deve fazer

  • Ao colocar o antissético, não retire a crosta formada sobre a lesão. Esta protege a ferida e ajuda a controlar a hemorragia.
  • Não use mais do que um antissético na mesma ocasião. Os diferentes produtos podem interagir, aumentando o risco de efeitos adversos, como irritação da pele.
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5. Proteger a ferida

Proteger a ferida ajuda a mantê-la limpa e promove a criação de um ambiente húmido, que é benéfico para o processo de cicatrização. No entanto, nem sempre é necessário realizar este passo. Por exemplo, as feridas pequenas e superficiais, muitas vezes, não precisam de proteção, já que é suficiente deixá-las cicatrizar ao ar.

O que deve fazer

  • Se a ferida estiver localizada numa zona de atrito frequente ou que roce facilmente noutros locais, pode protegê-la com uma compressa esterilizada ou com um penso rápido.
  • Se for necessário cobrir a ferida, deve mudar o penso diariamente ou mais frequentemente, caso fique molhado ou sujo.

O que não deve fazer

  • Se optar por cobrir a ferida com um penso rápido, tenha o cuidado de não deixar a parte adesiva sobre a ferida.
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6. Mantenha-se atento a possíveis sinais de infeção

Habitualmente, as esfoladelas, os pequenos cortes, os arranhões e as feridas superficiais cicatrizam sem grandes complicações. Ainda assim, nunca é demais ficar atento a possíveis sinais de infeção:

  • dor;
  • vermelhidão;
  • formação de pus;
  • calor ou inchaço na região da ferida;
  • aumento do espessamento das extremidades da ferida;
  • ocorrência de febre.

Preste atenção a estes sinais e, se o aspeto da sua ferida o levar a ponderar hipótese de infeção, entre em contacto com um profissional de saúde, logo que possível. Pode existir necessidade de adotar outros cuidados. 

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Conselhos adicionais

Após a cicatrização, tenha o cuidado de hidratar a zona em questão e de protegê-la da exposição solar.

Tenha um kit de primeiros socorros sempre à mão para garantir que consegue cuidar das feridas com a máxima rapidez e eficiência. Este kit deve conter soro fisiológico, antissético, compressas esterilizadas, rolo adesivo, tesoura, ligadura não elástica, pensos rápidos e luvas descartáveis. 

Tenha em consideração que qualquer material que seja utilizado no tratamento de uma ferida deve ser devidamente descartado e não deve ser utilizado por mais do que uma pessoa (luvas, compressas, etc.).

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Quando recorrer a um profissional de saúde?

Mesmo que a ferida seja ligeira, existem situações em que é importante entrar em contacto com um profissional de saúde. Além disso, há vários tipos de lesões na pele que devem ser avaliadas logo numa fase inicial:

  • se a ferida tiver sido causada por uma mordidela (animal ou pessoa);
  • se estiverem alojados corpos estranhos ou objetos de difícil remoção;
  • se a ferida demorar a cicatrizar e/ou apresentar sinais de infeção;
  • se a ferida estiver localizada na região da face;
  • se a ferida for larga ou profunda (pode precisar de pontos);
  • se a ferida provocar febre ou a dor aumentar.
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