Guia de primeiros socorros para tratar feridas
O tratamento a aplicar depende do tipo de ferida. Em qualquer caso, quanto mais rapidamente for tratada a lesão, menor será o risco de infeção e de outras complicações. Saiba quais os cuidados a ter para tratar feridas.
- Especialista
- Ânia Rosado
- Herausgeber
- Ana Rita Costa e Alda Mota
![Mãe a aplicar antissético numa ferida do filho](https://www.deco.proteste.pt/-/media/edideco/images/home/saude/medicamentos/dicas/2022/curativo%20ferida/curativo-ferida.jpg?rev=a28d8ba7-a016-4e3b-a98d-5854a430009e&mw=660&hash=9D46994591D743D6AC961CA9E0A375C1)
As lesões na pele que envolvem apenas a sua camada mais superficial – a epiderme – são fáceis de tratar em casa, já que geralmente requerem apenas uma boa higiene e vigilância atenta de possíveis sinais de infeção. Falamos de lesões como as esfoladelas, os arranhões e os pequenos cortes ou feridas ligeiras que, muitas vezes, acontecem com acidentes comuns no nosso dia-a-dia.
Se não for tratada, uma simples ferida pode funcionar como porta de entrada de microrganismos nocivos. Estes podem chegar aos tecidos, multiplicar-se e produzir infeções, caso as defesas do nosso organismo não impeçam a sua ação.
Saiba quais os passos a adotar para tratar feridas em casa, de forma a minimizar o risco de infeção e de outras possíveis complicações.
Voltar ao topo1. Fazer a preparação para cuidar da ferida
O que deve fazer
- Antes de iniciar qualquer curativo, deve começar por lavar e secar bem as mãos e, se possível, colocar luvas descartáveis. Mesmo que as suas mãos não estejam visivelmente sujas, é sempre preciso lavá-las, já que mãos limpas ajudam a prevenir infeções.
- Comece, também, por imobilizar a região do corpo na qual está localizada a ferida e remova quaisquer objetos ou roupa que a estejam a obstruir.
O que não deve fazer
- Evite tocar na ferida diretamente com as mãos.
- Não sopre, tussa ou espirre para cima da ferida.
2. Parar a hemorragia
Habitualmente, a perda de sangue nas feridas superficiais é pequena e resolve-se espontaneamente. Caso exista sangramento, tente minimizar e parar a hemorragia.
O que deve fazer
- Eleve a zona da ferida e aplique uma pressão suave durante alguns minutos, utilizando uma compressa esterilizada ou um pano limpo.
- Verifique se existem objetos/corpos estranhos alojados no interior da ferida.
O que não deve fazer
- Não faça compressão direta em locais onde haja suspeita de fraturas ou de corpos estranhos encravados, ou junto das articulações.
- Não tente tratar uma ferida mais grave, extensa ou profunda, com tecidos esmagados ou infetados, que contenha corpos estranhos difíceis de remover ou que não pare de sangrar.
Caso a ferida tenha sido provocada por um objeto pontiagudo ou de difícil remoção (por exemplo, um pedaço de vidro partido), ou caso não consiga parar o sangramento, procure assistência médica imediata para receber os cuidados devidos.
Voltar ao topo3. Limpar a ferida
A limpeza da ferida deve sempre envolver a higiene da própria ferida, bem como da região que a rodeia.
O que deve fazer
- Comece por limpar a pele à volta da ferida com água e sabão.
- Limpe a zona da ferida, utilizando água corrente ou soro fisiológico para remover a sujidade e os tecidos mortos. Em alternativa, pode utilizar uma compressa esterilizada para facilitar este processo. A higiene deve sempre ser feita do centro para as extremidades da ferida.
- Seque a ferida e a região circundante com uma compressa através de pequenos toques.
O que não deve fazer
- Evite a utilização de algodão, uma vez que este liberta pequenas fibras que são difíceis de remover.
4. Desinfetar a ferida
As feridas ligeiras, por norma, não precisam de cuidados de maior, já que garantir uma limpeza adequada, bem como a criação de um ambiente propício à sua cicatrização, são, regra geral, passos suficientes para proceder ao seu tratamento adequado.
Já no que diz respeito a feridas extensas ou sujas, poderá ser aconselhável a aplicação de um antissético numa fase posterior à sua limpeza. Um antissético é uma substância que se aplica na pele e/ou mucosas que destrói ou inibe o crescimento de microrganismos, prevenindo ou controlando uma infeção. Alguns especialistas defendem que o seu uso ajuda a potenciar a cicatrização da ferida, já que, ao reduzirem a quantidade e a proliferação de microrganismos nocivos, permitem criar condições mais favoráveis à reconstrução dos tecidos. Ainda assim, a necessidade de se utilizar um antissético no tratamento de feridas suscita dúvida e não é consensual entre os profissionais de saúde.
Existem no mercado diferentes tipos de antisséticos com propriedades e mecanismos de ação diferenciados. É o caso da iodopovidona, disponível sob a forma de solução e espuma cutânea, pomada e compressas impregnadas. Entre as possíveis reações adversas contam-se, por exemplo, erupções cutâneas por hipersensibilidade ao iodo, embora seja raro. Não deve ser usada em caso de alergia ao iodo, gravidez ou aleitamento, e deve evitar-se em feridas extensas, uma vez que a sua aplicação em grandes superfícies cutâneas pode provocar uma excessiva absorção de iodo, ou em doentes com problemas da tiróide ou insuficiência renal.
Outro exemplo é a clorohexidina, disponível em creme ou spray para aplicação cutânea. Pode causar irritação na pele e não deve ser usada nos olhos ou nos ouvidos.
Tenha, ainda, cuidado com a utilização de água oxigenada: existe pouca evidência disponível sobre a sua capacidade para eliminar microrganismos e impedir o seu crescimento. O seu efeito sobre as feridas aparenta estar mais relacionado com as suas capacidades de efervescência e oxidação, que contribuem para a remoção de tecidos mortos, o aumento do aporte de oxigénio no tecido lesionado e a eliminação de maus odores.
O álcool etílico também não deve ser utilizado. Está contraindicado em feridas abertas, visto que seca e irrita a pele, não é eficaz na presença de matéria orgânica (como sangue ou pus) e pode provocar dor no local dos tecidos lesados.
Critérios a considerar na escolha de um antissético
O antissético “ideal” deve cumprir vários atributos:
- atividade de largo espetro;
- baixa capacidade de gerar resistências;
- ter um início de atividade rápido;
- não ser irritante nem sensibilizante;
- não tingir os tecidos;
- ser efetivo, até mesmo na presença de matéria orgânica.
A decisão de utilizar um antissético, bem como a escolha do antissético “ideal”, deve ser tomada com o auxílio de um profissional de saúde.
O que deve fazer se optar por utilizar um antissético
- Respeite o tempo de atuação e a concentração indicadas pelo fabricante do antissético, assim como a eficácia perante a matéria orgânica (como sangue e pus).
- Aplique o antissético com uma compressa, evitando o contacto direto com o frasco.
- Para diminuir o risco de contaminação, guarde o frasco bem fechado.
O que não deve fazer
- Ao colocar o antissético, não retire a crosta formada sobre a lesão. Esta protege a ferida e ajuda a controlar a hemorragia.
- Não use mais do que um antissético na mesma ocasião. Os diferentes produtos podem interagir, aumentando o risco de efeitos adversos, como irritação da pele.
5. Proteger a ferida
Proteger a ferida ajuda a mantê-la limpa e promove a criação de um ambiente húmido, que é benéfico para o processo de cicatrização. No entanto, nem sempre é necessário realizar este passo. Por exemplo, as feridas pequenas e superficiais, muitas vezes, não precisam de proteção, já que é suficiente deixá-las cicatrizar ao ar.
O que deve fazer
- Se a ferida estiver localizada numa zona de atrito frequente ou que roce facilmente noutros locais, pode protegê-la com uma compressa esterilizada ou com um penso rápido.
- Se for necessário cobrir a ferida, deve mudar o penso diariamente ou mais frequentemente, caso fique molhado ou sujo.
O que não deve fazer
- Se optar por cobrir a ferida com um penso rápido, tenha o cuidado de não deixar a parte adesiva sobre a ferida.
6. Mantenha-se atento a possíveis sinais de infeção
Habitualmente, as esfoladelas, os pequenos cortes, os arranhões e as feridas superficiais cicatrizam sem grandes complicações. Ainda assim, nunca é demais ficar atento a possíveis sinais de infeção:
- dor;
- vermelhidão;
- formação de pus;
- calor ou inchaço na região da ferida;
- aumento do espessamento das extremidades da ferida;
- ocorrência de febre.
Preste atenção a estes sinais e, se o aspeto da sua ferida o levar a ponderar hipótese de infeção, entre em contacto com um profissional de saúde, logo que possível. Pode existir necessidade de adotar outros cuidados.
Voltar ao topoConselhos adicionais
Após a cicatrização, tenha o cuidado de hidratar a zona em questão e de protegê-la da exposição solar.
Tenha um kit de primeiros socorros sempre à mão para garantir que consegue cuidar das feridas com a máxima rapidez e eficiência. Este kit deve conter soro fisiológico, antissético, compressas esterilizadas, rolo adesivo, tesoura, ligadura não elástica, pensos rápidos e luvas descartáveis.
Tenha em consideração que qualquer material que seja utilizado no tratamento de uma ferida deve ser devidamente descartado e não deve ser utilizado por mais do que uma pessoa (luvas, compressas, etc.).
Voltar ao topoQuando recorrer a um profissional de saúde?
Mesmo que a ferida seja ligeira, existem situações em que é importante entrar em contacto com um profissional de saúde. Além disso, há vários tipos de lesões na pele que devem ser avaliadas logo numa fase inicial:
- se a ferida tiver sido causada por uma mordidela (animal ou pessoa);
- se estiverem alojados corpos estranhos ou objetos de difícil remoção;
- se a ferida demorar a cicatrizar e/ou apresentar sinais de infeção;
- se a ferida estiver localizada na região da face;
- se a ferida for larga ou profunda (pode precisar de pontos);
- se a ferida provocar febre ou a dor aumentar.
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