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Suplementos alimentares e medicamentos: como evitar interações

A toma em simultâneo de suplementos alimentares e medicamentos pode ter riscos. Conheça as principais interações e informe o médico de todos os suplementos que ingere. Os rótulos deveriam ser mais informativos.

23 maio 2023
Vitamina D, chá verde, vitamina K, vitamina E, cálcio, ginkgo biloba, hipericão, toranja

iStock

O mercado dos suplementos alimentares tem vindo a crescer na Europa, muito impulsionado pela recente pandemia da covid-19. Estima-se que cerca de 20% dos consumidores de vários países europeus utilizem, pelo menos, um suplemento alimentar. No entanto, o consumo simultâneo de suplementos alimentares e medicamentos pode trazer riscos para a saúde.

interações perigosas, que devem ser tidas em conta. Por exemplo, a interação entre um suplemento alimentar à base de plantas e um fármaco manifesta-se tipicamente no plano farmacocinético, ou seja, afeta a concentração do medicamento no sangue e a sua ação.

Aumentar ou diminuir a eficácia do medicamento e potenciar o risco de efeitos secundários são consequências possíveis da toma simultânea de suplementos, ou de alguns alimentos, e de fármacos. Por isso, esteja atento aos riscos e informe o médico sobre tudo o que está a tomar.

Suplementos mais populares que podem ter efeitos adversos com medicamentos

A DECO PROTESTE selecionou oito tipos de produtos muito populares, mas que podem ter efeitos adversos quando consumidos em simultâneo com determinados medicamentos ou outros suplementos.

Vitamina D

A vitamina D é um micronutriente que influencia a absorção de cálcio pelo organismo, essencial para a mineralização dos ossos. Interage com medicamentos como:

  • magnésio;
  • cálcio;
  • lercanidipina (anti-hipertensor);
  • varfarina (anticoagulante);
  • insulina e antidiabéticos orais;
  • e digoxina (cardiotónico e antiarrítmico). 

Chá verde

É uma das bebidas mais populares no mundo e tem alto teor de catequina e de outros polifenóis. Interage com medicamentos como:

  • sinvastatina (antidislipidémico, tratamento do colesterol);
  • tacrolímus (imunossupressor);
  • sildenafil (tratamento da disfunção eréctil);
  • digoxina (cardiotónico e antiarrítmico);
  • e varfarina (anticoagulante).

Vitamina E

Essencial na dieta humana, é regularmente tomado como suplemento alimentar por muitas pessoas. Interage com medicamentos como:

  • ciclosporina (imunossupressor);
  • varfarina (anticoagulante);
  • insulina;
  • ibuprofeno;
  • tipranavir (antirretroviral);
  • ferro;
  • digoxina (cardiotónico e antiarrítmico);
  • e propranolol (anti-hipertensivo).

Cálcio

Os suplementos alimentares de cálcio são utilizados com a intenção de prevenir a osteoporose. Mas, em excesso, podem ser tóxicos ou contribuir para o surgimento de aterosclerose. Interagem com medicamentos como:

  • bifosfonatos (osteoporose);
  • penicilamina (artrite reumatoide);
  • quinolonas e tetraciclinas (antibióticos);
  • e digoxina.

Hipericão

Está disponível em medicamentos à base de plantas e suplementos alimentares. Interage com medicamentos como:

  • ciclosporina e tacrolímus (imunossupressores);
  • contracetivos orais;
  • varfarina (anticoagulante);
  • docetaxel (tratamento cancro);
  • e indinavir (anti-VIH).

Vitamina K

Está envolvida na produção de fatores de coagulação e proteínas e também participa no metabolismo dos ossos e das cartilagens. Os principais alimentos com vitamina K são vegetais verde-escuros. Interage com medicamentos como a varfarina (anticoagulante). 

Toranja

Conhecida por interagir com mais de 85 medicamentos, aumenta o risco de efeitos adversos. Interage, por exemplo, com:

  • ciclosporina (imunossupressor);
  • felodipina (antianginoso);
  • lovastatina;
  • atorvastatina;
  • e sinvastatina.

Ginkgo Biloba

Está disponível em medicamentos e suplementos alimentares com o intuito de tratar várias doenças, incluindo problemas de memória e concentração, confusão, depressão, ansiedade, tonturas, acufenos (zumbidos) e dor de cabeça. Interage com medicamentos como a varfarina e outros anticoagulantes.

Ser natural não significa seguro

As principais preocupações associadas à utilização de suplementos alimentares são a segurança e a qualidade. Para garantir o cumprimento destes dois eixos, regulamentação adequada é importante. Na União Europeia, os suplementos são legalmente considerados como géneros alimentícios. Destinam-se a complementar ou suplementar o regime alimentar normal, e constituem fontes concentradas de nutrientes ou de outras substâncias.

O aumento da procura de suplementos deve-se, em grande parte, à preocupação dos consumidores com a saúde e o bem-estar, à maior facilidade de acesso a estes produtos em comparação com os medicamentos e à perceção de que podem ter o mesmo efeito, mas com um risco muito menor de efeitos secundários, por serem produzidos à base de plantas, por exemplo. Mas ser aparentemente natural não é sinónimo de seguro.

A perceção de menores efeitos secundários é reforçada pelo facto de estes produtos estarem facilmente acessíveis, por exemplo, em supermercados. Por vezes, apresentam até uma composição supostamente “natural”, reforçada por tons verdes e imagens de plantas nos rótulos. Porém, os ingredientes presentes nos suplementos alimentares podem expor os consumidores a riscos. 

Previna os efeitos adversos

Verificar a existência de interações entre um fármaco e um suplemento alimentar, antes de consumir os produtos em causa, pode reduzir drasticamente um possível efeito adverso. Acima de tudo, informe-se.

  • Pergunte ao médico ou ao farmacêutico se há alimentos, bebidas ou suplementos alimentares que deve evitar com os medicamentos que toma habitualmente.
  • Leia o folheto informativo do medicamento, para identificar possíveis indicações de toma ou interações. Se não entender alguma passagem, ou considerar que precisa de mais informações, pergunte a um profissional de saúde.
  • Tome o medicamento com um copo de água, a menos que tenha indicações do médico em contrário.
  • Não misture os medicamentos nos alimentos e em bebidas quentes, nem desfaça as cápsulas, pois pode mudar a forma como o medicamento atua.
  • Não deve tomar os fármacos com bebidas alcoólicas, uma vez que modifica a sua absorção e pode alterar a sua eficácia.
  • Guarde os medicamentos nas respetivas embalagens originais, para que seja mais fácil identificá-los.

DECO PROTESTE exige rótulos de suplementos mais completos

Não existem requisitos legais específicos para os suplementos alimentares, o que alimenta a desinformação dos consumidores. Atualmente, apenas têm de indicar as substâncias que os compõem, as quantidades e a dose diária recomendada, se disponível. Deveriam, contudo, informar sobre possíveis efeitos secundários quando em combinação com medicamentos, alimentos ou outros suplementos.

É, ainda, crucial haver limites claros entre as diferentes classificações, pois a mesma substância ativa pode estar disponível em suplementos alimentares ou medicamentos, variando consoante os países. Este cenário pode ser enganador para os consumidores e constituir um risco para a saúde, já que propicia o consumo errado de produtos. 

A falta de legislação sobre alegações de saúde e nutrição nos suplementos alimentares à base de plantas também é prejudicial, e induz os consumidores em erro. Deveria ser criado um sistema de monitorização e de comunicação dos efeitos secundários dos suplementos alimentares. Apesar da inexistência de um sistema europeu de nutrivigilância, se tiver uma reação adversa, que pode relacionar-se com o consumo de suplementos alimentares, preencha o formulário para notificação de reações adversas e envie para o endereço de correio eletrónico DSNA@dgav.pt. Os suplementos alimentares não deveriam ficar isentos de fornecerem menos informação do que os medicamentos apenas por serem classificados como alimentos.

Impõe-se a necessidade de um quadro regulamentar abrangente, que garanta a mesma proteção aos consumidores em toda a União Europeia e forneça mais informação, para que o uso dos suplementos seja nada menos do que seguro.

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