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Seis mil piscinas de água perdida

Publicado a 27 junho 2024
cláudia maia
Cláudia Maia Diretora de Publicações

Em 2022, mais de 15 milhões de metros cúbicos de água potável perderam-se nas redes de distribuição do Algarve. Pior do que conhecer os números de 2022 é saber que a situação é crónica e que pouco ou nada tem sido feito para revertê-la.

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Cláudia Maia Diretora de Publicações
iStock água a ser desperdiçada
A água perdida em 2022 corresponde a 44% da capacidade da Albufeira da Bravura, no Barlavento algarvio.

Os números impressionam, de tão chocantes. Em 2022, mais de 15 milhões de metros cúbicos de água potável perderam-se nas redes de distribuição do Algarve. Nada mais, nada menos, o volume necessário para encher seis mil piscinas olímpicas. Leu bem: seis mil...

Se o exercício de grandeza, ainda assim, é difícil de estabelecer, socorramo-nos de uma comparação suficientemente visual para demonstrar a dimensão do problema: a água perdida corresponde a 44% da capacidade da Albufeira da Bravura, no Barlavento algarvio. Pior do que conhecer os números de 2022 é saber que a situação é crónica e que pouco ou nada tem sido feito para revertê-la.

Por descuido, inércia, medo do escrutínio da população pelo incómodo das obras, ou apenas por falta de capacidade financeira – apesar dos 35 milhões de euros previstos no Plano de Recuperação e Resiliência para trabalhar algumas medidas –, entidades gestoras e autarcas têm-se escusado a investir na requalificação destas infraestruturas.

A água assim desperdiçada em 2022 daria para suprir 49% das necessidades das famílias numa região onde já foram impostos cortes no abastecimento na última época balnear.

Apesar disto, ao invés de exigir mais eficiência e transparência aos operadores ou de propor tarifas para consumos "anómalos", como rega de jardins ou enchimento de piscinas, a solução do Governo, reforçada por uma recomendação da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), em fevereiro de 2024, passa pelos consumidores: aumentar as tarifas a partir de um consumo de cinco metros cúbicos mensais de água. Uma medida que, além de ser de curto prazo e de não ter efeitos estruturais, penaliza famílias numerosas – sobretudo as residentes em concelhos sem tarifários com descontos – e quem faz um uso prudente dos recursos.

Mais: numa região de elevada procura turística, com a exceção do município de Loulé, as entidades gestoras não forneceram ao regulador dados sobre o indicador da sazonalidade do consumo, relevante para analisar o real impacto da maior procura nos meses de verão. Entidades gestoras, municípios, agricultura, indústria, turismo e cidadãos, todos têm deveres na luta contra o desperdício. Uma política justa não se faz à custa do elo mais fraco da cadeia.

Sabia que...?

A água desperdiçada em 2022 daria para suprir 49% das necessidades das famílias numa região onde já foram impostos cortes no abastecimento na última época balnear.

 

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