Medicamentos de venda livre: preços sobem mais do que a inflação
O aumento médio dos preços do cabaz de medicamentos de venda livre ultrapassou a inflação na saúde. E é fora das farmácias que eles continuam, em média, a ser mais baratos. Veja os sete medicamentos com maior subida de preços face a 2023. Descubra, ainda, em que distrito estes produtos estão mais caros.
- Especialista
- Teresa Rodrigues
- Editor
- Rita Santos Ferreira , Ricardo Nabais e Filipa Rendo
![frasco transparente com medicamentos coloridos derramado sobre um fundo azul claro](https://www.deco.proteste.pt/-/media/edideco/images/home/saude/medicamentos/medicamentos-venda-livre/thumb_medicamentos_venda_livre_800x450.jpg?rev=95cb2070-0613-42c5-bd6d-47981d24bca6&mw=660&hash=0F027D1ED39E846D78857258F0A675E8)
Há quase duas décadas que os medicamentos não sujeitos a receita médica são vendidos não só nas farmácias mas também fora destas, em pontos de venda autorizados pelo Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), tais como parafarmácias e espaços de saúde localizados em supermercados.
Segundo os dados de 2023 do Infarmed, cerca de dois em dez medicamentos de venda livre são comprados fora das farmácias. Apesar disso, a quota de mercado destes locais de venda livre tem vindo a diminuir ligeiramente, registando menos 0,2% face a 2022, de acordo com os dados mais recentes do Infarmed. Porém, a história repete-se: é fora das farmácias que os preços dos medicamentos não sujeitos a receita médica são, em média, mais baratos.
Preços continuam a subir
A DECO PROteste recolheu, em 287 estabelecimentos (160 farmácias, 69 locais de venda autorizados e 58 farmácias online), o preço de 26 medicamentos de venda livre dos mais vendidos ao nível nacional.
Se olharmos para cada um dos medicamentos, independentemente do local de venda, verificamos que a variação de preços, em 2024, é bastante significativa, principalmente no caso do Paracetamol Generis MG, do Ben-u-ron, em xarope, e do Betadine (solução cutânea), pois apresentam flutuações entre o preço mínimo e o máximo encontrados na amostra recolhida superiores a 100 por cento.
As conclusões retrataram, ainda, em fevereiro de 2024, aumentos generalizados dos preços, face ao período homólogo. Assim, tendo em conta o cabaz de medicamentos do estudo (26 medicamentos), a taxa de variação dos preços foi de 4,8 por cento. Isto significa que o aumento percentual médio nos preços dos medicamentos foi superior ao aumento percentual médio dos preços dos bens e serviços relacionados com a saúde. Ou, por outras palavras, o aumento médio dos preços foi superior à inflação na saúde, que, em fevereiro de 2024, era de 3,9 por cento.
Sete medicamentos com mais de 7% de aumento
Embora o aumento generalizado esteja apenas cerca de 1% acima da inflação, existem medicamentos – sete, mais precisamente – que apresentaram uma variação percentual bastante acima dos 3,9%, ultrapassando mesmo os sete por cento.
O Bepanthene Plus Creme, em média, passou dos seis euros para os 6,67 euros, aumentando 11,2 por cento. Um caso ainda mais flagrante é o do Betadine Solução Cutânea, que custava, em média, 6,04 euros e agora está a 6,85 euros – ou seja, mais 13,4% do que em 2023.
O Canesten e o Gino-Canesten, ambos em creme, também fazem parte do grupo dos medicamentos que apresentaram aumentos médios de preços bastante consideráveis: o primeiro passou a custar, em média, 6,15 euros, mais 46 cêntimos do que no ano anterior (8,1% de aumento); já o segundo registou, em fevereiro de 2024, o preço médio de 8,58 euros, mais 75 cêntimos do que no período homólogo (um aumento de 9,6 por cento).
A fechar este lote de medicamentos, em destaque pelo disparo dos preços, estão a Magnesona Solução Oral, 20 ampolas, que, em média, está mais cara 8,1%, passando dos 9,28 para os 10,03 euros; o Pankreoflat, 60 comprimidos, com um aumento médio de 10,1%, vendo os 8,59 euros de 2023 subirem para os 9,46 euros, em 2024; e o Voltaren, com 25 cápsulas moles, que subiu quase 7,4%, deixando o preço médio de 8,73 euros, em 2023, e aparecendo, em 2024, a 9,38 euros.
No reverso da medalha surgem o Fluimucil (comprimidos efervescentes) e o Voltaren Emulgelex, que nem chegaram aos 2% de aumento médio, ficando bastante abaixo da inflação (0,9% e 1%, respetivamente).
Os preços de norte a sul
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Para continuar a ler, basta entrar no site ou criar uma conta (disponível para subscritores e não-subscritores).A variação do preço do cabaz de medicamentos depende, de facto, do local de residência. Se morar, por exemplo, em Vila Real, vai pagar, em média, mais quase 40 euros do que quem mora na Guarda.
Guarda (230,27 euros), Castelo Branco (240,93 euros) e Santarém (241,06 euros) são os três distritos onde os preços médios do cabaz de medicamentos analisado são mais baixos, repetindo-se os resultados de 2023. No extremo oposto, estão Vila Real (269,86 euros), Beja (261,24 euros) e Setúbal (260,32 euros), apresentando os preços médios mais altos para o lote de medicamentos do estudo.
Se comprar o cabaz analisado, vai pagar, em média, cerca de 251 euros, mais 14 euros do que em 2023.
Mais barato no hipermercado
O estudo teve em conta quatro categorias de estabelecimentos: farmácias, parafarmácias (geralmente localizadas na rua), espaços de saúde associados aos hipermercados e farmácias online. E os resultados não surpreendem, face a 2023: os medicamentos são mais baratos nos espaços de saúde. Destes, o Bem Estar, do Pingo Doce, é o mais acessível, seguido imediatamente pelo Saúde e Bem Estar, da Auchan, apenas 0,2% mais caro do que o anterior. Por sua vez, a Wells, do Continente, que tem visto os seus preços aumentarem, pratica valores 5% mais altos do que o espaço do Pingo Doce, o mais barato.
Por último, o Espaço Saúde, do El Corte Inglés, que tem a fama de ser o mais caro, acaba por continuar a tirar o proveito, apresentando preços 8% mais elevados do que, de novo, o Bem Estar, do Pingo Doce, apesar de a diferença de preços entre estes dois ter diminuído face a 2023.
Se olharmos para o cabaz dos 26 medicamentos, o consumidor pode gastar, em média, 224 euros se os comprar num espaço de saúde dos hipermercados – mais seis euros do que em 2023. E poupa, ainda, 32 euros face às farmácias físicas, onde o conjunto de medicamentos custava, em média, 256 euros, em fevereiro de 2024 (mais 11 euros do que no igual período do ano anterior).
Online continua a cobrar mais
As farmácias online continuam a ser onde se vende, em geral, medicamentos não sujeitos a receita médica com preços mais elevados. E os cálculos foram feitos sem ter em conta eventuais taxas de entrega.
Quando comparadas com os espaços de saúde, ou seja, os locais mais baratos, as farmácias virtuais podem cobrar mais 21% pelos medicamentos. Se a comparação for feita com as farmácias físicas e com as parafarmácias, esta percentagem é de 16 e 14 por cento, respetivamente.
Assim, se se for aviar numa farmácia online, poderá, em média, gastar 265 euros pelos 26 medicamentos do estudo (mais 13 euros face a 2023), ou seja, mais 41 euros do que num espaço de saúde, e mais nove euros do que numa farmácia tradicional.
Se a prioridade é poupar, é preferível deslocar-se a um espaço físico, especialmente a um espaço de saúde do hipermercado mais próximo, do que optar pelo conforto de comprar pelo computador.
O custo da saúde em Portugal: oiça o podcast
Este é um dos temas em debate no podcast POD Pensar. Aurélio Gomes discute sobre o custo da saúde em Portugal com João Pereira, professor catedrático de Economia da Saúde, e Susana Santos, farmacêutica, responsável pela área da saúde da DECO PROteste, e perita do grupo de saúde do BEUC (Bureau Européen des Unions de Consommateurs).