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Medicação: erros podem comprometer tratamentos

Podem ocorrer na prescrição, por responsabilidade do médico, na dispensa, por falha do farmacêutico, ou no tratamento, por engano do paciente ou do cuidador. Ainda assim, o inquérito da DECO PROTESTE mostra que grande parte dos erros associados à medicação surgem na toma, e são evitáveis com algumas dicas.

19 abril 2023 Exclusivo
Grande plano de mulher a tomar um comprimido e a segurar um copo de água

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Antibiótico sob a forma de xarope, a tomar de 12 em 12 horas. Uma otite média aguda, diagnosticada a uma criança, mereceu da pediatra tal recomendação. Mas, ao fazer a prescrição eletrónica para tratar esta infeção do ouvido médio, a médica enganou-se na dosagem, em miligramas de antibiótico por mililitros de xarope, e indicou metade do valor apropriado para o peso da criança. A receita levantou a suspeita da farmacêutica, que, depois de falar com a mãe da criança, decidiu telefonar à médica – e o engano foi desfeito. Esta história, relatada pela mãe à DECO PROTESTE, não teve consequências. Mas poderia não ter sido assim.

Os erros na medicação podem, contudo, ocorrer também na farmácia ou até dever-se ao próprio doente. Aplicar nos olhos gotas destinadas aos ouvidos, não ter destreza no uso de um inalador para a asma, trocar caixas de comprimidos, saltar a hora de uma toma ou falhar na dose, para mais ou para menos, são distrações que podem ter consequências no sucesso de um tratamento. E não se pense que estes contratempos são mais a exceção do que a regra.

O inquérito realizado pela DECO PROTESTE entre setembro e outubro de 2022 mostra que ainda há quem não siga um tratamento até ao fim e o interrompa assim que começa a sentir melhoras. No caso dos antibióticos, esta opção pode favorecer o aparecimento de bactérias multirresistentes, um problema extremamente complexo, que se tem vindo a agravar e que é responsável por muitas mortes em todo o mundo.

Realizado em simultâneo na Bélgica, em Espanha, em Itália e em Portugal, o inquérito traduz as opiniões e as experiências de 5181 participantes, 1151 dos quais nossos concidadãos. O estudo evidencia, assim, muitas falhas que podem ser evitadas. Daí a importância, do lado do paciente, de bem organizar os medicamentos em casa. E aqui vale tudo: listas, horários, alarmes a tocar no momento certo, caixas com compartimentos, gavetas ou armários... O importante é resultar.

Ainda há quem não leve o tratamento até ao fim

Erros de medicação são incidentes evitáveis, os quais podem ocorrer por responsabilidade do médico, do farmacêutico ou do paciente, e levar a um uso indevido de fármacos, prejudicando um tratamento. Entre os 1151 portugueses inquiridos, 29% sofreram um erro de medicação. O mais comum, da sua responsabilidade, foi não seguir o tratamento até ao fim, indicado por 38 por cento. Desrespeitar o horário das tomas foi um cenário transmitido por 31 por cento. Abster-se das restrições na dieta recomendadas pelo médico completa o trio das principais falhas, uma situação referida por 27 por cento.

Se examinarmos ainda a quarta e a quinta falhas mais comuns, verificamos que, na maioria das vezes em que os erros acontecem, os pacientes estão na sua origem. Com efeito, tomar fármacos fora de prazo ou em condições suspeitas, e não respeitar as regras da toma, circunstâncias indicadas, respetivamente, por 26% e 22%, traduzem erros da sua responsabilidade.

Medicamentos fora de prazo devem ser entregues na farmácia. Já no capítulo das regras, não há volta a dar – por isso, é que se chamam regras. Se, por hipótese, o médico indicar que o comprimido deve ser tomado em jejum ou, noutro cenário, depois das refeições, a ordem é para cumprir. E a razão é muito simples: a absorção dos medicamentos pode ser influenciada pela presença ou ausência de alimentos no estômago.

Muitos nada fazem perante um erro na medicação

O inquérito da DECO PROTESTE mostra, contudo, que médicos e farmacêuticos também se enganam: 17% dos inquiridos já vivenciaram uma tal experiência. A falha mais frequente, ocorrida com 38%, foi a desadequação do medicamento ao problema. Já 36% tiveram o fármaco trocado por outro semelhante, mas de efeito diferente, e 31% receberam uma dosagem incorreta.

Ao olharmos para os erros mais recentes, a maioria deles ocorridos nos últimos três anos, 40% dos inquiridos dizem que contactaram um médico para retificá-los, e 9% confessam nada terem feito. O engano mais comum envolveu um medicamento para controlar uma infeção (por exemplo, antibiótico). E, apesar da experiência, quatro em dez dos inquiridos afirmam que não teve consequências negativas para a saúde. Pelo menos, tanto quanto podem avaliar.

Como organizar os medicamentos

Estima-se que 6% a 7% dos internamentos em hospitais se devem a efeitos adversos de medicamentos, 70% dos casos devido a erros na toma. Ora, os erros, em casa, podem ser evitados ou, pelo menos, muito reduzidos, com alguns cuidados.

Não facilite: se sofrer uma reação adversa depois de tomar um medicamento, contacte um profissional de saúde ou, em situações graves, chame o 112 ou dirija-se às urgências. Depois, comunique a reação ao Infarmed. O passo-a-passo desenvolvido pela DECO PROTESTE explica como fazê-lo.

No dia-a-dia, siga dicas simples. Por exemplo, mantenha as embalagens em local fresco e seco, longe das crianças. A cozinha e a casa de banho não são boas opções, por estarem expostas a variações de humidade e temperatura.

Conserve os fármacos na embalagem original, com o folheto: ajuda-o em caso de dúvidas, entre outros, sobre os efeitos secundários e as contraindicações. Permite ainda controlar o prazo de validade.

Use caixas, gavetas ou prateleiras, e separe os medicamentos de uma forma que lhe seja intuitiva. Por doença, por tipo de medicamento (analgésico, anti-histamínico, anti-inflamatório, etc.) ou por apresentação (xaropes, comprimidos, pomadas, etc.) são algumas hipóteses.

Questione o médico e o farmacêutico sobre os fármacos: quais os efeitos, como devem ser tomados e por quanto tempo. Conheça o princípio ativo, para não tomar duas vezes o mesmo medicamento. Escreva tudo na caixa e recorra ao folheto, em caso de dúvida. Não tome fármacos que não lhe tenham sido prescritos, nem partilhe os seus.

Conheça os medicamentos de alto risco. Se usados incorretamente, têm mais probabilidade de danos graves ou até fatais. É o caso de antiagregantes, anticoagulantes, antiepiléticos, anti-inflamatórios não esteroides, citotóxicos orais, imunossupressores, opioides, insulinas e antiarrítmicos.

Faça uma revisão periódica aos medicamentos (por exemplo, a cada seis meses). Entregue na farmácia os que estiverem fora de prazo. Nunca os descarte na sanita ou no lavatório.

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