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ChatGPT: que cuidados ter na produção de conteúdos com inteligência artificial?

O ChatGPT, um sistema de inteligência artificial que simula conversas com humanos e que produz vários tipos de conteúdos, tem gerado muitas críticas e muitos elogios. A DECO PROTESTE indica alguns cuidados a ter na utilização desta tecnologia. Oiça o podcast para saber o que nos reserva o futuro.

Mão segura um telemóvel com conversção com chatbot; atrás um portátil aberto

iStock

O ChatGPT (ou Generative Pre-Trained Transformer) é um sistema de linguagem que utiliza inteligência artificial para simular a associação e a interpretação de uma informação adicionada por um utilizador numa caixa de diálogo. Posteriormente, o sistema retribui resultados gerados automaticamente com recurso à sua base de dados.

O que diferencia o ChatGPT dos demais sistemas de resposta automática é a sua componente quasi-humana na forma como responde e conversa com o utilizador. Para isso, a tecnologia utiliza um processamento de linguagem natural, com base numa série de conversas, artigos, livros, páginas da internet, publicações, entre outros. As fontes de informação não são especificadas e, por isso, nem sempre é possível apurar a origem da resposta gerada.

Por mais complexa que seja a informação requisitada pelo utilizador, o ChatGPT consulta as suas bases de dados para entender e aceder ao seu pedido. Ou, caso seja necessário, o sistema propõe ao utilizador que forneça mais informações para continuar a pesquisa e responder de forma mais detalhada.

No episódio do podcast POD Pensar dedicado ao tema, Aurélio Gomes debate com os seus convidados sobre o futuro da inteligência artificial. Será uma ameaça ou uma oportunidade? E de que forma vai mudar a sociedade e a forma como vivemos? No debate estão Luís Moniz Pereira, uma das referências nacionais na ética da inteligência artificial e professor emérito da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa; Flávio Nunes, jornalista e editor do jornal digital ECO e especialista em tecnologia; e António Alves, team leader da equipa Digital Society da DECO PROTESTE.

Oiça os outros episódios do podcast

ChatGPT parece fazer magia, mas não se iluda

Há quem olhe para a tecnologia do ChatGPT como uma ameaça aos seus postos de emprego e à propriedade intelectual. Há, ainda, quem veja nela uma oportunidade para automatizar e auxiliar determinadas tarefas do seu trabalho ou do seu quotidiano.

Por exemplo, o Microsoft Teams, uma plataforma utilizada por diversas empresas, já possui funcionalidades para otimizar atas de reunião, distribuição de tarefas e traduções em tempo real durante videoconferências. 

Além do Teams, a Microsoft já anunciou o CoPilot, que vai ser integrado igualmente no Outlook, no Word (por exemplo, geração de rascunhos de texto), no Excel (por exemplo, análise de dados) e no PowerPoint (por exemplo, auxílio na criação de apresentações).

Contudo, a DECO PROTESTE encontrou inúmeras inconsistências e erros em quase todas as funcionalidades testadas. Isto faz com que a utilização do atual protótipo da tecnologia deva ser feita com precaução. Mantenha sempre uma atitude crítica em relação aos resultados obtidos. Para tarefas de maior responsabilidade, como relatórios escolares ou profissionais, estes sistemas devem ser utilizados apenas como ferramenta auxiliar.

Como aceder ao ChatGPT?

Pode aceder ao ChatGPT através da plataforma da Open AI (chat.openai.com). É recomendado que os utilizadores leiam atentamente os termos e condições da plataforma, embora estejam em inglês.

O ingrediente essencial para utilizar a plataforma é paciência. O sistema ainda é um protótipo com capacidade limitada. Logo, o utilizador pode encontrar uma mensagem sobre a sobrecarga de utilizadores na plataforma. Tente atualizar a página até conseguir aceder.

Clique em “Sign up” (em português, “Registar”). Insira os seus dados parar criar a conta ou, caso prefira, inicie a sessão com a sua conta do Google ou da Microsoft.

O ChatGPT é pago ou gratuito?

Os criadores do ChatGPT disponibilizam o seu serviço gratuitamente para testes e pesquisas na plataforma oficial da Open AI, desde o último trimestre de 2022.

Mas tenha cuidado. Já foram detetadas várias aplicações falsas que se fazem passar pelo ChatGPT, por exemplo, na Play Store do Google. Evite estas aplicações e opte apenas pela plataforma oficial da Open AI, que pode ser acedida através do seu navegador.

A Open AI também lançou o ChatGPT Plus pelo preço de 20 dólares (cerca de 18,5 euros) por mês. As principais vantagens deste plano são o acesso ilimitado em alturas de grande tráfego de utilizadores, as respostas mais rápidas e a prioridade para testes de novas funcionalidades.

Quais as funcionalidades do ChatGPT?

As principais funcionalidades do ChatGPT são: 

  • pesquisa de informações;
  • interpretação de informações;
  • criação de textos originais; 
  • resolução de problemas matemáticos ou lógicos;
  • tradução de textos;
  • construção e correção de códigos de programação.

A DECO PROTESTE pôs as seis funcionalidades do sistema de inteligência artificial à prova e apurou a sua eficácia. Ou, em alguns casos, os seus erros crassos.

1. Pesquisa de informações

A DECO PROTESTE fez perguntas de nível básico sobre geografia e história ao ChatGPT. “Quantos países compõem a UE?” foi a primeira pergunta. A resposta: “Atualmente, existem 27 países membros da União Europeia (UE).” Note que o algoritmo entende que “UE” diz respeito a União Europeia, dado o contexto da frase.

Ao pedir um resumo da história de Portugal em 100 palavras, o sistema surpreende pela rapidez com que responde ao pedido. Mas peca pela construção frásica de algumas frases e pela escrita de algumas palavras em português do Brasil. Em algumas abordagens ao mesmo pedido, os testes revelaram também que a plataforma nem sempre gera respostas corretas com base em factos verídicos.

Dado que as informações do sistema estão datadas até 2021, o ChatGPT não possui informações sobre acontecimentos recentes. Ao receber uma pergunta sobre a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, o sistema apenas forneceu informações sobre o conflito armado entre ambos os países na Crimeia, em 2014. O ChatGPT ainda não sabe que uma guerra entre os dois países teve início em fevereiro de 2022.

Embora o ChatGPT saiba comunicar em português e a construção das respostas seja satisfatória, o utilizador pode encontrar termos em português do Brasil, como “açougue” em vez de “talho”. Outra desvantagem é o facto de o sistema bloquear temporariamente devido à quantidade de perguntas e respostas realizadas num curto período. Pode, ainda, encontrar mensagens de erros relacionados com o tipo de pesquisa do utilizador.

2. Interpretação de informações

Outra função que o ChatGPT se propõe a fazer é a interpretação de informações inseridas, como contratos, legislação e textos de outros contextos. Basta inserir um texto que aborde um tema complexo (por exemplo, um contrato com um operador de telecomunicações) e pedir ao sistema que o resuma.

Um dos problemas desta funcionalidade é que a plataforma nem sempre lida bem com textos demasiado extensos nesta versão de testes. Logo, pode receber uma mensagem de erro. Além disso, a informação resumida pode não ser a pretendida pelo utilizador. 

Para contornar estes erros de análise do algoritmo, o utilizador pode fazer um novo pedido ao ChatGPT para que consiga aprimorar a informação resumida (por exemplo, uma informação relativa apenas aos custos de rescisão antecipada do contrato).

3. Criação de textos originais

A DECO PROTESTE realizou, ainda, um teste na utilização do ChatGPT para a criação de textos, mensagens, e-mails, artigos, comunicados, poemas, músicas, entre outros. E é certo que algumas criações têm mais rigor do que outras. 

Um dos pedidos feitos ao sistema foi que escrevesse um e-mail para convidar uns amigos para um aniversário. E o ChatGPT assentiu ao pedido. Ainda assim, o problema dos termos em português do Brasil persiste.

Mas será que, se o mesmo pedido for feito por outras palavras, os textos produzidos pelo ChatGPT ficam iguais? Os testes mostram que a estrutura textual é ligeiramente diferente. Em alguns casos, o leitor só conseguirá identificar certas semelhanças entre os textos, caso saiba que foi o ChatGPT a produzi-los. 

4. Resolução de problemas matemáticos ou lógicos

A DECO PROTESTE simulou a capacidade do ChatGPT na resolução de problemas matemáticos, simples e complexos, com recurso a lógica. Um exemplo de nível básico: “Numa corrida, participaram 19 alunos. No final da corrida, apenas 16 alunos ficaram à frente da Ana. Em que lugar ficou a Ana?”

A lógica diz-nos que a Ana ficou em décimo sétimo lugar. Mas, em duas tentativas, o ChatGPT afirmou que a Ana ficou em décimo sexto e em décimo nono. Apenas na terceira tentativa é que o sistema enviou a resposta certa.

Apesar de o ChatGPT ser na maioria dos casos útil para resolver problemas matemáticos do quotidiano, os testes verificaram que ainda existem algumas falhas a este respeito e, por isso, as respostas não são sempre fidedignas.

5. Tradução de textos

As respostas em português do ChatGPT tendem a ser gramaticalmente corretas. O mesmo ocorreu quando a DECO PROTESTE utilizou o sistema no contexto das traduções, onde se fez uma comparação direta com o popular Google Tradutor.

Foram encontradas apenas pequenas diferenças entre os textos de ambas as plataformas. Em alguns casos, o utilizador pode vir a encontrar alguns erros de concordância e de gramática nos dois sistemas.

Uma vantagem do ChatGPT face ao Google Tradutor é a possibilidade de requisitar que a resposta tenha a variação regional do português que o utilizador pretenda (por exemplo, português de Portugal). Já o Google Tradutor não oferece essa opção.

6. Construção e correção de códigos de programação

Uma das funcionalidades do ChatGPT que mais têm sido elogiadas é a utilização deste sistema por alguns profissionais informáticos. Estes passaram a recorrer à plataforma para minimizar o tempo na construção e na correção de linhas de código. 

Para testar essa funcionalidade, a DECO PROTESTE pediu ao sistema para criar um código com uma função simples: contar o número de carateres de um nome. Em poucos segundos, o sistema gerou o código com um botão que simplifica a cópia para um software adequado, bem como uma explicação em português de cada uma das ações realizadas.

Notou-se que, ao fazer uma pergunta mais detalhada sobre programação, a resposta era dada automaticamente em inglês, mesmo que a pergunta tivesse sido feita em português. Para contornar este obstáculo, o utilizador pode relembrar o ChatGPT de traduzir o texto gerado para português. 

Quais os riscos de cibersegurança do ChatGPT?

Embora o ChatGPT não aparente ser em si um sistema malicioso, os especialistas em cibersegurança estão preocupados que o sistema seja utilizado por outros utilizadores para fins perversos. 

Um dos principais alertas é o facto de os criminosos do mundo cibernético poderem recorrer a esta tecnologia para gerar mensagens de phishing convincentes e personalizadas para usurpar os dados de várias pessoas. Outro motivo para a preocupação é a possibilidade de gerar códigos de programação, pois a funcionalidade pode ser utilizada para a criação de códigos com malware para os utilizadores.

As funcionalidades nas mãos erradas podem aumentar o leque de utilizadores que começam a desenvolver e a desencadear ciberataques mais sofisticados, mesmo que tenham conhecimentos de programação limitados. Esteja munido com as dicas da DECO PROTESTE para reforçar a sua segurança cibernética.

É possível detetar os textos feitos no ChatGPT?

Têm surgido alguns protótipos que se comprometem a apurar se um texto foi produzido pelo ChatGPT, com base nos padrões de escrita utilizados. A própria Open AI disponibiliza uma ferramenta de deteção de textos produzidos por inteligência artificial na sua plataforma.

Mas a verdade é que estes sistemas ainda apresentam bastantes falhas e limitações, uma vez que se encontram em desenvolvimento. Ainda não existe um método infalível que permita verificar a autenticidade do texto.

Os textos do ChatGPT podem ficar iguais?

O ChatGPT adverte para o facto de os resultados gerados poderem não ser únicos entre utilizadores, pois os serviços podem gerar uma resposta igual ou semelhante. 

Os termos e condições da plataforma demonstram um exemplo: se um utilizador perguntar ao ChatGPT sobre qual é a cor do céu, o mais provável é que o sistema responda que o céu é azul. Se outros utilizadores fizerem questões idênticas e receberem a mesma resposta, a mesma não será considerada como um conteúdo do utilizador.

Os conteúdos produzidos no ChatGPT têm direitos de autor?

Os termos e condições do ChatGPT indicam que o utilizador concorda que a Open AI utilize o conteúdo introduzido e gerado para desenvolver e melhorar os seus serviços. A empresa indica que este meio permite auxiliar a plataforma a fornecer e a manter os conteúdos.

Contudo, o utilizador pode opor-se à utilização do conteúdo. Para estes casos, a Open AI disponibiliza um e-mail de contacto para que o conteúdo não seja utilizado.

Em caso de violação dos direitos de autor, o site também faculta um e-mail e detalha toda a informação necessária para apresentar uma reclamação escrita. A Open AI poderá apagar ou desativar o conteúdo.

O ChatGPT deve ser bloqueado nas escolas?

O ChatGPT tem sido banido informalmente de escolas, e até mesmo oficialmente, como no departamento de educação de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. Mas nada impede que os alunos recorram à plataforma para as suas pesquisas, quando estão fora da escola.

É importante que não se confie cegamente nos resultados. Todos os utilizadores devem ser responsáveis pela análise de informações e pela criação das suas próprias conclusões. Além disso, a tecnologia ainda comete muitos erros na maioria das suas funcionalidades, uma vez que se trata de um protótipo.

A DECO PROTESTE não recomenda a sua utilização para produção de textos em contextos reais (por exemplo, um trabalho para a escola). A própria plataforma Open AI também faz essa ressalva.

O ChatGPT pode ser um assistente virtual?

Já existem várias tecnologias que são capazes de sustentar diálogos com humanos e que são comummente designadas como assistentes virtuais. Os principais exemplos são a Amazon Alexa, o Google Assistant e a Apple Siri. O que destaca o ChatGPT destes sistemas é a sua capacidade de enunciar detalhadamente aquilo que é requisitado pelo utilizador.

Quando questionados sobre qual o género de filme mais popular no mundo, os três assistentes virtuais mencionados recorreram a páginas e a listas da internet para dar a sua resposta. Já o ChatGPT destacou o género dramático como o mais popular, incluiu uma explicação que o justifica e enumerou alguns exemplos de filmes nesta categoria. Mas lembre-se de que, embora as respostas do ChatGPT pareçam mais bem estruturadas, o sistema ainda não menciona as fontes de informação para chegar à conclusão.

Há empresas a utilizar o ChatGPT?

Sim. Um exemplo é o motor de busca Bing, da Microsoft, que já utiliza a tecnologia do ChatGPT para interpretar os principais resultados de uma pesquisa. Nesse contexto, o sistema supera uma limitação básica identificada, que é a ausência de fontes de informação.

O supermercado Minipreço também utiliza a tecnologia na aplicação de mensagens WhatsApp para sugerir receitas de acordo com as perguntas dos clientes. 

A expectativa é que cada vez mais empresas utilizem soluções como esta para melhorarem a qualidade de respostas automáticas e para automatizarem tarefas quotidianas que exigem menor supervisão.

O Google também já anunciou a sua solução de inteligência artificial — o Bard — com funcionalidades semelhantes às desenvolvidas pela OpenAI. Por enquanto, os testes podem ser realizados apenas nos Estados Unidos e no Reino Unido, mas em breve será disponibilizado para utilizadores nos restantes países europeus, incluindo Portugal.

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