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Dieta alcalina não tem benefícios para a saúde

A dieta alcalina, ou a dieta do pH, tornou-se conhecida por propor a ingestão de alimentos mais alcalinos com a promessa de benefícios para a saúde como a redução do risco de osteoporose, manutenção da massa muscular e melhoria da performance desportiva. Mas será que funciona mesmo?

13 dezembro 2023
conjunto de hortofrutícolas numa bancada de cozinha

iStock

O princípio de que parte é relativamente simples: os alimentos que ingerimos têm influência direta no pH do sangue e, por isso, ao consumirmos alimentos mais alcalinos regulamos o pH do sangue e mantemos o equilíbrio do organismo. Ou, pelo menos, é nisto que acredita quem segue a dieta alcalina.

Vamos a factos: o organismo executa várias funções para manter o seu equilíbrio, processo a que se chama homeostasia. Uma dessas funções é a regulação do pH do sangue, cujo valor médio ronda os 7,4, o que é considerado um pH alcalino. Se existir uma variação inferior ou superior a um intervalo entre 7,35 e 7,45, entramos em acidose ou alcalose, respetivamente, o que eventualmente pode levar à morte. Para manter o pH dentro deste intervalo, o nosso organismo elimina resíduos pela urina, o que altera o valor de pH da urina.

O que os promotores da dieta alcalina defendem é que uma alimentação à base de alimentos mais alcalinos pode contribuir para este processo de regulação do pH do sangue. Nesse sentido, categorizam os alimentos pelo seu potencial ácido, que é estimado através do balanço entre a sua composição em cloro, fosfatos e sulfatos em oposição ao sódio, potássio, cálcio e magnésio. Os hortofrutícolas e a água com baixo nível de fósforo, por exemplo, são alimentos com um potencial ácido baixo. Já os alimentos ricos em proteína animal e os cereais são considerados alimentos com um potencial ácido mais elevado. A dieta alcalina advoga, por isso, o consumo de frutas e legumes e a redução do consumo de carne, peixe, ovos, laticínios e cereais. Contudo, não há evidência científica de que a alimentação altere os níveis de pH do sangue, que são mantidos constantes através de outros mecanismos do nosso organismo.

Dieta alcalina reduz o risco de osteoporose?

Outro dos mitos associados a esta dieta é que esta pode contribuir para a manutenção da massa óssea. Alguns estudos deram força a esta ideia, especulando que a dieta alcalina podia ter um efeito positivo na saúde óssea, uma vez que o consumo de alimentos com maior carga ácida, como a carne e o peixe, seria reduzido. A crença é que organismo tentaria neutralizar a acidez provocada pela alimentação através de moléculas que serviriam de “tampões” de acidez presentes no osso, levando à perda de cálcio e, consequentemente, ao enfraquecimento ósseo. No entanto, estudos mais recentes já conseguiram demonstrar que não existe uma relação entre as variações induzidas pela alimentação na excreção de ácidos através da urina e o equilíbrio dos níveis de cálcio nos ossos.

Dieta alcalina ajuda a manter a massa muscular?

Nesta matéria, os estudos publicados até à data não são conclusivos. Existe a hipótese de que, numa dieta com maior aporte de alimentos ácidos, os rins eliminem o excesso de ácido a partir dos aminoácidos que constituem as proteínas musculares de forma a manter o equilíbrio ácido-base no organismo. No entanto, não há ainda estudos que comprovem esta teoria inequivocamente. O que já é amplamente reconhecido cientificamente é que a ingestão de proteína é essencial para a manutenção e o aumento dos níveis de massa muscular, bem como para a melhoria do processo de recuperação pós treino.

Vale a pena beber água com pH alcalino?

Com base nestas crenças, há já vários produtos alcalinos no mercado que prometem múltiplos benefícios para a saúde. As águas alcalinas são as mais conhecidas e são referidos benefícios para os praticantes de desporto. A ideia "vendida" é que, durante o exercício, os músculos podem produzir lactato e iões de hidrogénio que contribuem para períodos curtos de acidose muscular, o que provoca a redução da força de contração e o aumento da fadiga muscular. Ao mesmo tempo, o organismo ativa alguns mecanismos para tentar neutralizar essa acidez. Com a ingestão de água alcalina, rica em bicarbonato de cálcio, existe uma redução na produção de ácido láctico, o que melhora a performance desportiva, segundo os promotores desta dieta.

Contudo, os estudos feitos até à data não atribuem este efeito à água alcalina, mas sim a todas as águas que tenham menor quantidade de sulfato e maior quantidade de bicarbonato de cálcio. Ou seja, a ingestão de qualquer tipo de água que tenha maior quantidade de bicarbonato pode ser benéfica para reduzir a acidose provocada pela prática de exercício físico. O que a ciência nos mostra é que, na verdade, não há qualquer vantagem para a saúde em consumir alimentos mais alcalinos e que uma alimentação mais alcalina não altera o pH do nosso organismo.

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