"Cada família tem a sua própria taxa de inflação"
A economia pós (ou ainda da?) pandemia e a guerra na Ucrânia estão a levar a um aumento generalizado nos preços, sobretudo, na energia e nos alimentos. Ou seja: nos bens essenciais. Mas a dor da fatura não é sentida por todos os consumidores da mesma forma. Debate obrigatório em mais um episódio do podcast POD Pensar com Aurélio Gomes.
- Herausgeber
- Maria João Amorim
Ainda mal refeitos do vendaval económico e social provocado por mais de dois anos de pandemia, eis que um velho-novo léxico entrou na vida dos portugueses: inflação (a “filha” inesperada das pressões inflacionistas provocadas pelos sucessivos confinamentos no mundo e da paragem da atividade industrial), aumento – sobretudo, do custo dos bens essenciais (energia, alimentação) – frágil crescimento económico e taxas de juro a subir.
Não será difícil de prever que a escalada de preços vai deteriorar o nível de vida dos portugueses. Qual o risco de provocar tensões sociais e políticas?
A guerra na Ucrânia veio lembrar à Europa como é frágil e imprevisível o equilíbrio de forças – políticas e económicas – no velho continente.
Com que políticas enfrentar (mais) esta crise? O que é que ainda sobra dos manuais de Economia para acalmar a tempestade mais-que-perfeita que parece adivinhar-se?
Foi o que Aurélio Gomes perguntou a Susana Peralta, professora de Economia na Nova SBE, School of Business and Economics, Bruno Faria Lopes, jornalista de Economia na revista Sábado e colunista do Jornal de Negócios, e ainda a Vítor Machado, responsável técnico da área de produtos e serviços da DECO PROTESTE, em mais um episódio do podcast POD Pensar.
Aumento de preços não é sentido por todos da mesma forma
É a principal conclusão do relatório “Despesas essenciais e rendimentos das famílias: efeitos assimétricos da inflação”, publicado recentemente por Susana Peralta, com Bruno P. Carvalho e Mariana Esteves. O relatório faz parte do projeto “Portugal, Balanço Social”, uma parceria com a Fundação La Caixa.
A economista destacou os números mais preocupantes. Em Portugal, o peso da despesa em alimentação na despesa total é de quase 25% para as famílias mais pobres; nas mais ricas, fica abaixo de 10 por cento. “São famílias que não têm almofada para absorver a inflação, contrariamente às famílias mais ricas, que conseguem poupar”, sublinhou.
Daí que Vítor Machado reforce que, apesar de haver uma taxa de inflação definida pelo INE, a verdade é que “cada família tem a sua própria taxa de inflação, em função dos seus rendimentos”.
A escalada dos preços “invisíveis”
Bruno Faria Lopes fez um roteiro completo pelos “bastidores” da inflação mais visível – aquilo a que chama de subida dos preços “invisíveis” –, com exemplos concretos. Trata-se da escalada de preços das matérias-primas que entram em tudo o que os consumidores compram. Uma espiral que trará não a austeridade das políticas decretadas pelo Governo, à semelhança do que aconteceu na altura da intervenção da troika, mas antes a da “economia real”.
Quanto deste aumento de custos passará para os consumidores, é o que Bruno Faria Lopes pergunta e pôs à discussão neste episódio do POD Pensar.
Custo de cabaz de alimentos aumenta
A DECO PROTESTE tem estado a monitorizar o preço de um cabaz de bens alimentares essenciais. Em apenas uma semana, entre 6 e 13 de abril, o cabaz aumentou quase 7 euros, ultrapassando os 200 euros.
O peixe (11%) e a carne (17%) são as categorias que mais contribuíram para essa variação, nota Vítor Machado.
Para enfrentar a subida generalizada de preços com que estamos confrontados, consulte a página que a DECO PROTESTE desenvolveu para ajudar os consumidores nesta fase e fique a par dos conteúdos e das ferramentas mais úteis para fintar, o melhor possível, o regresso da palavra maldita, a inflação.
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