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Reduflação: produtos mais caros, mas com menos quantidade

Algumas marcas reduziram a quantidade de produto nas embalagens, mas o preço não baixou. Em alguns casos até subiu. A prática não é fraude, mas deve ser claramente comunicada aos consumidores.

03 março 2023
embalagens de planta original creme para barrar com 400 g e 450 g

João Ribeiro

Já alguma vez ficou com a impressão de que a embalagem de margarina que habitualmente comprava está a acabar mais depressa? Pode não ser apenas uma suspeita ou gula durante as refeições. Algumas marcas reduziram mesmo a quantidade de produto nas suas embalagens. Mas, no supermercado, o consumidor está a pagar o mesmo ou até mais por uma menor quantidade de produto.

Entre 23 de fevereiro de 2022 e 1 de março deste ano, o preço de um cabaz alimentar de bens essenciais já aumentou mais de 46 euros (cerca de 25 por cento). Em alguns bens alimentares, o aumento de preços já ultrapassou os 100% no mesmo período, um sinal evidente da subida da taxa de inflação nos últimos meses. Em fevereiro de 2022, a inflação chegou aos 8,2% em Portugal, segundo o INE.

Os consumidores têm sido, como em todas a crises, os primeiros a sentir o impacto da volatilidade do mercado na carteira. No entanto, o aumento generalizado de preços nem sempre é visível ou direto e poderá ser ainda maior do que é percecionado pelos consumidores. É que algumas marcas estão a reduzir o tamanho das suas embalagens e a cobrar o mesmo, ou até mais, por uma menor quantidade de produto. Nos últimos tempos têm surgido muitos exemplos desta prática no comércio em Portugal.

Produtos mais caros, mas com menos quantidade

A prática não é nova e chama-se reduflação. Reduzir a quantidade de produto nas embalagens mantendo o preço – ou até aumentando – é uma estratégia da indústria em períodos de inflação. Fazê-lo não é fraude, se a informação no rótulo do produto e na etiqueta do preço estiver correta, mas traduz-se num aumento de preços que pode passar despercebido e é suscetível de poder induzir os consumidores em erro. Em 2022, a DECO PROTESTE identificou exemplos destas práticas na recolha de preços para o seu simulador dos supermercados online.

Aumento de preço na Planta Original acima dos 20%

Um dos exemplos que a DECO PROTESTE encontrou foi o da Planta Original Creme para Barrar. A 1 de março de 2022, ainda com uma embalagem de 450 gramas, este produto custava 3,19 euros nas lojas online da Auchan, do Continente e do Minipreço. Na loja online do Pingo Doce estava à venda por 2,39 euros.

 
A 1 de março de 2022, o Planta Original Creme para Barrar tinha 450 gramas.

No entanto, a 1 de novembro de 2022, a embalagem tinha já menos 50 gramas de produto e estava mais cara. Nas lojas online da Auchan, do Continente e do Minipreço, uma embalagem de Planta Original Creme para Barrar de 400 gramas custava 3,49 euros, o que se traduz numa subida real de 23,2% face a 1 de março de 2022. Na loja online do Pingo Doce, a 1 de novembro, o preço estava em 2,79 euros, o que, na realidade, corresponde a 31,38% de aumento em relação a 1 de março do mesmo ano. 

Um observador menos atento, que não tivesse em conta a redução de 50 gramas no peso da embalagem, iria pensar, erradamente, que, a 1 de novembro de 2022, este produto estava mais caro 9,4% nas lojas online da Auchan, Continente e Minipreço, e 16,74% no Pingo Doce online.

 
As embalagens do creme vegetal para barrar têm atualmente menos 50 gramas, mas o preço não diminuiu.

Nesquik Achocolatado em pó com menos 10 gramas

O Nesquik Achocolatado em pó é outro exemplo. Este produto tinha, a 1 de março de 2022, uma embalagem de 400 gramas que custava 2,29 euros nas lojas online do Continente, do Minipreço e do Pingo Doce. Na loja online da Auchan este produto era vendido, nesta data, por 3,09 euros.

 
A 1 de março de 2022, o Nesquik Achocolatado em pó tinha uma embalagem com 400 gramas de produto. Atualmente, são 390 gramas.

A 1 de novembro de 2022, porém, as embalagens de Nesquik Achocolatado em pó já tinham 390 gramas, ou seja, menos 10 gramas do que anteriormente, e estavam mais caras. No início de novembro de 2022, nas lojas online da Auchan e do Continente, este produto estava à venda por 3,29 euros. No Minipreço custava 2,74 euros e no Pingo Doce custava 2,29 euros. Na prática, tendo em conta a alteração da embalagem, estes preços representam uma subida de 2,62% no Pingo Doce, de 9,06% na Auchan, de 22,71% no Minipreço e de 47,16% no Continente, em comparação com os preços praticados a 1 de março de 2022.

Comparando os preços do produto nas duas datas, sem considerar a redução de 10 gramas no peso da embalagem, erradamente, diríamos que o preço se tinha mantido na loja online do Pingo Doce, e teria aumentado 6,47% na da Auchan, 19,65% na do Minipreço e 43,67% na do Continente.

 
Comparando o preço em março de 2022 com o preço em novembro do mesmo ano, sem ter em conta a redução do peso, teríamos um aumento de 43,67% nesta embalagem de Nesquik Achocolatado em pó.

Reduflação não é fraude, mas nem sempre é transparente

Desde que a quantidade efetiva não seja inferior àquela que é anunciada no rótulo da embalagem do produto, nem àquela que consta no preço de venda afixado no estabelecimento comercial, não há nada de fraudulento nesta prática. Diferente seria, por exemplo, comunicar um quilo de produto e a embalagem vendida ter apenas 900 gramas, o que seria uma fraude.

Embora a reduflação não seja, em si mesma, uma prática ilegal, numa altura de subida generalizada de preços (inflação), a diminuição da quantidade de produto, mantendo ou aumentando o preço, é entendida como uma estratégia usada pelos fabricantes para "mascarar" a subida de preços, fazendo com que pareça menor do que na realidade é.

A DECO PROTESTE exige maior transparência para que este tipo de práticas se torne mais percetível para os consumidores. A alteração de componentes do produto mantendo o preço deve ser claramente comunicada pelas marcas para que os consumidores percebam, de forma transparente, o que estão a comprar. Enquanto organização de defesa do consumidor, a DECO PROTESTE compromete-se a continuar a acompanhar o tema e a dar o devido seguimento às denúncias que os consumidores lhe façam chegar relativamente a este tipo de práticas.

Planeie as idas ao supermercado

Para poupar nas idas ao supermercado, o mais importante é planear. Se quer evitar comprar um produto alvo de reduflação, analise bem os preços por litro, quilo ou unidade. Nem sempre os produtos que parecem mais baratos são os que têm os preços mais baixos. Para conseguir poupar ainda mais nas suas compras, aceda ao simulador de preços dos supermercados online e saiba qual o mais barato no seu concelho.

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